A entrada fez-se em passo apressado, mas não deixámos de dar conta do discreto painel de azulejo cravado na fachada e que indicava o destino, o Locke de Santa Joana. A primeira unidade hoteleira da cadeia britânica em Portugal é também a maior da empresa. O projeto, nascido das ruínas do antigo convento de Santa Joana, um edifício do século XVII, cravado entre o Marquês de Pombal e a Rua de Santa Marta, combina história e modernidade e é diferente de tudo o que existe em Lisboa.

Quando damos conta, o ruído da cidade ficou para trás e a atenção foca-se no que está à volta. Uma receção com serviço informal e descontraído, onde entre check-ins e checkouts há quem leia um livro ou trabalhe sentado nos sofás e cadeirões, emoldurados por vasos de plantas verdes. Damos conta dos painéis de azulejos antigos, um dos elementos históricos que foram mantidos e se destacam nos balcões da receção e do café Castro’s, um cantinho apetitoso com balcão e uma janela aberta para a rua.

O Locke Santa Joana ocupa um quarteirão inteiro e foi pensado para ser vivido por todos, sejam hóspedes, visitantes ou vizinhos – e isso percebe-se quando sabemos o que foi pensado para aqui e se vai descobrindo nas várias alas – Beato, Arte, Convento e D. Álvaro, com surpresas pelo meio. Mas, já lá vamos.

O alojamento divide-se entre quartos, apartamentos com kitchenette, suítes e penthouses, num total de 370, todos bem equipados e com mimos (como o tapete de ioga, um convite à atividade física). Aliás, conta-se ali com um ginásio aberto 24 horas. A decoração dos quartos ficou a cargo da Post Company, que utilizou materiais locais, dos tecidos às cerâmicas, combinando a herança histórica do edifício com detalhes modernos. E são pet-friendly, tal como os restantes espaços do hotel. Aliás, o vaivém de pessoas não incomoda o companheiro de quatro patas de um dos hóspedes que, como nós, aproveita as instalações da sala de cowork para trabalhar.

Encontros no pátio

Os olhos arregalam-se assim que chegamos ao pátio, o coração do Locke de Santa Joana, local privilegiado para o convívio de hóspedes e locais. Com a ala Beato nas nossas costas, onde estão a maior parte dos quartos, demoramo-nos a apreciar o ambiente e a arquitetura do conjunto de edifícios que formam o hotel, também com acesso pela Rua de Santa Marta.

A história combina na perfeição com a modernidade nos vários espaços. Uma parte do passado está à vista, a outra, feita de achados arqueológicos e outras peças, há de ser mostrada num pequeno museu. É de referir que as áreas comuns, restaurantes e bares refletem a visão do designer de interiores Lázaro Rosa-Violán, cujo trabalho, feito de cor e conjugação de padrões, conhecemos de outros restaurantes da capital.

Nesta zona ao ar livre, destaca-se o arco de pedra junto à piscina, envolvida por uma zona verde com espreguiçadeiras e chapéus de colmo, assim como a fachada da igreja do convento de Santa Joana e a pérgula do restaurante Santa Marta, com várias zonas de esplanada, onde havemos de jantar e tomar um delicioso pequeno-almoço al fresco. Os espaços gastronómicos do Locke têm conceitos originais assinados pelas britânicas Spiritland e White Rabbit e são um convite à diversão e ao encontro. Quando estiverem todos abertos – ainda temos de esperar pelo restaurante Santa Joana, que terá o chefe Nuno Mendes como diretor criativo, pelo Bar Joana e O Pequeno, que abrem durante o mês de outubro –, no Locke teremos dois restaurantes, quatro bares e um café à disposição. Quer se tome um whisky ou uma flute de champanhe, quer a música saia de um gira-discos ou de uma moderna mesa de mistura, a boa onda é garantida.

Locke de Santa Joana > R. Camilo Castelo Branco, 18, Lisboa > T. 21 155 5590 > a partir de €200

Dicas para explorar: Restaurantes, bares e café

Café Castro’s Com janela para a rua e balcão no interior da receção, tem café de especialidade (€1,50), pastelaria variada, incluindo pastel de nata e caracol de cardamomo, e sanduíches variadas, como a de presunto com picles de figo, rúcula em ciabatta (€7). Seg-dom 6h30-15h30

Santa Marta Aberto todo o dia, do pequeno-almoço (€19) ao jantar. Da cozinha de inspiração mediterrânica saem antipasti variados para partilhar, pizzas, massas e pratos como os camarões grelhados em manteiga de coentro e limão. Nuno Dinis, enquanto chefe-executivo do Locke, é o responsável por este restaurante. Seg-dom 11h-23h

Sugestões da carta do Santa Marta Foto: Charlie McKay

Spiritland É no piso -3 da ala Beato que se esconde este bar de cocktails com residências musicais trazidas por DJ nacionais e internacionais – tal como no Spiritland Londres, o projeto-âncora. Qui-sáb 19h-2h

The Kissaten Noutro formato original, este bar casa uma biblioteca de vinis e a maior seleção de whiskies da cidade, mais de 100 referências. A curadoria também é da Spiritland e está no piso -1 da ala Beato. Qua-sex 19h-2h

O Pequeno Só o champanhe e o Martini constam da carta deste pequeno bar com onze lugares, instalado na zona de entrada da ala Convento.

Santa Joana A surpresa está revelada: será o chefe Nuno Mendes o diretor criativo deste restaurante, o maior do hotel, também com esplanada. Fica na ala Convento, no espaço da antiga igreja. Com destaque no produto, servirá mariscos e peixe na grelha – mas esperam-se surpresas. 

Bar Joana É uma mezzanine com vista para o restaurante Santa Joana. Na carta há cocktails e uma seleção de vinhos pouco habitual.

Palavras-chave:

Em 2022, a missão DART (Double Asteroid Redirection Test) da NASA pôs à prova as capacidades de defesa planetária, enviando para o Espaço uma sonda que chocou contra o asteroide Dimorphos, alterando a sua rota. No entanto, com um custo total de mais de 300 milhões de dólares, esta não é uma ‘experiência’ que se possa repetir muitas vezes. pelo que se torna necessário conseguir simular as condições em laboratório. Os investigadores pretendem replicar um asteroide, o seu ambiente envolvente e o efeito de uma explosão nuclear, para perceber o que acontece, quais as variáveis e como atuar.

A equipa, liderada pelo físico Nathan Moore, usou a ‘Z Machine’ dos laboratórios Sandia, a máquina de pulsações mais forte do mundo, para recriar este cenário. Dentro desta máquina, o gás árgon recebe uma grande descarga de eletricidade que leva à explosão e formação de plasma quente semelhante à superfície do Sol e que cria rajadas de radiações de raios-X na ordem dos megajoules. Os efeitos acumulados são suficientes para se conseguir derreter diamantes na ‘Z Machine’.

De acordo com a teoria sugerida pelos investigadores, colocar uma espécie de ‘imitação’ de asteroide em miniatura dentro desta máquina pode ajudar a simular os efeitos de cenários que envolvem rochas espaciais de maiores dimensões, avança a Popular Science.

Porém, o grande desafio para esta simulação é a gravidade da Terra, que acaba por afetar e condicionar qualquer experiência dentro da ‘Z Machine’: “a gravidade impede qualquer modelo de asteroide de se movimentar livremente como acontece no espaço, enquanto qualquer anexo mecânico irá causar fricção”, conta Nathan Moore, citado em comunicado.

É aqui que entra a ‘tesoura’ de raios-X que a equipa desenvolveu. Os cientistas suspenderam uma amostra de 0,1 gramas de sílica no interior da máquina. Durante 20 milionésimos de segundo, a amostra conseguiu flutuar sem interferências gravitacionais, com a máquina a medir o impacto da força e velocidade aplicadas. Os dados recolhidos foram depois usados para ‘alimentar’ um modelo computadorizados capaz de simular asteroides e forças nucleares maiores.

Segundo as conclusões da equipa, publicadas num artigo na revista científica Nature Physics, os modelos computadorizados podem ajudar a replicar outros cenários, como a exposição a forças nucleares e replicar dezenas de testes, sem que seja necessário ter asteroides reais e armas nucleares ou fazer lançamentos para o Espaço.

O apelo é direto. “Não podeis apenas dizer que os imigrantes não contribuem para a criminalidade e apresentar condolências quando algum deles é morto em ataques de ódio. É vossa responsabilidade garantir as condições para que não sejam possíveis ameaças e violências!”, lê-se na carta aberta assinada por vários coletivos que dão apoio aos imigrantes. Dirigem-se diretamente ao Presidente da República, à ministra da Administração Interna, ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ao Comissário Nacional da PSP, à Provedora de Justiça, e ao Presidente e deputados da Assembleia da República, porque estão preocupados não tanto com o que se vai passar na manifestação contra a imigração convocada pelo Chega, mas mais com o que pode acontecer a seguir.

“No próximo dia 29, Lisboa vai acolher uma manifestação nacional sob o lema da ‘imigração descontrolada’ e da ‘insegurança’.  Os cartazes de divulgação apresentam uma pessoa em trajes muçulmanos e dizem-se contra a imigração. O percurso anunciado é pela avenida que, nesta cidade, concentra o maior número de população migrante e muçulmana”, escrevem os signatários da carta, muitos deles de coletivos que trabalham precisamente nessa avenida, a Almirante Reis, em Lisboa.

Mobilização de grupos neonazis preocupa

Estes ativistas têm medo que, depois de desmobilizada a manifestação oficial, alguns dos que aí vão participar se envolvam em ataques de ódio. Um receio que é justificado pela forma como, em canais do Telegram, elementos do coletivo neonazi 1143, de Mário Machado, se estão a organizar para se juntar ao protesto convocado pelo partido de André Ventura.

“O percurso da manifestação convocada pelo Chega, a que aderiram grupos neonazis sob investigação das autoridades, preocupa-nos. Mas preocupam-nos também as horas seguintes, em que estes militantes anti-imigração e islamofóbicos tradicionalmente se dedicam a atos de ‘caça ao imigrante’ que, num passado muito recente, tiveram consequências que envergonham a nossa democracia”, lê-se na carta, numa alusão a momentos como aquele do 10 de junho de 1995 que acabou com a agressão de vários negros e a morte de Alcino Monteiro, vítima de um ataque racista.

“Todos conhecemos as notícias de ataques a imigrantes, as proclamações de ódio que as sustentam, e de como os agressores se vangloriam de ser guardiães da nacionalidade”, dizem os ativistas, cerca de duas semanas depois de ter sido notícia o ataque xenófobo e racista contra dois imigrantes, que foram esfaqueados no Porto.

Ativistas dizem que as palavras não bastam e pedem políticas diferentes

Os signatários do apelo reconhecem que “o discurso oficial do Governo e das câmaras municipais tem contrariado as notícias falsas difundidas pelos grupos de extrema-direita e pelos representantes do partido Chega que convoca a manifestação”, quando frisa que “não há relação entre o aumento de imigrantes e o aumento da criminalidade, até porque esta tem diminuído”. Mas acreditam que isso não chega.

“Mas quem tem poder para atuar não pode ficar pelas palavras. Tem de atuar, porque o discurso de ódio dos apoiantes da manifestação que vai passar ao lado de comunidades pacíficas tem-se traduzido, cada vez mais, em ações violentas com consequências graves”, defendem, admitindo que “a maioria das pessoas que participarão da manifestação não são políticas, apenas cidadãs cuja vida é influenciada pelas políticas e leis de imigração que existem” e que precisam de uma resposta política aos seus problemas.

“Saibamos fazer diferente. Saibamos fazer de acordo com o que se começou a construir há 50 anos”, pedem.

A carta está a ser difundida pela Cozinha Migrante dos Anjos e é subscrita por coletivos que vão do SOS Racismo, à Sirigaita, ao Stop Despejos, à Habita e à Casa do Brasil.

A emigração de talento jovem qualificado português, especialmente da área tecnológica, é um fenómeno preocupante que se intensificou na última década. O inquérito da Associação Académica de Coimbra, dado a conhecer em março, revela que 40% dos estudantes inquiridos pretende emigrar nos próximos cinco anos, sendo este um reflexo claro de uma tendência que ameaça o futuro do país: a incapacidade de reter talento jovem, qualificado e inovador. Esta situação, à primeira vista, pode parecer paradoxal, se considerarmos que Portugal tem sido reconhecido internacionalmente como um hub tecnológico, com Lisboa a ser destacada como a Capital Europeia da Inovação em 2023. No entanto, o talento que contribui para esse reconhecimento está a deixar o país, criando um contraste preocupante entre a imagem do país e a realidade do seu mercado de trabalho.

O Observatório da Emigração estima que 30% dos jovens nascidos em Portugal vivem atualmente fora do país. Este dado, quando analisado em conjunto com a elevada taxa de emigração, coloca Portugal numa posição alarmante: é o país com a maior taxa de emigração da Europa e com uma das maiores do mundo, com 1,5 milhões de portugueses a emigrar nas últimas duas décadas. Adicionalmente, segundo a Pordata, somos o 4.º país mais envelhecido do mundo. Estes números devem-nos preocupar a todos e evidenciam que Portugal está a perder uma parte significativa do seu capital humano, particularmente aquele que tem as características e competências para impulsionar a economia e a inovação nacional.

Este fenómeno de emigração é transversal a diversos setores, mas o setor tecnológico é particularmente afetado. Apesar de ser um dos setores em crescimento e com maior potencial, é também um dos que mais sofre com a saída de talentos. A contradição é evidente: como pode Portugal aspirar a ser um centro de inovação tecnológica, se o seu principal recurso – o talento qualificado – está a emigrar? O problema reside no desajuste entre o potencial do país e as condições que proporciona aos jovens.

Portugal tem sido reconhecido como um destino atrativo para o investimento empresarial, não só devido à qualidade da sua educação e à formação de excelência dos seus profissionais, mas também pela qualidade de vida que o país oferece. No entanto, apesar destas vantagens, os jovens portugueses não veem o seu país como um destino de longo prazo para as suas carreiras, mas sim como uma ponte para outros mercados que oferecem melhores condições.

Este cenário exige uma mudança profunda no mercado laboral português. Para reter o talento jovem, é necessário criar um ambiente de trabalho que seja competitivo a nível global. Isso implica continuar a oferecer regimes de trabalho flexíveis que respondam às necessidades da nova geração, salários mais atrativos, e condições que permitam um equilíbrio saudável entre a vida profissional e pessoal. Além disso, é fundamental multiplicar os esforços investidos na criação de oportunidades claras de progressão na carreira e de formação contínua, garantindo que os jovens vejam em Portugal um lugar onde podem crescer e prosperar sem ter de abandonar o país.

É também necessário continuar a investir na proximidade entre a Academia e a Economia, criando iniciativas que fortaleçam a ligação das empresas às Instituições de Ensino. Investigação conjunta, programas de estágios, jobshadowing, conferências com antigos alunos, ou iniciativas de maior escala, como a do Recorde do Guinness da “Maior Aula de Programação do Mundo”, que decorrerá no Instituto Superior Técnico, em outubro, são exemplos concretos de como essa ligação pode continuar a ser promovida. Estas “pontes” são essenciais para preparar os jovens para os desafios do mercado de trabalho, aumentar a sua proximidade com o tecido empresarial e para reforçar o seu compromisso com o desenvolvimento do país.

Este é um momento crítico para o nosso país. É imperativo não pararmos de trabalhar para criar condições que, para além de nos permitirem desenvolver as pessoas que estão cá, consigam diminuir a quantidade de pessoas que acredita ter de ir embora. É necessário um compromisso sério por parte de uma alargada quantidade de stakeholders para modernizar o mercado de trabalho e torná-lo verdadeiramente atrativo para os jovens – o talento está cá, mas estão-nos a faltar as condições que ele merece. Precisamos de fazer mais, caso contrário, ficaremos com menos. Continuarão a ser outros países quem melhor capitaliza o que de melhor temos em Portugal  – as nossas pessoas.

Todos os dias, ao EcoPorto – Centro para a Circularidade da Cidade do Porto, localizado na zona da Prelada, chegam carrinhas e camiões carregados de velharias, objetos que perderam a utilidade, descartados com sentimento prático pelos antigos proprietários, mais preocupados em rapidamente substituí-los por outros, talvez mais atuais ou, simplesmente, com uma estética mais apelativa.

Até há pouco tempo, a entrega destes velhos equipamentos, no centro de recolha, representava o fim da linha, extinguindo-se ali o propósito para o qual tinham, um dia, sido concebidos, produzidos, adquiridos e usados pelos consumidores.

Hoje, essa realidade mudou, graças a esta iniciativa da Porto Ambiente, que conta uma equipa de jovens técnicos, distribuída pelas várias salas de reciclagem, se dedicam, com entusiasmo, à tarefa de reaproveitar o que chega, dando-lhe uma segunda vida.

Um frigorífico deixou de produzir frio? Um móvel precisa de ser restaurado? Ou, então, é um computador que já não tem pedalada para as velocidades exigidas pela internet? As salas do Eco Porto não rejeitam nenhum objeto ou material, garantindo que, dali, sairá um novo fôlego, a partir das mãos de técnicos habilidosos.

Agora, o circuito habitual para estas velharias é a reparação, para, depois, serem disponibilizadas, gratuitamente, a instituições de caráter social, ou a quem demonstrar interesse pelos mesmos (munícipes ou empresas). O projeto é considerado como um contributo para a economia circular, de combate ao desperdício de matérias e ao consumo de recursos não renováveis, indo ao encontro dos objetivos definidos no Pacto do Porto para o Clima e do Roadmap Porto Circular 2030, bem como dos Objetivos para o
Desenvolvimento Sustentável definidos pela ONU.

Portugal não é tipicamente um país que se associe de imediato à indústria dos videojogos. Mas o talento, assim como o potencial nesta área, estão presentes no nosso país e há iniciativas que ambicionam colocar Portugal no palco internacional dos videojogos. É este um dos objetivos do eGames Lab, um consórcio formado por 22 entidades, que soma já mais de um ano de trabalho. 

Sediado no Funchal e com núcleos em Lisboa, Évora e nos Açores, o projeto conta com um investimento de 29,9 milhões de euros, dos quais cerca de 23 milhões de euros através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Estruturas de Blockchain para videojogos, realidade virtual e aumentada, jogos transformacionais na área da saúde e meio-ambiente, inteligência artificial para storytelling, e desenvolvimento de ecossistemas de pré-mercado estão entre as áreas core do consórcio, que se insere nas Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial.

Em entrevista à Exame Informática, Miguel Campos, Founder & General Manager da WOWSystems e líder do consórcio, explica que o objetivo passa por “criar um cluster da indústria de videojogos em Portugal com capacidade de internacionalização e exportação significativa, criando os recursos e a qualificação para dinamizar todo este ecossistema, para que Portugal se possa posicionar neste mercado extremamente competitivo, mas extremamente apetecível”.

“O gaming foi sempre algo que nos chamou a atenção. Estivemos a analisar e o potencial de Portugal é bastante grande para a dimensão do mercado”, afirma o responsável, acrescentando que o volume de negócios gerado pelas empresas de videojogos no nosso país tem vindo a crescer, sendo que, em 2021, por exemplo, estava na ordem dos 20 milhões de euros.

A ambição do consórcio é ajudar a impulsionar este volume, fazendo-o duplicar nos próximos anos. No entanto, Miguel Campos reconhece que este “é um processo que leva tempo”, sobretudo quando temos em conta questões como a fragmentação do setor, as dificuldades em reter o talento qualificado que existe cá, mas também em atrair investidores. 

eGames Lab
Miguel Campos, Founder & General Manager da WOWSystems e líder do consórcio eGames Lab

No entanto, e olhando para a Europa, há exemplos que dão ânimo. “A Lituânia é um país pequeno, mas tem um volume de negócio [no gaming] de mais de 250 milhões de euros”. “A partir do momento que um player português consiga ter um hit, toda a indústria vai atrás. Nós vemos isso na Polónia com a CD Projekt Red”.

Na sua visão, os videojogos e, por extensão, as indústrias criativas, são áreas em que a Europa se pode afirmar para competir com os grandes mercados na América do Norte e Ásia. “Felizmente começa a existir um pouco mais de sensibilidade política, mesmo a nível europeu, para a forma como podemos apoiar as indústrias criativas”, realça.

É também por este motivo que o eGames Lab não se limita apenas aos videojogos, abarcando uma “transversalidade de disciplinas importantes para a retenção de talento”. “Existem várias camadas no projeto. Há uma camada de investigação científica, uma camada de desenvolvimento tecnológico puro, mas também há uma camada de formação e de qualificação”.

Arriscar para fazer crescer

De acordo com dados avançados pelo consórcio, até à data, já foram gerados mais de 120 novos postos de trabalho, com mais de 195 recursos humanos envolvidos. A nível científico as atividades de investigação e desenvolvimento tecnológico já deram origem à publicação de mais de 50 papers em conferências internacionais da área.

No que respeita a produtos e serviços, entre os marcos alcançados destacam-se o lançamento de jogos mobile como Chill da Infinity Games e Waste Rush da WalkMe Mobile, assim como da app FootAR, lançada pela empresa de mesmo nome, que já foi testada em ambiente real no Euro 2024. Contam-se ainda o ‘soft launch’ da plataforma Fourt.io, na área da Blockchain, por parte da Yacooba Labs, e do novo IXP (Internet Access Point) da 4Spiro.

“Uma das primeiras vitórias que consideramos é, desde que o eGames Lab nasceu, há pelo menos um olhar diferente. Os jogos não são só uma coisa para miúdos, os jogos podem ser aplicados a uma variedade de casos”, afirma Miguel Campos, apontando para as iniciativas na área da gamificação que estão a ser desenvolvidas por bolseiros do projeto, com temas que vão da saúde mental a neuroreabilitação, passando ainda museologia.

Em curso está ainda o desenvolvimento de mais videojogos, sejam mobile como para PC e consolas, que incorporam resultados das investigações científicas do projeto, particularmente no que diz respeito à inteligência artificial e a motores dinâmicos de narrativas.

Porém, como reconhece o responsável, “nem tudo são rosas para um projeto desta dimensão”. A par da burocracia, incerteza e receios também fazem parte dos desafios encontrados. “Por outro lado, se não se fizer nada, perde-se valor”, realça. Para conseguir alavancar a indústria é necessário arriscar e colocar em marcha “uma estratégia para fazer isto crescer”. “Ao resultar, o ganho para o país será bastante superior”.

Levar a ‘bandeira’ mais além 

Com vista à internacionalização, o consórcio aposta, em colaboração com outras entidades do sector nacional do gaming, como a Associação Portuguesa de Produtores de Videojogos (APVP), em mostrar o que de melhor se faz no nosso país através da participação em grandes eventos e feiras da indústria, sob a ‘bandeira’ Games From Portugal.

Em agosto, na última edição da Gamescom, na Alemanha, o eGames Lab levou consigo cinco jogos – LabSim, The Kause (desenvolvidos pela WOWSystems e Fapptory), e Keo, HoverShock, Steam & Steel (criados pela Redcaptpig) – além da plataforma Fourt.io. Esta edição revestiu-se de especial importância, sendo a primeira em que Portugal teve um pavilhão dedicado, fruto da colaboração entre a APVP, eGames Lab e do Gaming Hub da Unicorn Factory Lisboa.

Veja alguns dos jogos que o eGames Lab levou para a Gamescom 2024

Ainda em março, Portugal também teve o seu primeiro pavilhão na Game Developers Conference (GDC), que decorreu nos Estados Unidos, numa parceria entre o consórcio e a APVP. Miguel Campos destaca o impacto positivo da participação: “tivemos muitas pessoas na GDC, aliás, um dos videojogos, Hanno, que está a ser desenvolvido pela WOWSystems foi selecionado para o GDC Pitch”.

O consórcio eGames Lab prepara-se agora para estar presente pela primeira vez na Tokyo Games Show, considerada como uma das maiores feiras de videojogos do mundo, que decorrerá entre os dias 26 e 29 de setembro, para apresentar algumas das suas mais recentes criações.

A participação em feiras e eventos é não só uma forma de validar provas de conceito junto dos consumidores e avaliar a receção a algum tipo de ideia, mas também para fazer contactos para recrutamento e outros tipos de negócios, ou até fechar acordos importantes. Nesse sentido, o responsável afirma que “já há resultados, mas não podem ser divulgados por enquanto devido à confidencialidade daquilo que está em desenvolvimento”. “Mas estamos a dar passos largos”.

A conclusão do projeto do eGames Lab está prevista para 2025, mas o consórcio quer assegurar que as bases que foram desenvolvidas continuam a crescer e, para tal, ambiciona criar um fundo de investimento.

“O fundo não é algo que estivesse previsto na agenda ou nos objetivos: é algo que surgiu naturalmente dos contactos que fomos estabelecendo ao longo deste ano e meio”, afirma Miguel Campos. Já há investidores interessados e, apesar dos desafios e das múltiplas barreiras burocráticas, o projeto mantém a esperança de deixar essa espécie de “legado”, nas palavras do responsável. “Acreditamos que conseguimos chegar lá”.

Subindo a Avenida Calouste Gulbenkian, em direção à Praça de Espanha, ter-se-á a melhor perspetiva do mural de António Alves. Teve o “privilégio” de viver o 25 de Abril de 74, conta-nos, abstraindo o olhar como se fosse de novo o jovem adolescente que, naquele dia, saiu bem cedo da Margem Sul para vir trabalhar para Lisboa e foi surpreendido com a Revolução na rua. Nessa altura, com 17 anos, já tinha como referência as pichagens de rua com frases contra a Guerra Colonial. Depois, foi muralista no PREC e hoje, aos 67 anos, continua a andar com latas de tinta na mochila para poder desabafar na parede.

António Alves é um dos cinco convidados da iniciativa 5 Décadas, 5 Artistas, 5 Murais promovida pela Galeria de Arte Urbana (GAU) da Câmara Municipal de Lisboa, que assinala os 50 anos da Revolução dos Cravos. O convite, explica o coordenador da GAU, Hugo Cardoso, foi lançado a artistas com percursos representativos das cinco décadas da história da arte urbana em Portugal, desafiando-os a refletir sobre a pergunta “Onde está a Liberdade?”. Além de António Alves (anos 70/80), participaram Youth One (anos 90, o início do graffiti), ±MAISMENOS± (anos 2000, entrada da street art nas galerias de arte), Kruella D’Enfer (anos 2010, afirmação das mulheres na arte urbana) e Arisca (anos 2020, sangue novo no feminino).

Tinta plástica, latas de spray, stencil, cada artista escolheu os materiais para dar forma e cor às suas reflexões em muros e empenas que vão dos 80 aos 180 metros quadrados. Uns reproduziram à mão os desenhos em quadrículas, outros optaram por projetá-los nas paredes e depois subir na grua para fazer os contornos. As intervenções encontram-se dispersas na malha de Lisboa, formando uma coroa que passa por Campolide, Areeiro, Alfama e Castelo.

António Alves

Na sua intervenção, reproduziu momentos históricos destes 50 anos: o fim do Estado Novo, a espontaneidade popular do 25 de Abril representada pela manifestação dos moradores do Bairro da Liberdade, as primeiras páginas dos jornais, a independência das ex-colónias, as feministas que se manifestam pelos seus direitos. O mural termina com a palavra Liberdade. Está enevoada, um sinal dos tempos mas também de que há esperança. Cç. dos Mestres / Av. Calouste Gulbenkian

Youth One

Para Adalberto Brito (Youth One), o 25 de Abril representou uma oportunidade de vida, após a família ter perdido tudo em Angola, fugindo à Guerra Colonial. Este seu percurso está refletido na empena de um prédio no Bairro da Liberdade. Mulheres e homens dão expressão ao passado e ao presente. O futuro, repleto de desafios, escolhas, anseios, fica por conta de uma criança. Bairro da Liberdade, Rua B, 1

±MAISMENOS±

Recorrendo a um teste de acuidade visual – no qual a leitura se torna mais difícil à medida que as letras vão diminuindo –, Miguel Januário (±MAISMENOS±) manifesta o seu ceticismo quanto ao cumprimento dos valores de Abril. Passaram-se 50 anos, mas isso não é o mais importante. A Liberdade é o bem maior e, para continuarmos a ser livres, é preciso ter visão. Estaremos todos míopes? O melhor será fazer o teste. Av. Gago Coutinho, 3

Kruella D’Enfer

No Teatro Taborda, Ângela Ferreira (Kruella D’Enfer) criou um labirinto onírico em que os conceitos de teatro e de liberdade se entrelaçam. Para a artista visual e ilustradora, nascida em 1988 em Tondela, ambos estão ligados enquanto meios de expressão e reflexão social. O muro traça o caminho onde surgem máscaras, cravos, uma pomba, que tanto podem ser contemplados de perto como decifrados do miradouro da Graça. Teatro Taborda, R. Costa do Castelo, 75

Arisca

Com 31 anos, é a mais nova desta mão-cheia de artistas. A Inês Arisca, nascida no Porto, coube trabalhar duas empenas, situadas frente a frente, que se confrontam e ao mesmo tempo se complementam. De um lado, o conhecimento (“não existe liberdade sem a busca de conhecimento”), do outro, o afeto e a empatia (“é quase revolucionário, neste mundo individualista e violento em que vivemos”). Este é o seu primeiro trabalho, em nome próprio, em Lisboa. R. dos Caminhos de Ferro, 58 e 66