Em 1987, o PSD conquistava a sua primeira maioria absoluta, com 50,22% dos votos. As eleições europeias, as primeiras realizadas em Portugal, ocorreram no mesmo dia e nas mesmíssimas cabinas de voto. Mas, aí, os sociais-democratas obtiveram, apenas, 37,45 por cento. Pode dizer-se que isso se deveu ao “efeito Lucas Pires”, o popular dirigente do CDS que, cabeça de lista ao Parlamento Europeu, arrebanhou 15,4% dos votos, contra os apenas 4,44% do seu partido, liderado por Adriano Moreira, nas legislativas. Mas o resultado do PSD, nas eleições nacionais, também se deveu ao “efeito Cavaco Silva”, que passara a ter, nas sondagens, muito mais percentagem de opiniões positivas do que o score conseguido, nas mesmas sondagens, pelo seu partido. Nos quatro anos seguintes, foi sempre assim. Cavaco tinha, sistematicamente, nos estudos de opinião, melhor resultado do que o das intenções de voto no PSD. Aliás, não era líquido que os “laranjinhas” repetissem a maioria absoluta, em 1991: o PS tinha mudado de liderança e o seu novo secretário-geral, Jorge Sampaio, tinha arrasado, nas autárquicas, em Lisboa, conseguindo roubar à direita uma câmara em que o PS tinha sido 3.ª força (mesmo tendo em conta que o fez à frente de uma coligação de esquerda que incluía o PCP). Mas eis que, chegados a 6 de outubro de 1991, Cavaco puxa o resultado do seu partido para cima e reforça a maioria absoluta, obtendo 50,6%, contra os 29,13% do PS.
Serve este apontamento histórico para interpretarmos a atual tendência dos estudos de opinião. Embora estes mantenham PSD e PS num empate técnico que, desde 10 de março, não ata nem desata, começam a projetar a persona política de Luís Montenegro. Isto é, à partida para férias, 100 dias decorridos sobre um Governo que muito anunciou e pouco executou, Montenegro aparece com uma imagem “positiva”, ou “muito positiva”, à frente de políticos habitualmente populares, nestes estudos, como o ex-chefe de Governo, António Costa (ainda por cima, aureolado pelo novo cargo europeu…), ou o próprio Presidente Marcelo. Isto é decisivo: um primeiro-ministro em alta puxa o partido para cima. E um primeiro-ministro em baixa puxa o partido para baixo. Somado a este fator há um outro: muitos mais portugueses dizem, nas mesmas sondagens, não desejar uma crise política, nem eleições antecipadas. O que pode indicar que, mesmo não tendo a intenção de votar no PSD – ou na AD, tendo sempre em conta que, hoje, o CDS, não indo a votos, se tornou uma espécie de PEV do PSD… ‒ ou não tendo em grande conta Luís Montenegro, os inquiridos preferem esperar para ver. “Mal por mal, antes Pombal”, repete, como no século XVIII, a Nação… E deve repeti-lo, também, Pedro Nuno Santos.