Os sistemas de alerta funcionaram, os avisos foram emitidos a tempo e a ameaça estava há muito identificada e dada como provável, assim que se reunissem determinadas condições meteorológicas. Mesmo assim, foi insuficiente para impedir que, nos últimos dias, vários países da Europa Central e Oriental tenham sofrido inundações catastróficas, com prejuízos elevadíssimos, e que Portugal, após uns meses de verão que muitos consideraram “ameno”, voltasse a ser atingido por uma brutal onda de incêndios florestais, como já não se assistia desde o trágico ano de 2017. Em ambos os casos, foram acionados os mecanismos de solidariedade europeia para acorrer às emergências.

No entanto, os sinais de alarme não ecoaram apenas na Europa. Quase em simultâneo, vários países asiáticos foram atingidos também por grandes inundações, devido à passagem do supertufão Yagi, que causou centenas de mortes, nomeadamente no Vietname. Na América do Sul, por estes dias, também já foi batido o recorde do número de incêndios num ano, com as chamas a varrerem áreas imensas na floresta amazónica, no Pantanal e nas florestas da Bolívia, mas que também atingem o Paraguai, a Argentina e o Peru. Tudo isto está a acontecer, é preciso não esquecer, depois de anos sucessivos de incêndios florestais na Austrália, mas também na Califórnia – que é “apenas” o estado mais rico do país mais poderoso do mundo e que tem um dos corpos de bombeiros mais bem preparados e bem pagos do planeta. E também apenas um ano depois dos incêndios monstruosos que, durante semanas, lavraram no Canadá e que, para se ter uma ideia da sua intensidade, segundo um estudo da Global Forest Watch e da Universidade de Maryland, terão emitido para a atmosfera quatro vezes mais dióxido de carbono do que todo o setor da aviação civil durante os 12 meses do ano anterior.

Se todas estas catástrofes foram bem documentadas e exibidas ao mundo, outras do mesmo género continuam a ocorrer nos países pobres, sem a atenção mediática reservada às situações de emergência que fazem desfilar especialistas nos ecrãs de televisão das nações mais desenvolvidas. Depois de anos de seca e de temperaturas elevadas, grandes regiões da África Central e Ocidental estão atualmente a sofrer com inundações trágicas que, segundo a UNICEF, já provocaram mais de mil mortes, obrigaram à deslocação de mais de meio milhão de pessoas e destruíram mais de 300 mil casas. E a situação, segundo as principais organizações humanitárias, ainda deve piorar em muitos locais da Libéria, Nigéria, Mali, Níger e Chade, com a agricultura desses países quase devastada.

Quando a emergência nos bate à porta, como aconteceu agora, é compreensível – embora não avisado – que a nossa atenção se concentre apenas na tragédia próxima e se desfoque daquilo que acontece de semelhante um pouco por todo o mundo. E, nos primeiros momentos, também pode ser aceitável que, no caso dos incêndios, se repitam, como se fosse a primeira vez, as discussões acaloradas e quase sempre categóricas acerca do repartir de culpas entre a falta de ordenamento florestal, a prevalência de monoculturas, a ausência de limpeza dos terrenos e as sempre misteriosas teorias da conspiração sobre incendiários e os seus mandantes.

Mas mesmo que todas essas componentes possam fazer parte da discussão, elas têm de ser analisadas num contexto mais global, que é o decisivo. Até porque aquilo a que temos assistido nos últimos dias é exatamente o que, desde há décadas, muitos relatórios científicos nos avisaram que iria acontecer, assim que a temperatura média global subisse mais um pouco: os acontecimentos meteorológicos extremos passariam a ganhar maior intensidade e a tornarem-se mais frequentes. Fenómenos que, anteriormente, aconteciam uma vez numa geração, vão passar a repetir-se numa cadência superior.

Os fenómenos extremos a que temos assistido são resultado de um aquecimento global de apenas 1,4 graus, em relação ao período pré-industrial. E convém lembrar, no meio desta tragédia, que os piores cenários, se nada for feito até lá – e ainda há muito por fazer… –, indicam que o aumento será de 4 graus no final deste século, com consequências ainda mais devastadoras.

O pior das alterações climáticas ainda está para vir. E negar isso, em nome de um negacionismo que surge quase sempre misturado com o populismo político, é tão criminoso quanto lançar fogo a uma floresta. Não só porque não tem qualquer base científica, como impede que se tomem as medidas necessárias para travar as catástrofes cada vez mais inevitáveis. Cabe-nos a nós, por isso, nos momentos difíceis, saber escolher o caminho que pode, de facto, contribuir para a solução: o da Ciência ou o dos promotores do caos e da raiva.

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Pelo menos nove pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas, esta quarta-feira, após uma vaga de explosões de aparelhos walkie-talkies, na posse de militantes do Hezbollah, nos arredores de Beirute e no Sul e Leste do Líbano. A notícia foi avançada pela agência de notícias estatal libanesa e por fontes próximas do grupo xiita – e citadas pela agência France-Presse (AFP) –, que descrevem que os aparelhos explodiram no local onde decorriam os funerais de membros do Hezbollah, mortos no dia anterior.

O balanço de vítimas continua, neste momento, a ser revisto ao segundo.

O ataque acontece um dia depois das explosões, quase em simultâneo, de pagers, que provocaram 12 vítimas mortais e cerca de 2.800 feridos – muitos dos quais membros do Hezbollah –, no Líbano e em regiões da Síria.

O Governo libanês e o Hezbollah acusam Israel de ser responsável por estes acontecimentos, mas Telavive continua a não assumir responsabilidade pelas explosões.

Os televisores da gigante chinesa Hisense vão ganhar, a partir desta quarta-feira, acesso à aplicação de streaming Max (antiga HBO e HBO Max). Esta é uma parceria estratégica com a Max, o serviço de streaming da Warner Bros. Discovery, que visa disponibilizar mais conteúdos de entretenimento em diversos países, incluindo Portugal. A partir de hoje, os utilizadores da plataforma VIDAA (sistema operativo das televisões da Hisense) terão acesso à biblioteca de filmes, séries e documentários da Max.

Guy Edri, diretor executivo (CEO) da VIDAA, afirmou em comunicado a importância deste lançamento: “Estamos entusiasmados por receber o Max na família VIDAA. A nossa missão é proporcionar as melhores opções de entretenimento, e a adição do Max à nossa plataforma é uma prova deste compromisso. Acreditamos que os nossos utilizadores irão apreciar as novas possibilidades de visualização que esta parceria oferece.”

A ausência da aplicação Max era um dos pontos de crítica recorrentes aos televisores da Hisense, considerando que a plataforma de streaming é uma das que tem maior quota de mercado, número de utilizadores e conteúdos de grande sucesso (como House of the Dragon, Os Sopranos, True Detective, Succession, The Wire, The White Lotus, The Last of Us, entre outras).

A VIDAA tem-se destacado pela interface de fácil utilização, prometendo, com este lançamento, alargar as opções de entretenimento e garantir que milhões de utilizadores em todo o mundo possam aceder a mais conteúdos diretamente no televisor.

A perseguição aos três homens durou mais de 130 quilómetros. O grupo estava indiciado pela prática de roubo a ourivesarias em Fátima, no município de Ourém. A investigação pôde, rapidamente, identificar e localizar os suspeitos, residentes na Margem Sul.

Os três homens pensaram, provavelmente, ter conseguido escapar às autoridades. Na realidade, a malha estava a apertar. A Polícia Judiciária e a PSP montaram a “armadilha” na Ponte 25 de Abril. Pouco depois das 13h00 desta quarta-feira, as autoridades fecharam uma das vias ao trânsito, tapando os caminhos ao grupo de alegados assaltantes. Na entrada do tabuleiro da ponte sobre o Tejo, elementos da PSP intercetaram os suspeitos, que, surpreendidos, abandonaram a viatura em que seguiam e tentaram fugir apeados.

Os três homens acabariam cercados e detidos. Nas redes sociais, circulam várias imagens do momento da detenção. Na sua conta no X (antigo Twitter), a PJ também publicou uma imagem da operação (ver abaixo).

Em comunicado, a PJ indica ainda que “foram apreendidos os objetos roubados e uma arma municiada”. Os detidos são igualmente suspeitos de serem os autores de outros crimes idênticos.

Os três homens vão agora ser presentes ao tribunal para primeiro interrogatório judicial e aplicação de eventuais medidas de coação.

Paris foi o palco’ escolhido pela Logitech G, a marca da Logitech dedicada ao segmento do gaming, para revelar um novo alinhamento de periféricos para os entusiastas dos videojogos. Ainda antes da revelação das novidades no evento Logi Play 2024, que a Exame Informática acompanhou, Hanneke Faber, diretora executiva da Logitech, deixou claro que a aposta da empresa no gaming é para manter, sendo esta uma área onde vê grande potencial de crescimento.

Chegar mais perto dos jogadores e fazer parte da cultura é outra das apostas da empresa, impulsionando o crescente entusiasmo de diferentes públicos em relação aos videojogos, em particular daqueles que outrora não eram tão frequentemente associados a esta comunidade, realça a responsável.  

Hanneke Faber, CEO da Logitech, no palco do evento Logi Play 2024 em Paris

A sustentabilidade é outra das apostas, vista como uma prioridade em todos os passos do desenvolvimento dos produtos, realçou Marion Flandre, Global Sustainability Manager da Logitech, numa breve sessão com a imprensa. De acordo com a responsável, o objetivo passa por alcançar um equilíbrio entre as necessidades dos consumidores – seja no conforto ou nas funcionalidades – e as ambições da empresa na sustentabilidade, sem comprometer os padrões de qualidade dos produtos. 

Entre as medidas que a empresa tem vindo a implementar destaca-se o uso de materiais reciclados a partir de equipamentos eletrónicos antigos (e-waste), assim como de plástico reciclado pós-consumo. Como detalhado por Marion Flandre, todos os novos produtos da Logitech G incluem, pelo menos, 23% de plásticos reciclados nas suas composições. Por exemplo, no caso do rato PRO Lightspeed 2, a percentagem sobe para 77%, indica. 

A Logitech está a apostar no uso de materiais reciclados a partir de equipamentos eletrónicos antigos (e-waste), assim como de plástico pós-consumo reciclado nos seus produtos.

Desenhados para os ‘pros’

O PRO X Superlight 2 DEX é um rato assimétrico, desenhado para gamers destros, e foi desenvolvido tendo em conta o feedback de jogadores profissionais de Counter-Strike e Valorant. De acordo com a marca, o rato inclui tecnologia wireless Lightspeed melhorada, capaz de suportar uma polling rate de 8 KHz para um desempenho rápido. 

Há espaço para o novo sensor Hero 2, que promete velocidades de mais de 888 polegadas por segundo e uma aceleração de 88 G, além de switches Lightforce que combinam sensores óticos com componentes mecânicos. Mas não é tudo, como o seu nome deixa já antever, o rato conta com a integração da DEX, uma ferramenta para jogadores profissionais destros. 

Os ratos PRO X Superlight 2 DEX e PRO 2 LIGHTSPEED estão disponíveis por 169,99 euros e 139,99 euros, respetivamente. O teclado PRO X TKL Rapid chega mais tarde, em dezembro, com um preço de 189,99 euros

Ainda a pensar nos profissionais do mundo dos desportos eletrónicos (e-sports) e jogadores competitivos, foi anunciado o PRO 2 Lightspeed, uma evolução do modelo anterior que mantém o design ambidestro, combinando-o com componentes atualizados e um desempenho melhorado, afirma a Logitech. 

Já o teclado PRO X TKL Rapid estreia switches analógicos magnéticos, com pontos de atuação que podem ser ajustados sem recorrer a software, permitindo executar comandos e movimentos com maior rapidez e precisão. Em destaque está também a integração de tecnologia SOCD (Simultaneous Opposing Cardinal Directions) para maior controlo sobre as jogadas durante as partidas. 

G915 X: Baixo perfil, alto rendimento 

Originalmente lançado em 2019, o teclado G915 ganha agora uma versão mais avançada. Com uma altura de 23 mm, o modelo mantém o design low-profile, passando a incluir switches redesenhados que, de acordo com a Logitech, permitem melhorar a estabilidade das teclas e a capacidade de personalização das mesmas, assim como reduzir o nível de ruído gerado. 

Se os atuadores integrados nos switches foram reduzidos de 1,5 para 1,3 mm, a marca aumentou a espessura da placa de alumínio superior de 1,2 para 1,5 mm para uma maior estabilidade estrutural. 

O teclado G915 X está disponível em três versões: integral e Tenkeyless (ambas com suporte a conectividade Lightspeed) por 249,99 euros e 229,99 euros; e com ligação por cabo, com um preço de 199,99 euros

O suporte a três opções de conectividade (Lightspeed wireless, Bluetooth e ligação via cabo) e a bateria foi melhorada, afirma a Logitech, que aponta para até 800 horas de autonomia com as luzes desligadas ou até 36 horas de uso contínuo com a iluminação RGB no máximo. A autonomia da versão Tenkeyless promete ir até 1.000 horas sem iluminação e 42% horas com a luminosidade do ecrã a 10%. 

Com botões físicos para controlo do volume e da reprodução de media, o G915 X suporta Keycontrol, que permite uma maior personalização das funcionalidades executadas pelas teclas, além de iluminação RGB personalizável através do G HUB. 

Acelerar a todo o gás

A par de teclados e ratos, a Logitech revelou uma nova Racing Series, concebida para os fãs de jogos de simulação de corridas. De acordo com a marca, o foco está em tornar a experiência o mais parecida possível à condução na vida real, mas também em dar aos jogadores a flexibilidade que desejam para adaptar os sistemas consoante as suas necessidades. 

No áudio, a quinta geração do headset de gaming A50 Gen 5 baseia-se na arquitetura do modelo A50 X, sendo concebida para jogadores multiplataforma. Com a tecnologia Playsync Audio é possível ligá-lo, via USB-C, a três sistemas em simultâneo, incluindo Xbox Series X|S, PlayStation 5 e PC, comutando entre eles ao pressionar num botão no headset. 

O headset também podem ser conectado a uma Nintendo Switch em modo ‘docked’ via USB e usar a tecnologia Playsync Audio para ‘saltar’ entre este e outros sistemas ligados.

A quinta geração do headset A50 chega ao mercado em outubro, mas já pode ser pré-encomendada, contando com um preço de 329,99 euros. 

No interior, os A50 Gen 5 estão equipados com um um microfone de alta resolução (48 kHz)  e drivers PRO-G Graphene. E que, segundo a Logitech, permitem reproduzir paisagens sonoras detalhadas e aumentar o nível de imersão nos jogos. A experiência de áudio pode ser personalizada com a app Logitech G, que traz modos de som pré-configurados além de opções detalhadas de ajuste. 

Para muitos de nós, colocar comida num recipiente de plástico significa usar um tupperware, mesmo que o fabricante seja outra empresa qualquer, de qualquer lado do mundo. Isso demonstra bem a força histórica da Tupperware, criada nos Estados Unidos da América em 1946, e cujo nome se tornou sinónimo de toda uma gama de produtos.

Esta quarta-feira, a empresa está perto do fim, com o pedido de falência apresentado em tribunal esta manhã. O grupo, que está presente em dezenas de países e também em Portugal, não resistiu às alterações profundas do comportamento dos consumidores, à concorrência chinesa e aos anos e anos de problemas financeiros.

No documento entregue em tribunal, a Tupperware estima ter responsabilidades financeiras de entre mil e 10 mil milhões de dólares (um intervalo estranhamente grande, diga-se), e ativos no valor de entre 500 e mil milhões de dólares. As ações da empresa haviam caído mais de 70% este ano, depois de os dados financeiros revelados em 2023 terem mostrado a situação muito difícil e por entre rumores, agora confirmados, de que a falência seria quase inevitável.

Depois de, durante décadas, a Tupperware ter estado absolutamente dominadora no segmento, a concorrência apertou muito, nomeadamente de fabricantes chineses mas não só. Por outro lado, a empresa nunca conseguiu realmente ganhar popularidade junto das novas gerações, para quem a fidelidade à marca era menos importante, isto apesar da apresentação recente de novos produtos e de uma estratégia de comunicação virada prara os mais jovens. Por último, tem crescido muito – também sobretudo junto das gerações mais jovens – a adoção de formas mais ecológicas de guardar comida, fugindo do plástico.

Este pedido de falência não significa necessariamente o fim da marca Tupperware. Com este processo, a empresa protege-se dos credores e deverá seguir-se uma venda de ativos, sendo possível que a marca venha a ter uma nova vida.

As origens da Tupperware

A empresa nasceu logo a seguir à II Guerra Mundial, com uma invenção de Earl Tupper, que patenteou o sistema de selagem em plástico flexível. Tupper acreditava que, numa altura em que não era assim tão comum haver um frigorífico em cada casa, havia um mercado gigantesco para a sua empresa, que ajudava as famílias a preservarem os alimentos por mais tempo. No entanto, o sucesso não foi imediato e Tupper chegou a pensar em desistir da ideia.

A grande mudança surgiu com a contratação de Brownie Wise, uma mãe solteira que, no início dos anos 50, inventou um modelo de venda inovador e extremamente bem sucedido: as festas Tupperware. Um grupo de mulheres juntava-se na casa de uma delas, convidava as amigas e, num ambiente festivo, bem disposto e com música, Wise fazia uma demonstração da qualidade dos produtos, com grande sucesso de vendas. Por outro lado, durante décadas, a Tupperware não vendia nas grandes superfícies, e sim através de vendedoras individuais, num estilo semelhante ao da Avon.

Este funcionamento levou Brownie Wise a ser a primeira mulher na capa da revista Business Week, em abril de 1954, enquanto elevava a Tupperware a um grupo que valia milhões, com milhares de vendedoras por todo o país. Para muitas destas “Senhoras Tupperware”, foi a sua primeira entrada no mundo do trabalho e do empreendedorismo.

O presidente da Junta de Freguesia de Campo e Sobrado, Alfredo Sousa, foi constituído arguido pelo crime de incêndio. Outros dois funcionários da junta – que pertence ao município de Valongo (Porto) – também foram constituídos arguidos.

Em causa está um incêndio que deflagrou na manhã de segunda-feira, no acesso à zona industrial de Campo, alegadamente provocado pelo facto de dois funcionários da autarquia estarem a limpar as ruas com roçadoras de disco, que terão gerado faíscas. A utilização deste equipamento estaria proibida, uma vez que o índice de perigo de incêndio rural, naquela região, se encontrava num nível máximo ou muito elevado.

Alfredo Sousa rejeita culpas no incêndio

Em declarações ao Jornal de Notícias, Alfredo Sousa rejeita culpas pelo sucedido, afirmando que apenas foi constituído arguido “na qualidade de presidente de junta”, e negando que o planeamento dos trabalhos de limpeza seja da sua competência na autarquia. Àquele jornal, o autarca admitiu que os funcionários “inadvertidamente” utilizaram “um disco metálico, quando deveriam ter usado um fio. “Quando soube do incêndio mandei parar todos os trabalhos de limpeza”, assegurou Alfredo Sousa.

O alerta para o fogo terá sido aos Bombeiros de Valongo, às 9h45 da manhã de segunda-feira. As chamas acabariam por causar graves prejuízos para a circulação ferroviária na linha do Douro, obrigando à paralisação da circulação durante cerca de uma hora.

Os dois funcionários, detidos pela GNR, por indicação da Polícia Judiciária, foram depois transportados às instalações da PJ do Porto, onde prestaram declarações. Sem antecedentes criminais, foi decretada aos arguidos a medida de coação de termo de identidade e residência.

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Numa das últimas conversas que tive com Gonçalo Ribeiro Telles, encontrei-o satisfeito com a extensão do Parque da Gulbenkian até ao limite natural da Rua Marquês de Fronteira e com o projeto de Kengo Kuma e Vladimir Djurovic para o Centro de Arte Moderna. As objeções antigas tinham desaparecido, uma vez que o edifício renovado passaria a ligar a natureza e a construção, deixando de haver um muro cego, privilegiando-se a leveza e a transparência, salvaguardando-se a qualidade da paisagem.

O Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian que reúne a mais significativa coleção de arte moderna e contemporânea portuguesa, em diálogo com o panorama internacional, reabre ao público depois de quatro anos de profunda remodelação. O CAM, da autoria original de Leslie Martin, inaugurado em 1983, graças à iniciativa do doutor Azeredo Perdigão, foi agora completamente redesenhado pelo arquiteto japonês Kengo Kuma, em colaboração com o arquiteto paisagista Vladimir Djurovic num projeto que visou estabelecer uma mais efetiva ligação entre a natureza envolvente e o edifício, que está imerso na paisagem, em sintonia com a ideia original de Gonçalo Ribeiro Telles e de António Viana Barreto. E o simbolismo da cobertura do engawa, o telhado do novo edifício da CAM, permite a ligação entre a imagem das placas de cerâmica branca inspiradas nos azulejos portugueses e o desenho das grandes embarcações que se aventuraram nos mares.

Abrangendo múltiplas iniciativas, a reabertura do CAM, inicia-se com Leonor Antunes, numa investigação e apresentação de obras e percursos de artistas mulheres, agora revelados à luz do dia, como elementos determinantes no movimento moderno, numa história antes marcada pelas desigualdades. O ponto de partida de Leonor Antunes é um diálogo rico e inesperado com Ana Hatherly, centrado no contraste entre as linhas do negro da tinta da china e o fundo branco num entrançado em que a aparência caligráfica representa a destreza e a fluidez, numa lógica de sobreposição, capaz de contrariar a “desigualdade constante” que o tempo foi aceitando por inércia e que a liberdade artística procura contrariar – abrindo espaço e tempo para quem antes ficava na penumbra… Da desigualdade constante dos dias de Leonor procura, assim, um sinal de coerência no sentido da igualdade e da superação de uma história de subalternidade e de exclusão, relativamente às artistas-mulheres.

O CAM, ao reabrir as suas portas, dá um sinal emancipador sobre a importância da mulher, fiel ao espírito de Madalena Azeredo Perdigão e ao ar fresco do ACARTE de boa memória, com o lema “Vamos correr ricos”. E Ana Hatherly vai às raízes e representa variações a partir do vilancete de Camões “Descalça vai para a fonte / Leonor pela verdura / vai formosa e não segura”. Um tema emancipador, vindo de tempos remotos, que abre campo à modernidade. Com uma rara capacidade de pôr em ação o confronto integrador de espaços, volumes e intervenções, Leonor Antunes articula e reconstrói diferentes experiências e tempos históricos, numa circularidade fecunda que realça a transparência do novo CAM, entre Arte e Natureza, numa rica hospitalidade para acolher um mundo múltiplo e diverso, disponível para encontrar os novos e os de sempre e capaz de entender a moderna contemporaneidade.

Linha de Maré é uma mostra que parte de 25 de Abril de 1974 para chegar aos nossos dias, com curadoria de Ana Vasconcelos, Helena de Freitas e Leonor Nazaré refletindo sobre as mudanças em curso, sobretudo relacionadas com o planeta, questionando a relação do homem com o mundo natural. São obras de pintura, desenho, vídeo, fotografia e escultura não antes mostradas, com Mónica de Miranda, Filipa César, Graça Pereira Coutinho, Kiluanji Kea Henda, Rui Chafes e Paulo Nosolino. Gabriel Abrantes assina uma instalação vídeo, Bardo Loop, encomenda original do CAM para a circunstância, que corresponde a uma reflexão muito séria e tocante sobre a dignidade humana.

Em O Calígrafo Ocidental, Fernando Lemos surge como o autor surpreendente e inesquecível, com uma obra muito rica e multifacetada que se exprime de um modo especial através de um diálogo peculiar com o Japão, que os portugueses foram os primeiros europeus a encetar, e que aqui se reinventa. Trata-se do testemunho vivo sobre o período passado pelo artista no Japão no ano de 1963, para estudar a caligrafia e a arte japonesas durante seis meses, graças à bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, que lhe permitiu um “encantamento” com que “encheu os olhos e a alma”. E costumava dizer: “Quanto mais desejo, mais invento o que vejo”. Eis o que pode dizer-se sobre o que significa a extraordinária originalidade do artista. E Fernando Lemos permite-nos compreender que a procura de uma sombra é sempre busca da eternidade, como ensinam os calígrafos japoneses, ajudados por uma sabedoria milenar, na qual o artista português procurou as raízes essenciais da dignidade humana. Afinal, “Letra é um desenho mudo que começa numa ponta e acaba noutra, produzindo sempre que caminha um som diferente”. É o que encontramos na fantástica exposição do CAM, concretizada por Rosely Nkagawa e Leonor Nazaré e enriquecida pela profunda reflexão de Ryuta Imafuku.

A Sala de Som recebe The Voice of Inconstant Savage, com uma instalação sonora de Yasuhiro Morinaga que sobrepõe uma oração inspirada no relato de um missionário português do século XVI, um canto dos cristãos escondidos, além de referências tradicionais de Nagasaki, da Amazónia e do canto gregoriano ocidental. Ainda no âmbito da Temporada de Arte Contemporânea Japonesa, o artista Go Watanabe apresenta uma intervenção, em que a sensibilidade criativa procura o encontro das diferenças.

Já Didier Faustino concebeu uma sala de vídeo itinerante, H-Box, apresentada no Centro Pompidou em 2007, numa encomenda da Fundação Hermès, que agora permite a apresentação de 12 vídeos, com curadoria de Benjamin Weil.

Contíguo à Galeria da Coleção encontra-se o acervo do CAM que terá parte das suas reservas acessíveis ao público, numa iniciativa original, que permite alargar a capacidade para mostrar a coleção. Pretende-se assim garantir que não haja um lado esquecido de uma coleção tão rica, dando aos visitantes a possibilidade de se reencontrarem com obras referenciais de várias décadas da ação da Fundação Gulbenkian na promoção da formação e do desenvolvimento da criação artística entre nós e no contexto internacional.

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O projeto de resolução do Chega [na Assembleia da República] de dar prioridade, no acesso gratuito às creches, a crianças cujos pais estejam empregados levanta vários problemas e de vários pontos de vista- Proponho-me sintetizar aqui alguns desses problemas e encará-los de um ponto de vista educacional.

Felizmente, a proposta suscitou um debate na Assembleia Regional dos Açores que a comunicação social classificou de “aceso”, mesmo “inflamado”, o que não impediu a resolução de ter sido aprovada a resolução com os votos do partido proponente e dos partidos da coligação de Governo: PSD, CDS-PP e PPM (embora dois deputados – um do PSD e outro do CDS – tenham abandonado o plenário no momento da votação, honra lhes seja feita!). PS, BE e PAN votaram contra e a IL absteve-se. 

A primeira questão levantada é a discriminação dos pais que não trabalham, pressupondo-se que poderiam tomar conta dos filhos. Os termos em que essa distinção é feita permitem reconhecer os conhecidos preconceitos contra os pobres que a extrema direita alimenta procurando culpabilizá-los pela sua condição e descrevendo-os como uns parasitas sociais: “… e eu não posso admitir que uma mãe que está em casa deixe os filhos na creche e depois volte para casa e leve o dia todo a ver televisão sem cuidar do seu filho”, teria dito Olivéria Santos, deputada do Chega.

Outro deputado do mesmo partido na Assembleia Regional teria afirmado: “Os meninos do RSI ocuparam as creches enquanto os pais vão para o café, para o supermercado, para onde quiserem…”    Ou seja, não só se introduz uma discriminação negativa entre os cidadãos, como se pretende justificá-la com frases preconceituosas reveladoras de desconhecimento das condições de vida e da cultura de parte da população, procurando bodes expiatórios entre os mais vulneráveis e introduzindo um critério não relevante, conforme disse o constitucionalista Bacelar Gouveia à Rádio Renascença.

Pior: não só reforçando uma desigualdade como criando uma nova desigualdade. E os termos utilizados recordam-nos inevitavelmente a forma como um governante do Norte da Europa se referiu aos habitantes do Sul, preguiçosos e bêbados… numa manifestação de racismo social e de incultura inconcebíveis no século XXI. Um olhar educacional sobre este problema levar-nos-ia a interrogarmos o nível cultural e de raciocínio moral dos seus defensores… 

Uma segunda questão de que apenas se suspeita tem a ver com a preparação de medidas legislativas, a informação incompleta designadamente sobre o aumento da procura e dos custos para a satisfazer. Segundo o Expresso de 18 de julho, “não se sabe ao certo quantas crianças estão em lista de espera”. Mais: a 31 de outubro de 2022 terá sido anunciado pelo Governo o acesso gratuito às creches nos Açores. Em janeiro de 2023 tal medida foi implementada e “desde então o número de crianças abrangidas disparou”, mas o número de lugares disponíveis não acompanhou este aumento.

Talvez seja tempo de reconhecermos que qualquer medida deve ser devidamente preparada, assente em informação fidedigna, designadamente em termos de calendarização e  custos, acompanhada durante um período suficiente e participada desde o início pelos principais interessados. 

Mas a principal questão tem a ver com a finalidade desta medida. Trata-se de auxiliar o mercado de trabalho ou de promover o desenvolvimento integral das crianças, em especial das mais desfavorecidas, de combater a pobreza e de reduzir as desigualdades socioeconómicas, culturais e educacionais?

Se houver que escolher entre estas duas finalidades deverá prevalecer o Superior Interesse da Criança, tal como consignado na Convenção sobre os Direitos da Criança que, como instrumento jurídico internacional, atribui ao Estado particular responsabilidade na sua aplicação. Citando Marta Santos Pais no encontro comemorativo da ratificação por Portugal em 1990 da Convenção: “É o Estado que, pela ratificação da Convenção, assume perante a comunidade internacional o compromisso solene de criar as condições necessárias e adequadas ao exercício efetivo pelas crianças sujeitas à sua jurisdição dos direitos reconhecidos por este texto”.

  Ora nos últimos anos os estudos das neurociências têm vindo a alertar para a importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento cognitivo das crianças, contrariando a ideia de uma inteligência geneticamente determinada , inata e imutável e indo ao encontro de estudos longitudinais iniciados nos anos 60 que mostraram o impacto extraordinário da educação precoce, 30 ou 40 anos depois, sobre a qualidade de vida dos adultos que dela beneficiaram – sobre a continuidade da sua educação mas também sobre a saúde, o emprego, a estabilidade afetiva e até a redução das infrações à lei com as consequentes sanções prisionais.

Para além de estudos mais de natureza psicológica e sociológica, também economistas se pronunciaram sobre a questão. O Conselho Nacional de Educação referiu esse facto há vários anos, defendendo a alteração da Lei de Bases do Sistema Educativo no sentido do reconhecimento da Educação ao Longo de toda a Vida (do nascimento até à morte) e a oferta educativa universal (embora não obrigatória) desde os primeiros meses. 

Luís Aguiar-Conraria, no Expresso de 25 julho 2024, recorda, a propósito deste caso, o prémio Nobel da Economia James Heckman para quem “os anos em que o investimento em educação tem maior retorno são os primeiros anos de vida”. Foi graças a estes estudos e tomadas de posição que se começou a defender a oferta gratuita de creches a todas as crianças. No entanto, sublinhe-se que, se as creches em geral proporcionam a satisfação de necessidades básicas de alimentação, higiene e segurança, agora quer-se que a sua intencionalidade educativa seja reforçada e a qualidade da sua oferta educativa garantida, como aconteceu quando a oferta do jardim de infância se universalizou – e sabemos como essa oferta ainda necessitaria de ser aprofundada, designadamente na área metropolitana de Lisboa e nos Açores…

Graças à indiscutível habilidade da extrema direita para suscitar o pior do ser humano, assistimos à transformação de uma medida educacional positiva e consensual, com efeitos também económicos e sociais a longo prazo, numa medida discriminatória das crianças mais desfavorecidas e com consequências  não só sobre os futuros adultos, não só sobre o desenvolvimento da Região e do País, mas ainda sobre o agravamento das desigualdades e da injustiça social.

Felizmente não andamos todos a dormir e certamente poderemos contar com a iniciativa de instituições   públicas como o Tribunal Constitucional ou de associações privadas  como o IAC (Instituto de Apoio à Criança), onde  personalidades como Manuela Eanes ou Dulce Rocha, que têm dedicado a sua vida à defesa dos direitos das crianças  certamente estarão atentas a este volte face…

Chega de não falar no Superior Interesse da Criança!

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