Enquanto o mundo se despede do Papa Francisco, o Vaticano prepara-se para o Conclave, um processo que irá culminar com a escolha do sucessor de Jorge Mario Bergogli. O futuro chefe do Vaticano está nas mãos de 135 cardeais, todos com menos de 80 anos, de 71 países, que irão reunir-se, à porta fechada, na Capela Sistina. Para evitar influências exteriores, os cardeais irão dormir na Casa de Santa Marta, junto à Basílica de São Pedro, até tomarem uma decisão. O voto é secreto e pessoal, mas o vencedor pode ser qualquer homem batizado.
De Tolentino Mendonça, a Peter Erdo ou a Matteo Maria Zuppi a lista de sucessores ao Jorge Mario Bergoglio é longa – e até inclui um português – mas nem todos serão considerados papabili, um termo italiano utilizado para designar os nomes “favoritos” na eleição a Sumo Pontífice. Jorge Mario Bergoglio tinha sido um dos papabili, 2005, e voltou a sê-lo no de 2013, acabando por se tornar no Papa Francisco.
Pela imprensa internacional, sobretudo na base de dados Cardinalium Collegii Recensio – O Colégio dos Cardeais: uma resenha, em português -, criada por investigadores e jornalistas especialistas em matérias do Vaticano, circulam já alguns nomes apontados como possíveis escolhas.
Aqui fica uma lista, organizada alfabeticamente, de 10 possíveis candidatos à liderança da Igreja Católica que poderão fazer erguer fumo branco da chaminé da Capela Sistina e soar os sinos da basílica de São Pedro, sinais de que o mundo tem um novo Papa.
Anders Arborelius, 75 anos
Alinhado com algumas filosofias do Papa Francisco – em particular a migração e as questões ecológicas – o sueco Anders Arborelius chegou a cardeal em 2016. Defende alguns dogmas da Igreja como o celibato sacerdotal, mas, também defende a celebração da missa tradicional em latim.
Segundo o Cardinalium Colleggi Recensium, é um dos primeiros na lista dos papabili.
Fridolin Ambongo Besugu, 65 anos
Um dos maiores opositores e crítico das filosofias do Papa Francisco, o conservador arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo, foi nomeado cardeal em 2019.
Descrevendo-se como uma “sentinela”, Besungu opõe-se, de forma clara e direta, a questões de política e justiça social, chegando mesmo a opor-se à Fiducia supplicans – um documento, aprovado pelo Papa Francisco, sobre as chamadas “relações irregulares”, ou seja, que permite a bênção de casais homossexuais, que não contraíram matrimónio, mas com uma relação que perdura no tempo. Defende o celibato sacerdotal e a doutrina moral da Igreja.
Jean-Marc Aveline, 66 anos
Conhecido pelo seu carácter descontraído e proximidade ideológica a Francisco – especcialmente em matérias de imigração e proximidade ao mundo muçulmano – o arcebispo de Marselha pode tornar-se no Papa mais jovem desde João Paulo II e no primeiro francês a assumir o cargo desde o século XIV.
Doutorado em teologia e licenciatura em filosofia, Jean-Marc Aveline tornou-se bispo em 2013, arcebispo em 2019 e cardeal em 2022. Em setembro de 2023, organizou uma conferência internacional da Igreja sobre questões mediterrânicas.
José Tolentino de Mendonça, 59 anos
O nome português com mais hipóteses de poder vir a ser eleito Papa é o cardeal José Tolentino de Mendonça. Progressista e defensor das filosofias do falecido Papa, o cardeal defende a modernização da Igreja e é descrito como uma figura emergente na religião católica.
Durante o papado de Francisco foi convidado para organizar exercícios espirituais para a Cúria Romana.Em 2019 foi nomeado para arcebispo e responsável pela Biblioteca e pelo Arquivo Secreto do Vaticano e, no mesmo ano, passou a ser cardeal.
Assumiu também o Dicastério para a Cultura e Educação. Simpatiza com abordagens tolerantes à homossexualidade, atraindo alguma controvérsia na ala mais conservadora.
Juan Jose Omella, 79 anos
Conhecido pela personalidade bem-humorada, o arcebispo de Barcelona nasceu em Espanha e dedicou a sua carreira eclesiástica à justiça social, promovendo uma visão inclusiva do catolicismo. Em 2016, Francisco promoveu-o a cardeal e em 2023, convidou-o a juntar-se a um dos seus gabinetes para o aconselhar em questões de governação.
Enquanto presidente da Conferência Episcopal de Espanha, Omella viu-se envolvido no centro de uma polémica após uma comissão independente estimar que mais de 200 mil menores poderão ter sido abusados sexualmente pelo clero espanhol durante décadas. Omella pediu perdão pela má gestão dos abusos sexuais, mas negou que tantas crianças tenham sido abusadas.
Luis Antonio Gokim Tagle, 67 anos
Muitas vezes apelidado de “o Papa Francisco asiático”, devido às ideias de justiça social que partilha com o falecido Papa, Tagle foi nomeado cardeal em 2012 pelo Papa Bento XVI e possui décadas de experiência administrativa. Com 67 anos, o filipino defende que a Igreja precisa de acompanhar as “mudanças nas sensibilidades culturais e sociais” e de “reaprender” a doutrina da misericórdia, apoiando ideias de ecologia e ambientalismo e defesa da comunidade LGBT, mães solteiras e as pessoas divorciadas (ilegal nas Filipinas).
Oriundo do “pulmão católico da Ásia”, nas Filipinas, fala fluentemente italiano e inglês e, em 2019, foi nomeado chefe do Dicastério para a Evangelização, o braço missionário da Igreja, pelo Sumo Pontífice. Entre 2015 e 2022, liderou a Caritas Internationalis, uma confederação de mais de 160 organizações católicas de assistência, serviço social e desenvolvimento em todo o mundo.
Matteo Maria Zuppi, 69 anos
Se eleito Sumo Pontífice, o “Padre Matteo” – como é conhecido o arcebispo de Bolonha – será o primeiro Papa italiano desde 1978. Alinhado com os mesmos princípios defendidos por Francisco, os media italianos apelidam-no de “Bergoglio italiano” e é também conhecido por ser um “padre de rua” que se concentra nos migrantes e nos pobres, abraça o pluralismo religioso e que dá menos importância ao protocolo.
Apesar das tendências progressistas e de defender o acolhimento de homossexuais, promove o diálogo com os que defendem a tradição na Igreja Católica. Recentemente, foi enviado do Papa para a resolução do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, tendo-se dedicado ao repatriamento de crianças ucranianas.
Atualmente é presidente da Conferência Episcopal italiana e também juiz do Supremo Tribunal da Cidade do Vaticano.
Peter Erdo, 72 anos
Considerado um dos principais candidatos ao cargo no último conclave, em 2013, o cardeal húngaro Peter Erdo é um conservador da Santa Sé que defende a estrutura hierárquica da Igreja. Especialista em direito eclesiástico, Erdo chegou a bispo aos 40 anos de idade e a cardeal 11 anos mais tarde, quando tinha apenas 51 anos de idade, o que o tornou no membro mais jovem do Colégio dos Cardeais até 2010.
Conservador, opõe-se ao celibato opcional para padres, é contra o aborto e contra o casamento entre homossexuais – apesar de ser favorável ao apoio pastoral – e considera que as pessoas divorciadas e casadas em segundas núpcias não devem comungar.
Em matérias de imigração, reconhece o direito de migrar, mas considera que a mesma pode ser um perigo para a estabilidade política. Em 2015, durante a crise migratória, viu-se envolvido em polémica ao equiparar o acolhimento de refugiados ao tráfico humano no mar Mediterrâneo.
Antigo presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, Erdo tem uma boa relação com Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro.
Peter Kodwo Appiah Turkson, 76 anos
Um dos conselheiros mais próximos do Papa Francisco em questões como as alterações climáticas, o cardeal Peter Turkson, do Gana, é candidato a tornar-se no primeiro Papa da África Subsariana. Com a experiência na direção de vários gabinetes do Vaticano, e conhecidas capacidades de comunicação, foi nomeado pelo Papa João Paulo II arcebispo de Cape Coast em 1992 e, 11 anos mais tarde, durante o mesmo papado, tornou-se no primeiro cardeal da África Ocidental da história.
Já com Bento XVI, em 2009, foi nomeado diretor do Conselho Pontifício Justiça e Paz – o organismo que promove a justiça social, os direitos humanos e a paz mundial – que Francisco fundiu com outros gabinetes em 2016. Em 2021, Turkson foi nomeado para dirigir duas academias pontifícias sobre ciências e ciências sociais.
Pertence à ala mais progressista da Igreja, tendo adotado filosofias semelhantes a Francisco em questões LGBT e ao fim do celibato para os padres. Esta é a sua segunda vez enquanto papabili, depois de ter participado no último conclave, em 2013.
Pietro Parolin, 70 anos
Considerado um candidato mais consensual entre os progressistas e conservadores, o italiano Pietro Parolin é secretário de Estado do Vaticano desde 2013 – ano em que Francisco foi eleito – e serviu enquanto diplomata da Igreja durante a maior parte da sua vida.
Parolin exerceu ainda os cargos de vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, durante o papado de Bento XVI e, em 2009, foi nomeado embaixador do Vaticano na Venezuela. Também participou nos esforços diplomáticos do Vaticano no Médio Oriente e na Ucrânia.
Uma das figuras mais próximas de Francisco, Parolin foi essencial no restabelecimento das relações entre o Vaticano e a China, em 2018, através de um acordo (terminado em 2022) que deu ao Papa algum peso sobre a nomeação ou veto de bispos pelo Partido Comunista Chinês em troca do reconhecimento de sete bispos chineses não admitidos pelo Vaticano. Foi também fundamental no reatar das relações entre os EUA e Cuba e visitou a Ucrânia e o presidente Volodymyr Zelensky, em 2024.