O Papa Francisco não para de me surpreender positivamente. Não só é contra a austeridade e contra o capitalismo selvagem, como é a favor dos pobres e dos presos (que visitou numa cadeia de Roma), e como gosta de dialogar com os agnósticos e mesmo os ateus, por todos serem, por igual, filhos de Deus. Fala, aliás, com as mulheres, ao mesmo nível do que com toda a gente, crentes ou não crentes. Está a lutar contra a corrupção no Vaticano – que sabe que existe – e, da mesma forma, contra a pedofilia. Trata-se de um Papa diferente de tudo o que conhecemos.

Na quinta-feira, 16, recebeu uma delegação de novos embaixadores que apresentaram as suas credenciais ao Vaticano. Do Quirguistão à Antígua e Barbados, do Grão-Ducado do Luxemburgo ao Botsuana, aos quais dirigiu um discurso bem interessante. Disse Sua Santidade, entre muitas outras coisas, cito:

«A humanidade está neste momento a viver uma espécie de viragem na sua história. Não podemos deixar de nos alegrar com os resultados positivos, que concorrem para o bem-estar autêntico da humanidade, por exemplo, nos campos da saúde, educação e comunicação (ou seja o Estado Social). Mas há que reconhecer também que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo continua a viver dia a dia numa recariedade de consequências funestas. Aumentam algumas patologias, com as suas consequências psicológicas; o medo e o desespero apoderam-se do coração de numerosas pessoas, até mesmo nos países considerados ricos; a alegria de viver vai diminuindo; a imoralidade e a violência estão a aumentar; a pobreza torna-se mais evidente.»

É um Papa que faz a diferença em relação a todos os outros e que reage com sabedoria contra a crise que a União Europeia está a viver

E o Papa Francisco sublinha que «uma das causas desta situação reside na relação que temos com o dinheiro, aceitando o predomínio sobre nós e as nossas sociedades». Mais à frente, no seu discurso, afirma que «seria desejável a realização de uma reforma financeira que fosse ética e produzisse, por sua vez, uma reforma económica salutar para todos». E sintetiza, de modo incisivo: «O dinheiro deve servir, e não governar.» Recordando «ao rico, em nome de Cristo, que deve ajudar o pobre, respeitá-lo, promovê-lo», e exortando à solidariedade e à ética. É, de facto, um Papa que faz a diferença em relação a todos os outros e que reage com sabedoria contra a crise que a União Europeia está a viver. Aliás é amigo do grande Presidente italiano, Giorgio Napolitano, e do atual primeiro-ministro, Enrico Letta.

Escrevi há dias que a Igreja portuguesa estava, a meu ver, demasiado silenciosa em relação à crise financeira, económica, política, social e ambiental que estamos a viver. Como disse Sócrates, «ligada a uma máquina de respiração assistida». Um Governo moribundo, paralisado e com as contradições, ao que parece insanáveis, que existem entre os dois partidos da Coligação, que põem de facto em causa a maioria do Governo.

A Igreja pouco se tem manifestado com exceções notáveis, como o bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, o provincial franciscano, padre Vítor Melícias e frei Bento Domingues, entre outros.

Entretanto, deu-se um acontecimento que, não sendo eu religioso, mas tendo a consciência da importância da Igreja na sociedade portuguesa – o que me fez ajudá-la no pós-25 de Abril, quando foi atacada, como é reconhecido –, me deu muita alegria: a nomeação do novo Patriarca, D. Manuel Clemente.

Conheço-o desde quando ainda não era bispo do Porto e sempre tive por ele uma enorme admiração e respeito. É um homem de grande cultura, um historiador com obra publicada e, permito-me dizêlo, um grande eclesiástico. Participámos em alguns debates públicos e sei, por isso, do que estou a falar. D. Manuel Clemente quebrou algum silêncio da Igreja portuguesa e juntou-se claramente ao que tem dito Sua Santidade. Contra a política de austeridade, o empobrecimento e o desemprego que gera na população. Excelente sinal!

Tendo Jorge Bergoglio notabilizado-se enquanto Papa pela sua forma próxima de estar com as pessoas e de as inspirar nos ideais de comunhão e fraternidade, deixa um legado muito próprio no que à economia diz respeito.

Durante o seu papado, fez questão de exortar os jovens à criação de um movimento que cuidasse, especificamente, dos problemas económicos contemporâneos, nomeadamente a pobreza, a desigualdade e a emergência climática.

Dirigido a quem pensa e executa a economia (economistas, investigadores, empreendedores, gestores e demais decisores e contribuidores de organizações com e sem fins lucrativos) a denominada Economia de Francisco é um legado importante do pontificado que agora termina. O nome Francisco surge para invocar Francisco de Assis, tentando este movimento pensar, transformar e executar a economia, atualizando os ideais de humanismo e fraternidade dessa figura histórica para dar resposta aos problemas da economia do presente e do futuro.

Na carta que escreveu por ocasião do lançamento desse movimento, o Papa Francisco disse: “…encontrar-me com quantos estão a formar-se e começam a estudar e a pôr em prática uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta. Um acontecimento que nos ajude a estar unidos, a conhecer-nos uns aos outros, e que nos leve a estabelecer um “pacto” para mudar a economia atual e atribuir uma alma à economia de amanhã.; …é preciso corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito pelo meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, e equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das gerações vindouras.” in «Carta do Papa Francisco para o evento “Economy of Francesco” [Assis, 26-28 de março de 2020]».

Sucede que tudo isto encaixa bem com os ensinamentos que retiramos da análise científica da felicidade, nomeadamente o que se pode aprender com os estudos da economia da felicidade. Aí, vemos que o crescimento económico, por si, não garante aumentos na felicidade, que o capital social e o capital relacional são fundamentais para aumentar a felicidade dos povos, que o desemprego é dos maiores destruidores de felicidade e que a qualidade do nosso emprego é fundamental para nos sentirmos satisfeitos com a vida. Estudos mais recentes têm, também, mostrado como o cuidar do ambiente pode ser causa e consequência de uma sociedade mais feliz. Note-se que podia não ser assim. O Papa Francisco refletiu à luz de um pensamento milenar religioso. A economia da felicidade é um ramo muito recente (tem cerca de 30 anos) da ciência económica e usa o método científico. Mas o facto de haver tais coincidências é auspicioso: significa que há pontes entre quem quer chegar a um mesmo destino, a felicidade, mas escolhe uma perspectiva doutrinária ou o caminho da ciência. É uma comunhão feliz.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

De missas celebradas em nome do falecido Papa Francisco a um “apagão” da Torre Eiffel, vários fiéis juntaram-se na noite desta segunda-feira para homenagear e recordar o Sumo Pontífice em todo o mundo. Em Paris, os sinos da Catedral de Notre-Dame tocaram 88 vezes “por 88 anos de vida” e a Torre Eiffel foi desligada. Já em Portugal foi realizada uma missa dedicada ao Papa e uma vigília de oração, que contou com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República fez uma declaração ao país esta segunda-feira à noite,dia em que morreu o Papa Francisco, a partir do Palácio de Belém. Rebelo de Sousa agradeceu ao Papa “o carinho que devotou a Portugal” e relembrou os encontros entre ambos. “Francisco foi muito mais do que simbólico sucessor de quem nos legitimou como pátria independente, o amigo tardio mas intenso da nossa Nação. Foi talvez a mais corajosa voz de entre os líderes espirituais dos últimos anos 12 anos na defesa da dignidade humana, da paz, da justiça, da liberdade, da igualdade, da fraternidade, do diálogo entre culturas e civilizações (…) pobres, frágeis, sofredores, excluídos e explorados, rejeitados e esquecidos”, referiu.

O chefe da Igreja Católica morreu na manhã desta segunda-feira, na sequência de um AVC. O seu funeral decorrerá no próximo sábado (26 de abril), a partir das 10 horas locais (9h00 em Lisboa), na Basílica de São Pedro. 

Quem não gosta de ter o carro sempre bem aspirado? A Dyson, marca britânica conhecida pelos gadgets extravagantes, lançou um aspirador portátil pensado especialmente para carros… e barcos. Sim, leu bem.

O Dyson Car+Boat pesa 1,9 kg, e esse peso faz-se notar durante a utilização. Passados apenas alguns minutos de aspiração, já sentimos algum cansaço no braço, e após limpar o carro por completo, o esforço acumulado é evidente, mesmo com a pega confortável e ergonómica que o equipamento disponibiliza. Este é, sem dúvida, um dos pontos menos positivos do produto.

Veja imagens do Dyson Car+Boat:

Potência e acessórios

Com dois modos de aspiração, normal e máximo, a potência de sucção é boa (até 115 AW), sendo mais do que suficiente para uma limpeza eficaz do interior do carro. A Dyson inclui ainda uma mini escova motorizada e dois acessórios adicionais, pensados para chegar a espaços estreitos ou de difícil acesso, como as laterais dos bancos ou os cantos dos tapetes.

A marca garante também que o filtro integrado consegue reter 99,99% das partículas com 0,3 microns ou mais, o que é uma capacidade de filtragem ao nível de um filtro HEPA de alta eficiência.

Depósito, autonomia e carregamento

Um bom aspirador portátil precisa de ter um depósito generoso, e o Dyson Car+Boat cumpre nesse aspeto. Com 0,54 litros de capacidade, permite aspirar uma viatura completa sem preocupações constantes com a acumulação de resíduos. Existe uma marca que indica o nível máximo do depósito, e a limpeza é simples e rápida.

O filtro pode ser retirado facilmente pela parte superior, através de um puxador, e junto a ele há uma patilha que liberta o mecanismo de sucção, permitindo o acesso completo ao depósito. Na parte inferior, uma tampa permite despejar diretamente os resíduos aspirados. Um detalhe importante: o depósito pode ser lavado com água, já que todos os componentes elétricos estão fora dessa zona.

Quanto à autonomia, o Dyson Car+Boat permite até 40 minutos de utilização no modo normal, mas se for usado no modo máximo, esse valor desce para cerca de 25 a 30 minutos, o suficiente para uma limpeza completa de uma viatura. O tempo de carregamento total é de cerca de cinco horas, o que significa que, se estiver a pensar aspirar vários carros no mesmo dia, pode sempre fazer uma pausa para almoço entre limpezas.

Veredicto

Este aspirador permite uma limpeza eficaz e completa, mas o peso penaliza claramente a experiência de utilização, especialmente em sessões mais prolongadas. A isto junta-se o preço: 279,99 euros é um valor elevado que obriga a uma reflexão séria sobre o investimento. Apesar da qualidade de construção, dos acessórios incluídos e da boa potência de aspiração, consideramos que o preço está algo desajustado. Ainda para mais, se tivermos em conta que, nas máquinas de limpeza self-service, é possível aspirar um carro inteiro por cerca de um euro, a proposta da Dyson torna-se difícil de justificar.

Tome Nota
Dyson Car+Boat – €279,99
dyson.pt

Potência Muito Bom
Ergonomia Satisfatório
Autonomia Bom
Limpeza Muito bom

Características Potência de Sucção: 115AW ○ Capacidade do depósito: 0,54 l ○ Capacidade de filtragem das partículas: 99,9% ○ Tempo de carregamento: 5 horas ○ Autonomia: até 40 minutos ○ Dimensões: 206x331x131 mm ○ Peso: 1,9 kg

Desempenho: 4,5
Características: 3,5
Qualidade/preço: 2,5

Global: 3,5

Enquanto o mundo se despede do Papa Francisco, o Vaticano prepara-se para o Conclave, um processo que irá culminar com a escolha do sucessor de Jorge Mario Bergogli. O futuro chefe do Vaticano está nas mãos de 135 cardeais, todos com menos de 80 anos, de 71 países, que irão reunir-se, à porta fechada, na Capela Sistina. Para evitar influências exteriores, os cardeais irão dormir na Casa de Santa Marta, junto à Basílica de São Pedro, até tomarem uma decisão. O voto é secreto e pessoal, mas o vencedor pode ser qualquer homem batizado.

De Tolentino Mendonça, a Peter Erdo ou a Matteo Maria Zuppi a lista de sucessores ao Jorge Mario Bergoglio é longa – e até inclui um português – mas nem todos serão considerados papabili, um termo italiano utilizado para designar os nomes “favoritos” na eleição a Sumo Pontífice. Jorge Mario Bergoglio tinha sido um dos papabili, 2005, e voltou a sê-lo no de 2013, acabando por se tornar no Papa Francisco.

Pela imprensa internacional, sobretudo na base de dados Cardinalium Collegii Recensio O Colégio dos Cardeais: uma resenha, em português -, criada por investigadores e jornalistas especialistas em matérias do Vaticano, circulam já alguns nomes apontados como possíveis escolhas.

Aqui fica uma lista, organizada alfabeticamente, de 10 possíveis candidatos à liderança da Igreja Católica que poderão fazer erguer fumo branco da chaminé da Capela Sistina e soar os sinos da basílica de São Pedro, sinais de que o mundo tem um novo Papa.

Anders Arborelius, 75 anos

Alinhado com algumas filosofias do Papa Francisco – em particular a migração e as questões ecológicas – o sueco Anders Arborelius chegou a cardeal em 2016. Defende alguns dogmas da Igreja como o celibato sacerdotal, mas, também defende a celebração da missa tradicional em latim.

Segundo o Cardinalium Colleggi Recensium, é um dos primeiros na lista dos papabili.

Fridolin Ambongo Besugu, 65 anos

Um dos maiores opositores e crítico das filosofias do Papa Francisco, o conservador arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo, foi nomeado cardeal em 2019.

Descrevendo-se como uma “sentinela”, Besungu opõe-se, de forma clara e direta, a questões de política e justiça social, chegando mesmo a opor-se à Fiducia supplicans – um documento, aprovado pelo Papa Francisco, sobre as chamadas “relações irregulares”, ou seja, que permite a bênção de casais homossexuais, que não contraíram matrimónio, mas com uma relação que perdura no tempo. Defende o celibato sacerdotal e a doutrina moral da Igreja.

Jean-Marc Aveline, 66 anos

Conhecido pelo seu carácter descontraído e proximidade ideológica a Francisco – especcialmente em matérias de imigração e proximidade ao mundo muçulmano – o arcebispo de Marselha pode tornar-se no Papa mais jovem desde João Paulo II e no primeiro francês a assumir o cargo desde o século XIV.

Doutorado em teologia e licenciatura em filosofia, Jean-Marc Aveline tornou-se bispo em 2013, arcebispo em 2019 e cardeal em 2022. Em setembro de 2023, organizou uma conferência internacional da Igreja sobre questões mediterrânicas.

José Tolentino de Mendonça, 59 anos

O nome português com mais hipóteses de poder vir a ser eleito Papa é o cardeal José Tolentino de Mendonça. Progressista e defensor das filosofias do falecido Papa, o cardeal defende a modernização da Igreja e é descrito como uma figura emergente na religião católica.

Durante o papado de Francisco foi convidado para organizar exercícios espirituais para a Cúria Romana.Em 2019 foi nomeado para arcebispo e responsável pela Biblioteca e pelo Arquivo Secreto do Vaticano e, no mesmo ano, passou a ser cardeal.

Assumiu também o Dicastério para a Cultura e Educação. Simpatiza com abordagens tolerantes à homossexualidade, atraindo alguma controvérsia na ala mais conservadora.

Juan Jose Omella, 79 anos

Conhecido pela personalidade bem-humorada, o arcebispo de Barcelona nasceu em Espanha e dedicou a sua carreira eclesiástica à justiça social, promovendo uma visão inclusiva do catolicismo. Em 2016, Francisco promoveu-o a cardeal e em 2023, convidou-o a juntar-se a um dos seus gabinetes para o aconselhar em questões de governação.

Enquanto presidente da Conferência Episcopal de Espanha, Omella viu-se envolvido no centro de uma polémica após uma comissão independente estimar que mais de 200 mil menores poderão ter sido abusados sexualmente pelo clero espanhol durante décadas. Omella pediu perdão pela má gestão dos abusos sexuais, mas negou que tantas crianças tenham sido abusadas.

Luis Antonio Gokim Tagle, 67 anos

Muitas vezes apelidado de “o Papa Francisco asiático”, devido às ideias de justiça social que partilha com o falecido Papa, Tagle foi nomeado cardeal em 2012 pelo Papa Bento XVI e possui décadas de experiência administrativa. Com 67 anos, o filipino defende que a Igreja precisa de acompanhar as “mudanças nas sensibilidades culturais e sociais” e de “reaprender” a doutrina da misericórdia, apoiando ideias de ecologia e ambientalismo e defesa da comunidade LGBT, mães solteiras e as pessoas divorciadas (ilegal nas Filipinas).

Oriundo do “pulmão católico da Ásia”, nas Filipinas, fala fluentemente italiano e inglês e, em 2019, foi nomeado chefe do Dicastério para a Evangelização, o braço missionário da Igreja, pelo Sumo Pontífice. Entre 2015 e 2022, liderou a Caritas Internationalis, uma confederação de mais de 160 organizações católicas de assistência, serviço social e desenvolvimento em todo o mundo.

Matteo Maria Zuppi, 69 anos

Se eleito Sumo Pontífice, o “Padre Matteo” – como é conhecido o arcebispo de Bolonha – será o primeiro Papa italiano desde 1978. Alinhado com os mesmos princípios defendidos por Francisco, os media italianos apelidam-no de “Bergoglio italiano” e é também conhecido por ser um “padre de rua” que se concentra nos migrantes e nos pobres, abraça o pluralismo religioso e que dá menos importância ao protocolo.

Apesar das tendências progressistas e de defender o acolhimento de homossexuais, promove o diálogo com os que defendem a tradição na Igreja Católica. Recentemente, foi enviado do Papa para a resolução do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, tendo-se dedicado ao repatriamento de crianças ucranianas.

Atualmente é presidente da Conferência Episcopal italiana e também juiz do Supremo Tribunal da Cidade do Vaticano.

Peter Erdo, 72 anos

Considerado um dos principais candidatos ao cargo no último conclave, em 2013, o cardeal húngaro Peter Erdo é um conservador da Santa Sé que defende a estrutura hierárquica da Igreja. Especialista em direito eclesiástico, Erdo chegou a bispo aos 40 anos de idade e a cardeal 11 anos mais tarde, quando tinha apenas 51 anos de idade, o que o tornou no membro mais jovem do Colégio dos Cardeais até 2010.

Conservador, opõe-se ao celibato opcional para padres, é contra o aborto e contra o casamento entre homossexuais – apesar de ser favorável ao apoio pastoral – e considera que as pessoas divorciadas e casadas em segundas núpcias não devem comungar.

Em matérias de imigração, reconhece o direito de migrar, mas considera que a mesma pode ser um perigo para a estabilidade política. Em 2015, durante a crise migratória, viu-se envolvido em polémica ao equiparar o acolhimento de refugiados ao tráfico humano no mar Mediterrâneo.

Antigo presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, Erdo tem uma boa relação com Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro.

Peter Kodwo Appiah Turkson, 76 anos

Um dos conselheiros mais próximos do Papa Francisco em questões como as alterações climáticas, o cardeal Peter Turkson, do Gana, é candidato a tornar-se no primeiro Papa da África Subsariana. Com a experiência na direção de vários gabinetes do Vaticano, e conhecidas capacidades de comunicação, foi nomeado pelo Papa João Paulo II arcebispo de Cape Coast em 1992 e, 11 anos mais tarde, durante o mesmo papado, tornou-se no primeiro cardeal da África Ocidental da história.

Já com Bento XVI, em 2009, foi nomeado diretor do Conselho Pontifício Justiça e Paz – o organismo que promove a justiça social, os direitos humanos e a paz mundial – que Francisco fundiu com outros gabinetes em 2016. Em 2021, Turkson foi nomeado para dirigir duas academias pontifícias sobre ciências e ciências sociais.

Pertence à ala mais progressista da Igreja, tendo adotado filosofias semelhantes a Francisco em questões LGBT e ao fim do celibato para os padres. Esta é a sua segunda vez enquanto papabili, depois de ter participado no último conclave, em 2013.

Pietro Parolin, 70 anos

Considerado um candidato mais consensual entre os progressistas e conservadores, o italiano Pietro Parolin é secretário de Estado do Vaticano desde 2013 – ano em que Francisco foi eleito – e serviu enquanto diplomata da Igreja durante a maior parte da sua vida.

Parolin exerceu ainda os cargos de vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, durante o papado de Bento XVI e, em 2009, foi nomeado embaixador do Vaticano na Venezuela. Também participou nos esforços diplomáticos do Vaticano no Médio Oriente e na Ucrânia.

Uma das figuras mais próximas de Francisco, Parolin foi essencial no restabelecimento das relações entre o Vaticano e a China, em 2018, através de um acordo (terminado em 2022) que deu ao Papa algum peso sobre a nomeação ou veto de bispos pelo Partido Comunista Chinês em troca do reconhecimento de sete bispos chineses não admitidos pelo Vaticano. Foi também fundamental no reatar das relações entre os EUA e Cuba e visitou a Ucrânia e o presidente Volodymyr Zelensky, em 2024.

Ontem foi mais um dia como os outros na Ucrânia. Poucas horas depois de terminar o “cessar-fogo” pascal de Putin, o Kremlin decidiu voltar a lançar uma chuva de mísseis e drones sobre cidades ucranianas. Não que a Rússia tivesse realmente interrompido as hostilidades. Segundo Volodymyr Zelensky, o exército russo desrespeitou a trégua quase 3 mil vezes, desde tentativas de avanço sobre posições ucranianas a ataques com drones e fogo de artilharia.

Ninguém ficou surpreendido com a falta de palavra do líder russo. Na verdade, este cessar-fogo – anunciado unilateralmente e minutos antes de entrar em vigor, não dando tempo para o exército ucraniano se preparar – nada tinha de sério. A (falsa) pausa de 30 horas parece talhada para ecoar o cessar-fogo de 30 dias proposto pelos EUA que a Ucrânia aceitou e a Rússia recusou, enquadrada numa moldura de cínica religiosidade, para apelar ao movimento MAGA e ressuscitar a ideia de que esta guerra é uma espécie de cruzada contra o que Putin chama de “satanismo” dos valores ocidentais. Um simples piscar de olho a Donald Trump, que no dia anterior ameaçara abandonar o processo de paz.

Com este truque de ilusionismo, Putin mostra que pretende manter os EUA à mesa das negociações, e tem boas razões para isso: a posição americana favorece as pretensões russas. Esta administração americana tem tido uma retórica extremamente hostil para com a Ucrânia e o seu presidente, cessou todos os apoios militares a Kyiv (recusa-se mesmo a vender sistemas de defesa), já fez saber que vai bloquear a entrada da Ucrânia na NATO e defende a integração dos territórios ocupados na Rússia como parte do plano de paz. Há até indicações de que pode estar mesmo a preparar-se para levantar sanções a Moscovo e reconhecer a Crimeia como russa, sem nada em troca, apenas e só como gesto de boa vontade. Exigências ao Kremlin? Ainda estamos por conhecer uma que seja.

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É uma daquelas coincidências: ver uma exposição de Zanele Muholi numa altura em que as diretivas trumpistas têm acendido o rastilho contra as políticas de inclusão, de género e de justiça racial convida a um aprofundamento do campo de visão, insufla hipóteses de resistência.

Zanele Muholi, retrospetiva da artista não binária sul-africana, coorganizada pela Tate Modern londrina e o Museu de Serralves, é a primeira grande apresentação da sua obra em Portugal. E a força dos números é importante: o espaço museológico apresenta mais de 200 fotografias, a preto e branco e a cores, pontuadas por uma linha do tempo documental que evoca tanto o apartheid na África do Sul como a ditadura em Portugal.

A artista sul-africana Zanele Muholi fotografada, em Serralves, junto de um dos seus autorretratos

Tal como uma manifestação é impossível de ignorar no espaço público, também a abundância destes rostos e corpos, destas peles e poses, é uma declaração contra a invisibilidade – eles e elas não caminharam silenciosamente para a noite escura. Zanele Muholi acendeu um holofote que nunca mais se apagou.

“A minha missão é reescrever a história visual negra queer e trans da África do Sul para o mundo conhecer a nossa resistência e a nossa existência durante o período crítico dos crimes de ódio na África do Sul e mais além”, afirma Zanele.

“Artista ativista”, Muholi quis ser mais do que testemunha de injustiças sociais, tal como o seu mentor na escola de fotografia em que se inscreveu aos 31 anos. O fotógrafo sul-africano David Goldblatt (1930-2018) documentou as condições de vida sob o jugo do apartheid. Mas Zanele Muholi conhecia as costuras e os riscos da comunidade negra LGBTQIA+: fazia parte desta. E reclamou o direito a serem eles a contar a sua própria narrativa.

Espelhos

A retrospetiva já passou por Paris, Berlim, Copenhaga e São Paulo. No Porto, Zanele Muholi expandiu-se pela mão das curadoras Inês Grosso e Filipa Loureiro e na colaboração com o atelier de arquitetura Ventura Trindade. “Queríamos que esta fosse uma exposição muito importante, que agitasse o contexto português”, defende Inês. “Numa altura em que figuras como Trump ameaçam direitos fundamentais, e com o retrocesso dos direitos civis e o crescimento do discurso do ódio em vários países, o trabalho e o ativismo de Muholi lembram-nos de que a arte é uma forma de resistência e de luta, neste caso sobre a invisibilidade dos corpos dissidentes”, defende à VISÃO a curadora.

Um dos aspetos que mais distinguem o trabalho de Zanele Muholi é o facto de não haver uma exploração da dor

Inês Grosso, curadora

As séries fotográficas icónicas de Zanele Muholi alinham-se: Being capta, desde 2006, momentos de intimidade entre casais do mesmo sexo; Faces and Phases é uma arca com centenas de retratos de pessoas LGBTQIA+, da África do Sul e não só.

A série Queering in the Public Space mostra elementos da comunidade negra queer fotografados em lugares que lhes eram vedados durante o apartheid, como a praia de Durban – perto de Umlazi, o gueto negro onde Muholi nasceu, em 1972, filha de um comerciante, que morreu jovem, e de uma mãe que trabalhou como empregada doméstica de famílias brancas para sustentar os oito filhos. Há ainda Only Half the Picture, série intimista dedicada a vítimas de crimes de ódio – uma sala dentro da sala, com a “luz espiritual” da claraboia de Siza Vieira a iluminar.

Inês Grosso escolheu ampliar, aqui, duas séries “mais antigas e menos conhecidas”: Being e Only Half of the Picture. À VISÃO, sublinha: “Um dos aspetos que mais distinguem o trabalho de Zanele Muholi é o facto de não haver uma exploração da dor. Todas as pessoas são sempre tratadas com dignidade, empoderadas. Being é uma celebração da intimidade, do afeto, mas há um gesto político potente, e estes corpos dissidentes são retratados de uma forma não voyeurista; mostram a vida do dia a dia, do toque, de pele com pele.”

Zanele Muholi também se retratou em frente da câmara. A célebre série Somnyama Ngonyama (expressão zulu traduzida como Viva a Leoa Negra), iniciada em 2012, revela autorretratos num preto e branco inclemente, em que a artista surge associada a objetos simbólicos que remetem para a História do seu país.

Em Serralves podem ver-se, ainda, retratos da comunidade queer em Portugal, captados por Zanele Muholi dois ou três dias antes da inauguração da exposição, com o apoio da Associação Casa Odara e da Ilga Portugal.

“Zanele Muholi é alguém que faz uma diferença gigante no mundo”, conclui Inês Grosso, “com as suas obras, a sua força, resistência, generosidade; ofereceu, por exemplo, bolsas de estudo de fotografia. É muito mais do que o produto de uma agenda: é uma voz importante na defesa dos direitos e na luta das pessoas negras da comunidade LGBTQIA+ no contexto de um país e globalmente, ultrapassando as questões do mercado da arte e do eurocentrismo”.

Zanele Muholi > Museu de Serralves > R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 226 156 546 > até 12 out, seg-dom 10h-19h > €12

Este Papa não desceu da Cruz. Não renunciou. Não negou. Não rejeitou. Francisco, Santo Padre, tentou reformar a Igreja, reconhecer os seus graves pecados, iluminar o caminho e pedir perdão, sincera e humildemente, a todos os que foram abusados, esquecidos e destruídos.

Francisco fez a Igreja Católica avançar décadas, quando todos pensavam que ninguém teria esse poder e essa capacidade. Bento XVI desistiu. Desceu da Cruz. Esta Igreja Católica é hoje mais aberta, mais preocupada e mais inclusiva. Todos os que eram renegados voltaram a ser chamados pelo sucessor de Pedro.

Não há mais palavras, entre as milhares e milhões que já foram escritas, ditas e comentadas, que melhor traçem o perfil deste Papa da Companhia de Jesus. Na minha vida já passaram cinco Papas – Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco – e o sexto será escolhido no próximo Conclave.

Como acredito nos dogmas da Igreja, peço ao Espírito Santo que ilumine os cardeais na escolha do novo Santo Padre: um fiel servidor, marcadamente ecuménico e aberto ao mundo e a todas as confissões de fé. Afinal, no fundo, queremos um Papa que nos ouça a todos, em todos os continentes, e de todas as cores e feitios.

Este Papa não desceu da Cruz. Não renunciou. Não negou. Não rejeitou. Francisco, Santo Padre, tentou reformar a Igreja, reconhecer os seus graves pecados, iluminar o caminho e pedir perdão, sincera e humildemente, a todos os que foram abusados, esquecidos e destruídos.

Francisco fez a Igreja Católica avançar décadas, quando todos pensavam que ninguém teria esse poder e essa capacidade. Bento XVI desistiu. Desceu da Cruz. Esta Igreja Católica é hoje mais aberta, mais preocupada e mais inclusiva. Todos os que eram renegados voltaram a ser chamados pelo sucessor de Pedro.

Não há mais palavras, entre as milhares e milhões que já foram escritas, ditas e comentadas, que melhor traçem o perfil deste Papa da Companhia de Jesus. Na minha vida já passaram quatro Papas – Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco – e o sexto será escolhido no próximo Conclave.

Como acredito nos dogmas da Igreja, peço ao Espírito Santo que ilumine os cardeais na escolha do novo Santo Padre: um fiel servidor, marcadamente ecuménico e aberto ao mundo e a todas as confissões de fé. Afinal, no fundo, queremos um Papa que nos ouça a todos, em todos os continentes, e de todas as cores e feitios.

A acessibilidade digital está, felizmente, a deixar de ser vista como uma obrigação legal ou uma preocupação restrita a um grupo específico. Em Portugal, começamos a perceber que desenhar com mais empatia e atenção à diversidade não só é mais justo — resulta em experiências digitais mais simples, eficazes e agradáveis para todos.

Durante muito tempo, falou-se de acessibilidade apenas no contexto da deficiência. Hoje, o entendimento é mais abrangente. Uma solução digital acessível é aquela que serve também a pessoa idosa que começa a usar a internet, o jovem com uma lesão temporária, ou alguém a tentar preencher um formulário no telemóvel, num transporte em movimento. A acessibilidade não é um extra — é a base de uma boa experiência digital.

Nos últimos anos, temos assistido a um movimento cada vez mais claro: empresas e entidades públicas em Portugal estão a integrar princípios de acessibilidade nos seus processos de design, desenvolvimento e conteúdo. Há mais formação, mais consciência, mais vontade de fazer bem. Ferramentas e boas práticas estão disponíveis — e começam a ser usadas desde o início dos projetos, o que faz toda a diferença.

Claro que há desafios. A aplicação do Ato Europeu de Acessibilidade, com prazo para 2025, vai exigir mudanças reais em vários serviços digitais — do comércio online à banca, dos transportes à comunicação audiovisual. Mas a grande oportunidade está em não olhar para estas exigências como um obstáculo, e sim como uma alavanca para inovação e melhoria contínua.

Porque quando criamos experiências mais acessíveis — com bom contraste, navegação intuitiva, linguagem clara e compatibilidade com diferentes modos de uso — não estamos apenas a cumprir uma norma. Estamos a criar soluções mais robustas, mais respeitadoras das pessoas e, muitas vezes, mais eficazes para o próprio negócio.

A acessibilidade digital é, acima de tudo, uma escolha de qualidade. E essa escolha começa com uma pergunta simples, mas poderosa: será que todos conseguem realmente usar isto? Quando a resposta é sim, todos ganhamos.