Visão
O tempo que se consegue aguentar de pé, apoiado numa só perna “é uma boa medida do seu sistema geral de saúde, uma vez que o equilíbrio reflete como os sistemas do corpo estão a funcionar em conjunto”, explica Kenton Kaufman, investigador da Mayo Clinic e autor sénior de um estudo publicado esta semana no PLOS One.
A equipa analisou quanto tempo pessoas com mais de 50 anos conseguiam ficar só numa perna, a dominante e a não dominante, e descobriu que aquele diminui significativamente com a idade. O declínio neste ponto mostrou-se até superior ao verificado na marcha e na força muscular.
“Um bom equilíbrio dá a capacidade para levar a cabo atividades do dia a dia sem medo de cair e isto leva a uma melhor qualidade de vida e a um envelhecimento saudável”, acrescenta Kaufman.
O estudo contou com 40 participantes, todos com bom estado de saúde geral e sem perturbações neuromusculares e permitiu perceber que o tempo que uma pessoa consegue permanecer de pé com um só apoio diminui a um ritmo de 2.2 segundos por década, quando a carga é sobre a perna não dominante, e de 1,7 segundos por década no lado dominante, tendo em conta o peso corporal.
Que o equilíbrio é uma das capacidades que entra em declínio com a idade está provado através de várias investigações. O que este estudo fez foi comparar esta capacidade com outras, como a capacidade de segurar coisas com as mãos, a força dos joelhos e a velocidade da marcha. E se todas elas se deterioraram com a idade, a do equilíbrio foi a que caiu a uma maior velocidade.
Então, quando tempo é suposto conseguir aguentar só numa perna?
Primeiro o extremo indesejável: menos de cinco segundos representa um maior risco de queda, avisa Kaufman. E já um estudo de 2022 mostrava que não conseguir fazê-lo durante 10 segundos equivalia a um risco 84% mais elevado de morte por qualquer causa. Isto porque a incapacidade de permanecer de pé apoiado só num lado pode ser sintoma de problemas de saúde como cardíacos ou ao nível do cérebro ou do sistema nervoso. Kaufman realça, no entanto, que também pode ser efeito secundário de algum medicamento. Mas, seja como for, menos de cinco segundos, pede o especialista, devem motivar uma visita ao médico.
Uma boa regra, considera o investigador, é conseguir aguentar a posição durante cerca de 30 segundos ou mais, no caso das pessoas com 69 anos ou menos, 20 segundos para quem tem entre 70 a 79 anos e 10 segundos para os maiores de 80.
A VISÃO sabe que Luís Montenegro tem já nomes para liderar o Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) e para o Serviço de Segurança Interna (SSI), que deviam ser anunciados esta semana. No entanto, a onda de protestos contra a violência policial na Grande Lisboa desencadeada pela morte de Odair Moniz pode adiar as nomeações.
Há muito que se sabe que Graça Mira Gomes, a embaixadora que está à frente do SIRP, não tem a confiança política de Luís Montenegro. Algo que o próprio tornou público quando era líder da oposição, na sequência do episódio que envolveu o ex-assessor do Ministério das Infraestruturas Frederico Pinheiro.
Apesar disso, sete meses depois de entrar em São Bento, Montenegro ainda não substituiu a secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, admitindo-se que pudesse ficar até janeiro de 2025, altura em que entrará na reforma.
Mas Luís Montenegro terá já um nome para o seu lugar, bem como um substituto para Paulo Vizeu Pinheiro, que saiu para Bruxelas, onde está como Representante Permanente de Portugal junto da NATO.
É que o Serviço de Segurança Interna (SSI) tem desde agosto um novo secretário-geral adjunto, mas ainda não um secretário-geral.
A VISÃO sabe que em Belém se considera que será mais prudente deixar passar os protestos antes de anunciar estas chefias, num momento que é particularmente sensível e que pode fazer crer que os anúncios são uma forma de responder ao que se está a passar.
PJ à espera de decisão há cinco meses
Há muito que se especula que o cargo no SSI pode ficar para José Casimiro Morgado, ex-homem forte do Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa (SIED).
Ao que a VISÃO apurou, Montenegro tinha planeado levar os nomes para o SSI e para o SIRP a Belém esta semana, mas a onda de tumultos dos últimos dias pode fazer adiar o anúncio destas nomeações.
Por decidir estará ainda o novo diretor da Polícia Judiciária, uma vez que Luís Neves terminou a sua comissão de serviço há cinco meses e ainda não sabe se vai ser reconduzido ou substituído.
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A manifestação convocada para este sábado às 15h no Marquês de Pombal, pelo movimento Vida Justa para pedir Justiça pela morte de Odair Moniz, já não vai acabar em frente à Assembleia da República. Uma vez que foi autorizado que uma contramanifestação do Chega de apoio à polícia para terminar no mesmo local à mesma hora, o Vida Justa optou por alterar o trajeto para evitar confrontos entre manifestantes.
“O movimento da Vida Justa condena a decisão das autoridades de permitir que o Chega termine a sua contramanifestação no mesmo local da manifestação Sem Justiça não há Paz, na Assembleia da República. Por isso, o Vida Justa decidiu alterar o local de destino da sua manifestação para a Praça dos Restauradores”, lê-se num comunicado enviado às redações.
Para este movimento, que tem trabalhado nos bairros periféricos e fez já várias manifestações, a decisão das autoridades de permitir que a contramanifestação convocada pelo Chega termine no local para onde muito antes tinha sido feita a convocatória do Vida Justa é “irresponsável”.
“Estamos cientes que o Chega, que defende que Portugal estaria melhor se os polícias matassem mais pessoas, está interessado em criar incidentes, mas a manifestação dos bairros é pacífica e responsável, mesmo quando as autoridades não o estejam a ser”, diz o comunicado do Vida Justa.
Nuno Ramos de Almeida, do Vida Justa, já tinha dito à VISÃO que o movimento estava em contacto com o Ministério da Administração Interna e a PSP para garantir que os dois protestos não se cruzavam, evitando potenciais conflitos e desacatos.
No entanto, as autoridades não deram resposta aos pedidos do Vida Justa no sentido de forçar o Chega a escolher outro local para terminar a sua manifestação. Por isso, o movimento tomou a iniciativa de alterar o trajeto da sua manifestação para assegurar que tudo decorre da forma mais pacífica possível.
São 85 os coletivos que aderiram à manifestação do Vida Justa
O Vida Justa tem também denunciado a forma como “perfis de extrema-direita” estão a divulgar convocatórias falsas para atos de vandalismo no centro de Lisboa, tentando acicatar ainda mais os ânimos nos bairros periféricos, onde nos últimos dias a revolta contra a violência policial se manifestou através do incêndio de autocarros e de mobiliário urbano, tendo ficado gravemente ferido o motorista de um autocarro da Carris, quando terminava a carreira na Cidade Nova.
Segundo o movimento Vida Justa, 85 coletivos e organizações aderiram já à convocatória da manifestação Sem Justiça não há Paz.
“Vamos ser muitos a marchar do Marquês aos Restauradores, no sábado, 26 de outubro, às 15h00, por justiça para Odair Moniz, por bairros sem violência policial e por justiça social para as pessoas dos bairros”, assegura a organização do protesto.
É inadmissível e inaceitável que, na democracia portuguesa, tenhamos um deputado como André Ventura e o seu partido, Chega, que, repetidamente, recorrem a discursos de ódio racial, principalmente nas redes sociais. Como cidadã cabo-verdiana e também com nacionalidade portuguesa, residente em Portugal, sinto uma profunda tristeza em saber que vivo num país onde há espaço para um discurso que alimenta o preconceito e a discriminação. Esse tipo de retórica, além de ser um crime contra os valores fundamentais da Constituição da República Portuguesa, representa uma ameaça grave à nossa democracia.
A Constituição portuguesa foi construída sobre os princípios da igualdade, da dignidade e do respeito a todos os cidadãos, sem distinção de raça, religião, ou origem. O que assistimos, no entanto, é a uma constante tentativa de dividir a sociedade, de semear a desconfiança entre os cidadãos e de perpetuar preconceitos históricos. O ódio não pode ser tolerado, muito menos quando se disfarça de liberdade de expressão. Porque o ódio, quando vem de uma figura pública eleita, não é apenas uma opinião – é uma agressão moral que afeta diretamente o dia a dia de muitos cidadãos que têm Portugal como sua casa e se veem constantemente desrespeitados e atacados.
Portugal é um país que, historicamente, acolheu povos e culturas diversas, enriquecendo-se com essa diversidade. Eu, como cabo-verdiana e portuguesa, vivo esse valor diariamente. Porém, quando vejo um deputado a desrespeitar a minha identidade e a dos meus semelhantes, sou lembrada de que ainda há um caminho a ser percorrido para que todos os cidadãos sejam verdadeiramente aceites e valorizados, não apenas na teoria, mas na prática.
A democracia que defendemos precisa ser um ambiente onde todos se sintam seguros, onde a diversidade seja respeitada, e onde o discurso de ódio seja veementemente repudiado.
Como cidadãos, é nosso dever não nos calarmos perante a promoção do ódio. Precisamos deixar claro que Portugal deve caminhar rumo à inclusão, ao respeito e à justiça para todos. Não podemos permitir que discursos irresponsáveis e desumanos sejam normalizados, nem que figuras públicas eleitas perpetuem a divisão entre portugueses. A voz da igualdade e da união deve sempre prevalecer.
A sua postura enquanto membro de um Parlamento que representa o seu povo não é de defesa de valores nacionais, mas sim de demonstração de ignorância e falta de humanidade, e pergunto, como é possível a democracia portuguesa dar lugar a um deputado que deixa claro o seu posicionamento racista e xenófobo e é aplaudido por outros deputados na Assembleia da República?
Neste contexto, também peço que as autoridades cabo-verdianas intervenham de forma firme e clara. O combate ao racismo e ao ódio é uma causa que ultrapassa fronteiras e exige solidariedade entre nações que se comprometem com os valores democráticos. Cabo Verde e Portugal têm uma ligação histórica e cultural profunda e o respeito entre os seus povos deve ser defendido. Que as autoridades cabo-verdianas reforcem, ao lado de Portugal, a importância de uma democracia inclusiva, onde o ódio e a discriminação não encontram espaço.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
Nuno Ramos de Almeida, do movimento Vida Justa, é perentório. “Em nenhuma circunstância teremos manifestação no final com o Chega, porque somos responsáveis”, diz à VISÃO, explicando que o movimento está neste momento em contacto com a Secretaria-Geral da Administração Interna e com a PSP para chegar a acordo sobre o percurso do protesto, admitindo mesmo alterá-lo, apesar de ter sido comunicado às entidades competentes muito antes da convocatória feita pelo líder do Chega, André Ventura.
Admitimos mudamos o percurso. Desconvocar nunca”, avisa Ramos de Almeida, que diz estar a sensibilizar as autoridades policiais para o clima de tensão que pode ser desnecessariamente provocado pelo facto de ter as manifestações do Vida Justa e do Chega a desembocar no mesmo sítio, em frente à Assembleia da República.
“Achamos que a polícia não está a perceber a situação e está a permitir que haja confusão”, declara Nuno Ramos de Almeida, frisando que estas manifestações acontecem num momento em que “uma comoção social” que pode facilmente ser o rastilho para desacatos no encontro entre manifestantes. “Não é possível que admitam isto”, insiste.
Perfis de extrema-direita divulgam convocatórias falsas
O movimento Vida Justa denuncia também a forma como estão a circular nas redes sociais convocatórias falsas que apelam a atos de vandalismo no centro de Lisboa, este sábado.
“Detetámos perfis de extrema-direita a convocar manifestações falsas”, diz Ramos de Almeida que insiste na denúncia para que se perceba que o Vida Justa está a convocar uma manifestação pacífica, à semelhança das outras que já realizou no centro de Lisboa.
“Isto é como o incêndio do Reichtag. Quem ateou o fogo foi um militante comunista holandês com problemas mentais. Mas quem aproveitou o fogo foram os nazis”, recorda Nuno Ramos de Almeida, apontando o dedo “às informações incendiárias publicitadas pela extrema-direita” nos últimos dias.
“Está convocatória [da manifestação do Chega] enquadra-se nessa ideia”, argumenta.
Ventura faz convocatória “em defesa do Estado de Direito”, mas não condena deputado do Chega que defende que “a polícia atire a matar mais vezes”
André Ventura anunciou que irá liderar um protesto “em defesa da polícia, em defesa do estado de Direito e em defesa do cumprimento das regras do estado de Direito”, depois de o Vida Justa ter convocado uma manifestação reclamando justiça para Odair Moniz, o cidadão morto pela PSP depois de desobedecer a uma ordem policial na Cova da Moura.
“Nós procuraremos com as autoridades, ao longo das próximas horas, fazer a articulação necessária para que os dois percursos não se cruzem e para garantirmos que as manifestações serão pacíficas”, disse na altura André Ventura. O problema é que, a menos que as autoridades obriguem a uma solução diferente, está previsto que ambos os protestos terminam no mesmo local.
“É preciso fazer justiça e condenar a morte de Odair Moniz pela polícia. Infelizmente, não é caso único. Há demasiados mortos nas nossas comunidades. É preciso acabar com a violência e a impunidade policial nos bairros. É preciso que as pessoas deixem de ser tratadas como não-cidadãos que podem ser agredidos e mortos”, lê-se na convocatória feita pelo Vida Justa.
“O que está em curso por alguns setores da sociedade é uma tentativa vil de ataque da polícia, de menorização da polícia e de desculpabilização deste tipo de violência que está em curso”, defendeu o líder do Chega, que diz ser preciso mostrar que “há outro país” que está ao lado da polícia.
Isto depois de o líder parlamentar do seu partido, Pedro Pinto, ter dito na RTP3 que se as forças de segurança “disparassem mais a matar, o país estava mais na ordem”, declarações que Ventura, que já defendeu que fosse dada uma medalha ao polícia que matou Odair Moniz e se referiu a quem mora nos bairros periféricos como “rascaria”, não condenou.
Agente que matou Odair confessou não ter sido atacado com faca
O agente que alvejou Odair Moniz, cozinheiro de 43 anos, já foi constituído arguido. É suspeito de homicídio e, segundo a CNN e o Expresso, já terá admitido à PJ que Odair não o ameaçou com uma faca, ao contrário do que foi escrito no auto de polícia sobre a ocorrência e do que ficou no comunicado do Comando Distrital da PSP sobre o caso.
De resto, o DN avançou que as câmaras de videovigilância na Cova da Moura registaram o momento que levou à morte de Odair Moniz e que nessas imagens não é visível qualquer faca.
A revista VISÃO também divulgou um vídeo, captado por telemóvel, no qual se vê Odair Moniz deitado no chão, sem que nos quatro minutos que dura a gravação os agentes façam qualquer manobra de salvamento.