A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao caso das gémeas interrompeu as audições até setembro, depois de uma reta final atribulada. Afinal, o que já se sabe e o que falta saber sobre como as duas crianças receberam, em Portugal, um dos tratamentos mais caros do mundo? Vejamos ponto por ponto.

O estranho caso dos emails-fantasma

Um momento tenso entre Maria João Ruela e André Ventura. A assessora do Presidente da República para os Assuntos Sociais não conseguia precisar como Marcelo Rebelo de Sousa lhe tinha pedido para intervir no caso das duas gémeas. O líder do Chega insistia na existência de um email que não estava entre a documentação enviada por Belém à CPI e que Ruela admitia poder ter-se perdido nestes cinco anos, que se passaram sobre o caso. “Se não está aí [o email] é porque me foi transmitido por outra via”, exasperava-se a assessora perante a insistência de Ventura, que queria saber como tinha tomado conhecimento do pedido do filho do Presidente.

Ainda a audição a Maria João Ruela decorria e já chegava à CPI um ofício da Presidência, no qual se explicava que o referido email não existia em Belém. “Verificado o dossier, constata-se que, efetivamente, um tal email não existe nem nos nossos dossiers, nem nos dossiers enviados à PGR e à CPI”, dizia o chefe da Casa Civil, Fernando Frutuoso de Melo, nesse texto, concluindo que, se não estava nos arquivos, nunca tinha existido. “Tal só pode significar que o mail de Sua Excelência o Presidente da República terá sido enviado em papel por mim à Doutora Maria João Ruela.”

Quase uma semana depois, Belém enviava mais dois emails à CPI. Segundo as notícias da RTP e do Correio da Manhã, o email no qual Frutuoso de Melo lhe pedia para intervir, reencaminhando o que lhe havia chegado do Presidente (assim como outro relacionado com o caso), foi encontrado por Maria João Ruela, no dia a seguir à sua audição, na sua caixa de correio e reencaminhado pela Presidência para a CPI.

Uma revelação inesperada

A última semana de trabalhos na CPI ficou marcada por uma revelação inesperada. O deputado do PSD, António Rodrigues, teve acesso a documentação relacionada com o processo, que os pais das gémeas moveram à seguradora que cobria as filhas para a obrigar a pagar o muito dispendioso tratamento que à data estava disponível no Brasil para a atrofia muscular espinhal. Rodrigues assegurou-se de que a informação não estava protegida por nenhum sigilo e entregou-a depois à CPI. A entrega evitou que a comissão avançasse com uma queixa-crime por desobediência qualificada contra a mãe das meninas, Daniela Martins, que se recusava a informar o Parlamento sobre a identidade da seguradora. Com essa informação na mão, os deputados entenderam que não havia necessidade de fazer queixa da mãe.

Um mistério chamado Juliana

A confirmação de que as crianças eram seguradas pela AMIL pode ser essencial para se perceber o caso. Isto porque o facto de as gémeas terem sido tratadas em Portugal no SNS levou a seguradora a poupar milhões com o tratamento disponível no Brasil e que obrigava a uma toma anual, durante toda a vida, com um custo de €300 mil por criança por ano.

Comissão de Inquérito foi constituída por iniciativa do Chega, e André Ventura tudo tem feito para “entalar” Marcelo

À data, a AMIL fazia parte do mesmo grupo do que o Hospital dos Lusíadas, onde as crianças chegaram a ter consulta marcada com a Dra. Teresa Moreno, a médica que viria a segui-las no Hospital de Santa Maria. A consulta foi, contudo, desmarcada pouco antes de os pais terem assegurado que as filhas seriam atendidas no Santa Maria.

Ora, a AMIL tem no Brasil uma parceria com a corretora MDS, na qual, segundo o jornal Eco (que cita fonte oficial do grupo), a companheira de Nuno Rebelo de Sousa será agente. Na página de LinkedIn de Juliana Vilela Drumond, essa informação não aparece, mas o certo é que Juliana está em CC em todas as comunicações feitas por Nuno Rebelo de Sousa sobre o caso, com um Gmail em que o seu nome aparece ligado à palavra “seguros”. Isso mesmo notou o deputado do PSD António Rodrigues, que apresentou um requerimento para ouvir Juliana, aprovado por unanimidade.

Peça-chave para o puzzle

Carla Silva, a antiga secretária do então secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, é outra das peças-chave do puzzle que é este caso. Carla tinha trabalhado, durante anos, no Hospital de Santa Maria, antes de ir para a Secretaria de Estado da Saúde, e foi ela quem marcou a consulta das gémeas naquele hospital, violando a lei ao fazê-lo, uma vez que as crianças deveriam ter sido, antes, referenciadas num centro de cuidados de saúde primários.

Lacerda Sales negou sempre ter dado ordem a Carla Silva para marcar a consulta, e o depoimento da antiga secretária pode ser fundamental. Carla pediu à CPI para ser ouvida à porta fechada. A comissão terá uma reunião de mesa e coordenadores, no dia 13, para decidir se aceita o pedido feito ao abrigo do Artigo 15º, nº 1, alíneas a) e b) do Regime Jurídico dos Inquéritos Parlamentares, que permite audições à porta fechada “por uma questão de privacidade ou de matérias mais delicadas”. Mas terá sempre de ser validado pela CPI.

Marcelo mantém suspense

Nunca um Presidente da República foi ouvido numa Comissão Parlamentar de Inquérito. Mais: à luz da lei, só o Supremo Tribunal de Justiça pode decidir em casos que envolvam esta figura do Estado. Marcelo começa por lembrar isso mesmo na resposta que enviou à CPI sobre o pedido de audição, que pode ser por escrito (uma prerrogativa de que gozam também os primeiros-ministros atuais e antigos e os presidentes da Assembleia da República em funções ou não). Feita a ressalva, Marcelo deixa a porta aberta a prestar esclarecimentos, mas só após concluídas todas as outras audições. “No caso vertente, sendo público que um número elevado de cidadãos irá ainda ser ouvido, o Presidente da República, que já se pronunciou publicamente sobre a temática em apreço, reserva a sua decisão quanto a nova pronúncia, para momento posterior a todos os testemunhos, por forma a ponderar se existe matéria que o justifique”, escreveu Rebelo de Sousa.

Audições em agenda

António Costa responderá por escrito à CPI. Os deputados têm até ao dia 6 de setembro para elaborar um questionário, que pode conter até 90 perguntas e ao qual Costa terá de responder num prazo de dez dias a contar da receção. Não se conhece nenhuma relação direta entre o então primeiro-ministro e este caso, a não ser o facto de o pedido, feito pela Presidência, ter sido encaminhado por mail (com outros cinco) para o seu chefe de gabinete, que o reencaminhou para o Ministério da Saúde.

O depoimento da antiga secretária de Lacerda Sales, que marcou, aparentemente de forma irregular, a consulta, pode ser fundamental para se esclarecer alguns contornos do caso

Já Augusto Santos Silva, que à data era ministro dos Negócios Estrangeiros, terá de responder sobre se houve alguma irregularidade na forma célere com que foi atribuída a nacionalidade portuguesa às gémeas nascidas no Brasil, o que era essencial para terem direito a serem seguidas no SNS. Até agora, todos os depoimentos têm sido no sentido de se assegurar que os procedimentos foram os normais (mais céleres quando estão em causa bebés filhos de pais portugueses). Ao contrário de Costa, Santos Silva decidiu depor presencialmente e não por escrito. Aos microfones da Renascença, disse ter “curiosidade” sobre as perguntas que lhe serão feitas

Marta Temido, então ministra da Saúde, será ouvida na CPI, no dia 27 de setembro. Paulo Jorge Nascimento, ex-cônsul de Portugal em São Paulo e atual embaixador de Portugal na República Popular da China, vai depor no dia 13 de setembro, por videoconferência.

O suspeito silêncio do filho

“Pelas razões referidas, não respondo.” A frase foi repetida à exaustão a cada pergunta dos deputados a Nuno Rebelo de Sousa, que tinha começado a audição a invocar o “conselho profissional” dado pelos advogados. Constituído arguido no caso, o filho do Presidente tem o direito ao silêncio para não se incriminar. “Sem respostas, todas as hipóteses estão em cima da mesa, desde o altruísmo mais desapegado ao lobismo com contrapartidas”, atirou Joana Mortágua, deputada do BE.

João Paulo Rebelo, do PS, também ficou sem resposta, quando perguntou, de forma muito direta, se Nuno tinha recebido ou se esperava receber algum tipo de contrapartida pela intervenção no caso. “Adensa esta teoria de que o Dr. Nuno Rebelo de Sousa é um lobista”, advertiu-o o deputado socialista, já depois de António Rodrigues, do PSD, ter ironizado sobre a “história de ficção” de um verdadeiro “Robin dos Bosques da Solidariedade”, uma narrativa que considerou ser insustentável face ao “muro de silêncio” em torno do caso.

A omissão deliberada de Belém

O caso das gémeas chegou ao conhecimento de Marcelo Rebelo de Sousa via email do filho para o seu endereço pessoal. Foi essa mensagem que Marcelo resolveu encaminhar para o chefe da Casa Civil, que, por sua vez, o passou à assessora dos Assuntos Sociais de Belém, para que averiguasse o que se poderia fazer para ajudar as crianças.

Depois de a Presidência ter recolhido informações sobre o caso e depois de Nuno Rebelo de Sousa ter insistido em ter uma resposta, Fernando Frutuoso de Melo acabaria por reencaminhar, por email, todo o processo clínico das crianças para o chefe de gabinete do primeiro-ministro. “Para evitar a habitual interpretação errónea, em particular qualquer tratamento diferenciado, dado o parentesco do peticionário com o Presidente da República, decidi deliberadamente omitir a identificação de quem tinha feito chegar tal solicitação por email à Presidência da República”, disse Frutuoso de Melo, na sua audição na CPI.

Palavras-chave:

Ainda estamos a digerir os aromas do magnífico jardim, pensado de raiz para alimentar o Austa, e já temos um cocktail com endro nas mãos. Enquanto saboreamos esta frescura no copo, Emma conta-nos tudo sobre este bom fruto saído da pandemia. Ela e David Campus deixaram Londres, durante a Covid-19, e também os empregos, na moda e em marketing, respetivamente – hoje são a gerente e o sommelier. Os pais de Emma já cá viviam há 20 anos e tinham um terreno livre, mesmo ao lado da sua loja de decoração, a Dunas Living, em Almancil, no Algarve.

O espaço exterior do Austa foi criado de raiz para nos envolver num misto de aromas. Da horta, saem muitos produtos para a ementa

Daí à abertura das portas do Austa, no final do verão passado, foi um ver se te avias, a afinar o conceito de “comida honesta, com ingredientes sazonais e produtores locais”, tal como anunciam na porta de vidro, em inglês. No entretanto, fizeram um périplo por produtores nacionais, à procura daqueles que se ajustavam ao que eles gostariam que fosse o seu restaurante.

A sustentabilidade é, afinal, a ideia-base, em que o luxo não se vê, mas que se sente a cada garfada e especialmente na descontração do ambiente. Aqui tudo tem uma história, do vinho ao azeite, passando pela manteiga, feita a partir do leite de vacas de São Brás de Alportel. David Barata é o chefe que largou de vez o fine dining, para se sintonizar com o discurso do casal de ingleses. Depois de vários anos em Estrelas Michelin, é dele a carta deste restaurante, desde o pequeno-almoço ao jantar. “Queria fazer uma cozinha mais direta e descontraída, nunca abdicando da qualidade do produto, da proximidade e da microssazonalidade”, clarifica, no final de uma refeição em que tudo correu sem um único reparo.

Estes camarõezinhos fritos são um excelente snack, que sabem ainda melhor quando mergulhados na maionese de ervas do jardim
Lula de Quarteira, cortada em tiras muito fininhas, como se fosse massa de arroz. Engana os olhos, mas não o paladar!

Destacamos os pequeninos camarões-cristal, de Vila Real de Santo António, que, depois de fritos, mergulham de cabeça numa maionese de ervas do jardim, assim como a lula de Quarteira, cortada em tirinhas, a imitar massa de arroz. Embora este truque culinário engane bem os olhos, não consegue fazer o mesmo ao palato: a frescura do sabor a mar prova que se trata de um cefalópode. A ementa continua, sempre assim, com a denominação de origem, como o porco Feito no Zambujal ou a curgete (e a sua flor), colhida na horta lá de fora, zona em que também existe uma esplanada para as invejáveis noites quentes algarvias. Um luxo bem camuflado, a que só alguns têm acesso.

Chefe David Barata, o responsável pela alquimia que subjaz a todos os pratos do Austa

Austa > R. Cristóvão Pires Norte, Almancil > T. 96 589 6278 > ter-sáb 9h30-17h 19h-21h30

O nome não engana. O Festival Periferias tem o mérito de levar cinema de qualidade a uma região distante dos grandes eixos urbanos. Acontece pela 12.ª vez, entre Marvão e a localidade espanhola de Valencia de Alcántara.

Com originalidade na programação e tirando partido de se tratar de um festival de verão numa região em que as temperaturas são altas, o Periferias concretiza-se, em grande parte, em sessões ao ar livre.

A sessão de abertura faz-se no Castelo de Marvão, nesta sexta, 9, às 21h30, com a projeção de Manga d’Terra, o filme musical do luso-suíço Basil da Cunha, rodado na Reboleira. O realizador estará presente para uma conversa com o público e depois da sessão, Eliana Rosa, a protagonista do filme, dará um concerto.

Da programação fazem parte iniciativas como visitas guiadas, concertos, oficinas, sessões para crianças e filmes.

Eis alguns destaques: Quando a Terra Foge, de Frederico Lobo (10 ago, sáb 11h, Santo António das Areias); Folhas Caídas, de Aki Kaurismäki (10 ago, sáb 21h30, Estação de Comboios da Beirã); Siempre Nos Quedará Mañana, de Paola Cortellesi (11 ago, dom 18h, Valencia de Alcántara); Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho (15 ago, ter 11h, Santo António das Areias); ou O Espírito da Colmeia (11 ago, dom 22h30, Valencia de Alcántara) e Fechar os Olhos (12 ago, seg 11h, Santo António das Areias), de Víctor Erice.

Castelo de Marvão. Foto: DR

A cerimónia de encerramento do Periferias é em Malpartida de Cáceres, Espanha, no dia 17 de agosto, com a entrega do Prémio Tejo/Tajo Internacional Reserva da Biosfera Transfronteiriça ao filme vencedor, no Museu Vostell.

Periferias – Festival Internacional de Cine(ma) de Marvão e Valencia de Alcantára > vários locais > 9-17 ago > €3 a €50 (passe) > programa completo aqui

Está na reta final dos afazeres laborais que antecedem as “queridas férias”? Então, é bastante provável que dê por si com a cabeça noutro lado. Do ponto de vista científico, sonhar acordado é natural e desejável. Imaginar cenários entusiasmantes e entregar-se a fantasias agradáveis é suficiente para acionar mecanismos cerebrais (circuito da recompensa) em resposta a esses estímulos (como se fossem reais) e resultar em sensações de prazer e bem-estar. Assim se explica a água que cresce na boca ao imaginar um bom petisco ao fim da tarde, em boa companhia. Ou a aceleração dos batimentos cardíacos e a sensação de arrepio bom quando se pensa no encontro promissor a ter lugar dentro de algumas horas. 

No modo “pré-férias”, a dopamina e outros neurotransmissores fazem-se à estrada e atuam como preliminares de uma experiência intensamente desejada: antever um cenário de lazer revigora o corpo e a disposição.  

Lá fora e cá dentro 

Ao que tudo indica, o apelo da descontinuidade de ritmo tem um caráter universal, não sendo por acaso que o tempo de descanso está contemplado nos textos bíblicos e no Código do Trabalho. Contudo, cabe a cada um gerir essa conquista social e saber alternar o on e o off laboral.

Embora os dados do Barómetro Anual de Férias de Verão da Europ Assistance mostrem que o orçamento dos portugueses para o efeito aumentou 20% face ao ano passado, mais de metade (51%) prefere ficar no território nacional (as viagens internacionais passaram de 54% em 2023 para 39% em 2024). 

Para uma parte expressiva da população, ter férias ainda é um luxo, dada a fragilidade (por vezes ausência) dos vínculos laborais, as dificuldades financeiras e outras. Porém, fazer uma pausa das rotinas familiares, domésticas ou mentais pode dispensar viagens e cultos avultados, porque o que importa, na essência, é mudar o registo mental (mindset) e carregar baterias, como defendiam os sábios e filósofos em tempos imemoriais. 

Sem estas intermitências intencionais, que funcionam como amortecedores do agito diário que nos impomos, ou nos é imposto (como as taxas, das quais se diz serem tão certas como a morte!), fica-se mais permeável a neurónios sobreaquecidos e maleitas várias, que nem ao pior inimigo se desejam. 

Programar tempos de lazer com qualidade e sem pressa – nem sair da localidade onde se vive – é uma nova tendência que dá pelo nome de “staycations” (stay + vacations). O fenómeno ganhou visibilidade durante a pandemia e continua a conquistar adeptos, também entre aqueles que, podendo viajar além fronteiras, optam por fazê-lo fora da época alta, reservando dias livres na cidade onde vivem para desfrutar das ofertas culturais, desportivas, gastronómicas e de bem-estar com outro “élan”. 

Até agora, está por apurar se é melhor repartir ou gozar todos os dias de férias de uma assentada. Experimentar e perceber qual o modelo que se adequa às necessidades, condicionamentos e preferências de cada um pode ser a melhor fórmula. E por falar em preferências, prestemos atenção naquelas que têm a ver com as características pessoais e no que dizem os especialistas acerca disso.

Destinos à medida

Aqui podemos usar a analogia dos dedos da mão, já que as características pessoais são avaliadas pela lupa da Teoria dos Cinco Fatores (Big Five), que contempla cinco dimensões básicas da personalidade. Desafiada a estabelecer uma ligação entre estes fatores – ou traços de personalidade – e os destinos ou programas de férias que melhor se alinham com eles, a psicóloga clínica e psicoterapeuta Marta Calado destaca quais os aspetos que devem ser levados em conta na hora de fazer escolhas. 

Marta Calado, Psicóloga Clínica e da Saúde, sobre a escolha de programas e destinos de férias pelo filtro dos fatores de personalidade (teoria dos Big Five)

Abertura à experiência: 

“Curiosas e avessas à monotonia, as pessoas com este traço podem gostar de destinos exóticos e culturalmente ricos, que lhes permitam aprender e crescer, a nível pessoal. Podem precisar de alguma adrenalina para que as férias sejam lembradas como gratificantes.”

Conscienciosidade: 

“Aqui, falamos de pessoas mais organizadas, que valorizam a ordem e o planeamento. Geralmente, não gostam de surpresas ou de imprevistos e procuram informação que as deixe seguras, sobre o itinerário das visitas, o buffet ou os horários das atividades oferecidas.”

Extroversão: 

“Desta categoria fazem parte aqueles que gostam de interagir, de socializar e de participar em atividades de grupo. Tendem a gostar de festivais de música e outros eventos em que o barulho faz parte do espírito da festa (ou das férias). Programas com animação e tudo incluído também costumam fazer sentido para eles.”

Amabilidade: 

“Empáticos, cooperantes e apreciadores da harmonia, têm tendência a sentir-se mais motivados por retiros com atividades tranquilas – yoga, mindfulness, etc – ou a preferir estadias em hotéis familiares. Há ainda os programas de voluntariado, em que podem conhecer a comunidade local e estar em comunhão com ela.”

Neuroticismo: 

“Aqui encontramos as pessoas mais instáveis, preocupadas, impulsivas e vulneráveis à crítica. Diante de certos gatilhos, tendem a ficar em estado de alerta e precisam de segurança e conforto. Pacotes de férias que proporcionem relaxamento e bem-estar, como casa na praia ou SPAs serão boas opções.” 

É complicado, mas chega-se lá 

Nem sempre é fácil conciliar diferenças e encontrar um meio termo que satisfaça todos. A psicoterapeuta Marta Calado desdramatiza: “Basta que uma ou mais pessoas com mais apetência para recolher e apresentar informação ao grupo – pode ser, até, o adolescente! – a fim de ser analisada por todos e chegarem a um consenso.” Explorar alternativas também ajuda: “Este ano, um elemento do casal escolhe o tipo ou o local de férias e no seguinte alterna-se (o mesmo direito se aplica a pais e filhos, etc).” 

A fim de minimizar o risco de chatices, além daquelas com que é preciso contar – as férias também envolvem mudanças e adaptação, como “dormir na autocaravana, lidar com questões alimentares e outras” – importa haver “compromisso e aceitação”, remata.

Ana Sabino, docente e investigadora no ISPA – Instituto Universitário e doutorada em comportamento organizacional, tem uma posição idêntica. Tomando por referência o modelo DISC (Fatores: Dominância, Influência, Estabilidade e Conformidade), exemplifica: “Se tiver um perfil estável, de ritmo lento e orientado para as emoções, vai querer estar com familiares e pessoas próximas.” 

Ana Sabino, doutorada em comportamento organizacional e docente e investigadora no ISPA – Instituto Universitário, reconhece a influência dos fatores de personalidade mas sublinha a importância do contexto

No caso de ter um perfil dominante, guiado por objetivos e mais inclinado para a ação, “o ideal da casa alugada, praia de manhã, grelhados, sesta e leituras pode aumentar os níveis de ansiedade”. Aqui, “as caminhadas, a exploração de trilhos e praias ou um interrail” afiguram-se opções mais atrativas de lazer. 

E um plano que sirva a todos, mesmo que tenham diferentes maneiras de carregar baterias? “O segredo está na disponibilidade para chegar a esse equilíbrio; dizer, antes das férias, o que se quer e o que não quer ajuda”, revela Ana Sabino. Depois, “é preciso perceber que não temos de fazer tudo, nem andar todos juntos.” Planeamento, disponibilidade e treino, portanto. 

Opostos e complementares 

O regresso à base é outra história. Para alguns, pode ser uma benção voltar a casa. Veja-se uma pessoa habituada a tomar decisões por si e zelosa do seu sossego e rotinas e leva isso na bagagem: o risco de as férias familiares se converterem num filme é grande (sim, o tema tem inspirado filmes e séries; The White Lotus, por exemplo).

Para outros, tanto faz pois, estejam onde estiverem, têm sempre motivos de preocupação e nem se imaginam sem eles. Para uma boa parte, e no meio de tantas diferenças, aturarem-se uns aos outros – no casal, em família, com amigos, conhecidos ou entre estranhos – nem parece mau quando comparado com o que vai ter pela frente (e em várias frentes). 

A evidência científica sugere que após um período longo (três semanas) de descanso, os níveis de stresse são significativamente mais baixos e os de disponibilidade (engagement) mais elevados. Afinal, também é para isso que as férias servem. 

O problema é que esses ganhos nem sempre se sustentam no tempo, como atesta o famoso desabafo: “Ainda agora vim e já estou a precisar de mais” (férias das férias ou de rotinas infernais que foram suspensas temporariamente). Mesmo que certos traços de personalidade e circunstâncias de vida potenciem o desgaste, o meio organizacional desempenha um papel relevante.  

“Quando se retoma o nível de exigências pré-férias estes benefícios desaparecem ao fim de um mês”, esclarece Ana Sabino. A solução é adotar estratégias simples para manter o fôlego e não sucumbir a fatores de risco: “Maximizem todas as pausas que possam ter; dos micro breaks durante o tempo de trabalho às pontes e fins-de-semana com o out-of-office ativo, usando parte desse tempo para atividades que dêem prazer.” 

Sejam quais forem as suas preferências de personalidade, as férias – nas versões com passaporte, on the road ou ócio criativo – são uma oportunidade única para uma pessoa se aferir, calibrar e aprender mais sobre si e os outros nesse precioso tempo livre.

Diz-me qual a tua sigla, dir-te-ei que turista és 

O Inventário Myers-Briggs (MBTI) é o mais popular e a sua versão gratuita, disponível na Internet, permite apurar 16 perfis a partir de quatro dimensões. Cada perfil tem uma sigla, que é frequentemente usada como cartão de visita nas redes sociais e aplicações de encontros, sobretudo entre utilizadores mais jovens. Para saber qual é o seu, FAÇA O TESTE AQUI

Conheça ainda os males de férias (ou stressores) e “remédios” para destressar por perfil MBTI (Infografia em língua inglesa) ou consulte a “cábula” que se segue, com os pontos fortes e ajustes sugeridos

Siglas:

I Introversão; E Extroversão; S Sentidos; N Intuição; T Pensamento F Sentimentos J Julgamento; P Perceção 

Males de férias (em função dos 16 perfis MBTI)

Racional ISTJ 
Para quem é prático e se guia pelos factos, as manias dos familiares, as pressões para se despachar, as mudanças de planos e as instruções pouco claras são de perder a cabeça

Protetor ISFJ
Sempre pronto a proteger os seus, ressente-se quando não lhe dão o tempo de que precisa para os preparativos e os seus esforços não são acolhidos da forma que espera 

O remédio é: 

Ter um pouco de “me time” pode bastar para recuperar a serenidade. Por outro lado, talvez venha a dar-se conta de que tudo se resolve, mesmo não sendo à sua maneira

Aventureiro ESTP
Flexível, prático, centrado no presente e algum fascínio pelo risco, fica sem graça sempre que não lhe dão crédito e vê que não consegue levar o barco a bom porto  

Entertainer ESFP
Descontraído e sociável, aprecia a vida e a espontaneidade e gosta de ser a alma da festa, entra em stresse quando se depara com pessoas dadas a detalhes e avessas a mudanças 

O remédio é:

Por melhor que seja a ter a iniciativa, por vezes faz a diferença envolver os outros e pedir-lhes ajuda, já que o resultado final pode devolver-lhe a confiança que julgava perdida  

Porta-voz INFJ
Tranquilo e inspirador, gosta de agir em nome do bem comum, mas lida mal se os outros o criticam, não dando crédito às suas sugestões bem intencionadas de lazer

Arquiteto INTJ 
Estratega e capaz de resolver problemas difíceis com tempo, é-lhe difícil, porém, falar de sentimentos, bem como compreender a irracionalidade de algumas tradições de férias

O remédio é:

Pode não ser má ideia reservar uma parte do dia para se permitir estar sem fazer nada para evitar chegar ao fim das férias mais cansado do que estava

Orador ENTP 
Independente e avesso a rotinas, custa-lhe lidar com as tarefas mundanas de férias, não gosta de sentir-se isolado e cansa-se quando tem de lidar com planos desnecessários 

Ativista ENFP 
Alegre, flexível e bom a improvisar, aborrece-se com as pequenas questões entre amigos ou familiares e pela falta de entusiasmo e espontaneidade deles na hora de fazer coisas 

O remédio é: 

O exercício físico faz maravilhas na hora de aliviar tensões acumuladas. Por outro lado, o mundo não acaba se for preciso dar um não no momento certo

Virtuoso ISTP 
Preza a eficiência e mantém a cabeça fria em situações difíceis, mas lá por estar em férias não é caso para ter de aturar estados de descontrolo emocional e conversas da treta 

Inovador INTP
Analítico e barra a conceber planos originais e colocá-los em prática, não gosta de repetir-se se foi ouvido à primeira e tende a torcer o nariz a festas e barulheira

O remédio é:

Se estar num ambiente com muitos estímulos e dispersão não é a sua praia, o melhor a fazer é distanciar-se em doses q.b. para se aclimatar ao ambiente 

Executivo ESTJ 
Tem os pés assentes na terra e mobiliza os outros para chegar onde quer, mas impacienta-se com mudanças constantes e gente desorganizada ou indecisa 

Comandante ENTJ
Tem clareza mental e a capacidade de tomar decisões e cumpri-las; o problema é ficar a falar sozinho com quem não sabe o que quer ou faz tábua rasa das tradições de férias 

O remédio é:

Desabafar com alguém próximo que lhe inspira confiança e libertar tensão acumulada com atividade física 

Criativo ISFP 
Amigável e discreto, gosta de desfrutar do tempo livre sem pressa e furta-se ao conflito.  Férias em modo correria, sem sensibilidade nem regras é que não

Mediador INFP
Pauta-se por valores, aprecia a congruência e cultiva o equilíbrio entre opostos. A negatividade e as expetativas pouco claras dos outros é que podem ser frustrantes

O remédio é:

Passar algum tempo na sua própria companhia, respirar fundo e concentrar-se naquilo que corre bem, apesar de tudo, para chegar ao fim das férias em forma

Prestável ESFJ 
Consciencioso, empático e empenhado em converter sonhos em realidade, incomoda-se se ficar de lado, houver desarmonia ou se as coisas têm mais importância que as pessoas 

Protagonista ENFJ
Inspirador, caloroso e capaz de apoiar os outros para fazerem o seu melhor, desmotiva-se com quem abusar da crítica, não coopera ou é mal agradecido

O remédio é: 

Ver com outros olhos, através de alguém que tenha uma posição imparcial. Também não será má ideia ter um pouco de time-out para se recentrar

A neurociência do ócio 

Dedicar-se a “não fazer nada” permite que o cérebro desligue das tarefas e preocupações que exigem foco e consumo de energia, embora permaneça ativo no modo da rede padrão (default network). Esse estado descontraído abre portas à criatividade e à regulação de emoções, atestam os resultados de inúmeros estudos envolvendo ressonâncias magnéticas, como o publicado na revista científica Neuropsychologia. A capacidade de gerar ideias criativas explica-se pelo aumento da conectividade funcional entre o córtex pré-frontal inferior e a rede padrão, que permite uma maior cooperação entre as regiões cerebrais ligadas ao controlo cognitivo e à flexibilidade mental. Em síntese, além de carregar baterias, esta espécie de “preguiça” tem a função de minimizar e, até, prevenir, tensões que tendem a acumular-se, traduzindo-se em sintomas de mal-estar e doenças associadas ao stresse crónico.  

Longe do recorde dos 18,04 metros, que lhe valeram a prata nos Europeus de Roma, mas bem além dos 17,10 que valiam a qualificação direta para a final, o português Pedro Pichardo saltou 17,44 metros na sua primeira tentativa, sem tirar o boné nem as calças de treino, como estão a sublinhar as redes sociais.

Já Tiago Pereira falhou a qualificação para a final do triplo salto, com 16,36 metros na sua última tentativa, que lhe valeram a 25ª posição nas eliminatórias.

A final está marcada para sexta-feira, às 20:13 locais (19:13 em Lisboa).

Cerca de uma dúzia de urgências de Obstetrícia e Ginecologia fecharam, temporariamente, por falta de meios humanos. Algumas, nos principais hospitais públicos nacionais, como o de Santo André, em Leiria, tendo a crise afetado, mesmo, a principal unidade do País, o Hospital de Santa Maria. A situação replica o problema sentido, invariavelmente, nos últimos anos, sempre que se chega a agosto, mas que também surge noutros momentos críticos de redução de pessoal, por férias ou folgas, como o período das festas de dezembro. Como sempre, quem sofre é o mexilhão, ou seja, as populações afetadas, mas, além dos prejuízos causados aos utentes, a gritaria centra-se, quase sempre, na questão política e nas responsabilidades partidárias pela degradação do Serviço Nacional de Saúde. É nestas alturas que PS e PSD trocam acusações sobre qual é mais culpado, discutindo pela rama um problema de fundo, relacionado com a falta de pessoal médico, nestas especialidades – dizer que se deve contratar mais profissionais é fácil, mas onde se vão buscar? – e na fuga de quadros para o setor privado, onde se ganha mais e se tem menos chatices. Na verdade, as reações pavlovianas dos partidos são demasiado previsíveis para serem levadas a sério: na oposição, o PS está a vingar-se, reagindo exatamente como o PSD fazia quando estava no seu lugar. Esta semana, os socialistas promoveram uma série de reuniões com as administrações dos hospitais afetados, para se “inteirarem do assunto”, como se não o conhecessem de trás para a frente: ainda no ano passado, eram eles que fechavam urgências e serviços de Obstetrícia… E nem a criação da Comissão Executiva resolveu o problema: apenas se mudaram as pessoas que têm de o gerir. No Governo, por outro lado, o PSD (que ia resolver tudo em 60 dias, lembram-se?…) comporta-se exatamente como o PS quando estava no seu lugar, acusando os socialistas de quererem aproveitar-se das dificuldades do SNS para “atacar o Governo”… A sério?! Não me digam!…

A troca de argumentos e de acusações seria risível se a situação não fosse dramática. O ridículo atinge o apogeu quando ambos os partidos se acusam mutuamente de querer liquidar – ou de ter destruído – as capacidades do SNS. Mas o PS, que justamente reivindica a paternidade de um dos serviços de saúde públicos, apesar de tudo, mais eficientes do mundo (malgrado os sinais de rotura dos últimos anos), tem de ter a responsabilidade maior, por ter exercido durante muito mais tempo funções governativas, nas últimas duas décadas. Bater no peito pelo SNS e pela glória da sua criação é como o dirigente daquele clube que se ufana de um passado glorioso, mas que nada fez para impedir a descida de divisão. Neste caso, tanto socialistas como sociais-democratas tenderam sempre a achar que os problemas do SNS se resolvem despejando lá dinheiro. Quando os principais problemas foram sempre as políticas públicas e a gestão. Percebeu isso o anterior governo quando foi buscar o mais bem-sucedido gestor hospitalar, Fernando Araújo, para liderar a nova Comissão Executiva (recebida com ceticismo pelo PSD que, uma vez no Governo, a manteve, embora com outra liderança…). Mas era tarde. O problema resolve-se (mitiga-se?) com políticas e não com milagreiros. Enquanto isso, vão acontecendo episódios como o das Caldas da Rainha, onde uma grávida com uma hemorragia ficou que tempos à porta do hospital… Até quando?

OUTROS ARTIGOS DESTE AUTOR

+ Sonho de várias noites de verão

+ Mal por mal, antes Pombal

+ A (outra) revolução francesa

Palavras-chave: