Há um jornalista espanhol do El Mundo que quer que lhe explique os últimos desenvolvimentos da política nacional. Falámos há um ano e quer perceber porque é que estamos outra vez à beira de eleições. Sento-me numa poltrona, enquanto me preparo para começar a falar. Por onde começar? Pois, pelo início. E lá começo eu a desfiar um novelo que começou com uma notícia que parecia ser sobre uma coisa, mas afinal era sobre outra. O meu castelhano atrapalha-se, mas o que mais me emperra a língua são as voltas que a história dá, cheias de pormenores que começam por não parecer assim tão importantes, mas que, como numa boa telenovela, se vêm depois a revelar essenciais para perceber o enredo. “Es increíble”, vai-me dizendo a espaços, enquanto me pergunta se isto ou aquilo já foi noticiado.

Vou-lhe dizendo que sim e encho-o de links e recortes de jornais. Porque à medida que falo e esbarro com a incredulidade do meu camarada ibérico, percebo que tenho de mostrar provas. Preciso de demonstrar a cada passo que o que conto não é fruto da imaginação prodigiosa de um argumentista inspirado, mas o retrato do que se passa na política portuguesa, com as suas personagens inusitadas, golpes de teatro, escândalos que passam quase despercebidos e pequenos dramas que tomam proporções épicas.

Viver no centro de Lisboa fez-me perder a paciência para estrangeiros. Não é por mal. É só que se torna muito repetitivo tentar falar uma e outra vez das mesmas coisas, explicar o que me parece óbvio, evitar piadas que não farão efeito por falta de referências comuns. Mas há uma espécie de epifania nesta conversa que servirá de matéria para o El Mundo.

Estar demasiado perto das coisas desfoca-nos o olhar. Ajuda dar uns passos para trás, até ao outro lado da fronteira. E tentar perceber como é que as coisas parecem quando ganhamos distância. Não me interpretem mal. Uma das frases que mais abomino é o “isto só em Portugal”. E, sim eu sei, não há nada de mais português do que essa expressão de provincianismo nacional. E nem se quer me estou a tentar livrar dela.

Estou apenas a constatar a que soa o que conto, quando o conto de um só fôlego a quem está a ouvir pela primeira vez o que a mim já me parece velho. A intimidade com os temas distorce-os.

Para combater a incredulidade do meu ouvinte, junto-lhe números, fontes, relatórios. Sinto-me a fazer um retrato do meu país. E percebo que o que lhe digo não joga com a imagem que tinha. Somos melhor a vender-nos do que a dizer a verdade. E o que será a verdade?

Recuso-me a falar em nome do “povo” ou dos “portugueses” ou das “pessoas”, ou lá como é que se diz agora. Sei lá eu o que querem o povo ou os portugueses ou as pessoas.

O que eu sei e alguns parecem ter-se esquecido é que no boletim de voto não há alíneas, letras pequenas, escolhas múltiplas e lugar para escrever observações. Outros dirão, depois de contados os votos, que o povo, os portugueses ou as pessoas quiseram dizer isto ou aquilo, enviar este ou aquele sinal, deixar este ou o outro recado.

O que eu sei e alguns parecem ter-se esquecido é que no boletim de voto só dá para fazer uma cruz. E não dá para saber como vota quem está nas outras cabines. Não dá para combinar, ora vamos lá todos dar uma “maioria absoluta” ou uma “maioria de diálogo” ou uma “maioria maior”. E ainda bem.

O que eu acho e a alguns não dá jeito nenhum que se lembre é que cada voto conta e todos contam o mesmo. Só não contam os que não estão nas urnas, mas ficam ao balcão do café a lamentar os resultados no dia seguinte.

O que eu acho e a alguns não dá jeito nenhum que se lembre é que cada um deve votar no projeto com que mais se identifica, no país que imagina, no mundo em que gostava de viver, nas ideias que mais o defendem. Não é o sorriso simpático, o ar engraçado, o jeito para a dança ou a boa figura que se faz num desporto que nos vai resolver a vida.

Sim, eu sei que há sempre quem diga “eu cá voto em pessoas”. E até percebo que o digam. Mas pensem bem aonde é que isso nos levou. E pensem bem, porque esta coisa de votar parece velha e garantida, mas se fosse uma pessoa ainda podia ter andado na escola com a maioria dos cabeças de listas dos partidos que agora vão a votos.

Olhem bem para o papel que têm à frente. Esse boletim de voto custou muito a chegar-vos às mãos. Houve gente a ser torturada e a morrer, a viver escondida e perseguida, para que hoje pudessem pôr uma cruz nesse papelinho. É um papel frágil, que não vos dá tudo o que prometeu. Mas é nele que se podem escrever todas as promessas, todas as esperanças, toda a imaginação de que se pode fazer o futuro. Não o deixem em branco.

Vão e votem. Já há demasiadas coisas na vida em que não têm escolha. Aproveitem. E não se venham queixar de que estão fartos e cansados, de que eles são todos iguais, de que não vale a pena. Quando baixamos os braços, aparece sempre quem venha escolher por nós. E esses serão ainda mais iguais do que aqueles de quem agora se querem dizer diferentes.

Tenho para mim — e talvez erre, mas erro com convicção — que há uma certa sensatez no português. Uma sensatez disfarçada de apatia. Uma sabedoria mascarada de silêncio. O português é educado. É prudente. Quer que o deixem em paz. E só um povo que viu muito, perdeu muito, que se ajoelhou e se levantou tanto quanto nós o fizemos, pode ser dessa maneira.

Sermos antigos ajuda. Portugal tem calos. Portugal tem rugas. Portugal tem desconfiança. E quanto mais nos afastamos da capital, mais essa sabedoria se adensa. O lisboeta protesta. O resto do País desconfia. E a desconfiança, quando bem aplicada, é uma forma superior de inteligência. Por isso, toda a engenharia ideológica falha em Portugal. O português é teimoso. É rebelde de forma passiva. Vivemos sob a força de uma Lei de Lavoisier ao contrário: em Portugal, tudo se cria, tudo se perde, nada se transforma.

Disse, um dia, o Miguel Esteves Cardoso que antes de 1910 não existiam monárquicos. Disse bem. Do mesmo modo, depois dessa data não passou a haver republicanos. A ideia que o povo se molda segundo o capricho intelectual de meia dúzia de cabeças armadas é uma ideia perdedora. Foram os próprios revolucionários que, sem querer, criaram os “monárquicos” — à força de confusão, hemorragia e palavreado.

Eis o que quero dizer: o português tem a pulsão medieval.

Uma inclinação antiga, como um joelho que se dobra sozinho: “arranjem lá quem trate disto e deixem-me estar quieto no meu canto.” Nesse sentido mais restrito, todo o português é monárquico. Sempre foi. Sempre será. Prefere que uma figura de bom porte tome conta das coisas. Quer ordem com dignidade. Quer mandar obedecendo.

É por isso que, excepto no frenesim de faca e alguidar que foi a I República, Portugal nunca deixou de ser uma monarquia. Começámos com D. Afonso Henriques, e depois por aí fora. Intervalo. Depois veio o Estado Novo com o seu regente de granito. Depois o 25 de Abril. E com ele os monarcas republicanos: Eanes, o Bonaparte de cabedal; Soares, o Babar de gravata larga; Marcelo — ele mesmo. O sistema semi-presidencialista é o quê, senão a maneira que se arranjou para podermos eleger o nosso próprio rei?

Repare. A pulsão monárquica do português é tal que ele inventa reis. Não um. Vários. Reis no bolo. Reis no frango. Reis nos pneus. Há coroas no talho, no autoclismo, no balcão da confeitaria. O português não suporta o mundo sem realeza (porque pressente que é uma coisa insuportável). Não consegue viver num país de iguais. Precisa de olhar para cima (e, em podendo, para baixo). Mesmo que seja para um letreiro a dizer “Rei dos Electrodomésticos”.

E, como todo o súbdito, precisa também do cerimonial. Da pompa. Do rito. O enterro do Pinto da Costa foi um funeral de Estado. Foi o enterro de um monarca popular. O do Eusébio também. Um rei triste, mas um rei. E repare bem: basta um casamento de um Bragança para o português voltar a curvar a espinha, todo contente. Fica de olhos húmidos. A televisão chora com ele. Está lá tudo: a devoção, a vénia, o amor plebeu.

Dá-se até o caso quase patológico do fascínio por casas reais estrangeiras. A inglesa, por exemplo. O português não quer ser súbdito do Rei de Inglaterra, mas quer que ele reine. Quer vê-lo a abrir os portões da eternidade. Quer ver o Príncipe a acenar, benzendo o Terceiro Estado.

É, portanto, naturalíssimo que um Oficial de Marinha possa chegar a Belém. Naturalíssimo. Evidentíssimo. Qual é a surpresa? Estatura alta. Olhos claros. Perfil numismático. Farda impecável — dirão os fiscalistas da literalidade que ele já não a usa. Mas usa, amigos. Digo-vos mais: não só a usa como é a própria farda. Gouveia e Melo não é um homem, é uma peça de alfaiate.

E o currículo, perguntará o leitor? Bem. Parece que andou a injectar umas coisas nos braços dos portugueses. E bastou. Organizou a vacinação. Usou PowerPoint. Só em Portugal é que isto faz de um homem um símbolo. Em França? Espanha? Já nem se lembram. Mas aqui, foi o suficiente. Porque, para nós, três coisas bastam. Ei-las: peso, pausa e postura.

E o pensamento — insistirá, ainda não contente? Não se sabe. É o vazio de três Alascas e meio. O que só ajuda. Um rei não tem de ter pensamento. Tem de parecer bem. Apresentar-se com gravidade. E nisso ninguém supera o Almirante. O português não quer ideias. Quer presença. Quer compostura. Quer gravidade de órgão de Estado.

O ponto é simples: Gouveia e Melo pode ser um corpo estranho ao regime — mas é uma luva feita à medida da alma nacional.

Pensará o leitor: “estamos tramados.” Não estamos. Estamos em casa.

Manuel Fúria é músico e vive em Lisboa.
Manuel Barbosa de Matos é o seu verdadeiro nome.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Num cenário político agitado, os olhos estão postos nos discursos, nas decisões e nas promessas. Mas por vezes esquecemo-nos de olhar para o mais óbvio: o corpo de quem lidera.

Recentemente, vimos um líder partidário sentir-se mal em plena campanha -um episódio que, sem julgamentos nem suposições, nos faz pensar no custo de viver em alta intensidade. Já vimos isso outrora com Sousa Franco, que morreu após uma arruada caraterizada de empurrões e insultos, ou com Cavaco Silva, que desmaiou em plena ação pública. São momentos que mostram o impacto real da pressão constante, mesmo em quem está habituado a ambientes exigentes. Não é só sobre política. É sobre todos nós, que muitas vezes vivemos em modo alerta, sem dar espaço ao corpo e à mente para respirar.

Campanhas eleitorais são maratonas emocionais. A exposição constante, os horários imprevisíveis, a pressão para convencer, os debates acesos, a exigência de estar sempre em cima do acontecimento – tudo isto ativa o sistema de alerta do corpo.

O cérebro, responde como se estivessem numa situação de ameaça contínua. A tensão acumula-se. O sono altera-se. A alimentação torna-se secundária. O corpo aguenta… até deixar de aguentar.

A força também se mede no limite

Por vezes, resistir deixa de ser força e passa a ser exaustão. Não é fraqueza. É biologia. O corpo humano tem mecanismos de proteção e quando o nível de exigência ultrapassa o ponto de equilíbrio, ele fala. Com dor, com mal-estar, com sintomas vagos, mas insistentes.

Não é preciso estar numa campanha política para se reconhecer nisto. Certo? Quantos de nós vivem semanas (ou meses) em modo “campanha permanente”, sem pausa, sem descanso, sempre a responder, a provar, a resistir?

O que podemos aprender com isto?

Não sabemos o que está na origem, nem precisamos de saber para tirar daqui uma reflexão valiosa.

Ver alguém sob grande pressão a parar, mesmo que por instantes, lembra-nos que cuidar da mente e do corpo não é um luxo – é uma necessidade básica.

Se até quem está treinado para resistir à pressão pode ser surpreendido pelos limites do corpo, porque continuamos nós a ignorar os nossos próprios sinais?

A intensidade cobra sempre um preço. Parar, ouvir o corpo e respeitar os limites não é desistir. É garantir que conseguimos continuar.

Campanhas passam. Tarefas terminam. Mas a saúde… essa precisa de ficar.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Dizer que os King Gizzard & The Lizard Wizard se reinventam a cada disco é tão redutor como encaixá-los na cada vez mais ampla prateleira do rock psicadélico, onde, à falta de rótulos mais precisos, muitos ainda teimam em colocá-los.

Se dúvidas houvesse sobre esta capacidade de baralhar conceitos por parte deste grupo de Melbourne, basta recuar até 2017, quando editaram não um, nem dois ou três, mas sim cinco registos de originais num ano, todos eles muito diferentes entre si, numa odisseia que começou com música microtonal, continuou no rock progressivo, foi até ao jazz, seguiu com um álbum oferecido aos fãs através da internet e terminou com um disco feito com as sobras disto tudo, lançado no último dia do ano, a 31 de dezembro. Um feito repetido em 2022, com três álbuns a serem lançados num único mês.

Não é portanto de admirar que os King Gizzard & The Lizard Wizard tenham ganho o estatuto – e de forma muito bem merecida – de serem uma das bandas mais prolíficas, aventureiras e inventivas de sempre. Desde 2010, já lançaram 25 álbuns de estúdio e em cada um deles avançam, com naturalidade, por novos territórios musicais, num big-bang musical que faz pensar, por exemplo, em Frank Zappa.

Igualmente conhecidos pela sua militância pela causa ambiental e luta antirracista-misogenia-transfobia, tornaram-se uma verdadeira banda de culto, na verdadeira acepção da expressão.

O septeto, ainda relativamente desconhecido junto do público mais mainstream, congrega à sua volta uma imensa e dedicada legião de fãs global, conhecidos como Gizzheads.

Foi, aliás, a pensar neles que criaram o programa Bootlegger – permitindo a editoras independentes disponibilizarem a sua música gratuitamente nos mais variados formatos – e que agora se apresentam nesta exclusiva digressão de residências artísticas, com três dias de concertos únicos e irrepetíveis, apenas realizada em cinco cidades: Lisboa, Barcelona, Vilnius, Atenas e Plovdiv.

King Gizzard & The Lizard Wizard > Coliseu dos Recreios, Lisboa > 18-20 mai, dom-ter 21h > €35 a €40

OUTROS DOIS CONCERTOS NESTE FIM DE SEMANA

Concertos Promenade – Jorge Palma

No site do Coliseu do Porto, há um aviso sobre este concerto matinal: “Esta é uma sessão descontraída.” Os Concertos Promenade andam há 20 anos a aproximar públicos de todas as idades a partir da música clássica. Nesta “carta branca” a Jorge Palma, cantautor e exímio pianista, podem ouvir-se, além das suas canções, composições de Tchaikovsky, Berlioz ou Puccini pela Orquestra Sinfónica ARTAVE (Escola Profissional Artística do Vale do Ave). Coliseu Porto Ageas > 18 mai, dom 11h > €6 a €14

Democrash

A apresentação ao vivo do segundo álbum dos Democrash, Important People, acontece na véspera do “dia de reflexão” que antecede as eleições do próximo domingo, 18. Ouvindo o que a banda tem a dizer sobre este regresso aos discos, faz todo o sentido: “É uma denúncia musical e estética do colapso lento do ‘eu’ no meio de algoritmos, distrações e falsas utopias, com a urgência de dizer o que importa.” Rock feito aos ombros de gigantes por uma banda com coisas para dizer, que gosta de viajar por várias sonoridades e aposta na energia e intensidade de concertos em pequenas salas. Tokyo > Cais do Gás 1, Lisboa > 16 mai, sex 22h > €12

No verão de 1990, a Nike organizou uma festa de arromba para celebrar a abertura do seu agora icónico campus em Beaverton, Oregon, EUA. Nas margens de um lago cintilante no coração do complexo, o cofundador Phil Knight, o próprio Shoe Dog, recebeu os maiores parceiros da empresa de sapatilhas e vestuário no retalho, no comércio grossista e no fabrico, bem como os atletas superestrelas que apoiavam e os principais executivos da empresa. A distinta lista de convidados não incluía um associado de vendas, de 26 anos, chamado Elliott Hill. 

No entanto, nos seus curtos três anos na empresa, Hill já tinha dado a volta a algumas cabeças. Depois de um executivo da Nike ter vindo falar no seu programa de marketing desportivo na Universidade de Ohio, Hill tinha conseguido o que pensava ser um emprego nas instalações da empresa em Memphis; acabou por ser um estágio de seis meses. (Ele não disse à mãe.) Esforçou-se, moveu caixas, preencheu formulários, fez tudo o que era preciso fazer. Quando os seis meses terminaram, foi-lhe oferecido um trabalho de vendas e herdou 168 clientes de vestuário no Norte do Texas e em Oklahoma. 

Nos dois anos seguintes, Hill percorreu 120 mil quilómetros num monovolume Chrysler, transportando prateleiras de roupa para dentro e para fora da entrada das traseiras de todas as lojas de produtos secos do Panhandle. Vender Lycra no Texas, no final dos anos 80, era uma tarefa muito mais difícil do que vender os últimos Nike Air Force 1, e muito menos lucrativa. Ainda assim, uma linha particular de fatos de treino Michael Jordan pagou a maior parte dos empréstimos universitários de Hill. 

Toda a gente gostou imediatamente de Hill. Ele era afável e apaixonado e tratava todos os clientes da mesma forma, quer fosse Joe Bob Wright, da DuPree Sports, em Stillwater, ou Ralph Parks, o diretor-executivo da FootAction, uma cadeia de 16 lojas com sede na cidade. (Ambos continuam amigos de Hill até hoje. Parks ainda lhe envia uma mensagem de oração todas as manhãs). Nessa altura, Hill vestia-se de Nike da cabeça aos pés, apesar de os vendedores terem de pagar as suas próprias amostras do produto. Foi o início daquilo a que ele chama de um “amor irracional” pela marca. Depois de dois anos na estrada, recebeu a grande chamada: Beaverton. Era apenas um trabalho de entrada na equipa de vendas, mas, mesmo assim, estava a caminho da nave-mãe.

A grande festa de inauguração estava marcada para pouco depois da chegada de Hill e, convidado ou não, ele não ia faltar. Muitas coisas no campus da Nike mudaram nas décadas que se seguiram a essa noite. Uma grande faixa de terreno do outro lado da lagoa faz parte agora do campus da Nike. No entanto, em 1990, era apenas um bosque denso ‒ e todo o complexo tinha apenas um segurança. Hill e alguns dos seus amigos juniores da Nike elaboraram um plano: esgueiraram-se pelo bosque com cadeiras de praia e uma grade de cerveja e instalaram-se à beira da água para a sua própria festa, com uma vista perfeita para as festividades. 

O ponto alto da noite foi um estrondoso espetáculo de fogo de artifício sobre a lagoa. No fumo que se seguiu, os técnicos projetaram um espetáculo de laser do corredor de distância norte-americano Steve Prefontaine, o atleta-musa e herói espiritual da Nike que tinha morrido num acidente de viação em Eugene, Oregon, enquanto treinava para os Jogos Olímpicos de 1976.

Hill ficou com lágrimas nos olhos ao ver Prefontaine a atravessar a água, e soube que tinha encontrado o seu lugar. Um dia, em breve, jurou a si próprio, estaria do outro lado do lago. Phil Knight e o lendário designer de calçado Tinker Hatfield, assim como toda a gente, iriam saber o seu nome. Talvez um dia ele viesse a dirigir a empresa.

O ano da Nike não é bom – é muito mau

Hill contou as suas desventuras juvenis enquanto estava sentado na primeira fila do Estádio AT&T dos Dallas Cowboys, que tínhamos só para nós nesta tarde de quarta-feira de dezembro, à exceção de alguns funcionários. Hill estava na cidade para as reuniões com os proprietários da NFL, em que se tinha esquivado da primeira armadilha como novo diretor-executivo da Nike.

O alívio era palpável no início daquele dia, quando ele estava ao lado do comissário da NFL, Roger Goodell, numa breve conferência de imprensa para anunciar a extensão do acordo da Nike com a liga de futebol norte-americano até 2038. Talvez Goodell estivesse apenas a fazer bluff no outono passado, quando deu a entender que estava a namoriscar com outros fornecedores de uniformes. Talvez o domínio da Nike sobre o desporto favorito dos norte-americanos nunca tenha estado mesmo em perigo. Mas perder a NFL? Isso teria sido uma crise. Hill não podia arriscar. 

“O Roger foi o meu primeiro telefonema quando assumi o cargo”, disse Hill à Fortune durante a primeira de duas longas conversas, em dias consecutivos, em Dallas e Beaverton – as suas primeiras entrevistas desde que saiu da reforma, em outubro passado, para liderar a empresa onde trabalhou durante toda a sua vida adulta.

Air Jordan 1
A sapatilha – e o atleta – que mudaram a história da Nike e da indústria

As crises são relativas, é claro: a partir da noite daquela festa em 1990 – quando a marca de calçado e vestuário valia uns míseros 3 mil milhões de dólares –, a Nike tornou-se uma das empresas mais lucrativas do mundo, dominando o mercado dos ténis e ostentando uma avaliação superior a 105 mil milhões de dólares. Mas também não há como disfarçar a realidade de que 2024 foi indiscutivelmente o pior ano da Nike na sua alardeada história de seis décadas. As vendas diminuíram, ano após ano, nos últimos três trimestres, em todas as regiões geográficas. Após a sombria chamada de lucros da empresa em junho, os preços das ações desceram 20% num único dia, evaporando 28 mil milhões de dólares em valor para os acionistas, e, no final do ano, as ações da Nike caíram quase 60% em relação à alta de novembro de 2021. Em julho, a Nike demitiu cerca de 750 funcionários, o que pode não parecer muito numa empresa de 84 000, mas foi o tipo de expurgo que significa problemas de alto nível, incluindo 32 vice-presidentes, 112 diretores seniores e 174 diretores.

Sob o comando do antecessor de Hill, John Donahoe, a sangria tinha-se infiltrado além da folha de cálculo. Os Jogos Olímpicos de Verão em Paris deveriam ser uma montra global triunfal para a Nike, mas, em vez disso, a marca atraiu muita atenção negativa, de todo o tipo, por causa de um uniforme de atletismo para atletas do sexo feminino que foi ridicularizado na internet por parecer um fato de banho da Baywatch. Este drama veio logo a seguir a outro descalabro público: os uniformes da MLB redesenhados pela Nike, que foram criticados pelos adeptos do desporto pelas suas placas de identificação minúsculas e enfureceram os jogadores ao cobri-los de manchas de suor demasiado visíveis. A Nike não estava apenas a perder dinheiro, estava a ser alvo de chacota. 

O moral dos funcionários em todo o campus estava a cair a pique. Dentro do edifício Sebastian Coe da Nike, em Beaverton, onde se sentam todos os executivos de nível C, o consenso estava a reunir-se: algo tinha de ser feito. 

Um artigo da Bloomberg Businessweek de setembro sobre a Nike facilitou o passo seguinte do conselho de administração ao apontar o dedo a alguém específico: Donahoe, uma pessoa de fora da empresa, oriunda de Silicon Valley, com experiência em comércio eletrónico e consultoria de gestão, que chegou em janeiro de 2020 com o mandato de aumentar os negócios digitais e diretos ao consumidor da Swoosh. Em menos de cinco anos, tinha-se tornado, de acordo com o título da Businessweek, “The Man Who Made Nike Uncool” [“O homem que tornou a Nike pouco fixe”]. Uma semana mais tarde, Donahoe estava fora.

(A Fortune não conseguiu contactar Donahoe para comentar, mas numa declaração em setembro, quando se demitiu, disse: “Tornou-se claro que era o momento de fazer uma mudança de liderança, e Elliott é a pessoa certa. Estou ansioso por ver os sucessos futuros da Nike e do Elliott”).

Sabrina 2
Desenhado para a basquetebolista Sabrina Ionescu, esta linha para a WNBA tem sido um êxito também no público masculino

“A Nike é um lugar único, e trazer um estranho é difícil”, disse Nico Harrison, que passou 20 anos na empresa e liderou a sua divisão de basquetebol na América do Norte, estabelecendo laços profundos com jogadores famosos como Kobe Bryant, até que saiu para se tornar gerente-geral da equipa dos Dallas Mavericks da NBA, em 2021. Apenas um outro CEO da Nike chegou de fora da empresa, conforme ele recordou – William Perez em 2004 – e também não correu bem. Perez durou apenas dois anos, antes de Mark Parker, um veterano da Nike, o substituir no cargo. 

Do seu ponto de vista, agora dentro da NBA, Harrison disse que os problemas recentes da Nike se resumem a um afastamento da sua cultura principal. “Conheço atletas que sentem que a Nike se tornou transacional. No meu tempo, não éramos perfeitos, mas se estivéssemos no basquetebol da Nike, fazíamos parte da família Nike, e isso significava alguma coisa. E, quando tudo se torna transacional, perde o significado.”

Numa apresentação de contas, em dezembro, Hill disse todas as coisas certas: Prometeu que a Nike iria “voltar a colocar o desporto no centro de tudo o que fazemos”; reparar as relações com os retalhistas, interrompidas pela mudança da empresa para um negócio direto ao consumidor e de comércio eletrónico; redefinir a sua curva de fornecimento invertida; e voltar a dedicar-se à inovação do desempenho e a contar histórias centradas nos atletas. Ele não escondeu a dor que ainda está por vir: “Reconheço que algumas destas ações terão um impacto negativo nos nossos resultados a curto prazo, mas estamos a ter uma visão a longo prazo”, afirmou Hill.

As ameaças tarifárias do Presidente Donald Trump, entretanto, surgem como uma incógnita significativa. “Preocupamo-nos com as coisas que não podemos controlar, mas tentamos dedicar mais tempo às coisas que podemos”, disse Parker, o antigo CEO e atual presidente-executivo da Nike. “O potencial de tarifas adicionais – é um barco em que muitas pessoas se encontram. Só temos de manter a cabeça baixa e vamos lidar com isso o melhor que pudermos.”

Os números finais foram tão brutais como se previa, mas as ações da Nike mantiveram-se estáveis após a chamada de Hill, um sinal de que Wall Street dará ao novo patrão algum tempo para endireitar o barco. Mas, sobretudo, os investidores pareciam estar a reagir de forma instintiva ao simples facto de a Nike voltar a soar como a Nike – uma indicação esperançosa da capacidade de Hill para executar tudo o que aprendeu durante as décadas que passou em Beaverton ao lado do mestre.

O regresso do filho pródigo

Passaram mais oito anos, após a festa de inauguração do campus da Nike em 1990, até que Elliott Hill falou finalmente diretamente com Phil Knight. O nome de Hill tinha chegado aos ouvidos do cofundador como uma estrela em ascensão, com um dom de gestão para limpar as confusões, e a Nike tinha acabado de se meter numa grande confusão, que veio a ser conhecida internamente como Kansas-Gate. A Nike era o fornecedor oficial dos uniformes da Universidade do Kansas, mas, numa noite de jogo, as camisolas de basquetebol não chegaram a tempo, pelo que a equipa teve de jogar com os uniformes do ano anterior.

Independentemente do que Hill fez para tranquilizar os parceiros da Nike no Kansas e resolver os problemas internamente, Knight ficou impressionado. Ao longo dos anos, à medida que Hill subia na hierarquia, passando por vários cargos de vice-presidente e chegando a presidente de consumo e mercado, a sua relação aprofundou-se e Knight evoluiu de mentor de negócios para algo semelhante a uma figura paternal. Numa entrevista num podcast, Hill disse uma vez que Knight era “a pessoa de quem mais me quero orgulhar”.

Durante dois dias na companhia de Hill, de facto a única altura em que a afabilidade texana de Hill se desvaneceu foi quando a conversa se voltou para a paródia de Ben Affleck, de Knight como um excêntrico inflacionado pelo ego em Air, o filme biográfico surpreendente da Netflix de 2023 sobre o recrutamento de Michael Jordan pela Nike. “Não acho que ele merecesse ser o alívio cómico”, disse Hill. “Mas todos sabemos como é Hollywood, não é?”

Num email, Knight chamou à ascensão de Hill, para liderar a empresa que cofundou, “um momento de círculo completo e necessário”, e acrescentou: “Ele conhece a empresa por dentro e por fora, não apenas como funciona, mas o que a torna especial. A sua liderança não tem que ver com olhar para trás; tem que ver com seguir em frente com experiência, clareza e um compromisso inabalável com o que vem a seguir.”

Aos 61 anos, Hill tem um queixo em forma de lanterna, uma testa alta e um cabelo prateado ondulado invejável, e a sua voz faz muitas vezes lembrar, no timbre e no tom, a de outro texano: George W. Bush. Tem uma história fantástica sobre cada atleta famoso que conhece, já que esteve pessoalmente presente em praticamente todos os grandes eventos desportivos deste século. Guardou todos os canhotos dos bilhetes. Enchem uma mesa de café com tampo de vidro no seu escritório em Beaverton, um ponto de partida obrigatório para qualquer visita de dignitários desportivos.

Elliott Hill foi direto sobre o problema da Nike: “Perdemos a nossa obsessão pelo desporto.” E ele está a enfrentá-lo, um funcionário de cada vez: durante uma visita à sede da Nike, ele perguntou a quase todos os funcionários se estavam a fazer uma pausa para treinar.

Quando Parker deixou o cargo em 2019, Hill era um amado e condecorado veterano de 32 anos da empresa – um óbvio candidato interno para o cargo de CEO. Em vez disso, reformou-se em junho de 2020, alguns meses depois de Donahoe ter sido nomeado. Hill insiste que não deu por terminada a sua carreira por ter sido preterido. O seu nome só estava na lista, diz ele, porque o seu currículo o tornava uma opção lógica para o conselho de administração, mas ele retirou-se da consideração e anunciou uma data de saída antes de Donahoe ser escolhido. (Parker verificou este relato.)

“Francamente, eu estava cansado”, disse Hill durante a nossa conversa em Dallas. “Estava sempre a voar. Ou estava com jet-lag para onde ia ou estava com jet-lag em casa.” 

A primeira pessoa a telefonar quando anunciou a sua decisão foi Phil Knight, já na sua fase de emérito, a exigir saber por que razão Hill se estava a demitir. 

“Eu não me demiti, Phil”, lembra-se Hill de ter dito. “Estou a reformar-me.” 

“Não”, respondeu Knight. “Demitiste-te!” 

Hill defendeu-se. “Eu tinha um orçamento e um prazo para 114 trimestres”, disse ele ao seu herói e mentor. “Os números não paravam de aumentar. O território continuava a aumentar. Era o mesmo trabalho que eu estava a fazer em Oklahoma. Tornou-se o globo terrestre. Eu queria uma pausa e queria ver se conseguia virar a página.”

Durante algum tempo, conseguiu-o. Regressou a casa em Austin, onde vivia a filha já crescida. Ele e a mulher compraram uma casa em Montepulciano, Itália, e obtiveram a cidadania italiana. Estabeleceu como regra não trabalhar antes das 10 da manhã. Mantinha-se informado na Nike. “Mas tento sempre dar espaço a toda a gente, por isso esperava que me ligassem em vez de ser eu a ligar-lhes. Tornei-me o tipo que chegava de avião e dava ideias, sugestões, perspetivas, e depois metia-me num avião e ia para casa. E durante algum tempo isso foi libertador para mim. Entrar no avião e ir para casa era libertador para mim.” 

Depois, quatro anos após se reformar, ainda sem ter 60 anos, Hill apercebeu-se de que tinha feito tudo o que queria fazer, e agora? “Já estou a começar a sentir comichão. E isto antes de a Nike telefonar.”

“Um buraco profundo” para cavar

Foi Mark Parker quem telefonou. Isto aconteceu durante o verão passado, semanas antes de Donahoe se demitir. Segundo Parker, a direção considerou outros candidatos, tanto internos como externos, em parte porque, inicialmente, não tinha a certeza de que Hill estivesse sequer interessado. “Mas era evidente que a sua paixão não tinha desaparecido”, disse Parker, “pelo que as conversas passaram rapidamente de ligeiras a muito mais pesadas. E, para mim, ele é como o elenco central. Está mais preparado do que nunca para este trabalho”.

Após o anúncio da sua nomeação, a fase de lua de mel de Hill começou de imediato. As ações da Nike subiram 6% com a notícia. Os veteranos da empresa rejubilaram nas redes sociais. “Estamos de volta!”, publicou um diretor global. “Vai ser tempo de rezar, as orações foram atendidas”, escreveu outro. John Hoke, chefe de inovação da empresa e outro veterano de Beaverton, disse à Fortune que o seu velho amigo Elliott é mais do que apenas o próximo diretor-executivo da empresa: “Ele é o refundador.”

“Fiquei quase incrédulo quando ouvi a notícia, porque não pensei que pudessem ter tanta sorte em apanhá-lo”, disse Harrison. “E a primeira coisa que ele tem que fazer, ele já fez – ele energizou a base.” 

Essa base inclui o nome mais famoso na folha de pagamento da Nike. “Sou um grande fã do Elliott”, escreveu Michael Jordan num email para a Fortune. “Ele é exatamente a pessoa certa para orientar a Nike neste momento. A sua paixão pela empresa, a sua experiência e a sua incrível liderança falam por si.” 

Os dois homens trabalharam juntos, pela primeira vez, em 2010, quando coube a Hill persuadir Sua Alteza de que estava na altura de expandir a icónica marca Jordan para os mercados globais. Jordan, sempre um concorrente implacável, estava preocupado com um desvio de foco. 

Como Hill recorda a conversa, Jordan perguntou-lhe se ele sabia o tamanho do seu calçado. “Claro”, respondeu Hill. “Tamanho 13.” Correto, disse Jordan. Depois avisou que, se Hill estivesse errado sobre a expansão, voltaria dentro de um ano para lhe enfiar um Air Jordan tamanho 13 pelo traseiro acima.

Hill não estava errado: a expansão é uma grande parte da razão pela qual a marca Jordan é atualmente um negócio avaliado em 8 mil milhões de dólares.

O carisma e a humildade que conquistaram os retalhistas de desporto no Oklahoma Panhandle não parecem ter desaparecido nem um pouco. “Ele tem a capacidade de baixar a temperatura e fazer com que todos sintam que estão ao mesmo nível”, disse a diretora de marketing da Nike, Nicole Hubbard Graham. “Ele não está a tentar ser mais esperto do que nós. Não está a tentar apanhá-lo.”

A boa vontade é inegável, mas a tarefa do novo diretor-executivo deste gigante ferido vai testar os limites da paciência que pode comprar. “Não se trata de uma solução rápida”, afirma Matt Powell, analista-chefe da empresa de consultoria da indústria do calçado Spurwink River. “O regime anterior colocou-os realmente num buraco fundo.”

Hill conhece a empresa por dentro e por fora, não apenas como funciona mas o que a torna especial. A sua liderança não tem que ver com olhar para trás; tem que ver com seguir em frente com experiência, clareza e um compromisso inabalável com o que vem a seguir.

Phill Knight, Fundador da Nike

O sombrio 2024 da Nike destaca-se como aquele raro caso em que todos os que têm algum conhecimento sobre o assunto – analistas de Wall Street, os media financeiros e culturais, Elliott Hill – parecem concordar com o que correu mal. É um caso clássico de um fracasso que começa com o facto de se ser enganado pelo sucesso: o impulso agressivo de Donahoe para as vendas digitais foi extremamente oportuno para uma pandemia global. 

Logo após o encerramento do mundo, na primavera de 2020, a sua equipa de liderança estabeleceu o objetivo de obter 50% das suas receitas através da Nike.com. Para o conseguir, a empresa cortou relações com vários grossistas de longa data da Nike, incluindo a Designer Shoe Warehouse (DSW) e a Olympia Sports – relações que Hill tinha passado a sua carreira a cultivar. A Nike transferiu os fundos de marketing da narrativa da marca para a pesquisa no Google e para os anúncios digitais. 

Com toda a gente fechada em casa, a viver e a trabalhar remotamente, a Nike também reduziu as suas equipas de rua em 12 cidades globais – as pessoas que andavam por aí a certificar-se de que todos os influenciadores locais certos usavam as últimas novidades da Nike nos sítios certos. E, talvez o mais importante, o foco dos produtos da empresa passou da inovação – uma tarefa difícil num isolamento socialmente distanciado – para a nostalgia. A Nike produziu infinitos novos remixes das três linhas de ténis de maior sucesso da Nike, o Air Jordan, o Air Force 1 e o Dunk.

Tudo isto fazia todo o sentido, dadas as condições macroeconómicas que se verificavam uma vez em cada século, como Hill rapidamente salientou: “E, nem de propósito, a receita disparou, uma vez que reuniu as vendas no retalho e no online.” Com a pandemia, os negócios DTC e digitais da Nike dispararam, levando o preço das ações ao pico histórico de novembro de 2021. Não faz muito tempo, na verdade, que a Nike foi considerada uma das grandes vencedoras da pandemia no mundo corporativo. 

“O erro que cometemos”, disse Hill – embora ele estivesse a beber vinho na Itália enquanto era feito – “é que, quando as coisas começaram a se normalizar, não voltámos a executar o ataque que conhecemos tão bem.” A estratégia funcionou, por outras palavras, até não funcionar.

O erro fatal da empresa foi acreditar que a pandemia tinha mudado o comportamento do consumidor para sempre – que o comércio tradicional estava morto. Em vez disso, verificou-se que as pessoas ainda gostavam de ir às lojas, ver os novos estilos, experimentar as sapatilhas antes de as comprarem. E quando entravam na Foot Locker ou na Dick’s ou na DSW, todas aquelas prateleiras que costumavam estar cheias de Nikes tinham agora novas marcas como a Hoka e a On Running. Entretanto, todas as coisas novas da Nike eram coisas velhas.  

“Parecia que um grupo de pessoas tinha descoberto o seu campus abandonado, mexeu nos computadores e estava a juntar as coisas”, disse Russ Bengtson, autor de A History of Basketball in 15 Sneakers. (Oito desses 15 são Nike.) “Se só dermos às pessoas o que elas querem, estamos a perder a descoberta e, para mim, a descoberta era o que havia de mais importante nos ténis. É como se disséssemos: ‘Agora vamos apenas entregar notificações push’.”

O que nos leva a conhecer a situação atual da Nike: um excesso de oferta sem precedentes, uma montanha de clássicos velhos e fartos que se acumulam nos seus próprios armazéns e que exigirão mais alguns trimestres de descontos acentuados para serem esgotados.

“Não sei se alguma vez voltaremos a ver a situação atual – três sapatos com o tamanho do bolo que têm. Não acho que seja saudável”, disse Hill. “Precisamos de uma base mais alargada… Temos de olhar para o futuro e tentar levar os consumidores a um lugar onde nunca tenham estado antes.”

Restaurar a cultura de uma empresa

Quando Hill descreveu as suas lágrimas ao ver um Steve Prefontaine a laser a atravessar um lago, em 1990, acreditei nele porque também chorou quando me falou do seu pai, que esteve ausente da sua infância e, como Hill descobriu mais tarde, se autoexilou e isolou por ser homossexual numa época de intolerância. (“Ele nunca o disse”, disse Hill, “mas quero acreditar que parte da sua separação foi para me dar espaço para ser quem eu podia ser e não ter de lidar com quem ele era.”) E voltou a chorar mais tarde ao contar uma história sobre a altura em que tinha um bilhete de reserva para o que viria a ser o lendário “jogo da gripe” de Michael Jordan nas finais da NBA de 1997, e o entregou nas mãos de um rapaz de 12 anos que tinha acabado de perder o pai em circunstâncias trágicas. 

A reputação de Hill como um pouco chorão é bem conhecida em Beaverton. “Dizemos sempre que sabemos que o apanhámos se o conseguirmos fazer rir ou fazer chorar”, disse Hubbard Graham. “Na verdade, às vezes é um pouco como uma piada, como: Será que conseguimos fazer o Elliott chorar? Porque ele sente-o tanto.” A tarefa que a Nike tem pela frente vai exigir muitas conversas e apresentações que terminam com um CEO de olhos molhados.

E devemos, pelo menos, considerar a possibilidade de que já seja tarde demais – que talvez a Nike seja uma empresa de 60 anos na descida da sua idade de ouro, que uma vez que nos tornamos pouco fixes tendemos a ficar assim. Bengtson, que tem escrito sobre a cultura dos ténis desde os seus primórdios, está um pouco preocupado: “O Air Jordan 39 foi lançado [em 2024] e ainda não vi nenhum par em pessoa”, disse.

Renovação
O ciclo de vida de uma linha de produtos da Nike, da conceção à prateleira da loja, é de cerca de 18 meses, por isso as impressões digitais de Hill na linha de calçado só começarão a surgir em 2026

Perguntei a Hill se o número do Air Jordan estava a tornar-se como o Super Bowl, onde começa a soar um pouco cómico à medida que aumenta e também um pouco, bem, velho. Ele sorriu e olhou para o diretor de comunicação de longa data da Nike, KeJuan Wilkins, que respondeu com o olhar universalmente reconhecido que significa “Vê?” Basta dizer que a conversa está em curso, mas Hill não tem ilusões sobre os obstáculos que se avizinham para uma marca que está a aproximar-se da idade de meter os papéis na Segurança Social para pedir a reforma.

Um bom vendedor sabe que tem de continuar a surpreender as pessoas para se manter relevante. A inovação também vem em várias formas. “Há inovação evolutiva – estás a fazer ajustes aos materiais, à construção da espuma, à forma como atacaste o sapato, ao padrão da sola, etc.”, disse Hill. “E depois há inovação revolucionária: inovação realmente inovadora, de cortar a respiração, do tipo ‘o que é que a Nike acabou de fazer?’. Tens de fazer ambas.”

A última vez que a Nike lançou algo de cortar a respiração foi, sem dúvida, em 2017 com o Vaporfly, um sapato de corrida tão leve que foi considerado como batota em alguns cantos, inicialmente. Desde então, os novatos no panorama das sapatilhas são os que têm surpreendido as pessoas: On Running – com o seu conceito de sapato spray na sua estreia nos Jogos Olímpicos de Paris – e o Hoka, multicolorido e bolboso, estão entre eles.

Hill foi direto sobre o problema da Nike durante aquela apresentação de resultados em dezembro: “Perdemos a nossa obsessão pelo desporto.” E ele está a enfrentá-lo, um funcionário de cada vez: durante uma visita à sede da Nike no clima sazonalmente apropriado de Portland – frio, ventoso, com chuviscos –, Hill perguntou a quase todos os funcionários que encontrámos se estavam a fazer uma pausa para treinar. (O campus tem tantos ginásios que às vezes pode parecer um complexo atlético gigante que por acaso alberga uma corporação de 100 mil milhões de dólares.) Passámos por mais pessoas a caminho do treino do que a caminho do trabalho – o que é exatamente como Hill quer.

A chave para a Nike voltar a estar na frente, ele acredita, é uma força de trabalho que pensa como os atletas, porque são atletas.

“Plantando novas sementes”

A dominância cultural à escala que a Nike costumava alcançar rotineiramente também é,  hoje em dia, quase impossível – o mercado global está demasiado lotado; as redes sociais são demasiado fraturantes; o desporto tornou-se, francamente, demasiado grande. Atualmente, não há heróis norte-americanos como Michael Jordan. LeBron James tem 40 anos. O rei da NBA, Victor Wembanyama, é um francês de 2,24 metros que gosta de romances de Isaac Asimov e de jogar xadrez rápido no parque quando está em Nova Iorque para jogos contra os Knicks. Wemby é um atleta da Nike, o líder de uma vanguarda geracional que inclui Zion Williamson e Ja Morant, mas ele tem uma relação muito diferente com as crianças norte-americanas do que LeBron ou MJ tinham.

“Temos um Jordan no nosso portefólio?”, pergunta Hill. “Ainda não sabemos, mas é o nosso trabalho plantar essas sementes.”

Uma semente já existe na nova lista de produtos da empresa: a linha Sabrina, batizada em homenagem à basquetebolista Sabrina Ionescu do New York Liberty, campeã da WNBA, é um sucesso comercial que também se tornou inesperadamente um sapato popular entre os jogadores masculinos da NBA.

“A razão – peguem no adereço – é que é um sapato lindo”, disse Hill de volta ao seu escritório. Ele saltou da cadeira ao simplesmente mencioná-lo e correu para agarrar um Sabrina 1 de uma mesa cheia de merchandising da Nike. “O ajuste é fenomenal. A sensação é fenomenal. Foi construído para ela – uma atleta mais pequena e leve. Mais rápida, mais ágil. Por isso, vais ver que são os bases da NBA – os primeiros, os segundos – que os estão a usar. E já agora: É assim que se usa o desporto para se tornar culturalmente relevante.”

As maiores estrelas da WNBA, incluindo Caitlin Clark e A’ja Wilson, ambas atletas da Nike, são nascidas nos EUA. Talvez uma delas venha a ser o próximo Jordan da Nike. Por sua parte, Ionescu disse à Fortune que o Sabrina 1 é mais do que apenas um sapato: “É emocionante ter esse selo de aprovação de atletas de classe mundial, sabendo que não importa que eu esteja na WNBA e eles na NBA. É apenas basquetebol.”

O ciclo de vida de uma linha de produtos da Nike, da conceção à prateleira da loja, é de cerca de 18 meses, por isso as impressões digitais de Hill na linha de calçado só começarão a surgir em 2026. Hoke, o chefe de inovação da Nike, disse-me que a sua equipa está a preparar lançamentos de produtos que “esperamos que surpreendam os atletas e choquem o mundo do desporto.”

Ele está particularmente entusiasmado com o que chamou de vestuário e calçado “hiperpersonalizado” que é “empático e preditivo”. “Então, estás a correr, estás com calor — a tua peça de roupa decide abrir-se, refrescar-te”, explicou Hoke. “Ou estás numa trilha e estás a correr colina abaixo. A cunha do teu sapato ajusta-se para acomodar a descida versus a subida.” É IA? Materiais responsivos? Outra coisa? Hoke recusou-se a partilhar mais sobre como funciona, “mas”, disse ele, “posso dizer-te que estamos lá.”

Para Hill e para toda a marca Nike, o futuro não chega suficientemente depressa.

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É a partir do mote Amanhã Hoje/Tomorrow Today que a 4ª edição da Bienal de Fotografia do Porto, com direção de Virgílio Ferreira e co-direção artística de Jayne Dyer, apresenta este ano mais uma programação ambiciosa que coloca a fotografia no centro da reflexão e experimentação artística, com os olhos postos no futuro.

A decorrer até 29 de junho, em espaços como o Centro Português de Fotografia, a Reitoria da Universidade do Porto, a Estação de Metro de São Bento, a Reitoria da Universidade do Porto, a Casa do Infante, mas também, pela primeira vez, a ocupar o Museu Nacional Soares dos Reis, a Galeria da Biodiversidade, a Maus Hábitos e a Galeria Municipal do Porto, que vão acolher muitas exposições e atividades – todas com entrada gratuita.

Nesta 4ª edição, e porque, dizem, “o futuro se constrói no presente”, o programa está organizado em torno de quatro plataformas interligadas: Conectar, Sustentar, Vivificar e Expandir. Diz a organização que estas “operam como zonas de ensaio para projetos expositivos, residências artísticas, investigações colaborativas e processos de mediação territorial”, com a Bienal a acolher práticas “que atravessam territórios urbanos e rurais, comunidades locais e redes internacionais, promovendo modos plurais de relação entre imagem, ecologia, tecnologia, afeto e memória”. Tudo para que o presente estabeleça pontos de contacto e compromisso com o futuro.

Sustentabilidade, tecnologia, alterações climáticas, memória, relação entre a sociedade humana e as paisagens naturais, são linhas de força, a refletirem o tempo de profunda transformação social e a transição para os novos paradigmas humanos. Aplique-se a grande angular sobre as propostas patentes nas 16 exposições desta 4ª Bienal de Fotografia do Porto.

Nos campos de lava da Pensínsula Reykjanes, esta estufa usa água islandesa ligada a uma central geotérmica para produzir cosmética de luxo , na imagem Future Studies de Luca Locatelli.

Antes deste programa, patente até fim de junho, há igualmente um programa de visitas guiadas, inserido nos três dias de comemoração, que se iniciaram esta quinta-feira e que se prolongarão até sábado, 17. Nomeadamente, esta sexta-feira, dia 16, às 13h, os curadores Romea Muryń e Francisco Lobo fazem uma visita guiada com os artistas do Coletivo ADS11 2024-25 na Fundação Marques Silva. Mais tarde, às 16h30 é a vez da artista Joana Dionísio na exposição Rizomas, na Estação de metro de São Bento.

Também neste sábado, 17, duas visitas guiadas estão disponíveis ao público: a primeira, às 14h40, faz do Museu Nacional Soares dos Reis ponto de encontro entre os curadores Gabriela Vaz-Pinheiro, Jayne Dyer e Virgílio Ferreira e os artistas Augusto Brázio, James Newitt e Lara Jacinto; a segunda visita tem lugar às 16h30 na Maus Hábitos, com o curador Rui Mascarenhas e o artista Odair Rocha Monteiro a fazerem as honras da casa.

Explorar a luz

Em CONECTAR abre-se “um diálogo internacional” e promove-se “parcerias que aproximam ecossistemas artísticos diversos” em seis exposições diferentes: Luminófilos [Lightseekers] reúne obras de cinco artistas contemporâneos dedicadas a “experiências de revelação espiritual e política”, com o foco sob “histórias apagadas, gestos de resistência aos legados coloniais e práticas visionárias ou rituais”.

A luz, elemento fundador da fotografia, é explorada em todas as suas dimensões, físicas e metafísicas: Claudia Andujar desvenda um genocídio; Coletivo Pariacaca e Christo Geoghegan desconstroem os estereótipos dos exploradores europeus e as cerimónias do Amazonas; Hoda Afshar e Smith exploram o deserto e as narrativas a este associadas. Noutro espaço, trabalhando vídeo, performance e instalação, a artista visual Mónica de Miranda questiona a história, a ficção e a realidade na exposição Profundidade de Campo, trazendo as suas imagens sempre questionadoras das narrativas históricas.

Pelo seu lado, Kathrin Stumreich interroga as “implicações ecológicas de infraestruturas de energia solar de concentração na exposição Choques no Céu [Mid-air Collisions]. Num outro espaço, uma paisagem desértica vê-se iluminada por tecnologia, noutra, máquinas desenham uma invasão territorial: Luca Locatelli questiona os paradigmas dominantes de crescimento e a mutação das relações entre humanidade, tecnologia e natureza, em Estudos do Futuro [Future Studies].

Também partindo de investigação, aqui assente na relação entre tecnologia e cultura, Sara Orsi recorre a composições generativas de vídeos disponíveis no Youtube sobre arquiteturas alternativas, hackeamento de sistemas e ações de resistência, em Estruturas Abertas [Open Sctrutures]. Por fim, Peles de Imagens, Espelhos Luminosos é a leitura crítica e poética do tempo, memória e representação, resultante da residência de Sofia Borges nas coleções do Museu de História Natural e da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

O ativismo comunitário documentado no Geoparque Algarvensis, patente em Rizomas, de Joana Dionísio

Ecologia e ativismo social

Em SUSTENTAR, ambiciona-se uma reflexão sobre a sustentabilidade ecológica e social em quatro territórios portugueses distintos: Porto, Algarve, Vila Real, Alqueva. O fotógrafo Carlos Trancoso revela o seu olhar sobre o projeto Porto BioLab, um bosque-laboratório concebido para otimizar serviços ecossistémicos ao serviço da comunidade urbana na exposição Urbanário. Já Joana Dionísio explora em Rizomas o “ativismo social enquanto ferramenta de construção de práticas comunitárias colaborativas e transformadoras” em torno da sustentabilidade no Geoparque Algarvensis e a sua potencialidade como instrumento de articulação entre justiça ambiental e coesão social.

Por sua vez, Catarina Braga acompanhou a investigação científica desenvolvida na Escola das Transições na Casa de Mateus, que reúne especialistas e propostas transdisciplinares para a transição climática, traduzindo investigação científica em formas visuais digitais no projeto Práticas de um Arquivo Vivo. E em Um Lago Acima do Deserto, o fotógrafo Gonçalo C. Silva reflete sobre a dicotomia entre as margens áridas atacadas pelas alterações climáticas e a vida submersa do maior lago artificial da Europa, o Alqueva.

A vida das comunidades migrantes na exposição No Tempo das Cerejas de Laura Jacinto, resultante de uma residência em Sabrosa

Comunidades rurais

VIVIFICAR é o projeto curatorial que estabelece entre artistas em residências e comunidades rurais da região do Douro. Os temas convocados? As relações entre humanos e natureza, sustentabilidade do território, migração e identidade.

Resultante da sua residência em Sabrosa, a fotógrafa Lara Jacinto torna visível a vida das comunidades migrantes chegadas da Europa e da Ásia numa região historicamente marcada pela emigração na exposição No Tempo das Cerejas. Também Augusto Brázio continua a sua cartografia do território português, dissecando a “pertença humana” no ecossistema envolvente, no caso Torre de Moncorvo, na exposição Incisão. E a instalação vídeo Material em Bruto, concebida em Mêda por James Newitt, parte das práticas mineiras e agrícolas como “metáforas pata atravessar camadas temporais”, explorando as ligações entre passado e futuro, ou futuros possíveis.

Trabalho de cocriação com um grupo de jovens do bairro da Pasteleira, que explora a “ecologia dos afetos”, na exposição Com as Imagens Bonitas do que Desapareceu, da autoria de Paula Preto

Artistas emergentes

EXPANDIR, quarta plataforma explorada na 4ª edição da Bienal Fotografia do Porto, visa apoiar o desenvolvimento de projetos e exposições de artistas emergentes, cujas práticas exploram as ligações e cruzamentos entre tecnologia, ecologia e resiliência humana.

Na mostra A Extraterritorialidade da Toxicidade [The Extraterritoriality of Toxicity], estudantes do Royal College of Art apresentam uma pesquisa sobre a toxicidade gerada artificialmente e os seus efeitos em corpos humanos e não-humanos, tomando o rio Douro como “arquivo fluido de relações pós-naturais”.

Eatudantes do Royal College of Art fotografaram nas margens do rio Douro, explorando os efeitos da toxicidade em humanos e animais, na coletiva A Extraterritorialidade da Toxicidade

Apresentada em colaboração com a plataforma europeia FUTURES, a exposição itinerante Laços que Unem [Ties that Bind] explora “formas contemporâneas de pertença, ligação e parentesco”, e as “fracturas do mundo contemporaneo”, através das obras de oito artistas: Dev Dhunsi, Ihar Hancharuk, Jan Durina, Donja Nasseri, Sheung Yiu, Angyvir Padilla e Sasha Chaika. Já o fotógrafo Odair Rocha Monteiro faz em Não Vejo Cor uma decomposição desta expressão e da noção de neutralidade racial, lê-se, “para questionar os modos de ver e de nos posicionarmos perante o outro”.

Outro coletivo, outra exposição: a turma de mestrado em Fotografia documental da Universidade de South Wales experimentam uma abordagem lúdica e aberta à fotografia, numa variedade de registos, em In Your Head: Obras-Conceitos-Processos. E por sua vez, Paula Preto desenvolveu um projeto de cocriação com um grupo de jovens do Centro Paroquial Nossa Senhora da Ajuda, do bairro da Pasteleira, centrado numa “ecologia dos afetos e das emoções”, na “urgência da presença, do sentido da comunidade e da pertença com a natureza”, e na curiosidade e imaginação como “forças coletivas para pensar a mudança e a transição para um futuro sustentável” – o resultado poético e esperançoso está patente na exposição Com as Imagens Bonitas do que Desapareceu.

4ª Bienal de Fotografia do Porto > programação completa aqui bienal25.bienalfotografiaporto.pt

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É um fim de semana de festa para os museus e há bons e variados motivos para se juntar. A Noite Europeia dos Museus celebra-se neste sábado, 17, e o Dia Internacional dos Museus, no dia seguinte, domingo, 18, sob o tema que aponta para O Futuro dos Museus em Comunidades em Rápida Mudança.

Do desafio lançado às 169 instituições que fazem parte da Rede Portuguesa de Museus, resultou uma lista extensa de atividades, quase sempre gratuitas, para toda a família e fora de horas. Estão reunidas no site dim.museusemonumentospt.pt e chegam quase às três centenas.

Selecionámos 15 propostas, dentro e fora da rede.

1. Aula de Chi Kung no MAAT

Exposição Transe, de Rui Moreira. Foto: Luís Barra

Ioga, meditação e até consultas com terapeutas numa sala de exposição. Estas são algumas das atividades disponíveis quase em permanência na programação do MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa. Neste domingo, a proposta é de participar numa aula aberta de Chi Kung na exposição Transe, de Rui Moreira. Também neste dia as exposições patentes no museu (Ana León, Jeff Wall, Novos Artistas Fundação EDP…) serão de entrada gratuita, estando previstas visitas e oficinas para crianças. Av. Brasília, Lisboa > 18 mai, dom 11h-12h

2. À noite no Museu Nacional dos Coches

Foto: DR

Visitar o local que durante mais de cem anos albergou o Museu Nacional dos Coches merece algum do nosso tempo, com ou sem uma passagem pelo museu projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, do outro lado da rua. No antigo Picadeiro Real, salão comprido onde a família real e a corte assistiam aos jogos equestres, sobram alguns coches e boa pintura para ver. É por lá que, neste sábado, também se ouvirá a serenata para sopros Gran Partita, de Mozart (19h), à qual se seguem as visitas orientadas à coleção de coches e berlindas em ambos os edifícios do museu. Antigo Picadeiro Real – Pç. Afonso de Albuquerque, Edifício Principal – Av. da Índia, 136, Lisboa > 17 mai, sáb 18h-22h

3. No Laboratório de Taxidermia do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa

Foto: Marcos Borga

Este laboratório tem muitas solicitações, desde modelos para cinema, encomendas de outros museus ou pedidos específicos de investigadores. O trabalho que é aqui feito reflete essa diversidade, que já nem passa por embalsamar. Exemplos: recriação de espécies extintas em modelos anatómicos, naturalização de animais mortos, recuperação de modelos já existentes degradados pelo tempo, preparação osteológica para fins didáticos ou para coleções científicas. Um gabinete de curiosidades que poderá visitar-se. R. da Escola Politécnica, 58, Lisboa > 18 mai, dom 12h15h

4. Ver os ovos pintalgados da Galeria da Biodiversidade

Foto: Fernando Veludo/NFactos

Charles Darwin aprovaria a Galeria da Biodiversidade, primeiro polo do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto. Aliás, está por lá a figura do cientista, autor de A Origem das Espécies, aqui abordada de forma interativa. No átrio fixou-se o esqueleto de uma baleia, uma alusão ao livro Histórias da Terra e do Mar, de Sophia de Mello Breyner, que aqui viveu e cuja obra também é recordada. À volta do átrio está montada a exposição permanente, em módulos originais: desde uma vitrina cheia de ovos de vários tamanhos e cores a uma caixa para identificar aromas da Natureza. R. do Campo Alegre, 1191, Porto > 18 mai, dom 10h-23h

5. Os segredos do restauro têxtil no Museu Nacional do Traje

O Palácio Angeja-Palmela, no Lumiar, é casa de cerca de 40 mil peças que contam a história do vestuário desde o século XVIII à atualidade. O convite é para conhecer o Sector de Restauro, onde se realizam as intervenções de conservação e restauro das peças do acervo do Museu Nacional do Traje. No Parque Botânico do Monteiro-Mor, adjacente ao palácio, realiza-se um passeio ao pôr do sol (20h), entre as sombras das árvores e os aromas das flores que anunciam a noite. Lg. Júlio de Castilho, Lisboa > T. 21 756 7620 > 17 mai, sáb 17h e 20h > inscrição: se.mmntraje@museudotraje.pt

6. A mudança das estações no Japão, Museu do Oriente

Foto: DR

No outono, no Japão, é hábito admirar-se a lua cheia em agradecimento pela colheita de arroz e em oração por colheitas abundantes. Das oferendas fazem parte 12 bolinhos doces de arroz, os dango, cuja forma redonda evoca a lua cheia e que são dedicados aos 12 meses do ano. O Tsukimi é uma das festas e rituais tradicionais do Japão, desvendadas no Museu do Oriente em três visitas guiadas ao ritmo das estações do ano (Do Inverno à Primavera, Entre a Primavera e o Verão, e Do Verão ao Outono). Da parte da tarde, às 15h, o Museu aponta para outra latitude, convidando a experimentar os estilos de dança clássica indiana, como o bharatanatyam, o kathak e o odissi, e o mais moderno bollywood. Av. Brasília, Doca de Alcântara (Norte), Lisboa > 18 mai, dom 11h30, 15h, 16h30 > mediante inscrição T. 21 358 5244/99

7. Percurso Mandar às Malvas no Porto

Antes da construção dos Clérigos (1732-1748) numa estreita faixa de terreno, a que se dava o nome de “campo das malvas”, era nesse descampado que se enterravam os malfeitores, os ladrões e assassinos, que morriam na forca. A expressão popular de “mandar às malvas” tem a ver com tudo isto e quem ficou curioso pode participar neste percurso por três locais: Museu do Tribunal da Relação do Porto, Antiga Cadeia da Relação (Centro Português de Fotografia) e Capela do Sr. dos Aflitos com o Ossário dos Enforcados (Museu do Centro Hospitalar do Porto). Ponto de encontro: escadas do Tribunal da Relação do Porto > 18 mai, dom 16h-18h > 15 participantes > mediante inscrição até às 16h de 17 de maio para sonia.silva@cpf.dglab.gov.pt

8. Museuspaper no Porto

Sem percursos predefinidos e ao ritmo de cada um, desafia a visitar os museus do Porto e a resolver enigmas e perguntas. A edição deste ano do Museuspaper tem a participação de 31 instituições museológicas: Casa São Roque – Centro de Arte, Centro Português de Fotografia, Casa-Museu Eng. António de Almeida, Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva, Museu da Farmácia, Museu Romântico, Ateliê António Carneiro… Pode optar pode três circuitos: Pequena Rota (três museus), Grande Rota (seis museus) e Mega Rota (nove museus). O passaporte pode ser levantado em qualquer museu aderente e será carimbado à medida que se completam os desafios. A conclusão de cada rota dá direito a um prémio, definido por cada instituição. 31 museus do Porto > 18 mai, dom 10h-23h

9. Esculturas à Noite no Parque de Serralves

Foto: Lucília Monteiro

Uma das intenções da programação do Museu de Serralves, desde que abriu, tem sido convidar artistas a criar esculturas para o parque onde está inserido. Nesta visita noturna, as lanternas conduzem por caminhos onde os trabalhos de, entre outros, Anish Kapoor, Dan Graham, Claes Oldenburg e Maria Nordman se transformarão em histórias da arte. Neste domingo, também as exposições de Avery Singer, Mounira Al Solh, Zanele Muholi, Coleção Mario Teixeira da Silva e Coleção de Serralves – This is a Shot terão entrada gratuita. R. D. João de Castro, 210, Porto > 18 mai, dom 20h (90 min.) > 30 participantes > inscrição no dia

10. Visita Crepúsculo no Museu Nacional Soares dos Reis

Foto: Lucília Monteiro

A abertura extraordinária ao público até às 23h possibilitará a realização da visita orientada Crepúsculo (20h), em torno de algumas obras em exposição e de outras tiradas das reservas do museu, para falar de como foi sempre um desafio para os artistas representar o anoitecer e a alvorada. Segue-se um concerto pelo Grupo Solista da Academia A Pauta (21h30). R. de D. Manuel 44, Porto > 17 mai, sáb 20h > mediante inscrição no site do museu

11. À Noite na Nau Quinhentista 

Os visitantes da Nau Quinhentista, ancorada nas águas do rio Ave, serão surpreendidos pela presença de alguns membros da antiga tripulação, que surgem para contar histórias, partilhar curiosidades e revelar os desafios da vida a bordo de uma embarcação do século XVI. R. Cais da Alfândega, Vila do Conde > T. 252 248 468 > 17 mai, sáb 21h-23h30

12. A obra de renovação do CAM, Fundação Calouste Gulbenkian

A pala com cem metros de comprimento, criando um corredor coberto que acompanha toda a fachada sul do edifício, continua a espantar os visitantes do renovado Centro de Arte Moderna da Gulbenkian. Quem tiver curiosidade sobre a joia arquitetural desenhada pelo japonês Kengo Kuma pode juntar-se à visita guiada que dará a conhecer a transformação por que passou o edifício. Esta é uma das muitas atividades programadas pela Fundação Gulbenkian ao longo deste fim de semana.

O CAM fecha a noite de sábado com uma festa silenciosa. Foto: DR

No edifício-sede, as diferentes coleções reunidas por Calouste Gulbenkian serão tema de visitas guiadas (com Língua Gestual Portuguesa): joias das casas Lalique, Boucheron, Cartier e Van Cleef & Arpels, moedas da Grécia Antiga, encadernações Déco. Além da entrada gratuita em todas as exposições, também o horário será prolongado. Neste sábado, 17, o CAM fica aberto até à meia-noite. No exterior, uma Silent Party tem início às 21h, com os DJ Lady G Brown e Mama Demba, no âmbito da exposição de Julian Knoxx, Coro em Rememória de um Voo. Uma festa silenciosa (o público ouvirá a música através de auscultadores) e inclusiva – para a população surda serão disponibilizados oito coletes sensoriais e um intérprete de Língua Gestual Portuguesa. Av. de Berna, 45, R. Marquês de Fronteira, 2, Lisboa > 17-18 mai, sáb 10h-24h, dom 10h-18h > atividades mediante levantamento de bilhetes (máximo 2 bilhetes/pessoa)

13. Visitas flash ao Palácio Nacional da Ajuda

Foto: DR

As salas, saletas e salões do Palácio Nacional da Ajuda são tão ricos em detalhes decorativos que o mais natural será não dar por tudo – das pinturas nas portas aos frescos nas paredes, passando pelos quadrinhos de naturezas-mortas, as esculturas em biscuit e cerâmica, os pássaros pousados nos suportes dos cortinados. Num horário inesperado, entre as 19h e as 22h, de meia em meia hora, a equipa de conservadores do palácio-museu conduzirá um conjunto de breves visitas para dar a conhecer algumas das suas peças e salas de eleição. Reis e rainhas também prometem surpreender os visitantes até às 23h, e a Escola de Fado da Junta de Freguesia da Ajuda apresenta 10 fadistas amadores. No exterior, um quiosque com comidas e bebidas sacia o apetite. Lg. da Ajuda, Lisboa > 17 mai, sáb 19h-23h

14. Fortaleza ao pôr do sol, Museu Nacional Resistência e Liberdade – Fortaleza de Peniche

Foto: Marcos Borga

São muitas as histórias que este local tem para contar, e de épocas bem diferentes. O seu estabelecimento data do século XVI, com o objetivo de proteger a costa portuguesa de ataques de piratas, mas, atualmente, associamos sobretudo o Forte de Peniche a histórias do Estado Novo. Foi ali que Salazar mandou construir, em 1953, uma prisão de alta segurança, inspirada em modelos dos EUA. Antes, a fortaleza já servia de prisão, com terríveis condições. De tudo isso (incluindo as históricas fugas) nos fala o Museu Nacional Resistência e Liberdade, que aí se inaugurou, em abril de 2024, nos 50 anos da Revolução dos Cravos. Estão previstas duas visitas guiadas: à antiga cozinha da cadeia do forte e às casamatas, pela manhã (11h), e à Fortaleza e ao Museu ao pôr do sol (19h, pela Peniche 360). Campo da República, Peniche > T. 262 798 028 > 18 mai, dom 19h > mediante inscrição: geral.mnrl@museusemonumentos.pt

15. Como se faz um chapéu? O Museu da Chapelaria responde

Em janeiro de 2025, ano em que celebra 20 anos, o Museu da Chapelaria, em São João da Madeira, reabriu renovado, mais fácil de percorrer, mais intuitivo. E não há melhor lugar do que aqui para ficar a perceber como se faz um chapéu. Depois de uma visita pelas várias salas, Deolinda Silva e Dalila Silva, antigas operárias da Empresa Industrial de Chapelaria, mostram como se faz o acabamento. Rui Dias, que criou a marca Maraus Hats, demonstrará todos os passos do processo artesanal. R. António José de Oliveira Júnior, 501, São João da Madeira > 17 mai, sáb 11h30, 16h, 18 mai, dom 16h > mediante inscrição T. 256 200 206, museuchapelaria@cm-sjm.pt

Artigo corrigido às 13h no texto Fortaleza ao pôr do sol. A informação disponibilizada pela Rede Portuguesa de Museu estava incorreta.

A Sony revelou oficialmente o modelo WH-1000XM6, a mais recente geração de auscultadores premium com cancelamento de ruído ativo, que chegam ao mercado português ainda durante o mês de maio por um preço recomendado de 470 euros. A marca promete um salto significativo face à geração anterior, os WH-1000XM5 lançados em 2022, com melhorias em praticamente todos os aspetos da experiência de audição.

Cancelamento de ruído com 12 microfones e chip sete vezes mais rápido

Uma das grandes melhorias implementadas pela marca japonesa é o novo processador HD QN3, que permite um desempenho de cancelamento de ruído até sete vezes mais rápido e eficaz que o antecessor. Este chip coordena 12 microfones posicionados estrategicamente para otimizar a redução de ruído em tempo real. A Sony introduz também o novo Otimizador NC Adaptativo, que ajusta a filtragem de ruído tendo em conta variáveis como a pressão atmosférica e o ambiente sonoro.

“O processador de cancelamento de ruído HD QN3 é sete vezes mais rápido do que o QN1. É uma conquista técnica incrível”, começou por sublinhar Mike Somerset, gestor de formação e marketing técnico, vídeo e som, durante o evento de apresentação que decorreu em Madrid, Espanha, e no qual a Exame Informática esteve a acompanhar. 

Também o número de microfones foi revisto em alta, com um reforço significativo na captação de som ambiente. “A geração anterior tinha oito microfones, agora temos doze. Isso permite uma captação mais precisa do som ambiente e um cancelamento de ruído mais eficaz”, explica o responsável britânico.

Outro dos componentes revistos é o driver de 30 mm, cuja construção agora inclui materiais mais avançados. “O novo driver de 30 mm tem um centro em fibra de carbono. As pessoas associam os drivers à qualidade de som, com razão, mas são também fundamentais para o desempenho do cancelamento de ruído”, conclui.

Som com qualidade de estúdio e colaborações de peso

A qualidade do áudio também foi alvo de um reforço substancial. Os WH-1000XM6 foram desenvolvidos em parceria com engenheiros de masterização reconhecidos da Sterling Sound, Battery Studios e Coast Mastering, garantindo uma reprodução sonora mais precisa e emocional. A unidade de controlador redesenhada inclui materiais de alta rigidez e uma bobina de voz exclusiva, melhorando a clareza e a definição em todas as frequências.

“Os Mark 6 são uma melhoria em praticamente todos os aspetos em relação aos Mark 5. Melhor som, melhor cancelamento [de ruído], melhor qualidade de chamadas, melhor conforto. Estamos muito entusiasmados com o que conseguimos aqui”, afirmou Mark Somerset.

Entre os engenheiros envolvidos estão Randy Merrill, que trabalhou com Ed Sheeran, Taylor Swift e Adele; Chris Gehringer, conhecido pelos projetos com Rihanna e Lady Gaga; Mike Piacentini, que masterizou faixas para Bob Dylan, Depeche Mode e James Brown; e Michael Romanowski, que contribuiu para as icónicas bandas sonoras de Star Wars (Episódios IV a VI) e álbuns de Alicia Keys.

Segundo Randy Merrill, os WH-1000XM6 “elevam a referência da qualidade sonora da Sony a um novo patamar”, com graves potentes, excelente resposta de frequência e detalhe, podemos ler no comunicado de imprensa. Mike Piacentini acrescenta que estes auscultadores permitem às pessoas “sentir cada emoção e decisão criativa feita por artistas e engenheiros”, tal como foi originalmente concebida.

A empresa reforça agora essa missão através da sub-marca “For The Music”, uma iniciativa que pretende destacar a ligação da Sony ao mundo da música, tanto com artistas como com profissionais de estúdio. “A filosofia da Sony é preencher o mundo com emoção através do poder da criatividade e da tecnologia. Essa tem sido a nossa missão há anos”, finaliza Mark Somerset.

Funcionalidades inteligentes e suporte para áudio espacial

Com suporte para áudio de alta resolução com e sem fios (via LDAC), os WH-1000XM6 recorrem ao DSEE Extreme para fazer o upscaling de ficheiros comprimidos em tempo real. A Sony integrou ainda o 360 Reality Audio Upmix for Cinema, que transforma som estéreo em experiências imersivas, ideais para filmes.

Do lado das chamadas, os auscultadores contam com seis microfones, combinados com algoritmos de IA para garantir clareza de voz mesmo em ambientes excessivamente ruidosos.

A aplicação Sound Connect torna ainda mais simples personalizar a experiência sonora com os WH-1000XM6. Enquanto ouve música, pode ajustar o som ao seu gosto com o equalizador de 10 bandas ou criar uma atmosfera envolvente através do efeito de música de fundo. Os entusiastas de videojogos beneficiam ainda do Game EQ, desenvolvido com base na experiência da Sony com a linha INZONE, para melhorar o áudio em jogos de tiros na primeira pessoa. 

Já para quem vê filmes em viagem, por exemplo, os WH-1000XM6 integram a função 360 Reality Audio Upmix for Cinema, que transforma áudio estéreo de 2 canais numa experiência imersiva com som espacial, graças à tecnologia Upmix e ao 360 Spatial Sound da Sony — como se estivesse numa verdadeira sala de cinema.

Design confortável, carregamento rápido e ligação multi-dispositivo

Com um design refinado e almofadas em couro vegan, a Sony promete conforto durante todo o dia. A estrutura dobrável foi redesenhada para maior durabilidade, e o estojo inclui agora fecho um magnético. A autonomia mantém-se robusta, e bastam três minutos de carregamento para “garantir até três horas de utilização”, de acordo com a Sony.

Disponibilidade e preço

Os WH-1000XM6 chegam às lojas portuguesas em três cores, preto, prateado platinum e azul midnight, durante este mês, com um preço recomendado de 470 euros.

Palavras-chave:

As pensões em Portugal não garantem dignidade para viver. As causas são muitas e conhecidas, mas cabe aos partidos encontrar respostas e não desiludir quem trabalhou uma vida inteira.

Nos últimos anos, as pensões têm tido aumentos além do estabelecido por lei. Em 2024, o governo quis aumentar as pensões no valor estritamente obrigatório por lei e a oposição, por iniciativa do Partido Socialista, aprovou um aumento extraordinário que permitiu aos pensionistas não perderem poder de compra. Apesar disso, a reforma média em Portugal ronda os 500 euros.

Ajustar as reformas apenas à inflação significa que os pensionistas mantêm o valor nominal, mas perdem poder de compra ao longo do tempo, especialmente quando os custos de bens essenciais (como habitação e saúde) sobem mais do que a média da inflação. Muitos reformados dependem exclusivamente da sua pensão, sem margem para compensar a perda de rendimento com trabalho extra. Se o objetivo é garantir que os idosos não caiam na pobreza, então os reajustes devem ser superiores à inflação, assegurando um crescimento real do seu rendimento.  

Nas eleições de 2024 e nas do presente ano, a AD – Coligação PSD/CDS apresentou como solução o reforço extraordinário do Complemento Solidário para Idosos (CSI). Problema? Este apoio não contributivo destinado a idosos com baixos recursos só chega a uma minoria de pensionistas e a poucos dos que realmente precisam.

A questão estrutural é que aumentar o CSI de forma desproporcional em comparação com as reformas contributivas, é injusto para quem contribuiu toda a vida e desvirtua o Sistema Nacional de Pensões.

O sistema de Segurança Social é, em teoria, contributivo: quem descontou mais ao longo da vida deveria receber uma reforma mais elevada. Se apenas o CSI for aumentado, enquanto as pensões contributivas ficam estagnadas, está-se a desvalorizar o esforço de quem contribui. Isso pode minar a confiança no sistema e desincentivar o trabalho formal.  

Um pensionista que recebe 500€ por ter descontado toda a vida pode ver a sua reforma perder valor real, enquanto outro que nunca contribuiu (mas tem direito ao CSI) recebe um valor superior. Isto cria uma distorção grave, penalizando quem cumpriu as suas obrigações perante a Segurança Social.  

O CSI é financiado por impostos gerais, enquanto as pensões contributivas são pagas com base nas contribuições dos trabalhadores ativos. Se o Estado priorizar apenas o CSI, estará a transferir o peso do envelhecimento populacional para os contribuintes, em vez de garantir a sustentabilidade do sistema contributivo.  

Em conclusão, a proposta da AD – Coligação PSD/CDS é um penso rápido que torna o sistema público de pensões injusto, dependente do Orçamento de Estado e não resolve o problema da maioria dos pensionistas.

Portugal precisa de uma política de pensões que proteja o poder de compra dos reformados com aumentos acima da inflação, reformas estruturais que reforcem a sua sustentabilidade, a não privatizando a gestão do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social como defende a Iniciativa Liberal e manter o CSI como rede de segurança e não como sistema concorrencial.

Os nossos mais velhos não podem ser tratados como um peso, mas sim como cidadãos que merecem viver com dignidade após uma vida inteira de trabalho.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.