Existe mais perceção de corrupção do que corrupção? O estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos não consegue responder a essa pergunta, mas dá-nos um retrato do que os portugueses pensam ser um fenómeno comum na sociedade e mais ainda quando se trata de futebol e Política.

A corrupção está em todo o lado

Na verdade, as conclusões deste barómetro revelam que “em média, os participantes acreditam que todas as esferas da vida social avaliadas são, pelo menos, medianamente corruptas”. Quando se lhes pede, porém, para indicar quais aquelas em que acreditam serem mais permeáveis a esta prática, as respostas incidem em primeiro lugar no futebol, seguido dos partidos políticos, das autarquias e do Governo.

Para se ter uma ideia, a escala usada é de 0 a 10 e a média das respostas que apontam os clubes de futebol como vulneráveis à corrupção é de 8,1; para os partidos e autarquias é de 7,5 e para o governo é de 7,3. Já os bancos, e apesar de todos os escândalos que têm sido conhecidos nas últimas décadas, ficam-se pelos 6,5, abaixo das sociedade de advogados com 6,9.

Os políticos são de desconfiar, mas a Democracia é a solução

Os políticos continuam a ser os maiores alvos de todas as suspeitas, já que “os resultados indicam que, em média, os participantes concordam que a política só atrai pessoas que procuram obter benefícios particulares às custas do bem comum (M = 6,7) e que até as pessoas honestas se deixam corromper quando ocupam um cargo de poder (M = 6,2)”.

Apesar disso, quem respondeu ao inquérito não vê a resposta para este problema num regime autoritário. Pelo contrário, associam a Democracia a uma maior transparência e possibilidade de combate à corrupção.

“Os inquiridos consideram que um país que tenha um líder forte que não tenha de se preocupar nem com o parlamento nem com as eleições é mais vulnerável à corrupção do que um país democrático ou do que um país onde são os especialistas, e não os políticos eleitos, a tomar as decisões”, lê-se no estudo a que a VISÃO teve acesso.

Ideias e programa são o que mais conta na hora de votar

De resto, a preocupação com a corrupção não se sobrepõe às questões ideológicas e programáticas na hora de votar. Quando é pedido aos participantes no estudo que ordenem por ordem de importância as características que os fazem escolher um candidato em detrimento de outro, é o seu pensamento político e não as suas características pessoais que aparece à cabeça. O género é a última coisa tida em linha de conta e a integridade é a segunda, atrás da ideologia.

“Desta análise resulta que os atributos mais importantes para a determinação a probabilidade de votar num candidato são a orientação ideológica (24,2%), seguida da integridade (20,3%) e da capacidade de compromisso (16,6%)”, conclui o estudo.

Os portugueses não acreditam na meritocracia

Os portugueses parecem desconfiar da ideia de mérito. Acreditam que o sucesso está acima de tudo dependente das relações sociais, mais até do que da promiscuidade entre política e negócios.

A maioria acredita que para se considerar que houve corrupção tem de se ter praticado um ato ilegal.

“Em média, os inquiridos concordam que, em Portugal, se quisermos subir na vida, é importante conhecer as pessoas certas (M = 7,9) e, em menor medida, que só se fazem bons negócios se tivermos ligações políticas (M = 6,7)”, lê-se nas conclusões do trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Cunhas e portas-giratórias desvalorizadas

Mas o que é afinal a corrupção? A maioria acredita que para se considerar que houve corrupção tem de se ter praticado um ato ilegal. E cai por terra a ideia de que a maioria está disponível para aceitar um corrupto que roube mas faça.

“Por um lado, em média, os participantes concordam que um comportamento tem de ser ilegal para ser considerado corrupto (M = 6,1). Por outro lado, não concordam que, se o resultado de uma ação for benéfico para a população em geral, não se trata de corrupção (M = 4,3), sendo esta diferença estatisticamente significativa”, indica o barómetro.

A maioria identifica como corrupção no abuso de informação privilegiada para benefício de terceiros (M = 8,6) e no puxar de cordelinhos (M = 8,3). Mas as cunhas não são tão valorizadas como atos de corrupção. “Os cenários que suscitam maior complacência são os da cunha (M = 5,1) e os das portas giratórias (M = 6,7)”, nota-se no estudo.

“A maioria das pessoas tem uma definição legalista da corrupção, o que poderá levar a excluir o rótulo de corrupção de um conjunto de comportamentos e práticas legais, mas eticamente censuráveis”, alertam os investigadores na análise dos dados.

Megaprocessos são parte do problema

O estudo mostra que “o combate à corrupção é avaliado como ineficaz” pela maioria dos inquiridos, mas não é a falta de meios a principal causa dessa ineficácia.

“Quando questionados sobre a ineficácia da justiça no combate à corrupção, os inquiridos apontaram mais frequentemente a existência de megaprocessos demasiados complexos e intermináveis (71,9%), seguida da existência de demasiadas opções de recurso (43,4%) e da dificuldade em provar os atos de corrupção (28,5%)”, lê-se no trabalho coordenado por Luís Sousa e Susana Coroado.

Curiosamente, os cidadãos estão dispostos a arcar com as culpas da persistência de fenómenos de corrupção. “À pergunta ‘quem é o principal responsável pela ineficácia do combate à corrupção?’, mais de um quarto dos entrevistados afirma ser a sociedade como um todo (26,0%) e o governo (25,5%)”, revela o barómetro.

Enquanto académico não tenho de responder à forma como o partido A ou B responde a estes resultados. Tenho de ter rigor a recolher os dados e a tratar os dados

luis de sousa, investigador, coordenador do estudo elaborado pela ffms

Segundo o estudo, “os meios de comunicação tradicionais — a televisão (63,7%) e a imprensa escrita e online (55,2%) — continuam a ser, de longe, as fontes de informação mais importantes para a formulação de opiniões sobre a corrupção em Portugal, mesmo para as faixas etárias mais jovens”, aparecendo as redes sociais “apenas em quinto lugar (9,9%) em todas as faixas etárias, sendo o Facebook e o Instagram as mais utilizadas”.

“Conhecer o fenómeno social”

Mas será que estudos que medem a perceção do fenómeno da corrupção sem ser possível perceber a que ponto essa perceção corresponde à realidade estão a alimentar o populismo? “Enquanto académico não tenho de responder à forma como o partido A ou B responde a estes resultados. Tenho de ter rigor a recolher os dados e a tratar os dados”, responde à VISÃO o investigador Luís Sousa, notando a dificuldade que há em medir a realidade da corrupção.

“Os nossos estudos não estão a medir a realidade, mas as estatísticas [sobre crimes] também não, estão a medir que o sistema consegue detetar e eventualmente julgar”, declara o académico.

Para Luís Sousa, a grande mais-valia deste tipo de estudos é “conhecer o fenómeno, que é um fenómeno social” e também entender como as pessoas interagem com ele e como o definem.

O investigador nota que “só muito recentemente se fazem estudos sobre a perceção deste fenómeno” e defende que seria interessante repetir este barómetro para entender qual a evolução dessa perceção, já que os dados que existem mostram que “temos [em Portugal] uma perceção das mais altas da Europa e sistematicamente alta”.

O universo do estudo é composto pelos residentes em Portugal continental, com 18 ou mais anos, falantes de língua portuguesa, com telefone da rede fixa ou acesso à internet. Foram feitas 1101 entrevistas completas e validadas, das quais 626 através de inquérito online e 475 através de chamada telefónica, correspondendo a um erro máximo amostral de 3% (para um nível de confiança de 95%).

Os Houtis, até eles, um bando armado pelo Irão, sem lei nem tino, têm mísseis balísticos para disparar contra Israel. Ao Hezbollah também não faltam, nem ao Hamas, muito menos ao Irão, que até já se dá ao luxo de os fornecer a Putin. Na Europa há mísseis para todos os cenários, estejam eles na Rússia, na NATO, na Bielorrússia, ou também na China, Coreia do Norte e por aí fora.

A Ucrânia bem pede e apela mas não os tem. Ou está longe de ter o que quer, e mesmo assim, quando puder, será sempre com grandes restrições. Há um cinismo político e estratégico que deixa o mundo baralhado. Ninguém quer que os russos vençam a guerra na Ucrânia, mas não dão aos ucranianos as armas certas para acabar com a invasão. É ridículo e cruel.

Putin mete medo, é um facto, e esse sentimento torna os aliados da Ucrânia, mais de 50 países, num grupo de escuteiros simpáticos e inofensivos. E quem alimenta esse receio? Os serviços secretos ocidentais: há pouco tempo, e de uma forma invulgar, os diretores da CIA e do MI6 britânico revelaram que Putin esteve na iminência de usar armas nucleares táticas na Ucrânia, nos finais de 2022 e início de 2023, quando as suas forças armadas começaram a fraquejar.

Fanfarrão, Putin sabe que a ameaça nuclear paraliza os aliados, mas na verdade traçou inúmeras linhas vermelhas que foram abertamente violadas em defesa da Ucrânia, como os F-16, os Himmars, os tanques e tantos outros sistemas. Putin já tem a guerra no seu território, Moscovo deixou de ser inatingível, e esse pesadelo seria seriamente agravado com os mísseis de médio e longo alcance que a Ucrânia utilizaria para destruir o comando e controlo e a logística que alimenta a máquina militar russa. A partir daí seria uma guerra total entre a Rússia e a Ucrânia, e essa escalada poderia envolver tudo e todos. É nesse cálculo hipócrita que estamos colocados, por agora.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Um estudo levado a cabo em 33 países mostra que os jovens que estão agora a entrar no mercado de trabalho são cada vez mais atraídos por empresas que valorizam a comunidade, que permitem uma maior flexibilidade de horários e que apostam na formação contínua dos seus profissionais.

Uma mudança de paradigma que já está a provocar um forte impacto no tecido empresarial e que obriga a alterações profundas na forma como as organizações atraem novos talentos para os seus quadros.

O trabalho foi desenvolvido pelo CEMS, uma aliança global para a educação em gestão, realizado em 33 países e noutras tantas universidades. Em Portugal contou com a parceria da Nova SBE.

Pedro Martins, professor catedrático desta universidade e antigo secretário de Estado do Emprego, no XIX Governo Constitucional, falou com a VISÃO sobre as conclusões deste estudo e abordou ainda as políticas de emprego nacionais, bem como os modelos que deveriam ser adotados pelas empresas e pelo sistema educativo para melhor lidar com as exigências das novas gerações.

De forma resumida, pode dizer quais são as grandes conclusões deste estudo?
Diria que a principal conclusão tem a ver com a valorização do trabalho de uma forma mais alargada, que não se foca exclusivamente nas dimensões da remuneração. Na perspetiva dos mais jovens, o que o trabalho oferece vai muito além do salário e daquilo a que chamamos as condições clássicas de emprego. Digamos que os aspetos imateriais começam a ser mais valorizados por esta nova geração. O sentido que o trabalho pode oferecer aos trabalhadores é algo que começa a ser mais valorizado.

A formação contínua ganha uma nova dimensão nas pretensões dos jovens?
Os jovens já não querem apenas aprender quando estão na universidade. Querem continuar a sua formação enquanto estão a trabalhar. E há cada vez mais uma procura de postos de trabalho onde possam não só aplicar os conhecimentos que adquiriram anteriormente, mas que lhes permitam continuar a adquirir conhecimentos que os tornem mais valorizados.

E o tecido empresarial está preparado para esta mudança?
Penso que temos alguma diversidade em relação ao que as empresas conseguem proporcionar. Algumas vão estar mais focadas numa lógica de continuidade, de aproveitamento do capital humano adquirido pelos trabalhadores na universidade, ao passo que outras irão conseguir proporcionar um ambiente muito mais enriquecedor em termos de capital humano.

E há diferenças entre setores de atividade e entre áreas geográficas?
As empresas com espaço de produção de conhecimento estão mais bem colocadas para oferecer as condições de trabalho que os jovens procuram. Bem como os países em que existe um maior número deste tipo de empresas, que utilizam o conhecimento de uma forma intensiva, vão ter maior capacidade de atração e de retenção dos jovens trabalhadores.

Mas há bastantes empresários que se queixam de gastar muito dinheiro para melhorar a qualificação dos seus profissionais e, depois de feito este investimento, as pessoas acabarem por sair para empresas concorrentes…
É um risco e um desafio. Mas proporcionar a formação desejada pelo funcionário é também proporcionar um incentivo para que os trabalhadores continuem na empresa. Creio que poderia haver um trabalho de maior coordenação entre empresas do mesmo setor. Se todas elas proporcionarem níveis de formação elevados, este problema não será tão grave. Por um lado, conseguem formar e, por outro, conseguem reter.

No estudo, 61% dos jovens veem com bons olhos o modelo de trabalho híbrido. Defendem maior flexibilidade de horários mas, ao mesmo tempo, querem desenvolver um sentimento de pertença na organização. Está provado que quanto maior é o trabalho remoto, piores são a assimilação da cultura da empresa e a interação com os colegas. Não existe aqui uma contradição?
Penso que tem a ver com uma perspetiva de valorizar o híbrido, mas só até um certo ponto. Os jovens preferem modelos mistos, nos quais conseguem retirar as vantagens do trabalho remoto e, ao mesmo tempo, as vantagens do modelo mais clássico, nomeadamente o potencial de conhecimento mais aprofundado da organização e dos colegas.

Mas, além do modelo híbrido, os jovens que responderam ao inquérito pretendem também uma maior flexibilidade de horário. Esta pode significar uma grande mudança para as empresas?
Um ponto que resulta do estudo é que as empresas oferecem, cada vez mais, um conjunto de condições em que os trabalhadores se sentem mais valorizados. E dessa forma há maior disponibilidade para que os trabalhadores possam trabalhar fora das horas ditas normais.

Tornou-se quase um lugar-comum os gestores de recursos humanos dizerem que “não são as empresas que recrutam as pessoas, mas sim as pessoas que escolhem as empresas para onde querem ir trabalhar”. Na sua opinião, esta mudança de paradigma é uma realidade?
Penso que a realidade é heterogénea. Existem vários mercados de trabalho dentro do mercado de trabalho. Se olharmos para os números macro, vemos que Portugal tem a terceira taxa de desemprego jovem mais elevada da União Europeia. Este facto por si só mostra que a realidade não é essa. Bem pelo contrário. Agora se pensarmos em jovens muito qualificados e com perfis muito específicos, nesse caso temos um mercado que é determinado pelo lado do trabalhador.

E, para esses casos, temos ainda a pressão internacional do mercado de trabalho?
Sim, porque estes jovens muito qualificados têm a oportunidade de trabalhar num outro país que não seja Portugal, com condições remuneratórias e outras, como aquelas de que falámos anteriormente, muito mais generosas.

O que reduz a capacidade de recrutamento das empresas nacionais…
As dificuldades de atração e retenção destes jovens qualificados são cada vez maiores. E o poder negocial do trabalhador torna-se muito forte.

Por que razão temos um desemprego jovem tão elevado quando estamos num mercado em que há falta de mão de obra?
Penso que não existe um ajuste grande entre o lado da oferta de qualificações por parte dos trabalhadores e a procura de qualificações por parte das empresas.

Pode explicar?
Há um grande trabalho a fazer para melhorar o alinhamento entre o que o sistema de educação e formação proporciona e aquilo de que o tecido empresarial precisa. Penso que algumas empresas também mostrarão relutância em oferecer melhores salários, o que poderia resolver parte do problema.

Mas, como disse, o sistema educativo também tem um papel importante para resolver o problema?
Penso que existe um potencial grande de melhoria da flexibilidade do sistema de educação e formação. E não falo apenas do Ensino Superior. Atualmente, temos cerca de 40% dos nossos jovens do Ensino Secundário a fazer cursos profissionais. E penso que aí também necessitamos de ajustamentos. Existem cursos que não estão tão alinhados com a procura do mercado de trabalho e que poderiam dar origem a outros cursos para preparar melhor os alunos para empregos que vão surgindo em áreas mais especializadas.

Defende um sistema mais flexível?
Mais flexível e mais informado sobre aquilo de que realmente necessitam estas novas indústrias que estão a crescer e a oferecer melhores remunerações. O sistema tem de ser mais maleável. Esse é um desafio grande para o Governo.

Precisamos de dar mais informação aos desempregados sobre as ofertas de emprego e mais formação alinhada com as necessidades das empresas. Há programas que estão no bom caminho, mas ainda numa escala muito pequena

Ou seja, com o atual sistema estamos, em muitos casos, a formar jovens desempregados?
Receio que ainda haja muitos jovens em Portugal que estão a frequentar cursos que não irão criar-lhes condições para uma rápida transição para uma situação de emprego. Mas há um potencial grande de melhoria. Já existem alguns programas interessantes para colmatar estas deficiências. O IEFP [Instituto do Emprego e Formação Profissional] tem o programa Upskill, que pega em licenciados em áreas não relacionadas com a indústria das tecnologias da informação e, em parceria com estas empresas, proporciona formação para que as transições possam ter lugar. Tem uma dimensão ainda relativamente pequena, mas programas como este podem ajudar muito a reduzir a taxa de desemprego jovem em Portugal.

O sistema de ensino deveria estar cada vez mais alinhado com as organizações que irão empregar os jovens no futuro…
Nesta matéria posso dar o exemplo da Nova SBE, onde procuramos fazer os cursos em parceria com as empresas. Essa é uma prática fundamental para assegurar que os nossos diplomados possam fazer boas transições para o mercado de trabalho. Enquanto estão a aprender, os jovens estão também a interagir com entidades externas. A perceber como funcionam, quais as suas práticas, quais os seus interesses. Esse tipo de abertura à sociedade é muito importante para o sistema educativo, nomeadamente para o Ensino Superior.

E o sistema de ensino como um todo está a fazer essa transição?
Temos de melhorar o alinhamento entre o sistema de educação e a necessidade de formação e as empresas. Mas para isso necessitamos de mais informação de forma a percebermos quais os empregos que estão com maior procura, os que estão a crescer, quais as formações mais necessárias. E, depois, temos de ter maleabilidade no sistema para que, em função dessa informação, possamos fazer crescer os cursos que estão mais alinhados e reduzir os que estão em menor consonância com as necessidades do mercado. Um sistema que tenha pouca informação e que seja muito rígido vai inevitavelmente redundar em taxas de desemprego jovem elevadas. Vai redundar em situações em que as empresas não conseguem contratar, ou em situações em que os trabalhadores têm piores perspetivas para melhorar as suas remunerações. E, tudo isto somado, criamos mais emigração, o que não é bom para o País, pelo menos a curto e médio prazo.

Qual a taxa de empregabilidade dos alunos da Nova SBE?
Praticamente 100%. Temos feito um um esforço muito grande para promover a inclusão. Temos uma despesa da ordem dos três milhões de euros em bolsas, que atribuímos a alunos com elevado mérito mas que apresentam dificuldades económicas para frequentar os nossos mestrados.

Temos um tecido empresarial liderado por uma geração que entrou no mercado de trabalho com conceitos diferentes dos que são agora pretendidos pelos mais jovens. Pode haver um choque cultural?
O mercado de trabalho está mais equilibrado e as empresas sentem que têm de se mobilizar para poderem reter e atrair este novo tipo de talentos. Esta é uma força positiva para a mudança, pois exige que as empresas se modernizem, que ofereçam melhores produtos, que adotem práticas mais ecológicas e com maior consciência social, e num mercado de trabalho mais equilibrado essa mudança tende a ser mais rápida. Já num mercado de trabalho mais clássico, onde existem maior desemprego e menos alternativas, a pressão para a mudança será pequena ou inexistente.

Mas sente que em Portugal existe essa mudança?
Sim. A realidade portuguesa é muito heterogénea, pois envolve 400 mil empresas, para não falar das empresas individuais, mas sinto que da parte dos empregadores e empreendedores, bem como do perfil dos novos trabalhadores, existe uma forte pressão para esta mudança cultural.

Sendo ex-ministro, como vê as políticas de emprego que têm sido desenvolvidas no País?
Temos tido várias mudanças em sentidos diferentes. Por vezes, ainda pensamos o mercado de trabalho de acordo com o paradigma do século XX. Não estamos a valorizar a dimensão da contratação coletiva nem a determinação das condições de trabalho em negociação entre as empresas e os sindicatos. Temos uma lógica de regulamentação muito baseada na legislação nacional e perdemos muitas oportunidades para fazer as mudanças necessárias que permitiriam oferecer melhores condições aos trabalhadores em Portugal.

Mas essas mudanças ainda não são fáceis, sobretudo nas negociações entre sindicatos e entidades patronais…
De acordo com as estatísticas disponíveis, no setor privado apenas 6% dos trabalhadores portugueses são filiados em sindicatos. Mas eu penso que deveríamos trabalhar para ter sindicatos e outros organismos de representação dos trabalhadores mais fortes, que possam dialogar com as empresas para a regulação destas condições de uma forma diferenciada de setor para setor. E acho que ainda há muito para fazer no apoio aos desempregados.

Na sua opinião, o que poderia ser feito?
É uma área onde existe muito para evoluir. Não estamos muito alinhados com as melhores práticas europeias. Precisamos de dar mais informação aos desempregados sobre as ofertas de emprego e mais formação alinhada com as necessidades sentidas pelas empresas. Há programas que estão no bom caminho, como é o caso do Upskill de que já falámos, mas ainda numa escala muito pequena.

Essa deveria ser uma das prioridades das políticas de emprego?
Sim, porque acabamos por ter muitas pessoas desempregadas por longos períodos, o que é mau para elas, para a Segurança Social e para o tecido empresarial, que não pode recrutar, pois muitos destes desempregados não têm as qualificações de que essas empresas necessitam.

A Inteligência Artificial pode trazer mudanças em relação à forma como os jovens se relacionam com o mercado de trabalho?
Eu sou otimista e penso que a Inteligência Artificial vai abrir um novo período de crescimento da produtividade e poderá criar melhores condições de trabalho para os jovens. A Inteligência Artificial deve ser vista como um parceiro e não como um inimigo no contexto do Ensino Superior. Aqui na Nova SBE queremos que os alunos utilizem a Inteligência Artificial e percebam as suas vantagens e desvantagens, as oportunidades e as limitações.

Em 1974, Patty Hearst foi raptada pelo Exército Simbionês de Libertação, um grupo violento dos EUA, responsável por múltiplos homicídios e assaltos a bancos. Depois de ser raptada, Hearst foi coagida pelos raptores, que extorquiram mais de dois milhões de dólares ao seu pai e a obrigaram a participar em, pelo menos, dois assaltos do seu grupo. Ao longo deste processo de lavagem cerebral, Hearst acabou por mudar o seu nome para “Tania” e por se juntar definitivamente ao grupo. Passados alguns anos, foi presa pela sua participação em vários assaltos e por porte de armas. Um ano antes do rapto de Patty Hearst, tinha sido inventado o termo “Síndrome de Estocolmo.” O percurso desta mulher parece ser um exemplo vivo desta condição. 

A Síndrome de Estocolmo é frequentemente ligada a casos de raptos e sequestros. O caso paradigmático utilizado para retratar esta síndrome é o homem ou mulher que se apaixona ou se apega à pessoa que o/a rapta, sem ter plena consciência disso e agindo contra os seus próprios interesses. No entanto, a verdadeira história que deu origem a esta síndrome é muitas vezes esquecida e leva a um entendimento errado da Síndrome de Estocolmo, como explica Matthew Syed à BBC Radio.

Tudo começou em Estocolmo, no dia 23 de agosto de 1973. Jan-Erik Olsson entrou num banco, tirou a sua arma e sequestrou quatro funcionários dinstituição. De seguida, exigiu um carro para a sua fuga, assim como dinheiro e a libertação de um cúmplice seu da prisão, para se juntar a ele no banco. Mais tarde, perante a quantidade de polícias armados que começaram a rodear o edifício, Olsson e o seu parceiro decidiram levar os quatro reféns para dentro do cofre forte para se protegerem – até que um dos polícias entrou no banco e trancou o cofre por fora, prendendo o criminoso e os reféns lá dentro.

Foi precisamente depois de os criminosos e os reféns estarem trancados no cofre que os acontecimentos estranhos se começam a desenrolar. Dentro do cofre, uma das reféns, Kristin Enmark, ligou ao primeiro-ministro da Suécia e implorou que os seus próprios raptores fossem libertados. De forma ainda mais bizarra, a mulher afirmava que queria mesmo sair do banco com os seus raptores. O primeiro-ministro recusou este estranho pedido e a polícia preparou-se para entrar no cofre e libertar os reféns.

Perante a iminente entrada da polícia, os criminosos concordaram em sair – até que os seus reféns se ofereceram para serem “escudos humanos”, de forma a impedir que os raptores fossem alvejados – uma decisão chocante para todos os polícias que pretendiam salvar a vida aos quatro reféns. Mais tarde, estes mesmos reféns recusaram-se a testemunhar contra Olsson em tribunal, assim como a angariar dinheiro para a sua própria defesa. Parecia que os reféns tinham perdido completamente a cabeça, ao colocarem-se dos lados dos raptores e não da polícia que os queria salvar. Foi assim que esta resposta bizarra passou a ser conhecida como Síndrome de Estocolmo.

No entanto, se olharmos com maior detalhe para esta história, compreendemos que o caso não é tão simples como um simples “apego da vítima ao raptor”. Na verdade, Enmark tinha razões para acreditar que tinha maiores probabilidades de morrer num tiroteio entre a polícia e os criminosos, na saída do cofre, do que ser morta pelos próprios raptores. Por isso, ao proteger os criminosos, estava a agir de acordo com o seu próprio interesse – não estava iludida nem apaixonada por Olsson e respetivo parceiro.

É por esta razão que muitos peritos se mantêm céticos a esta classificação romantizada da Síndrome de Estocolmo, do amor entre o raptor e o refém. Frequentemente utilizada no nosso quotidiano para apelidar estranhos casos de apego da vítima ao agressor, a atual perceção da Síndrome de Estocolmo parece estar mais ligada a uma culpabilização da vítima do que a sua história original pretendeu mostrar. Na verdade, a Síndrome nunca foi considerada oficialmente como uma doença psiquiátrica e, em 1989, um inquérito do FBI que recolheu os dados de 600 agências da polícia não registou um único caso de raptos onde a relação emocional entre a vítima e o raptor tivesse afetado a operação de resgate, verificando que se tratava de um caso extremamente raro.

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O Governo declarou este domingo Situação de Alerta para todo o território continental “face às previsões meteorológicas para os próximos dias, que apontam para um significativo agravamento do risco de incêndio rural”, pode ler-se numa nota do Executivo.

A Declaração, assinada pelos ministros da Administração Interna, da Defesa Nacional, da Saúde, das Infraestruturas e Habitação, do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, do Ambiente e Energia e da Agricultura e Pescas, decorre da “elevação do estado de alerta especial do Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro (SIOPS) e da necessidade de adotar medidas preventivas e especiais de reação face ao risco de incêndio Elevado, Muito Elevado e Máximo, previsto pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), em grande parte do território continental”, lê-se.

No comunicado o Governo refere ainda um conjunto de medidas de caráter excecional e que incluem a proibição de acesso, circulação e permanência no interior de espaços florestais ou caminhos rurais, a proibição de realização de queimadas ou queimas e a proibição de trabalhos nos espaços florestais e rurais com recurso a maquinaria como motorroçadoras de lâminas ou discos metálicos, corta-matos, destroçadores e máquinas com lâminas ou pá frontal. A utilização de fogo-de-artifício ou outros artefactos pirotécnicos está também proibida.

A Situação de Alerta entra em vigor às 13h00 horas deste domingo e dura até às 23h59 da próxima terça-feira, dia 17 de setembro.

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