Na semana passada, logo após o início do ano letivo, chegou o primeiro pré-aviso de greve, na quinta-feira: no dia seguinte, o pessoal não docente iria parar, pelo que as escolas poderiam fechar. Funcionários 1 – 0 Governo. Esta quinta-feira, chega nova circular, datada de dia 23, segunda-feira: o pessoal não docente vai parar no dia 27 (amanhã); no dia 4 de outubro (sexta-feira que vem) e no dia 9 de outubro.

Que a “coincidência” de que três dos quatro dias de paralisação calhem à sexta-feira não precisamos de falar. Mas precisamos de falar de outras coisas:

  1. Nos últimos anos, os pais dos alunos – e a sociedade no geral – estiveram sempre do lado dos professores e do pessoal não docente. As reivindicações são justas, as condições em que trabalham são muitas vezes péssimas e estas são as pessoas que tomam conta, que fazem crescer, as nossas futuras gerações: merecem todo o respeito e dignidade.
  2. No ano passado, a juntar-se à falta de professores – que em muitas escolas só ficou resolvida muitos meses depois do início do ano letivo – as famílias viram-se a braços com dezenas de dias de greves, ora dos professores ora do pessoal não docente (que acaba por fechar as escolas). Durante todo o ano, ambas as classes profissionais tiveram o apoio público da grande maioria da população.
  3. Só que assim não é possível continuar. Façamos um exercício simples: se, por absurdo, este ritmo de greves continuar, à proporção de uma por semana, – talvez os alunos estejam a aderir já à semana de quatro dias, o que acho ótimo, mas poderia ser feito de outra forma, que todos nós nos organizávamos para fazer acontecer – falamos de mais de 30 dias em todo o ano letivo. TRINTA DIAS. Um mês inteiro.
  4. Ora, num País onde quase oito em cada dez estudantes que frequentam o ensino superior (79%) são filhos de pais que também têm estudos superiores – contra 21% de alunos cujos pais deixaram de estudar mais cedo – a escola continua a ser a única via de progressão social. E está a deixar para trás quem já vem de uma situação de desvantagem. “Nós não estamos a conseguir reduzir o gap entre os alunos de contextos sociofamiliares mais favorecidos e os menos desfavorecidos, o que significa que temos falhas na garantia de igualdade de oportunidade”, referia o Ministro da Educação, Fernando Alexandre, há umas semanas. Falava sobre os dados constantes no relatório “Education at a Glance 2024”, onde Portugal aparece como o país da OCDE com mais alunos cujos pais não concluíram o ensino secundário.
  5. No mesmo sentido, salientou na altura o Ministro, “em Lisboa, 29% dos alunos não chegam, não entram, nunca apareceram no ensino superior e cerca de 33% dos jovens de Setúbal nunca estiveram inscritos em nenhum curso de ensino superior, nem num TesP [curso técnico superior profissional]”.
  6. Vamos a mais um exercício simples. Para um aluno pertencente a uma família de classe média, um dia de greve pode significar uma de duas coisas: ou fica em casa porque um dos pais até pode estar em teletrabalho, ou vai para um Centro de Estudos ou ATL privado que já frequente – o que é mais comum nas grandes cidades, onde a oferta existe… Nesse dia até poderá fazer fichas, aprender sobre um assunto novo, ler um livro e, garantidamente, terá acesso a boas refeições.
  7. Para um aluno que venha de uma família desfavorecida, um dia de greve pode, porém, significar que um dos pais tenha de faltar ao trabalho – e, muito possivelmente, perder esse dia de salário. Isto porque os CAF (Componente de Apoio à Família) funcionam nas escolas. Que fecham porque não há pessoal não docente…
  8. Para um aluno que venha de uma família desfavorecida, um dia de greve pode ainda significar um mais difícil acesso a uma refeição decente. Dados do PISA, divulgados no final do ano passado, mostravam que Portugal é o país da OCDE onde menos alunos ficam sem comer por falta de dinheiro. “Por exemplo, a Ação Social Escolar tem uma componente importante relativamente à alimentação e refeições em espaço escolar. Esta vai desde a gratuitidade (para crianças no primeiro escalão) até ao pagamento total, mas, ainda assim, um valor apoiado que ronda um euro e meio no seu custo final para todas as crianças e jovens”, explicava na altura Tiago Caliça, analista da OCDE, ao Público. Por outras palavras: muitas crianças não passam fome em Portugal porque comem na escola. Se esta fecha, é menos um dia de refeições a que têm acesso. E, como também é amplamente conhecido, a nutrição tem um impacto muito significativo na aprendizagem.

Todos nós, pais, estamos à partida solidários com as causas de quem cuida dos nossos filhos. São causas de todos e é assim que tem de ser, porque, mais uma vez, as novas gerações são o futuro do País. Mas há uma altura em que o remédio pode matar o paciente. Repito: o ano letivo começou há nove dias. O início da escola é algo muito relevante para os alunos e as famílias: é o regresso das rotinas, é o crescimento, é o aumento das responsabilidades, é o reencontro dos amigos, é a certeza de que crianças e jovens estão num espaço seguro, com comida e conhecimento à disposição. É, para muitas famílias mais pobres, a garantia de que se pode trabalhar todos os dias, aumentando os rendimentos, enquanto os filhos estão em segurança.

Quatro greves, em quatro semanas, tendo sido a primeira realizada quatro dias apenas após o início do ano letivo – são muitos quatros numa mesma frase, mas a culpa não é minha… – parece excessivo. E parece, acima de tudo, pouco sensato. Sobretudo porque penaliza quem já é mais penalizado à partida, e quem tem menos responsabilidade nisto tudo: os alunos.

 Não sei que conversas já terá havido com o Ministério de Fernando Alexandre. Mas não me lembro de nenhum ministro da Educação que tenha levado com tantas greves seguidas com apenas seis meses de mandato – pode estar a falhar-me a memória, naturalmente.

A escola pública é um desígnio nacional – já o escrevi muitas vezes aqui. Todos nós devemos lutar por ela, tal como lutamos por uma Saúde e uma Justiça que sirva a todos. Mas, a continuarmos assim, a escola pública continuará a servir apenas os que podem pagar uma alternativa para os dias em que não há aulas. E, nesse caso, ninguém ganha. Aliás, é pior do que isso: perdemos todos. Sobretudo enquanto País.

(Leia abaixo o pré-aviso de greve que foi divulgado esta semana)

O gabinete de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, rejeitou esta quinta-feira as notícias de um cessar-fogo de 21 dias no Líbano nas próximas horas, referindo que os combates vão continuar “com toda a força”.

“As notícias sobre um cessar-fogo são incorretas. Trata-se de uma proposta franco-americana, à qual o primeiro-ministro nem sequer respondeu”, explicou o gabinete de Benjamin Netanyahu através de um comunicado citado pela agência espanhola EFE.

Segundo o seu gabinete, o primeiro-ministro israelita “deu instruções às Forças Armadas para continuarem os combates com toda a força e de acordo com os planos apresentados”, lê-se.

Na quarta-feira vários países – incluindo os Estados Unidos, UE, Canadá, Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar – emitiram uma declaração conjunta apelando a um cessar-fogo de 21 dias na fronteira entre Israel e o Líbano. O cessar-fogo visava fomentar negociações com reféns entre Israel e o Hamas, numa guerra que já dura há 11 meses na Faixa de Gaza.

“Os combates em Gaza continuarão até que todos os objetivos da guerra sejam alcançados”, acrescentou o comunicado.

Palavras-chave:

Uma mistura de avanços tecnológicos em várias áreas permitiu à Meta desenvolver o Projecto Nazare, de onde saíram os óculos de realidade aumentada “mais avançados” Orion. Estes óculos, apresentados durante o evento Meta Connect 2024, vão estar disponíveis apenas para um público selecionado, onde se incluem funcionários da Meta, para ajudara a desenvolver mais a linha de produtos de realidade aumentada da empresa.

Em comunicado, a empresa explica que os Orion surgem porque acredita que “as pessoas não devem ter de fazer uma escolha entre um mundo de informação ao alcance dos dedos ou estarem presentes no mundo físico à sua volta”. Os óculos de realidade aumentada permitem criar grandes ecrãs holográficos em frente ao utilizador, tendo o mundo real como pano de fundo e colocando conteúdos 2D e 3D e outras experiências por cima, integrando Inteligência Artificial contextual que antecipa e responde proactivamente às necessidades. Por outro lado, apresentam a vantagem de serem leves e ideias para uso quer dentro de portas, quer fora, permitindo continuar a ver outras pessoas e as suas expressões.

A empresa salienta a evolução deste segmento desde os Ray-Ban Meta que abriram uma nova categoria para realçar que os Orion levam o desafio para outro nível. Os componentes são integrados em frações de milímetros e é possível criar novos paradigmas de interação humano-computador, num produto coeso. Os Orion mostram o maior campo de visão em óculos de Realidade Aumentada, possibilitando multitasking e entretenimento verdadeiramente imersivo.

Com as suas lentes completamente transparentes e um formato leve, os óculos podem ser usados o dia todo, enquanto se mantém a vista sobre tudo o que nos rodeia. A integração do assistente inteligente Meta AI permite, por exemplo, abrir o frigorífico e pedir para se mostrar uma receita que se possa fazer com aqueles ingredientes ou realizar uma videochamada e marcar algo no calendário digital, ao mesmo tempo que se lava a loiça.

No futuro, espera-se que os Orion sejam disponibilizados a um público mais alargado com o objetivo de desenvolver internamente o aparelho e preparar uma versão otimizada para o consumidor final, indica a empresa em comunicado.

Outra novidade anunciada pela Meta durante o evento Connect é o Quest 3S, a versão mais barata do headset de Realidade Mista (299,99 dólares), mas que promete ter um desempenho rápido. O Quest 3S é “o melhor headset para quem é novo na realidade mista e experiências imersivas ou para quem está à espera de uma atualização de baixo custo do Quest e do Quest 2”, explica o comunicado. Ver um filme ou série num ecrã do tamanho de um ecrã de cinema, contactar diretamente com o personal trainer, realizar várias tarefas em simultâneo ou jogar são algumas das possibilidades de um headset de realidade mista.

Veja o headset Meta Quest 3S

Neste headset, o sistema operativo Meta Horizon foi melhorado para lidar melhor com computação espacial e ter um melhor suporte para aplicações 2D, como YouTube, Facebook ou Instagram. Há um Travel Mode que permite usar o headset enquanto se viaja. O Quest 3S é compatível com a atual biblioteca de milhares de aplicações e jogos e vai ser alguns exclusivos como Batman: Arkham Shadow.

Além do novo headset, que chega em breve aos Estados Unidos, a Meta anunciou a redução de preço da versão de 512 GB do Meta Quest 3 (de 649,99 dólares para os 499,99) no mesmo mercado.

A fábrica da Stellantis em Mangualde foi a primeira a produzir carros 100% elétricos no nosso país e este e-Partner da Peugeot foi o primeiro modelo a sair da linha de montagem. Trata-se de um comercial ligeiro, um pequeno furgão, que, como vamos demonstrar, é ideal para distribuição urbana e suburbana.

Nos comerciais ligeiros, muitas vezes a tecnologia é esquecida. Não é o que acontece no e-Partner. O sistema de infoentretenimento é compatível com Android Auto e Apple CarPlay, permitindo a integração do smartphone com o veículo. Através do ecrã tátil, é possível aceder a mapas, música, chamadas e outras funcionalidades, mantendo as mãos no volante e os olhos na estrada. Graças às aplicações da marca (My Peugeot), é fácil ter acesso remoto ao carro, bem como algumas informações sobre as viagens e consumos que podem ser úteis para a análise do custo de operação. Uma funcionalidade com particular interesse para as empresas, que podem usar estes serviços para melhor gerirem a frota.

É curioso termos, num veículo comercial, aquele volante pequeno, ‘cortado’ em cima, que nos habituamos a ver nos automóveis da Peugeot. Um volante que dá um toque mais desportivo a este carro de trabalho e, mais importante, resulta numa boa ergonomia, já que o painel de instrumentos, o característico i-Cockpit, fica com grande visibilidade. As informações essenciais, como a velocidade, a autonomia e o estado da bateria, são apresentadas de forma clara e organizada, facilitando a leitura e reduzindo as distrações. Aliás, a posição de condução, os bancos, a suspensão e a posição dos comandos garantem um nível de conforto considerável para um veículo comercial. Na verdade, é fácil esquecermos que não estamos ao volante de um pequeno SUV de passageiros.

Peugeot e-partner
O ecrã tátil de 10 polegadas facilita a navegação através dos mapas fornecidos (TomTom) ou, por exemplo, do Google Maps e Waze (via Android Auto)

Questões práticas

Apesar da ajuda dos sensores de estacionamento, na versão ensaiada as manobras foram dificultadas por falta de câmara traseira – naturalmente, num comercial com caixa de transporte fechada, não há espelho central. Mas um dos opcionais é o Surround Rear View, que adiciona um espelho digital e possibilidade de ter uma visão traseira ampla no ecrã central. Como é habitual neste tipo de carro, há vários espaços de arrumação, incluindo porta-documentos no tejadilho. O banco central pode ser rebatido para funcionar como mesa de apoio – para usar um computador portátil, por exemplo. Ainda mais prático, o banco do passageiro junto à porta pode ser rebatido, funcionando como escotilha de acesso à caixa de carga, permitindo transportar objetos longos, como tubos ou tábuas.

Mas vamos à característica mais diferenciadora da versão elétrica da e-Partner: o custo total de utilização (TCO). É verdade que o custo base, já com IVA, da versão elétrica é cerca de €10.000 mais caro que a versão Diesel de acesso (1.5 BlueHDi 100 cv), mas a recuperação do IVA e outros benefícios fiscais rapidamente podem anular esta diferença – isto para empresas, claro.

Peugeot e-partner
Num posto rápido, o carregamento de 0 a 80% faz-se em meia hora. De outro modo, 15 minutos de carregamento permitem recuperar cerca de 60 km de autonomia em média

Depois entram as vantagens de ser elétrico, como o potencial para um custo energético por 100 km em redor dos €3. Isto para carregamentos na empresa, usando energia elétrica própria. Naturalmente, estes valores aumentam consideravelmente usando postos públicos. Para chegarmos ao custo apresentado, recorremos aos consumos médios que medimos: 16 kWh em circuito misto e 18 kWh em autoestrada (velocidade entre 100 a 110 km/h).

Peugeot e-partner
No teste de autoestrada, onde tentámos andar entre 100 e 110 km/h, acabámos com uma média de cerca de 18 kWh/100 km. O que permitiria uma autonomia prática (acabar com 10 a 20% de bateria) de uns 250 km

O perfil ideal de utilização deste carro será carregamentos durante a noite na empresa (ou em casa do trabalhador) e percursos diários urbanos e suburbanos entre 200 a 300 km. Neste perfil de utilização, as vantagens económicas do e-Partner em termos de TCO relativamente às versões com motores de combustão são muito evidentes. Até porque ainda devemos considerar os menores custos relacionados com a manutenção e, não menos importante, o menor número de intervenções. Sabemos que os motores Diesel estão longe de ser ideias para entregas do tipo porta a porta, onde são constantes as operações de ligar e desligar o motor, o que reduz significativamente a fiabilidade e aumenta os consumos. Os elétricos são completamente imunes a estes problemas e, graças à boa regeneração – há patilhas no volante para reduzir/aumentar a regeneração – numa condução cuidada é fácil não usar os travões, evitando os custos associados ao desgaste de pastilhas e discos.

Peugeot e-partner
A escotilha permite transportar objetos longos à custa da perda do lugar do passageiro

Além da economia, o desempenho do e-Partner é notável. A aceleração e a resposta são significativamente superiores às das versões a gasóleo e gasolina, proporcionando uma condução mais ágil e satisfatória, sobretudo em ambiente urbano. O que também tem consequências óbvias a nível de conforto e bem-estar do condutor. A força e disponibilidade imediatas do motor elétrico, a ausência de caixa de velocidades, o pouco uso do travão, o menor ruído e a ausência de vibrações… São vantagens que fazem toda a diferença para quem passa várias horas ao volante.  

Peugeot e-partner: o veredicto

O Peugeot e-Partner é uma carrinha elétrica que impressiona pela sua tecnologia, eficiência, desempenho e praticidade. Para muitos perfis de utilização típicos para este tipo de viaturas, o TCO é muito mais atrativo do que as versões com motor a combustão. De tal modo que só mesmo uma má gestão poderia levar a outra escolha. Depois, há que destacar que este é um carro produzido em Portugal, que representa um passo importante rumo a um futuro mais sustentável e tecnológico na indústria automóvel nacional.

Tome Nota
Peugeot e-Partner – Desde €35.644 (com IVA)
peugeot.pt

Autonomia Bom
Infoentretenimento Bom
Comunicações Satisfatório
Apoio à condução Bom

Características 100 kW, 276 Nm ○ Acel. 0-100 km/h 11 segundos ○ Vel. Máx. 132 km/h ○ Bateria 50 kWh, autonomia até 341 km (WLTP) ○ Carregamento AC até 7,4 kW (11 kW opcional), DC (rápido) até 100 kW ○ carga: até 4,4 m3, 500 kg.

Desempenho: 4,5
Características: 4
Qualidade/preço: 4,5

Global: 4,3

A pouco mais de cinco anos do primeiro grande ‘deadline’ para a descarbonização, e em linha com os objetivos definidos pela União Europeia (UE), a corrida contra o tempo deixou já de ser uma maratona para obrigar a um ‘sprint’ de campeão.

Neste contexto, não basta descarbonizar transportes e apostar na construção de novos edifícios com elevada eficiência energética quando, em Portugal, quase um quinto da população não consegue aquecer devidamente a sua casa no inverno, ou arrefecê-la no verão. A taxa de pobreza energética é de 17,5%, de acordo com os dados da UE, o que faz da “reabilitação uma solução-chave para um país energeticamente mais eficiente”, defende José Martos, CEO da Saint-Gobain Portugal.

A melhoria das condições das habitações e a descarbonização do parque edificado português estão na lista de prioridades da Saint-Gobain, nomeadamente através da reabilitação urbana. Desta forma será possível renovar um parque habitacional que cresce de forma muito lenta. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), nos últimos dez anos, este crescimento foi de 1,7%, dos quais apenas 0,87% materializados em alojamentos e edifícios.

Envolvente exterior é essencial para eficiência energética dos edifícios

A eficiência energética dos edifícios é igualmente um desafio para o setor imobiliário, muito pressionado pela necessidade de redução das emissões. O isolamento térmico e o controlo solar são características que contribuem para a eficiência energética na construção, conseguidas por intermédio de materiais como o vidro. “Estas soluções fazem parte da nossa proposta de valor”, sublinha José Martos.

O CEO da Saint-Gobain Portugal explica que a empresa oferece alternativas à construção pesada, através de soluções e serviços mais sustentáveis (emissões de carbono reduzidas, menor consumo de recursos, desmantelamento fácil, melhor conforto) e com maior desempenho (tempo de construção mais curto, poupanças financeiras).

A Saint-Gobain incorpora matérias-primas recicladas nos seus produtos, numa aposta clara em soluções mais sustentáveis

O investimento na área de Investigação & Desenvolvimento (I&D) materializa também o compromisso da marca com a sustentabilidade e a inovação. A incorporação de matérias-primas recicladas na formulação dos produtos, como o cimento-cola webercol flex lev ou o vidro Oraé® composto por 70% de casco reciclado são apenas alguns exemplos do trabalho realizado nos laboratórios da Saint-Gobain.

Já para as fachadas, as soluções ETICS para o isolamento térmico pelo exterior permitem maior eficiência energética mesmo nos edifícios mais antigos, com poupanças significativas ao nível da climatização. Estas soluções são muito eficazes em edifícios com isolamento térmico insuficiente, infiltrações ou aspeto degradado, diminuindo o risco de condensações.

Para as janelas, a Saint-Gobain desenvolveu uma solução de vidro com elevada capacidade isolante (duplo ou triplo). Trata-se do vidro Climalit® Oraé®, que incorpora 70% de resíduos de vidro, o que permite reduzir as emissões de carbono em cerca de 40% em comparação com a produção tradicional de vidro, mantendo as propriedades.

Esta solução, que foi vencedora do Prémio Escolha Sustentável 2024, é apenas uma de entre outras que estão ainda em desenvolvimento, como é o caso da reciclagem de vidro proveniente de renovações ou demolições, reaproveitado e incorporado no processo de produção de novo vidro. 

Saiba como a Saint-Gobain pode ajudar a reduzir a pobreza energética com soluções e serviços mais sutentáveis.

O Concurso CaixaImpulse Inovação, da Fundação ”la Caixa” ajuda a transferir conhecimentos científicos à sociedade através da criação de novos produtos, serviços e empresas relacionados com as ciências da vida e da saúde. Tal é conseguido através do apoio a projetos biomédicos inovadores, ajudando-os a validar o(s) seu(s) ativo(s) e a definir a sua estratégia de valorização e exploração.

Em Portugal, o programa, em colaboração com o BPI, integra o apoio à investigação, o conhecimento do mercado e a capacidade de impulsionar o desenvolvimento futuro das empresas. O objetivo é gerar um ambiente favorável à valorização do conhecimento científico criado pelos centros de investigação e inovação e contribuir para a sua transferência para o mercado.

Estrutura e requisitos

Para alcançar estes objetivos, o programa está organizado em três fases. Os candidatos podem concorrer a qualquer uma delas e, uma vez selecionados, avançar para a seguinte após cumprirem os objetivos necessários e serem avaliados por especialistas independentes.

Além do financiamento

Sendo o principal objetivo do programa dotar os projetos das ferramentas e da maturidade necessárias para atrair recursos essenciais para um impacto significativo, a Fundação ”la Caixa” detectou a necessidade de dotar os investigadores empreendedores de um conjunto adequado de competências e de compreensão do processo de inovação.

Por esta razão, além de um apoio financeiro de até 700.000€ para projetos que passam por todas as fases, o programa coloca uma grande ênfase no apoio não financeiro. Assim, os projetos beneficiam do acompanhamento de especialistas da indústria, consultores e empreendedores que ajudam a definira melhor estratégia de valorização e desenvolvimento e fornecem feedback constante, bem como de formação especializada em áreas como gestão de projetos, transferência de tecnologia, avaliação, instrumentos financeiros e de comercialização e, ainda, negociações.


NÚMEROS
Concurso CaixaImpulse de Inovação em Saúde
2015-2024

44
Empresas criadas

231
Projetos já apoiados

> 4 mil
Horas de mentoria ministradas

24,7M€
Valor total de financiamento

+100M€
Financiamento adicional


Resultados

Alguns projetos já avançaram os seus ativos para fases de desenvolvimento substanciais, de que é exemplo o projeto “Fenotipagem de células tumorais circulantes para monitorizar a dinâmica do cancro”.

Liderada por Lorena Diéguez, investigadora do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, a equipa desenvolveu um sistema microfluídico que permite o isolamento rápido e eficiente de todos os tipos de células tumorais circulantes (CTC) diretamente a partir de amostras de sangue total, sem necessidade de pré-processamento.

Lorena Diéguez, investigadora do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia © Luís Vieira

Esta tecnologia, transferida agora para a empresa RUBYnanomed, facilita, assim, uma monitorização mais frequente (mesmo numa base diária), um diagnóstico da doença mais precoce e mais preciso e permite uma medicina personalizada bem sucedida, reduzindo em cerca de 40% os custos para o sistema público de saúde.

O apoio do CaixaImpulse foi crucial por ser a primera empresa portuguesa a conseguir o prestigiado fundo da Comissão Europeia EIC Accelerator, em 2021, com 7 milhões de euros para a aprovação regulatória e a comercialização da tecnologia como sistema de diagnóstico.

Conheça outros projetos vencedores do Concurso CaixaImpulse Inovação em Saúde.

A área ardida em Portugal continental, nos incêndios de setembro, foi superior a 124 mil hectares. Os fogos provocaram sete mortos e mais de 170 feridos, devolvendo à memória a tragédia de 2017. O que voltou a falhar?
O primeiro-ministro Luís Montenegro incumbiu-me de coordenar no terreno o apoio às vítimas destes incêndios. Não estive envolvido nas operações de combate aos fogos, não estou a investigar causas. A minha missão é, simplesmente, apoiar quem foi diretamente afetado pelos incêndios. O que posso dizer, neste momento, é que senti a emergência de dar respostas a pessoas que ficaram privadas de tudo ou de quase tudo. É esta a prioridade: resolver o problema de quem precisa, com a ajuda, em primeiro lugar, das câmaras municipais e, depois, do Governo.

E em que fase é que o processo se encontra?
Para já, está a decorrer o levantamento e a quantificação dos prejuízos, para, muito rapidamente, podermos definir e aprovar os apoios para cada uma das situações. O que é preciso é fazer chegar, de facto, os apoios às pessoas necessitadas. Essa é que é a parte difícil.

No passado, em situações idênticas, o apoio às vítimas dos incêndios tardou a chegar. É possível, desta vez, contornar a burocracia?
Esse é um equilíbrio muito difícil, que exige muito bom senso e experiência de vida. Tenho a noção de que a administração pública portuguesa, na dúvida, pede sempre mais um papel. Desta vez, as coisas têm de acontecer de forma diferente.

Em 2017, houve casos de fraude durante este processo. Como é que, por um lado, se evita a burocracia e, por outro, fraudes? Pode garantir que os apoios vão chegar a quem, efetivamente, precisa?
Tenho conversado com pessoas que estiveram envolvidas na mesma situação há sete anos, para recolher a experiência delas e poder perceber o que correu bem e corrigir o que correu mal. A maior falha, naquela altura, não foi a entrega incorreta de apoios, mas a demora na chegada do socorro às pessoas. Essa falha, sim, foi maior e mais grave. Neste momento, o que queremos é fazer chegar o apoio com a maior urgência possível. O princípio é pôr a tónica nas vítimas e limitar a burocracia ao estritamente indispensável.

Tem exemplos concretos das dificuldades que espera encontrar?
Imagine que a casa de um cidadão com 70, 80 anos ardeu e ele não tem nenhum documento capaz de comprovar que a casa é sua… Vamos ficar à espera que este homem obtenha os documentos todos para o ajudar? Não é preferível falar com quem o conhece desde sempre? Se pudermos recolher os testemunhos dos vizinhos, daqueles que podem confirmar-nos que a pessoa sempre ali morou, se tivermos os presidentes da câmara municipal e da junta de freguesia a testemunharem isso, não devemos valorizar a informação? Ou é preferível ficarmos à espera, durante meses, de um papel para ajudar este cidadão? É uma escolha que tem de ser feita. E prefiro valorizar mais a realidade do que os papéis.

O primeiro-ministro Luís Montenegro prometeu perseguir “sem perdão” os incendiários, e ainda afirmou que “há interesses” que explicam os fogos, versão rejeitada por PJ e GNR. Acompanha estas “suspeitas”?
Quem anda no terreno não pode ignorar o sentimento generalizado de que há mão criminosa por trás destes incêndios. O que o primeiro-ministro anunciou é que o Governo vai criar uma equipa especializada para fiscalizar e detetar os autores dos incêndios, e apurar se existe alguma rede organizada por trás disto. A obrigação do Governo é descobrir a verdade, mas não há, para já, nenhuma conclusão. É preciso, acima de tudo, perceber o que está a acontecer no País. No fim da investigação, logo se verá o que esteve na origem destes incêndios. Se não houver nenhuma rede organizada, excelente; mas, se houver, é preciso levar estas pessoas à Justiça.

Não considera que, neste caso, Luís Montenegro assumiu uma posição que pode ser considerada populista?
Não. Parece-me, aliás, uma opção muito tranquila do primeiro-ministro.

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Castro Almeida: O “fazedor” discreto que o fogo (e a mala) tornou protagonista

Palavras-chave:

Manuel Castro Almeida não precisou de inserir no GPS as coordenadas para chegar a Albergaria-a-Velha, por caminhos cercados pelas chamas e pelo fumo dos incêndios que lavraram, durante cinco dias, no Norte e no Centro do País. O governante que Luís Montenegro escolheu para coordenar no terreno o apoio às vítimas dos fogos conhece a região como a palma da sua mão; e apesar das longas temporadas passadas nos corredores do Governo e do PSD, na capital, faz questão de nunca se demorar muito tempo longe do lugar onde lhe cresceram as raízes.

O ministro Adjunto e da Coesão Territorial nasceu em São João da Madeira, nos primeiros dias do outono de 1957. O seu carácter de “fazedor” – reconhecido unanimemente por todos com quem a VISÃO falou para este artigo – revelou-se, ainda na adolescência, quando tomou a iniciativa de bater à porta da câmara municipal local, quando tinha apenas 16 anos, para agarrar um posto como administrativo nos serviços daquela autarquia. Aliás, foi com estatuto de trabalhador-estudante que se formou em Direito pela Universidade de Coimbra, integrando o primeiro curso daquela faculdade no pós-25 de Abril (1975-1980).

Regresso Em 2013, Castro Almeida deixou São João da Madeira para voltar ao governo. Antes, tinha sido secretário de Estado no último executivo de Cavaco Silva (1993-1995) Foto: Miguel A. Lopes/LUSA

A carreira, no entanto, nunca passou pelos escritórios dos advogados nem pelas salas dos tribunais. Mas as memórias daqueles tempos permanecem vivas nos afetos que, ainda hoje, gosta de alimentar. “Ao longo dos anos, foi sempre um dos meus melhores amigos”, confidencia, à VISÃO, Luís Marques Mendes. O ex-presidente do PSD precisa de poucas palavras para retratar Castro Almeida, uma pessoa “simpática, muito correta, leal e amiga do seu amigo”. “Sou suspeito, não é? Mas, se tivesse de o descrever, numa única frase, diria que tem uma característica marcante: é muito competente em tudo aquilo em que se mete”, salienta o mediático comentador televisivo.

Profissionalmente, Castro Almeida fixou-se como quadro da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), experiência que viria a traçar-lhe o destino, Os anos de trabalho fizeram-no especialista em fundos estruturais, autarquias locais e ordenamento do território, dossiers que passou a dominar como poucos, pastas que Luís Montenegro agora lhe atribuiu.

Repetição Depois de fazer parte do executivo de Pedro Passos Coelho, Castro Almeida repete, agora como ministro, a presença num governo apoiado por PSD e CDS-PP  Foto: Marcos Borga

Naqueles gabinetes, conviveu com Valente de Oliveira, então presidente da CCDR-N (1979-1985) e antigo ministro dos executivos de Carlos Mota Pinto, Cavaco Silva e Durão Barroso, que se tornaria a sua  “grande referência”. “Posso dizer que, em muitos momentos, quando tenho de tomar decisões, penso: ‘Como é que decidiria Valente de Oliveira?’”, confessa, à VISÃO, Castro Almeida.

Reconhecido pelas competências técnicas, seria “empurrado” para a política, embora sem especiais pretensões. Primeiro, foi deputado do PSD (1991-2002); depois, assumiu funções governativas, estreando-se como secretário de Estado da Educação e do Desporto (1993-1995), no último governo de Cavaco Silva, e passando pelos executivos de Pedro Passos Coelho, como secretário de Estado do Desenvolvimento Regional (2013 e 2015). De perfil discreto e ponderado, foi o know-how nas “suas” áreas que o promoveu a ministro, responsável, por exemplo, por acelerar a execução do PRR nos próximos anos. “Diria que é um político diferente do tradicional, com conhecimentos e capacidades técnicas que o tornam a pessoa certa para determinadas tarefas”, explica Luís Marques Mendes.

Um técnico feito ministro

Durante os quase dez anos em que se sentou na Assembleia da República – chegou a ser vice-presidente do grupo parlamentar do PSD e coordenador nas áreas de Economia, Finanças e Educação, entre outras –, Castro Almeida nunca deixou de “sonhar” com a eleição como presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira, terreno hostil ao PSD, sociologicamente de esquerda, mas uma autarquia dominada, no último quarto do século passado, por Manuel Cambra, figura popular ligada ao CDS-PP.

Acérrimo defensor da descentralização e da regionalização, Castro Almeida deixou Lisboa para trás, para cumprir esse “sonho”, de “trabalhar em prol da sua terra e das suas gentes”. Durante três mandatos incompletos (2002-2013), teve os votos da maioria dos conterrâneos; um deles, ainda jovem, tentou contrariar a tendência, em 2009, candidatando-se pelo PS. O nome dele era (e é) Pedro Nuno Santos.

Zanga O ministro era o braço-direito de Rui Rio quando este era presidente do PSD.A demissão como vice da direção laranja tornou “fria” a relação entre os dois ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

“[Castro Almeida] é, ainda hoje, um ‘bairrista’, do ponto de vista ‘saudável’ do termo, naturalmente. A sua experiência autárquica foi muito marcante. O que lhe dá uma capacidade de se relacionar com todas as pessoas, no terreno, de uma forma próxima e fácil”, diz Marques Mendes. A popularidade de Castro Almeida mantém-se em alta entre as gentes são-joanenses.

A aventura autárquica terminou com o salto para o governo de Pedro Passos Coelho, que teve o dedo do então ministro do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro. O governante, recém-chegado ao País, “não conhecia” Castro Almeida, mas acabou por o escolher depois de “o seu nome ter sido sugerido, insistentemente, por várias pessoas”. “A pasta do Desenvolvimento Regional era muito importante. Liderávamos a discussão do acordo de parceria entre Portugal e a União Europeia e os programas operacionais, no âmbito do Quadro Financeiro Plurianual [2014-2020]. Tinha de escolher bem. Escolhi Castro Almeida e nunca me arrependi”, sublinha.

Confiança Luís Montenegro aposta nas capacidades operacionais de Castro Almeida,dando-lhe a tarefa de apoiar, no terreno, as vítimas dos incêndios Foto: José Sena Goulão/ LUSA

Entretanto, passou uma década, mas Poiares Maduro ainda consegue recordar-se de como ficou “impressionado” pela personalidade e pelos conhecimentos que o colega tinha em matéria de fundos europeus. “Demo-nos logo muito bem. Desenvolvemos, rapidamente, uma forte relação de amizade, muito próxima, que, felizmente, ainda hoje mantemos.” O carácter “leal e íntegro” do atual ministro não deixa dúvidas a Poiares Maduro. “Sabe, ponho as mãos no fogo por muito poucas pessoas, mas Castro Almeida é claramente uma delas”, resume.

Pedro Passos Coelho também partilha os elogios. À VISÃO, o antigo primeiro-ministro “fura” a regra que se impôs de “não falar” de atores políticos, admitindo ter uma “muito boa opinião” de Castro Almeida. “É alguém com muita experiência, tecnicamente muito bem preparado, mas também com grande sensibilidade política. Há quem seja muito menos consensual, sem dúvida. Penso que todos reconhecem as suas qualidades. Do que me recordo, Castro Almeida apenas por uma vez entrou em choque, com Rui Rio”, conta Passos Coelho.

A “zanga” com Rui Rio

Menos de 48 horas antes de colocar o pé numa Albergaria-a-Velha cercada pelas chamas, Castro Almeida cruzou-se com Rui Rio durante um casamento. A relação dos antigos colegas autarcas, antes amigos próximos, cúmplices dentro e fora do partido, talvez não volte a ser como era, mas quem assistiu assegura que o diálogo decorreu de forma “muito agradável”.

A “zanga” deu-se dentro de portas: quando Rui Rio foi eleito presidente do PSD, desafiou Castro Almeida para ser vice-presidente do partido. A escolha parecia lógica, mas a relação parece que se foi degradando (silenciosamente). Em 2019, Castro Almeida passou a manifestar “discordância” pela forma como o partido estava a ser dirigido. Os maus resultados nas eleições europeias seriam a “gota de água”. Pouco depois, o agora ministro pediu a demissão, numa carta pública.

Operação Castro Almeida tem “arregaçado as mangas”. O objetivo é “fazer chegar, com urgência, o apoio às pessoas”. Para isso, está disposto a “limitar a burocracia ao estritamente indispensável” Foto: António Pedro Santos

À VISÃO, o então secretário-geral do PSD, José Silvano, admite que a decisão “apanhou todos de surpresa”. “As relações [entre Rui Rio e Castro Almeida] eram ótimas, a confiança total, ele [Castro Almeida] era um dos incondicionais [de Rui Rio]”, revela. Silvano lembra-se de que Castro Almeida se mostrava “colaborante” na comissão política, até que “começou a ir menos” às reuniões. O divórcio seria consumado.

À VISÃO, Castro Almeida admite que a relação com Rui Rio “é muito menos intensa do que foi no passado”, embora continue a ser “uma relação de quem se quer bem, de quem se estima”. Fonte próxima dos protagonistas assegura, simplesmente, que a relação “é fria” – estão, de facto, em campos opostos: Castro Almeida torce pelo FC Porto, Rui Rio é pelo Boavista.

O “caso da mala” do ministro

A situação era caótica quando Castro Almeida chegou a Aveiro. O centro do País parecia prestes a ser engolido pelas chamas, mas foi o “fogo” das redes sociais que colocou o ministro debaixo dos holofotes, na sequência do “caso da mala” – a polémica chegou na resposta à pergunta sobre o tempo que permaneceria na região: “O que for necessário. Tomara que seja pouco. A minha mulher preparou-me uma mala para três dias, mas vamos ver… Espero não precisar.” O momento tornou-se viral, Castro Almeida foi acusado de “machismo” e “incompetência”, embora não tenha perdido tempo a comentar o assunto: “O que é preciso é fazer chegar, de facto, os apoios às pessoas necessitadas.” As opiniões divergiram. Mas a defesa do governante fez-se até por vozes insuspeitas, como a da antecessora, Ana Abrunhosa, ministra do governo de António Costa. “Sei bem que não é machista”, sentenciou. Os amigos lamentam tudo isto. “Só quem não conhece a relação de respeito, apaixonada, de Castro Almeida com a mulher é que pode achar que aquilo foi machismo”, refere Poiares Maduro.

Respeito Castro Almeida recolhe uma rara unanimidade, mesmo entre os adversários políticos (como a socialista Luísa Salgueiro) Foto: Paulo Novais/LUSA

Casado, pai de dois filhos, Castro Almeida, parece reunir um reconhecimento que se alarga aos adversários políticos. O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, “fala sempre com enorme respeito” do conterrâneo, nota Marques Mendes. O antigo presidente do PSD justifica a posição com o facto de Castro Almeida fazer política “com elevação”.

Aos 66 anos, o ministro está focado na missão de apoiar, com urgência, todos os que foram afetados pelos incêndios. Só depois, garante, vai dar-se ao luxo de descansar, talvez sentar-se a ouvir um dos seus discos de música clássica e, de certeza, brincar com os netos, o “passatempo” de que mais gosta.

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Palavras-chave:

O mesmo espaço, diferente Marcelo Rebelo de Sousa. Na fase final do seu longo e fulgurante percurso como comentador político televisivo, que o tornou Presidente sem precisar de partidos para nada (aliás até com a declarada oposição inicial do líder do seu próprio partido, Passos Coelho), Marcelo referiu que só havia um “comentador” em exercício mais antigo do que ele – o autor destas linhas. Eu nunca tal me considerei. Mas, de facto, logo a seguir ao 25 de Abril, estando na direção do Diário de Notícias, na RTP passei a com frequência falar sobre (ou, admito, comentar) a então riquíssima atualidade política e social: entre o entusiasmo, até deslumbramento, da liberdade recém-conquistada, e, após 48 anos de ditadura, a natural complexidade/confusão, com inevitáveis excessos, dos primeiros passos de uma democracia à procura do seu próprio caminho. Depois, estando na própria direção de informação da RTP, claro que isso se manteve ou ampliou.

Neste momento, de largo desinteresse e desencanto face à realidade política, quando existe uma multidão de comentadores em múltiplos meios, incluindo vários canais televisivos, será difícil para quem não viveu aquela época imaginar a importância e a influência dessa intervenção na única televisão existente, cujo telejornal era visto por milhões de portugueses expectantes. E poderia dar o meu testemunho a esse respeito, ou contar algumas “histórias” saborosas dessa época. Poderia? Poderei. Porque para isso este espaço deixou de ser “Opinião”, para passar a ser “Bloco de notas”. O que pressupõe, permite, uma maior liberdade e diversificação de temas, de par, quando for caso disso, uma sua abordagem mais leve e impressiva.

Como ia dizendo… Sem prejuízo do atrás sublinhado, claro que aqui continuará a haver “opiniões”. Em especial sobre assuntos atuais das áreas que sempre mais me (pre)ocuparam. Entre estas a da Justiça, e nela, recentemente, a dos poderes, deveres e funcionamento do Ministério Público. Que está na ordem do dia, por múltiplas razões, avultando agora a da escolha do seu principal responsável. Escrevi uma vez ser mais fácil arranjar um bom PR do que um bom PGR. E continuo a achar que talvez seja assim… Sendo certo que ao longo do tempo a qualidade e o sucesso no exercício das funções de PGR variaram muito, desde o primeiro em democracia, Arala Chaves, um excelente magistrado, até à atual, Lucília Gago, um desastre. Sendo Cunha Rodrigues, entre todos, o juridicamente mais abalizado – como demonstrou também noutros cargos, inclusive internacionais –, o que mais teorizou/marcou a instituição e mais tempo ocupou o cargo.

Assim, imagino a dificuldade do Governo em apresentar um nome ao Presidente, ou melhor, como se impõe, articular/consensualizar com ele quem deve ser o(a) novo(a) PGR. Os subscritores iniciais do manifesto dos 50 apresentaram um documento com o qual estou, no essencial, de acordo. A dificuldade, porém, é em concreto encontrar quem preencha os requisitos desejáveis. E parecendo-me bem, em princípio, que o novo nº 1 do MP não seja da “casa” (exceto se houver uma Maria José Fernandes disponível), pela necessidade de combater o corporativismo aí reinante e certas práticas recentes, não se podem esquecer as dificuldades que quem lá chegar de fora terá e o que aconteceu com Pinto Monteiro…

Conversa fiada e repetida É, em volta do Orçamento do Estado (OE), “negociações” e adjacências: declarações do PR e do Governo, sobretudo do primeiro-ministro, dos vários partidos e seus dirigentes, em particular o líder do PS, etc. – e, depois, da generalidade da tal multidão de comentadores. E um comunicado do Governo a tal propósito, no domingo! E uma reunião, não secreta mas discreta, com o Chega! E… e… já não se aguenta. Mostrando o que falta de fecundo diálogo político, maturidade democrática, às vezes simples bom senso. Num país com a felicidade de não ter uma série de problemas graves, de raiz, que muitos outros têm, e de reunir uma série de condições favoráveis a uma vida melhor para o seu povo, creio que se impõe mudar certa prática política, procurando para esse efeito consensos que não parecem impossíveis. Mudar não para que tudo fique na mesma, mas mudar para… mudar. 

À MARGEM

Futuro – mas qual?

Olha-se para o estado do mundo e é aterrador. Só no Médio Oriente, mais de 40 mil mortos inocentes e uma destruição completa de Gaza. E agora o Líbano: pelo menos 558 mortos e 1 835 feridos só num dia, vítimas também de bombardeamentos de Israel. Veem–se as imagens das carnificinas, incluindo de crianças, de todo o horroroso sofrimento causado pelo regime de Netanyahu a milhões de pessoas – e fica-se de coração despedaçado. Lembra-se Netanyahu aplaudido de pé no Congresso dos EUA e teme-se pelo nosso futuro. Guterres consegue aprovar na ONU um excelente Pacto para o Futuro. Mas que poder têm Guterres e a própria ONU? 

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Muito poucos discordarão de que um dos fatores que mais impulsionou a civilização ocidental foi a adoção do método científico na interpretação da fenomenologia no mundo que nos rodeia. Dito de uma forma simples, o método pressupõe a aceitação a priori de princípios gerais sobre os quais se elaboram modelos, isto é, reproduções simplificadas da realidade nas quais se retém o essencial e se ignora tudo o que se considera ser acidental. Por isso, conforme fez notar o estatístico inglês George Box, “todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis”.

Na abordagem dos incêndios de vegetação, bem como no seu combate, quer em Portugal quer noutros ecossistemas mediterrânicos severamente afetados pelo fogo, como em Espanha, França, Chile, Califórnia e Austrália, têm-se revelado especialmente úteis dois modelos em que o problema é encarado de uma forma integrada: trata-se de um modelo integrado de regime e de um modelo integrado de gestão.

O modelo integrado de regime de incêndios de vegetação tem por base o triângulo clássico do fogo, de acordo com o qual é condição necessária para uma combustão que se tenha oxigénio que alimente a chama, material que possa arder e uma ignição que despolete a reação química. Transposto para um incêndio de vegetação, os três fatores correspondem, respetivamente, à atmosfera que garante a oxigenação, à vegetação em que se inicia e se propaga o fogo, e à atividade humana que está na origem da esmagadora maioria das ignições. Na mesma linha, à escala climática da trintena de anos, a análise da distribuição espaciotemporal dos incêndios processa-se à luz do clima, que regula a meteorologia, da paisagem, que determina o comportamento da vegetação, e da dinâmica das populações, que modula as ignições.

O modelo integrado de gestão de incêndios de vegetação assenta, por sua vez, em três princípios orientadores: o princípio da luta contínua, o princípio do comando único e o princípio da vontade de vencer. O princípio da luta contínua considera como prioritárias as campanhas de informação e sensibilização da população, bem como as ações de prevenção do fogo, as quais incluem o fogo controlado, a construção e manutenção de aceiros, a limpeza das matas e o desbaste de terrenos em volta das habitações; segue-se a monitorização do estado da vegetação, quer em termos de quantidade de biomassa quer de stresse térmico e hídrico em resposta a condições atmosféricas adversas duradouras (como as secas) ou intensas (como as ondas de calor) e a previsão de situações de perigo meteorológico elevado de incêndio com base em modelos da circulação atmosférica; por último, tem-se o combate que envolve uma teia complexa de meios e procedimentos relacionados com o alerta e o ataque inicial, a proteção de vidas e bens e o rescaldo. No que respeita à fase de combate, é muito importante sublinhar que é sempre encarada como uma falha dos dois primeiros níveis de atuação. Já de acordo com o princípio do comando único, todo o plano de gestão deve reger-se por uma só direção e desenrolar-se através de um sistema de hierarquias perfeitamente definidas. Finalmente, o princípio da vontade de vencer implica a instilação na sociedade civil de um sentimento geral de confiança que garanta o sucesso do plano a implementar.

De acordo com o princípio da luta contínua, os trágicos acontecimentos da semana passada devem começar por ser analisados em termos das duas primeiras fases, isto é, da informação/sensibilização e da prevenção. A diminuição que tem vindo a ser observada no número de ignições, em particular após a tragédia de 2017, constitui um indicador do resultado positivo das campanhas de sensibilização e informação promovidas junto das populações, em particular a Portugal Chama e a Aldeia Segura; já no que respeita às ações de fogo controlado e de limpeza, tem-se registado um atraso dos objetivos a alcançar, tendo as televisões difundido imagens de vastas áreas não geridas a serem consumidas pelas chamas e registado queixas de vítimas apontando vizinhos que não limparam os terrenos, em incumprimento da legislação. As imagens difundidas de eucaliptos a arder contribuíram também para reavivar as velhas suspeitas de que seria essa espécie não autóctone a grande responsável pelos grandes incêndios. Uma tal suposição não é, no entanto, suportada, nem pelas estatísticas oficiais, que mostram que, entre 2001 e 2023, os matos representam quase metade da área ardida, enquanto os eucaliptais apenas contabilizam menos de um quinto, nem pelos estudos científicos que demonstram que a propagação dos grandes incêndios se efetua preferentemente por áreas não geridas ou subgeridas, sendo o percurso do fogo essencialmente indiferente à espécie.

No que respeita à previsão, verifica-se que, desde 2017, as informações de stresse da vegetação e de perigo meteorológico de incêndio são cada vez mais eficientemente integradas pelos analistas de previsão do fogo, tendo-se observado, em particular, melhorias significativas na eficácia do combate inicial aquando de situações de perigo elevado concentradas em áreas limitadas do território, as quais resultam de um posicionamento atempado das forças de combate nas vizinhanças das regiões de maior perigo. Já no início da semana passada, o posicionamento estratégico das forças de combate foi particularmente difícil, uma vez que a situação meteorológica foi responsável pela concorrência de valores elevados de temperatura do ar, valores baixos de humidade atmosférica e valores altos de velocidade do vento que, apesar de não representarem valores excecionais quando tomados individualmente, determinaram em conjunto valores recorde de perigosidade meteorológica que abarcaram extensas regiões a norte do rio Tejo.

À excecionalidade das condições meteorológicas e às limitações na gestão de combustível juntou-se ainda o número elevado de ignições registadas, as quais foram atribuídas pelo Governo e por outras instituições a mão criminosa ao serviço de interesses particulares obscuros. Se a origem das ignições deve ser investigada e os autores de ignições criminosas severamente punidos, há que ter sobretudo em conta que essas ignições representam uma fração pequena da totalidade, em particular das relacionadas com o uso negligente do fogo em atividades agrícolas e silvopastoris. Há muito se sabe que as ignições com origem humana estão presentes ao longo de todo o ano, especialmente em zonas densamente povoadas como aquelas em que se registaram os grandes incêndios, sendo os efeitos das ignições potenciados aquando de condições extremas de perigosidade meteorológica como as verificadas. E há ainda que ter em conta os reacendimentos, bem como as ignições que resultaram de projeções dos incêndios ativos.

De acordo com o princípio do comando único, todo o plano de gestão [no combate] deve reger-se por uma só direção e desenrolar-se através de um sistema de hierarquias perfeitamente definidas

No que respeita à eficácia do combate e à justeza das decisões tomadas haverá que esperar pelos relatórios das comissões especializadas. Ainda assim, em termos de desvirtuação do princípio do comando único, não pode deixar de se fazer menção às críticas negativas, sobretudo por parte da Liga dos Bombeiros Portugueses, às decisões tomadas pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, nomeadamente por se tratar de declarações proferidas publicamente durante os dias mais críticos do combate.

O flagelo recorrente dos grandes incêndios rurais implica por sua vez um envolvimento integrado da sociedade, aos níveis político, económico, informativo, educacional e cultural. Só assim se poderá esperar uma resposta concertada aos desafios postos pelas alterações climáticas, que irão aumentar a frequência, extensão e intensidade dos eventos de perigo meteorológico extremo de incêndio, e aos sacrifícios económicos exigidos pelo ordenamento do território com vista a diminuir drasticamente os megaeventos de incêndio. É precisamente neste âmbito que o princípio da vontade de vencer assume importância primordial: na guerra contra os grandes incêndios, porque de uma guerra se trata, a vitória só será possível caso o que está em causa seja considerado um desígnio nacional. Tal pressupõe um entendimento coletivo da natureza do problema, das formas de o resolver e, sobretudo, das tremendas implicações da sua não resolução aos níveis socioeconómico, ambiental, de saúde e de qualidade de vida. Infelizmente, as recentes declarações, que visam reduzir a problemática dos grandes incêndios à proliferação de atos criminosos e as manifestações, ações de protesto e comentários nos media que quase exclusivamente se focam na exploração do eucalipto, não auguram nada de bom.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.