Visão
O golpe direto e pessoal de Israel contra os membros do Hezbollah, no Líbano, fazendo explodir os seus «pagers» e «walkie-talkies», e até painéis solares, é de uma audácia e de uma capacidade inventiva absolutamente inédita, surpreendente e ilustrativa do que pode ser uma guerra do futuro.
Todas as especulações são aceitáveis nesta fase, mas há brilhantismo na forma como os israelitas atingiram os terroristas do Hezbollah, deixando-os baralhados, incapazes de responder e sem saber o que mais lhes vai acontecer. Revela, também, e antes de mais, que os serviços secretos israelitas têm a listagem dos membros do grupo terrorista, dos aparelhos que usam, onde estão e como atingi-los isoladamente, sem mísseis, nem aviões, nem drones.
O contacto por «pager», que já não se usa há décadas, é uma ferramenta muito utilizada por grupos terroristas, ou carteis de droga, para evitar a localização ou escuta por telefone. O mesmo se aplica aos «walkie-talkies». Não sabiam, contudo, que poderiam ser instrumentos mortais para os seus utilizadores, desde que seguramente identificados como membros ativos desses grupos.
Calcula-se, por estas horas, o medo e susto que reina em Teerão, no Hamas, nos Houtis e em tantos outros grupos terroristas portadores de tecnologias ultrapassadas e supostamente muito seguras, impossíveis de detectar, mas que afinal ainda explodem. E também está meio mundo a tentar perceber como é que foi feita esta proeza inimaginável. Israel sempre foi uma «startup» excecionalmente invulgar e eficaz em tecnologia militar retro futurista.
As exportações nacionais subiram 1,5% em valor e 8,58% em volume, no último semestre, e em termos homólogos. O que aconteceu?
As razões são várias. Temos, nos últimos anos, vindo a subir as nossas exportações em valor e preço médio, que é o nosso objetivo. Nos últimos 10 anos, exportámos em média 46% daquilo que produzimos – e consumimos ainda muito em Portugal – e isto dá-nos um sinal de que não temos muita capacidade para crescer as exportações em volume. Podemos crescer em valor e em preço médio. Este último ano foi mais difícil, por diversos fatores: decréscimo global do consumo, o mercado chinês a contrair – que não é relevante, diretamente, para Portugal, porque não é um mercado para onde exportemos muito, mas causou um impacto grande em países como Argentina, Chile, Austrália e França. E nós, em Portugal, tivemos um impacto considerável da redução de consumo no Canadá e nos EUA. Que são mercados importantes para nós. De entre os mercados mais relevantes para nós, só o Brasil é que cresceu. Mas não foi suficiente para compensar.
Mas temos também questões internas…
Em 2024, estamos com um excesso de stock em adega, e isso faz com que haja uma pressão de exportação a preço mais baixo, ou seja, tivemos um crescimento de 8,5% em volume, que é muito acima do que costumamos crescer, mas com sacrifício do preço. Mas é preciso fazer dois reparos importantes: somos arrastados para baixo pelo vinho do Porto, que está a cair muito – e o vinho do Porto, por norma, tem um preço mais alto do que os outros. Repare-se que, em 2000, o vinho do Porto representava 65% do valor das nossas exportações, e no primeiro semestre deste ano representou 28% apenas. Está a cair muitíssimo. E houve um outro fenómeno um bocadinho estranho, e esse eu não consigo explicar muito bem ainda, que é o facto de ter havido uma grande exportação, a granel, para Espanha. Houve um aumento de mais de 200% em volume, a preço muito baixo. Mas ainda não consegui perceber a razão disto, ainda não temos estes dados. Se expurgarmos da análise o vinho do Porto e a exportação para Espanha, até crescemos em valor médio. Portanto, as coisas não serão tão negativas assim…
Assistimos a uma tendência global de redução de consumo, não apenas de vinho mas de bebidas alcoólicas. Aliás, já há muitos vinhos a aparecer com menos álcool, a cada ano que passa. Como olha para esta questão?
Creio que em Portugal ainda não sentimos tanto isso, mas as novas gerações, globalmente, estão a beber menos vinho. Deixou de ser sexy beber vinho. Um estudo feito nos EUA mostrou-nos duas razões principais – que me parecem fazer sentido. A primeira, dinheiro disponível – consumir vinho em Portugal ainda não é caro; e a segunda é a nossa linguagem de enochatos. Nós pegamos num copo e dizemos que cheira a aromas de frutos silvestres com uma acidez crocante e com um final de boca assim e assado que não diz nada. E quem está de fora fica assustado com esta linguagem e tem medo de perder a face quando prova um vinho ou quando pede um vinho. Se houver um grupo de jovens que está a jantar, há um que vai pedir o vinho. Se os outros não gostarem, ele vai perder a face – isso é algo que não acontece se pedirem uma cerveja, por exemplo. Portanto, nós, no setor, temos de encontrar mensagens para promover os vinhos que não sejam feitas desta linguagem complicada que usamos.
É simplificar: gostas do vinho ou não gostas?
É descontrair o consumo de vinho, sem estarmos preocupados se tem tanino ou o que seja. Se as pessoas gostam, é bom. E temos de descomplicar esta mensagem, que agora é muito chata e afasta estes jovens.
Na Europa é pior?
É, na Europa é pior. Mas nós, em conjunto, no setor dos vinhos no mundo, temos de encontrar mensagens para descomplicar a comunicação do vinho e não assustar estas novas gerações que querem uma comunicação mais simples e direta. As gerações anteriores iam um bocadinho mais a fundo nas questões, apreendiam de outra forma. Hoje em dia é tudo tão instantâneo que as pessoas não querem mensagens complicadas. O vinho tem de assumir essa linguagem simples e direta ou vamos perder esta geração.
O mercado do vinho alterou-se bastante, nos últimos anos, com a entrada de players como a China, o México, o Brasil do lado da produção. Como olha para isto?
Acho que há mercado para todos. Não me assusta absolutamente nada que estes países estejam a produzir. O consumo mundial tem vindo a crescer em muitos países – no Brasil, nos EUA, no Canadá… –, e a Europa sozinha não teria capacidade para produzir para o consumo mundial. Acho saudável que haja mais países a produzir. Aquilo por que temos de lutar todos juntos é tentar aumentar o consumo de vinho, genericamente, no mundo.
Que mercados têm ainda muito potencial de crescimento?
Dou-lhe o exemplo do Brasil. O país consome, anualmente, 2,1 litros per capita – lembremo-nos de que nós em Portugal consumimos 60 litros per capita. Se conseguíssemos que o Brasil passasse a consumir 3,1 litros per capita, por ano, eram milhões de litros que se podiam exportar para lá. O mesmo para os EUA. Portanto, se conseguirmos aumentar o consumo mundial, conseguimos também aumentar as nossas exportações. Nós, por exemplo, estamos a crescer muito no Brasil e estamos quase a passar a Argentina. Um aumento de um litro nesse mercado resolvia os nossos problemas [risos].
É este o caminho, para os vinhos nacionais?
Sim, creio que o nosso caminho tem de ser muito este: promover o consumo moderado de vinho – estamos sempre a falar de consumo moderado! – em países que estão a crescer e que têm muito potencial. Além do Brasil, temos também o Japão e a Coreia do Sul, por exemplo, e ainda alguns países da Europa. Porque isso asseguraria a sustentabilidade do setor.
Se lhe pedir para elencar três prioridades (ou desejos) para o setor, para os próximos 10 anos, quais seriam?
Gostava que tivéssemos uma estrutura empresarial parecida com a que temos hoje – estes tempos que estamos a passar estão a afetar mais os pequenos produtores do que as grandes empresas, e portanto há um risco grande de termos muita gente a abandonar a atividade, e eu gostava que isso não acontecesse; gostaria que o nome Vinhos de Portugal estivesse muito mais afirmado em termos mundiais, que consumidores pelo mundo já reconhecessem o País como produtor de qualidade e já consumissem vinhos de gama mais alta e… olhe!, gostava que as principais revistas do mundo, norte-americanas e inglesas, tivessem no seu TOP 5 pelo menos 3 vinhos portugueses! Isso era um sinal de que o nosso setor tinha continuado a fazer o caminho de valorização que está a ser feito.
Palavras-chave:
“Numa casa portuguesa fica bem / Pão e vinho sobre a mesa […] É só amor, pão e vinho / E um caldo verde, verdinho / A fumegar na tigela.” As palavras de Reinaldo Ferreira, eternizadas na voz de Amália Rodrigues, são bem espelho daquilo que os números nos confirmam: Portugal continua a ser o país do mundo com mais elevado consumo de vinho por pessoa – 51,9 litros por pessoa, anualmente, segundo dados do World Population Review relativos a 2020, os mais atualizados. Itália e França ocupam os restantes lugares do pódio, com 46,6 e 46 litros, respetivamente.
É claro que o turismo crescente tem um impacto significativo neste número, como salienta Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, à VISÃO.
Mas a verdade, também, é que o País tem, culturalmente, vinho sobre a mesa a todas as refeições e na generalidade das habitações.

Até porque, ao contrário do que acontece em muitos outros mercados, o preço médio do vinho nacional continua a ser acessível à maioria da população – nem sempre pelas melhores razões –, o que o torna uma exceção até junto das gerações mais jovens. Mas já lá chegaremos.
O setor vitivinícola nacional representa mais de 2% do PIB. Os números mais recentes confirmados pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), resultantes de um estudo feito pela Universidade Nova de Lisboa, mostram que em 2021 “o setor do vinho, tendo em conta todos os impactos diretos e indiretos, representou, aproximadamente, cerca de cinco mil milhões de euros em Valor Acrescentado Bruto (VAB), 2,68% do PIB nacional, empregando cerca de 200 mil pessoas (cerca de 3,4% dos empregos a nível nacional)”.
No mesmo sentido, a vinha portuguesa é responsável por uma maior coesão territorial, ajudando a controlar o êxodo rural, e representa mais de 10% do emprego em 43 municípios de Portugal continental, segundo o mesmo IVV. Um cenário que pode, no entanto, estar prestes a mudar, avisam os produtores.

No primeiro semestre deste ano, as exportações dos vinhos nacionais cresceram 8,58% em volume – apesar de só terem conseguido um aumento de pouco mais de 1% em valor –, um movimento que, explica Frederico Falcão, se deve a uma série de fatores, como pode ler na entrevista da página 36.
Entre janeiro e junho, os vinhos portugueses mais exportados foram aqueles cujo preço se fixa entre €2,01 e €4 – representaram 41% das exportações totais –, havendo um decréscimo de exportação na quota dos vinhos de preços mais elevados – acima de €6 – quando comparado com o igual período do ano passado.
Em termos de mercados, França, Espanha, Angola e Brasil continuam a ser dos que mais vinhos nacionais recebem, em volume. Já em termos de valor, apesar de França continuar no primeiro lugar, os EUA, o Brasil e o Reino Unido são os que mais se destacam – e aqui, o vinho do Porto tem um papel fundamental. E esta categoria tem registado um cada vez mais acentuado decréscimo nas exportações, representando no semestre passado 28% do total das vendas ao exterior, em valor. No início dos anos 2000, representava 65%.
Vendemos mais, mas ainda barato
Ou seja, o que estes números nos mostram é que, apesar de haver cada vez mais consumidores estrangeiros a comprar e a beber vinho português, as referências nacionais continuam a não conseguir posicionar-se num patamar de preço equivalente a muitos dos vinhos italianos ou franceses, por exemplo.
Para Frederico Falcão, esta dificuldade prende-se, sobretudo, com o facto de “termos começado a olhar para o resto do mundo muito mais tarde”.
Menos idade, menos vinho
Não explica toda a crise no setor, mas é um dos pontos que está a preocupar produtores e comerciantes a longo prazo: as gerações mais novas estão a consumir menos, e se a tendência se mantiver tornar-se-á um problema sério

Em alguns países – não foi o caso de Portugal –, a diminuição do consumo de álcool começou a tornar-se evidente ainda durante o Grande Confinamento de 2020. A atenção a questões de saúde, em conjunto com as medidas de segurança, na altura em vigor em muitos mercados, provocaram um decréscimo generalizado de venda de garrafas de vinho. Porém, na hora da recuperação, houve uma geração que se destacou por não a acompanhar.
Dados da consultora Nielsen, relativos a 2023, revelam que 45% dos consumidores da geração Z (nascidos na segunda metade dos anos 1990) nunca tinham consumido álcool. Também o instituto Gallup mostrava, com base em inquéritos realizados no mesmo ano e citados pelo New York Post, que “em 2023, 52% das pessoas com idades compreendidas entre os 21 e os 34 anos acreditam que o consumo moderado de álcool é mau para a saúde”. O que não está errado, segundo as informação da Organização Mundial da Saúde.
A tendência do consumo decrescente de álcool nas novas gerações é uma realidade global que está a penalizar não apenas a indústria do vinho e que ainda não é possível perceber se veio para ficar, ou se, com o passar dos anos, aqueles que agora recusam consumir álcool podem depois mudar de ideias. Em 2022, o consumo de bebidas alcoólicas em França, por exemplo, estava em mínimos de quatro décadas, com os consumidores a não dispensarem o seu apéro, mas trocando os habituais aperitivos por bebidas sem álcool ou com um teor muito reduzido. O vinho tem sido, globalmente – e nos EUA os números são bastante significativos, por exemplo –, um dos principais penalizados. Primeiro, por uma questão de preço, uma tendência que começa a ser evidente também em Portugal. E, depois, porque os mais novos consideram o vinho uma bebida de “velhos”. Daquelas pessoas com mais de 65 anos, portanto. Tal como identificado por Frederico Falcão e por Cristiano van Zeller, estas gerações sentem-se postas de parte pela linguagem presunçosa e hermética que, comummente é usada por profissionais e especialistas do setor. E, claro, a todas estas alterações não é alheio o forte investimento que as principais marcas de destilados têm estado a fazer em marketing nos últimos anos.
Gonçalo Patraquim, executive wine director do grupo Plateform, ao qual pertencem mais de uma dezena de restaurantes, confirma que sente esta alteração de comportamento nas unidades em que operam: “É notória uma tendência crescente de consumo de cocktails e soft drinks à mesa, com a refeição, em clientes numa faixa demográfica inferior a 30 ou 35 anos”, diz à VISÃO. No entanto, nota que não tem dados que comprovem por que razão isto acontece, pelo que prefere remeter para as estatísticas oficiais aquelas que parecem ser as razões para a mudança de comportamento.
Seja qual for o motivo, o que é certo é que por mais instagramável que as garrafas e as visitas às vinhas possam ser, há uma geração – ou mais – a ser afastada de um produto que atravessa uma grave crise. Será o início do fim?
O setor criou, há 28 anos, a ViniPortugal, para promover a marca Vinhos de Portugal. No entanto, a instituição só nasceria oficialmente muito mais tarde, em 2010. “Viu-se muito bem o resultado do seu trabalho, porque olhando para as estatísticas é possível ver um antes e um depois da criação da marca Vinhos de Portugal”, continua o responsável.
Há 20 anos, “tirando mercados como Brasil, Angola ou Moçambique – se fôssemos ao Canadá ou aos EUA e se saíssemos das comunidades imigrantes –, ninguém sabia que Portugal produzia vinhos. O País não se afirmava no mundo como produtor. Se recuarmos aos anos 1980 e 90, e começarmos a puxar pela memória sobre que marcas de vinho de mesa havia, no Douro ou no Alentejo, vemos que não havia quase nada”, diz Falcão. O CEO da ViniPortugal conversa com a VISÃO na sala de provas da instituição, em pleno Terreiro do Paço, numa quente manhã de setembro. “Estávamos muito virados para dentro, para a venda de vinho a jarro ou barril. Isto significa que começámos a afirmar-nos no mercado mundial, em qualidade, há muito pouco tempo. Já os franceses, os italianos, os espanhóis… até os chilenos já o faziam, e nós estávamos muito virados para dentro ou apenas para as nossas ex-colónias. Começámos a afirmar-nos globalmente muito tarde. E isto [do posicionamento] demora tempo e exige trabalho”, salienta.

Que é como quem diz: é preciso esperar para ver os vinhos nacionais a serem vendidos a preços médios mais elevados do que aqueles que têm sido praticados. Um caminho que também tem de ser feito dentro de portas, junto dos consumidores que, habituados a preços baixos, têm alguma resistência a ver referências serem vendidas a dois dígitos. Ou mesmo a um dígito que seja elevado. O que se tem refletido em dificuldades cada vez maiores para os produtores, que este ano não só estão a ver a sua produção a cair – as estimativas do IVV para esta campanha é de uma redução global de 8% – mas também veem o preço das uvas manter-se em valores praticamente incomportáveis para valer a pena o trabalho que têm com elas.
A VISÃO sabe que vários pequenos produtores de diferentes regiões decidiram deixar as suas uvas nas videiras por não compensar vendê-las ao preço que as adegas cooperativas ou os grandes produtores pagam por elas – cerca de €0,25 a €0,30 o quilo. Muitos estão prontos para abandonar as vinhas que ainda têm ao seu cuidado e que, por serem pequenas propriedades, há muito não conseguem ser rentáveis. Até porque o preço não mexe há cerca de 20 anos, o que só por si é sinal de que algo não está bem num setor que parece estar tão na moda.
De Espanha, nem bom vento nem bom vinho?
“Quando se fala nos problemas do setor, não estamos a falar apenas das grandes marcas, mas sobretudo dos produtores de uva, que vendem as suas uvas a cooperativas ou outras adegas”, justifica à VISÃO Joana Silva Lopes, enóloga e responsável por projetos nas regiões do Alentejo e do Tejo. “Grande parte do que se produz em Portugal é feita por pequenos viticultores que estão a perder dinheiro consecutivamente. No Alentejo, as uvas andam a ser vendidas a €0,25 o quilo. É impossível produzir uvas a este preço, nesta região”, salienta a profissional que há mais de 15 anos trabalha no Alentejo. Sobretudo quando se fala de propriedades que produzem apenas quatro ou cinco toneladas: o investimento, pura e simplesmente, não compensa.

Há cerca de sete anos, o preço do vinho a granel situava-se entre €1 e €1,5 o litro. Valores corretos e justos para quem produz, mas demasiado elevados para se conseguirem cumprir, por exemplo, as exigências das grandes superfícies – que procuram sempre valores mais reduzidos nas referências que vendem – e ter rentabilidade económica. Aliás, basta passar os olhos pelos preços de muitos vinhos que ocupam as prateleiras das garrafeiras de supermercados a que todos vamos no dia a dia para verificar que muitas referências são vendidas a cerca de €2 a garrafa. Contas rápidas e torna-se claro que era preciso baixar o preço na produção se o objetivo era continuar a vender nas grandes superfícies. Onde, aliás, os portugueses preferem comprar vinho. Foi então que a Comissão Vitivinícola Regional (CVR) Alentejana tomou a decisão de passar a permitir algo que já estava, anteriormente, previsto na lei: que 15% dos vinhos que integram as referências regionais provenham de outras regiões que não o Alentejo. Ou seja, sempre que vir um vinho regional, saiba que parte dele não tem proveniência da região que ostenta no rótulo. Aliás, se estiver no Alentejo, é muito provável que o casamento seja entre vinho alentejano e vinho espanhol.
“A título de exemplo, ainda ontem tinha no meu email ofertas de vinho de Espanha a ser vendido €0,30 ou €0,40”, diz-nos Joana Silva Lopes, admitindo que o preço é, naturalmente, muito tentador.
Segundo os produtores de várias regiões – e não apenas do Alentejo, apesar de esta ser uma das que mais sofrem graças à proximidade com a fronteira –, algumas das grandes casas passaram a incorporar vinho espanhol nos seus vinhos de mesa, que vendem sob a denominação Vinho da UE. Algo que é permitido por lei, mas que, defendem alguns dos profissionais do setor, passa despercebido aos olhos de grande parte dos consumidores. “Ninguém olha para o contrarrótulo, para começar, e ninguém tem noção de o que vinho não é português. Claro que é muito mais barato ir comprar vinho a Espanha a €0,30 do que comprar aos produtores no Alentejo a €0,60”, adianta a enóloga. O problema é que essa opção acaba por desproteger e desprestigiar a região – uma opinião partilhada por Cristiano van Zeller, produtor no Douro há quatro décadas.

Num encontro recente com o IVV, um grupo alargado de produtores pediu explicações àquele organismo para a falta de fiscalização sobre aquilo que consideram ser uma entrada descontrolada e ilegal de uvas, vinho e mosto espanhol em território nacional. “Existe entrada de vinho importado sem rasto, suspeitando-se de que é utilizada a mesma guia para trazer em duas ou três viagens, no mesmo dia, na mesma cisterna, já que não há controlo no terreno”, refere o documento de trabalho que saiu dessa reunião e a que a VISÃO teve acesso. O IVV garante que, apesar de não ser o responsável pela fiscalização, “dispõe da informação sobre a importação, informação essa que é transmitida para a ASAE e para a GNR, pelo que havendo “vontade” para acionar os meios necessários, a fiscalização é possível”, lê-se no mesmo documento.
O assunto, entretanto, já chegou ao Ministério da Agricultura e do Mar, tutelado por José Manuel Fernandes, que garantiu, recentemente, que vai aumentar fortemente o dispositivo de fiscalização (ver caixa).
Importar menos, consumir melhor
As críticas dos produtores têm-se intensificado, também, porque sentem que é preciso contrariar muita da informação que tem sido veiculada relativamente à oferta e à procura. Voltamos às contas: Portugal consumiu, em 2023, 550 milhões de litros, tendo exportado cerca de 320 milhões. Ou seja, necessitou de 870 milhões de litros para fazer face às suas necessidades. Nesse ano, o País produziu 750 milhões de litros – os restantes 120 milhões de litros foram garantidos através da importação de vinho. Uma medida que não é apenas legal, mas necessária, sublinha Frederico Falcão. O problema, salientam os produtores, é toda a importação desregulada que acaba por acontecer também e que está a contribuir para os elevados níveis de stock de que as adegas se queixam – e que as tem levado a diminuir as compras aos pequenos produtores, sendo mais um fator a contribuir para a manutenção daqueles preços baixos de que falámos acima.
Um fenómeno que começou em 2018, ano em que as importações de vinho passaram de 200 para 300 milhões de litros – e a que se juntaram alguns anos seguidos de campanhas com uma produção acima da média. Há regiões em que este excesso de inventário é mais dramático – como no Douro e no Alentejo – e outras em que tem sido possível encontrar um equilíbrio, como os vinhos verdes e o Dão, que vão alternando anos de excedente com anos menos produtivos.

No Douro, este ano tem sido particularmente dramático em termos de excedente de uva, o que leva Frederico Falcão a admitir que podem ficar uvas nas videiras, por falta de haver quem as compre. Por isso, e mais uma vez, o Governo avançou com um programa da chamada destilação de crise: uma regra que permite que se encaminhe vinho para a produção de produtos de álcool com fins industriais. O Governo alocou €15 milhões à iniciativa e José Manuel Fernandes espera que esta atinja 34 milhões de litros de vinho tinto. Ao mesmo tempo, voltou para cima da mesa um assunto cuja discussão regressa de tempos a tempos à tutela da Agricultura: a possibilidade legal e a viabilidade económica de o vinho do Porto ser produzido com aguardente vínica, resultado apenas de uvas da região demarcada, algo que, para já, não é possível mas que é reivindicado há vários anos. A quebra nas exportações de vinho do Porto, um dos mais importantes, em termos de valor e de notoriedade, para a economia nacional, está a preocupar não apenas os produtores da região mas, naturalmente, todo o setor – afinal, foi com este produto que Portugal começou, há tantos séculos, a conquistar consumidores um bocadinho por todo o mundo. A sua identidade, ligada à do País, tem uma relevância que é também emocional, mesmo que no mercado nacional esteja a haver uma evolução negativa nas vendas.

A juntar-se a estas variáveis, o mundo assistiu a um decréscimo generalizado de consumo de vinho, tendência que deve continuar a agravar-se nos próximos anos. Entre 2000 e 2023, bebeu-se menos 2,2% de vinho no mundo todo – Portugal aumentou o consumo em 19,7%, mas em países como a Argentina, o consumo afundou quase 40%. E, com as novas gerações a afastarem-se cada vez mais de todas as bebidas alcoólicas, o cenário vai ser muito diferente daquele a que nos fomos habituando.
A geração Z – nascida entre o final dos anos 1990 e 2010 – tem-se afastado cada vez mais de um setor que adjetiva de “velho”. E não é por falta de tentativa das marcas: vinhos cada vez com menos álcool (até já há “vinhos” sem álcool…), rosés, espumantes, champanhe para se beber com gelo, tintos e brancos com mais ou menos madeira consoante os anos e as preferências de cada país, região e faixa etária dos consumidores, enfim. Produtores e marketeers desdobram-se em tentativas para atrair os mais jovens, mas continuam a falhar no essencial: os termos que geralmente se usam para falar do produto continuam a ser demasiado complexos e o preço, na generalidade dos países, e sobretudo nos restaurantes, é uma barreira difícil de atravessar. Inquéritos divulgados recentemente mostram que as gerações mais jovens parecem levar cada vez mais a sério as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que em janeiro de 2023 revelou um relatório demolidor para o setor das bebidas alcoólicas: “Não podemos falar de um nível seguro de consumo de álcool. Não importa o quanto se bebe – o risco para a saúde do consumidor começa na primeira gota de qualquer bebida alcoólica. A única coisa que podemos afirmar com certeza é que quanto mais uma pessoa bebe, mais prejudicial é – ou, por outras palavras, quanto menos uma pessoa bebe, mais seguro é”, explicava, na altura, Carina Ferreira-Borges, a coordenadora da área de álcool, drogas ilícitas e saúde prisional na OMS/Europa.
E agora, Portugal?
Há uma razão pela qual as frases se transformam em ditados – por norma, é porque têm alguma verdade nelas. A que diz que “a necessidade aguça o engenho” é, talvez demasiadas vezes, usada pelos portugueses, mas acontece por uma razão. Senão, vejamos: temos excedente de uvas, pagas a preços muito baixos; o mundo a consumir menos – apesar de ainda ser possível aumentar as nossas exportações –, os jovens a quererem fugir do setor, os viticultores a pensarem em abandonar a vinha (mesmo que já haja menos, em Portugal, do que no final dos anos 1990), as alterações climáticas a baralharem as contas e a OMS a dizer que o melhor é não se tocar em álcool. Só que em Portugal o vinho não tem apenas peso nas contas nacionais: ele é produto identitário, garante de sustento em muitas regiões que, sem ele, não teriam ninguém, e transporta consigo demasiada História para que nos deixemos abater por períodos de crise.
Para produtores e responsáveis, a resposta está na qualidade. No fundo, em oferecer aos consumidores aquilo que fazemos melhor. Empresas como a Van Zellers & Co e a The Fladgate Partnership, para citar apenas duas, têm sido bons exemplos de posicionamento dos vinhos que produzem e da visão de futuro que trazem para um setor que muitos acreditam ser tradicional.

A empresa liderada por Cristiano van Zeller surpreendeu, no ano passado, com a submersão de algumas garrafas de Porto no oceano, para envelhecer, e uma parceria com a marca Zouri, que desenvolveu uma caixa única em formato de concha, com materiais reciclados e borracha natural. E este ano lançou uma edição limitada de três vinhos centenários: de 1860, 1870 e 1888. Os Very Very Old Tawny Portos são vendidos em conjunto, apenas existindo 75 coleções. A caixa, feita à medida e sob encomenda, inclui três garrafas sopradas à mão, um decantador de cristal superior da Vista Alegre Atlantis e ainda três gargantilhas de prata da Leitão & Irmão, fundada também ela no século XIX. Cada conjunto custa €22 mil. “É aqui, neste posicionamento, que queremos estar. Porque são realmente coisas muito especiais, e é preciso mostrar que Portugal tem essa História”, contar-nos-ia Francisca van Zeller, diretora de Comunicação e Vendas da empresa, numa conversa informal pouco depois do lançamento. “Continuaremos a ter opções mais acessíveis, porque queremos que toda a gente possa degustar um Porto, mas acreditamos que a consistência e a excelência são o caminho.”
No mesmo sentido, a The Fladgate Partnership, que detém marcas como a Taylor’s, a Croft ou a Fonseca, descobriu recentemente que conseguiria voltar a aumentar o consumo de vinho do Porto no Reino Unido – mercado por excelência deste produto – através de garrafas de grande formato. “Estamos a ter muito sucesso. Porque o vinho do Porto não é algo que as pessoas se lembrem de pedir, mas com os grandes formatos, em garrafas bonitas, os restaurantes podem tê-las em exposição e isso tem aumentado muito o interesse e o consumo”, contava à VISÃO Adrian Bridge, CEO da The Fladgate Partnership, durante um almoço com a imprensa, na semana passada, com vista para o Douro.

No mesmo sentido, os produtores nacionais – muito graças a uma nova geração cada vez mais envolvida na produção – tentam ter uma abordagem do mercado mais diferenciada. A procura do reconhecimento da crítica internacional tem-se tornado recorrente e ter figuras como Jancis Robinson – a primeira mulher a garantir o título de Master of Wine e uma das mais influentes vozes do vinho a nível mundial – a escrever sobre Portugal no Financial Times tem sido uma ajuda preciosa. Se hoje os britânicos encontram vinhos portugueses à venda em cadeias como a Marks & Spencer ou a Waitrose, é graças às dezenas de artigos que Robinson e a sua equipa já dedicaram ao País. No mesmo sentido, as pontuações do americano Robert Parker têm aberto caminho a que Portugal ganhe cada vez mais reconhecimento. Para isso, têm também contribuído inúmeros enólogos e produtores que, fugindo ao apelo da quantidade, têm chamado a atenção pelos projetos diferenciados e que podem, realmente, fazer de Portugal um lugar de vinhos diferentes: houve um regresso mais intenso às vinhas velhas, às castas autóctones – afinal, Portugal tem praticamente 300 – e às regiões que antes faziam qualquer português franzir o sobrolho: mas, atualmente, os vinhos do Dão, da Região dos Vinhos Verdes, do Algarve ou dos Açores estão entre aqueles que mais se destacam internacionalmente, pelas características tão diferenciadas. E, claro, o trabalho incansável de algumas figuras de proa que, ao longo de décadas, têm trabalhado pelo País inteiro porque acreditam que é mesmo possível fazer mais e melhor. A História, como as crises, tem a mania de se repetir. Portanto, o mais provável é que o setor sobreviva, e se fortaleça ainda mais, depois desta crise profunda que hoje atravessa. Bebamos essa “certeza num copo de vinho”, que as vindimas estão mesmo a terminar e há novidades para provar.
Carta ao ministro pede fiscalização
A Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo (ATEVA) escreveu ao ministro da Agricultura para conseguir dados relativos à fiscalização da entrada de vinho estrangeiro no País
O assunto tem preocupado os viticultores um pouco por todos o País, mas com especial incidência na região do Alentejo: desde 2010 que é possível que os vinhos com Indicação Geográfica – comummente chamado de vinho regional – sejam produzidos com 15% de uvas originárias de outras regiões do país de origem. A determinação é Europeia, e apesar de não ser obrigatória, tem feito muitos produtores cair em tentação. Sobretudo, quando, tão perto da fronteira com Espanha, passa a ser relativamente fácil comprar uvas ou vinhos no país vizinho, a preços muito mais competitivos. E, uma vez que não há praticamente qualquer tipo de fiscalização, tem dado azo à produção de muitas garrafas de vinho que, queixam-se os profissionais do setor, têm menos vinho português do que deviam. Nesse sentido, a ATEVA fez chegar ao Ministério da Agricultura e Pescas, tutelado por José Manuel Fernandes, uma carta que pede dados concretos sobre as ações de fiscalização levadas a cabo durante as vindimas deste ano: quantas ações, durante quantos dias, envolvendo que número de profissionais e, também, qual a quantidade de vinho a granel importado de Espanha nos últimos três meses.
A carta, a que a VISÃO teve acesso, data de dia 11 de setembro, e foi enviada na sequência das declarações de José Manuel Fernandes durante a Comissão de Agricultura e Pescas. Na ocasião, o ministro anunciou que o Governo vai “aumentar fortemente” a fiscalização, de modo a que não entre, ilegalmente, vinho no País”, reconhecendo o impacto desta realidade na atividade, sobretudo, dos pequenos produtores.
No mesmo sentido, o Instituto da Vinha e do Vinho tem igualmente sido pressionado pelos profissionais do setor, que pedem mais transparência nos números relativos à importação de uva, mosto e vinho, e também uma mão mais firme contra quem, ilegalmente, faz entrar vinho no País durante a época das vindimas. “A nossa opinião é que em junho, julho e agosto devia haver fiscalização para estimar a produção de cada vinha. Isso é fácil de fazer, basta efetuar uma contagem de cachos”, exemplifica a enóloga Joana Silva Lopes à VISÃO. “Há vinhas abandonadas e que são declaradas como estando a produzir 10, 12 ou 15 toneladas” Porque é que isto acontece? Para entrar vinho de Espanha que, a partir do momento em que está em terras portuguesas, é Vinho Regional Alentejano…” E avisa: “Muitas pessoas vão arrancar vinhas depois desta vindima. Porque nas zonas abrangidas pelo perímetro de rega do Alqueva, por exemplo, vão arrancar a vinha e vão arrendar os terrenos para olival, amendoal ou hortícolas. A vinha deixou de ser interessante”.”
Douro sai à rua
Viticultores e autarcas protestam nas ruas e na Assembleia da República, pedindo pulso mais firme nas medidas de combate à crise no setor

Os viticultores da região do Douro saíram à rua mais do que uma vez, nas últimas semanas, para frisarem os alertas sobre aquilo que chamam de “situação de catástrofe” nesta campanha de 2024. Isto porque a região vai produzir menos 14 mil pipas (550 litros cada) de vinho do Porto nesta vindima, e em relação ao ano passado, e menos 12 mil do que em 2022. Segundo a decisão do Conselho Interprofissional do IVDP, o Douro só terá 90 mil pipas com benefício, uma das produções mais baixas das últimas décadas. Recorde-se que o benefício – a quantidade de mosto que cada viticultor do Douro pode destinar à produção de vinho do Porto – é uma das maiores fontes de receita dos viticultores na região. Esta quinta-feira, a Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas debate os “Desafios e oportunidades para o setor do vinho – vem aí uma crise vitivinícola sem precedentes?”, já depois de a Comunidade Intermunicipal do Douro (CIM Douro) ter rumado até à Assembleia da República na semana passada. Perante os deputados da Comissão de Agricultura, os autarcas da região defenderam a criação de uma taxa de sustentabilidade territorial, a ser aplicada em hotéis, barcos, comboios turísticos, nas empresas de animação turística e na restauração, entre os meses de março e outubro. “Queremos lançar-vos o desafio para que possam pensar numa taxa de sustentabilidade territorial. Taxa essa que tem de ser cobrada a todos os que usufruem do Património da Humanidade e uma taxa que possa servir para ajudar os viticultores e para valorizar as suas propriedades e aumentar o rendimento”, defendeu o presidente da Câmara do Peso da Régua, José Manuel Gonçalves, em nome da CIM Douro, que agrega 19 municípios. “Era uma forma de darmos um sinal aos nossos viticultores de que estamos preocupados”, afirmou o autarca, citado pela agência Lusa.
A Destilação de Crise, que foi aprovada pelo Governo, vai ser uma importante ferramenta para os viticultores da região ultrapassarem este período: o vinho nacional enviado para queima vai ser pago a €0,42 o litro, mas, no Douro, porque é uma região montanhosa com custos de produção mais elevados, os produtores receberão €0,75 por cada litro de vinho certificado entregue para destilação.
Os sistemas de alerta funcionaram, os avisos foram emitidos a tempo e a ameaça estava há muito identificada e dada como provável, assim que se reunissem determinadas condições meteorológicas. Mesmo assim, foi insuficiente para impedir que, nos últimos dias, vários países da Europa Central e Oriental tenham sofrido inundações catastróficas, com prejuízos elevadíssimos, e que Portugal, após uns meses de verão que muitos consideraram “ameno”, voltasse a ser atingido por uma brutal onda de incêndios florestais, como já não se assistia desde o trágico ano de 2017. Em ambos os casos, foram acionados os mecanismos de solidariedade europeia para acorrer às emergências.
No entanto, os sinais de alarme não ecoaram apenas na Europa. Quase em simultâneo, vários países asiáticos foram atingidos também por grandes inundações, devido à passagem do supertufão Yagi, que causou centenas de mortes, nomeadamente no Vietname. Na América do Sul, por estes dias, também já foi batido o recorde do número de incêndios num ano, com as chamas a varrerem áreas imensas na floresta amazónica, no Pantanal e nas florestas da Bolívia, mas que também atingem o Paraguai, a Argentina e o Peru. Tudo isto está a acontecer, é preciso não esquecer, depois de anos sucessivos de incêndios florestais na Austrália, mas também na Califórnia – que é “apenas” o estado mais rico do país mais poderoso do mundo e que tem um dos corpos de bombeiros mais bem preparados e bem pagos do planeta. E também apenas um ano depois dos incêndios monstruosos que, durante semanas, lavraram no Canadá e que, para se ter uma ideia da sua intensidade, segundo um estudo da Global Forest Watch e da Universidade de Maryland, terão emitido para a atmosfera quatro vezes mais dióxido de carbono do que todo o setor da aviação civil durante os 12 meses do ano anterior.
Se todas estas catástrofes foram bem documentadas e exibidas ao mundo, outras do mesmo género continuam a ocorrer nos países pobres, sem a atenção mediática reservada às situações de emergência que fazem desfilar especialistas nos ecrãs de televisão das nações mais desenvolvidas. Depois de anos de seca e de temperaturas elevadas, grandes regiões da África Central e Ocidental estão atualmente a sofrer com inundações trágicas que, segundo a UNICEF, já provocaram mais de mil mortes, obrigaram à deslocação de mais de meio milhão de pessoas e destruíram mais de 300 mil casas. E a situação, segundo as principais organizações humanitárias, ainda deve piorar em muitos locais da Libéria, Nigéria, Mali, Níger e Chade, com a agricultura desses países quase devastada.
Quando a emergência nos bate à porta, como aconteceu agora, é compreensível – embora não avisado – que a nossa atenção se concentre apenas na tragédia próxima e se desfoque daquilo que acontece de semelhante um pouco por todo o mundo. E, nos primeiros momentos, também pode ser aceitável que, no caso dos incêndios, se repitam, como se fosse a primeira vez, as discussões acaloradas e quase sempre categóricas acerca do repartir de culpas entre a falta de ordenamento florestal, a prevalência de monoculturas, a ausência de limpeza dos terrenos e as sempre misteriosas teorias da conspiração sobre incendiários e os seus mandantes.
Mas mesmo que todas essas componentes possam fazer parte da discussão, elas têm de ser analisadas num contexto mais global, que é o decisivo. Até porque aquilo a que temos assistido nos últimos dias é exatamente o que, desde há décadas, muitos relatórios científicos nos avisaram que iria acontecer, assim que a temperatura média global subisse mais um pouco: os acontecimentos meteorológicos extremos passariam a ganhar maior intensidade e a tornarem-se mais frequentes. Fenómenos que, anteriormente, aconteciam uma vez numa geração, vão passar a repetir-se numa cadência superior.
Os fenómenos extremos a que temos assistido são resultado de um aquecimento global de apenas 1,4 graus, em relação ao período pré-industrial. E convém lembrar, no meio desta tragédia, que os piores cenários, se nada for feito até lá – e ainda há muito por fazer… –, indicam que o aumento será de 4 graus no final deste século, com consequências ainda mais devastadoras.
O pior das alterações climáticas ainda está para vir. E negar isso, em nome de um negacionismo que surge quase sempre misturado com o populismo político, é tão criminoso quanto lançar fogo a uma floresta. Não só porque não tem qualquer base científica, como impede que se tomem as medidas necessárias para travar as catástrofes cada vez mais inevitáveis. Cabe-nos a nós, por isso, nos momentos difíceis, saber escolher o caminho que pode, de facto, contribuir para a solução: o da Ciência ou o dos promotores do caos e da raiva.
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Pelo menos nove pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas, esta quarta-feira, após uma vaga de explosões de aparelhos walkie-talkies, na posse de militantes do Hezbollah, nos arredores de Beirute e no Sul e Leste do Líbano. A notícia foi avançada pela agência de notícias estatal libanesa e por fontes próximas do grupo xiita – e citadas pela agência France-Presse (AFP) –, que descrevem que os aparelhos explodiram no local onde decorriam os funerais de membros do Hezbollah, mortos no dia anterior.
O balanço de vítimas continua, neste momento, a ser revisto ao segundo.
O ataque acontece um dia depois das explosões, quase em simultâneo, de pagers, que provocaram 12 vítimas mortais e cerca de 2.800 feridos – muitos dos quais membros do Hezbollah –, no Líbano e em regiões da Síria.
O Governo libanês e o Hezbollah acusam Israel de ser responsável por estes acontecimentos, mas Telavive continua a não assumir responsabilidade pelas explosões.
Os televisores da gigante chinesa Hisense vão ganhar, a partir desta quarta-feira, acesso à aplicação de streaming Max (antiga HBO e HBO Max). Esta é uma parceria estratégica com a Max, o serviço de streaming da Warner Bros. Discovery, que visa disponibilizar mais conteúdos de entretenimento em diversos países, incluindo Portugal. A partir de hoje, os utilizadores da plataforma VIDAA (sistema operativo das televisões da Hisense) terão acesso à biblioteca de filmes, séries e documentários da Max.
Guy Edri, diretor executivo (CEO) da VIDAA, afirmou em comunicado a importância deste lançamento: “Estamos entusiasmados por receber o Max na família VIDAA. A nossa missão é proporcionar as melhores opções de entretenimento, e a adição do Max à nossa plataforma é uma prova deste compromisso. Acreditamos que os nossos utilizadores irão apreciar as novas possibilidades de visualização que esta parceria oferece.”
A ausência da aplicação Max era um dos pontos de crítica recorrentes aos televisores da Hisense, considerando que a plataforma de streaming é uma das que tem maior quota de mercado, número de utilizadores e conteúdos de grande sucesso (como House of the Dragon, Os Sopranos, True Detective, Succession, The Wire, The White Lotus, The Last of Us, entre outras).
A VIDAA tem-se destacado pela interface de fácil utilização, prometendo, com este lançamento, alargar as opções de entretenimento e garantir que milhões de utilizadores em todo o mundo possam aceder a mais conteúdos diretamente no televisor.