O responsável financeiro da Warner Bros Discovery anunciou que o serviço de streaming Max (antiga HBO e HBO Max) vai começar a tentar mitigar o problema das partilhas de passwords. Numa primeira fase, vai ser mostrada uma mensagem aos utilizadores, conta Gunnar Wiedenfiels, que detalhou que nos anos seguintes as medidas irão aumentar progressivamente.

Esta não é a primeira vez que a Max aborda este tema. Em março, lembra o The Verge, JB Perrette, responsável pelos serviços de streaming e jogos da Warner Bros Discovery, disse que a empresa ia combater a partilha de passwords “este ano e em 2025”.

A estratégia da Max está a ser semelhante à da Disney Plus, que também começou por enviar e-mails aos clientes sobre as partilhas, antes de lançar a opção de se adicionar mais membros à conta oficialmente. A Netflix também começou por pedir aos utilizadores que pagassem por cada utilizador extra que partilha o serviço de streaming com o utilizador principal.

Já Wiedenfiels não descarta também a hipótese de a Max vir a aumentar os preços, em consequência destas partilhas. A Max conta com 110 milhões de utilizadores ativos em todo o globo, tendo aumentado em 7,2 milhões o número de assinantes no mais recente trimestre.

O VOLT Live é um programa/podcast semanal sobre mobilidade elétrica feito em parceria com a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE).

Em destaque no VOLT Live, episódio 87, gravado a 7 de novembro de 2024:

– O novo modelo para a rede de carregamento proposto pela UVE (Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos);
– Em Polo Positivo e Polo Negativo comentamos o impacto que os novos incentivos à aquisição de veículos elétricos estão a ter no mercado;
– Em Produto da Semana partilhamos a experiência de condução em pista do Alpine A290;
– Em Carrega Aqui revelamos as novidades mais importantes na rede de carregamento, incluído novos hubs da Ionity;
– Em eDicas explicamos o que é o V2L e porque deve considerar esta funcionalidade quando escolher o seu próximo automóvel elétrico.

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A cada dia chegam às escolas alunos de todos os contextos, com sonhos e desafios únicos, mas é, muitas vezes, a sua condição socioeconómica, e não o seu potencial, que mais define o seu futuro. Esta é uma realidade que não podemos ignorar.

A relação entre pobreza e educação é bidirecional: a pobreza limita o acesso à educação e a falta de acesso amplia a pobreza. Estudos da UNESCO de 2020, da OCDE de 2018 e do Banco Mundial do mesmo ano, mostram que a pobreza impacta fortemente o sucesso escolar, desde o acesso a recursos até ao bem-estar emocional.

A colaboração entre escolas, serviços sociais e organizações comunitárias é essencial, mas as escolas, por si só, podem ajudar a garantir que os sonhos e competências dos alunos prevalecem sobre a sua condição socioeconómica. É, portanto, crucial implementar estratégias para mitigar o impacto da pobreza na educação, garantindo a todos oportunidades de sucesso.

Assim, rastrear precocemente é importante para identificar vulnerabilidades impostas por situações de pobreza. Se as escolas detetarem, logo nas primeiras idades, as barreiras à aprendizagem (de ordem económica, social ou cultural) isso irá permitir-lhes ajustar os apoios às necessidades específicas de cada aluno, desde respostas básicas, como a alimentação, até intervenções dirigidas para o desenvolvimento de competências subdesenvolvidas. Este apoio personalizado é essencial para que todos os alunos superem as suas limitações.

O sucesso académico não depende apenas do que acontece na escola, mas também do envolvimento familiar e do apoio que os alunos recebem em casa. As escolas podem facilitar a participação ativa das famílias com horários flexíveis para reuniões, comunicação clara dos progressos dos alunos e workshops que abordem a importância do acompanhamento escolar e estratégias práticas que as ajudem a apoiar as aprendizagens em casa. Podem ainda expor os alunos a modelos positivos (como ex-alunos e figuras inspiradoras da comunidade) que superaram desafios e alcançaram o sucesso. Estas ações vão inspirar alunos e ajudar famílias a olhar para a escola como um elevador social, o único capaz de transformar vidas e quebrar ciclos de pobreza.

O poder transformador dos professores está no seu olhar atento, que vê para além das circunstâncias socioeconómicas de cada aluno, acredita no seu potencial e o ajuda a acreditar também. Esta intervenção e convicção de capacitação cria ambientes onde cada um se sente valorizado e encorajado a sonhar e perseguir metas que, de outra forma, poderiam parecer inalcançáveis. É crucial que as escolas ajudem os professores a refletir sobre preconceitos inconscientes e a evitar a armadilha do efeito pigmaleão. A capacitação vai para além do conhecimento académico. Envolve o desenvolvimento de competências para a vida (curiosidade intelectual, pensamento crítico, resolução de problemas, autocontrolo, resistência à frustração, tomada de decisão, etc.) que vão preparar os alunos para enfrentar os desafios, atuais e futuros, e permitir-lhes pensar num projeto de vida que inclua o valor instrumental da escola, enquanto alavanca para a ascensão social.

A educação é o único caminho para quebrar o ciclo de pobreza e construir cidadãos capazes de transformar as suas comunidades. Quando uma criança é deixada para trás, perdemos todos. Se queremos uma sociedade justa, investir na educação e transformá-la num elevador social, garantindo que todos os alunos realizem o seu máximo potencial, é uma prioridade.

+ Carta aos diretores de escolas sobre a importância do bem-estar mental

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Este ano, muitas das mensagens de aniversário chegaram com desabafos de desalento. “Coragem! Este mundo está do avesso”, escrevia uma amiga. “Estou preocupado com o mundo”, acrescentava um amigo. E sempre esta ideia de que o que está à frente é pior, mesmo que o que se deseje seja celebrar esse ano que aí vem. Talvez esteja a ficar velha, pensei. Os velhos sempre acreditaram que o fim do mundo está próximo. E está. A cada morte há um mundo que se acaba. E talvez a proximidade desse final nos faça acreditar que tudo se deslassa e desaba, talvez para que nos custe menos a partida de um lugar que já não é bom.

Sim, estou a ficar velha. Mas o mundo também. O mundo envelhece quando perde a esperança. Deixar de sonhar é o primeiro sinal de degenerescência, de desistência e, enfim, de falência.

Como continuar se não acreditamos que o que aí vem é melhor? E não me refiro ao punhado de amigos que envelhece comigo, mas a esta ideia que se foi instalando no âmago de todos de que não há alternativas. A ideia de que a utopia deixou de ser o lugar com que se sonha para se esfumar num riso de escárnio descrente. A ideia de que tudo o que está mal não tem remédio e de que não há nada que possamos fazer para o mudar.

A desistência é a pior de todas as derrotas. O desânimo é o pior de todos os venenos. Deixa-nos a apodrecer lentamente. Faz com que todas as coisas se equivalham. Não há bem nem há mal. Há um encolher de ombros perpétuo e desalentado.

E é no meio disso que melhor nasce a raiva. A raiva é o que sobra quando acreditamos que não há um movimento que nos leve para um lugar melhor. A raiva faz-nos esbracejar. E esbracejar parece ser o único movimento que nos resta. Por isso, esbracejamos. Enraivecemo-nos.

Mas a raiva precisa de combustível. Para a manter acesa é preciso o ódio. É preciso encontrar inimigos. Não temos para onde ir, mas encontramos um objetivo neste ódio que alimenta a raiva e nos dá a ilusão de estarmos a fazer alguma coisa, quando nada mais parece possível.

A nossa raiva parece-nos justificada. Mas e a dos outros? A dos outros causa-nos medo. Porque sabemos que também nós seremos um dia incinerados nessa pira de raiva e ódio. Mesmo quando fingimos achar que estamos a salvo, tememos secretamente esta raiva que nos rodeia. Sabemos que é cega e tem fome de vítimas.

É por o sabermos que tememos o mundo. Vemos ao longe, como uma vaga que se agiganta, essa tempestade que sabemos que virá para nos engolir.

Chegou-me por estes dias, por mensagem, uma frase atribuída a Hannah Arendt. “Vivemos tempos sombrios. As piores pessoas perderam o medo e as melhores a esperança”. E é nesta mensagem, aparentemente desalentada, que podemos encontrar essa esperança que se diz perdida.

É que Arendt viu o horror e sobreviveu-lhe. Os que, como eu, nasceram muito depois pisaram esse chão aberto e limpo de promessa e liberdade, construído sobre os escombros da derrota do que há de pior na Humanidade.

E é por aí que temos de ir, sabendo que a cada onda de medo e opressão que se aproxima, cabe-nos dar o peito e mostrar o caminho, porque ele existe, mas apenas se acreditarmos nele. Quando o começarmos a imaginar, ele começará a aparecer. E, então, estas frases de desalento parecerão apenas a memória de umas trevas que já deixámos (outra vez) para trás.

Quer seja correr, caminhar ou praticar desportos de menor intensidade, não é surpresa para ninguém que a prática de exercício físico tem diversos benefícios para a saúde física e mental. Agora, uma nova investigação científica, realizada por especialistas das universidades de Londres e de Sydney, sugere que cinco minutos de exercício físico por dia são suficientes para melhorar também a pressão arterial e afastar, assim, o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

As conclusões do estudo, publicadas esta quarta-feira na revista científica Circulation, revelaram que atividades como subir um lanço de escadas, caminhar rapidamente e até andar de bicicleta durante um curto período de tempo têm um efeito positivo nos valores de pressão arterial sistólica – o valor obtido durante a contração do coração – e diastólica – o valor durante o relaxamento do coração, ou seja, entre batimentos. “As boas notícias são que, independentemente das condições físicas, não leva muito tempo para [o exercício físico] ter um efeito positivo na pressão arterial. O que é único na nossa variável de estudo é que inclui todas as atividades semelhantes ao exercício, desde subir as escadas a uma pequena volta de bicicleta, muitas das quais podem ser integradas nas rotinas diárias”, disse Jo Blodgett, um dos autores do estudo.

Em Portugal, segundo o Serviço Nacional de Saúde, estima-se que a hipertensão arterial – ou seja, acima dos valores considerados normais – afete cerca de 42,6% da população adulta. As pessoas que têm uma pressão arterial mais elevada estão sujeitas a um maior risco de vir a desenvolver doenças cardiovasculares, como acidentes vasculares cerebrais e ataques cardíacos.

Para o estudo foram analisados dados de quase 15 mil pessoas, monitorizadas através de sensores que mediram os seus movimentos 24 horas por dia. Em média, os participantes passaram cerca de sete horas do seu dia a dormir, dez horas a ter comportamentos sedentários – que incluem o estar sentado -, três horas de pé, uma hora a caminhar a ritmo lento, uma hora a caminhar rapidamente e 16 minutos a praticar exercício físico de forma mais intensa.

Segundo os dados obtidos, apenas cinco minutos de exercício resultaram numa redução da pressão arterial sistólica em 0,68 mmHg e da pressão arterial diastólica em 0,54 mmHg. Foi ainda possível verificar que a prática de exercício durante um maior período de tempo – cerca de 20 minutos – resultou numa redução ainda maior da pressão arterial.

Os investigadores acreditam que as novas conclusões ajudam a reforçar a ideia de que mesmo pequenas quantidades de exercício físico têm efeitos significativos na saúde do coração. “A descoberta de que fazer apenas cinco minutos extra de exercício ou atividades intensas por dia pode estar associado a leituras de pressão arterial mais baixas enfatiza o quão poderosos podem ser os curtos períodos de movimento de maior intensidade para o controlo da pressão arterial”, explicou Emmanuel Stamatakis, especialista envolvido no estudo.

LUÍS MONTENEGRO
Primeiro-ministro

Ignorar a indecência

A atitude mais decente é aprender a compreender, às vezes respeitar, e finalmente ignorar a indecência dos que não têm cura…Aos 20 anos e nos anos seguintes, combati alguns indecentes e algumas indecências com impulsividade, com impaciência, com revolta e, no “fim do dia”, com sofrimento.Os 31 anos que passaram entretanto ensinaram-me que, quando nos conseguimos colocar no lugar dos outros, é possível compreender as suas falhas e, às vezes, respeitar as origens das suas perturbações. Mas uma coisa é certa: os indecentes incorrigíveis e as indecências intencionais e indesculpáveis, além da repressão legal (quando é o caso) só nos podem merecer uma atitude. A atitude da indiferença, da relativização, do desprezo. Porque é intolerável dar ao indecente a vitória de fazer sofrer o decente!Se tivesse percebido isso mais cedo, teria evitado muitos momentos de intranquilidade e inquietação. E teria vivido mais tempo de bem-estar, afinal de contas o prémio devido a uma pessoa ou comunidade decente.

CAPICUA
Cantora

Escolher por paixão

Aos 20 anos, a vida é passional. As amizades e os amores são intensos. As convicções e as venerações são fervorosas. As vontades são férreas e, apesar de tudo parecer questão de vida ou morte, ainda temos a ilusão da imortalidade. Aos 20 anos, disfarçamos as nossas dúvidas e inseguranças de certezas inabaláveis e projetamos o peito inchado à super-herói. Mas ainda que gostemos de fingir normalidade e agir como se soubéssemos o caminho, raros são os que têm uma ideia de futuro desenhada, uma vocação definida. O mundo tem pressa para saber ao que vimos e nós ainda nem sabemos quem somos, do que gostamos… Aos 20, gostava que me tivessem dito que tinha tempo, que a maioria das profissões do futuro ainda não tinham sido inventadas, que não é preciso escrever na pedra um diploma que podemos escolher mais adiante e que, quando tudo der errado, pode ser o nosso hobby a safar-nos. Gostava que me tivessem dito que todos os saberes e interesses são igualmente importantes, que o saber teórico não vale mais do que um ofício, que a Ciência não vale mais do que a cultura, que o doutor não vale mais do que a enfermeira e que ser poeta também é uma profissão. Gostava que me tivessem dito que a estabilidade acabou e que, apesar do medo, abrem-se novas possibilidades, o peso de escolher um curso “com saída” para ter uma profissão para a vida deixou de fazer sentido, podemos escolher por paixão, estudar sempre, trabalhar no que gostamos e já que a instabilidade é garantida, que haja diversão.

DANIEL SAMPAIO
Médico psiquiatra

Curiosidade e desafio

A ideia ou conselho que gostaria de ter ouvido aos 20 anos, a idade mais bela da vida: Sê curioso em cada minuto da tua vida e nunca hesites em lutar pelos teus sonhos.E manda calar aqueles que dizem que és muito novo e tens de crescer.

NUNO MARKL
Humorista

Cala-te e ouve

Suponho que aos 20 anos adorava que alguém me tivesse dito: “Escuta, pá. Sabes essa arroganciazinha, essa ideia de que para se ser um tipo cool tem de se ser sobranceiro, snob ou mesmo desagradável? Esquece lá isso. Daqui a uns tempos, ser desagradável vai ser a norma. Vai ser o mainstream. A gentileza, a empatia, a solidariedade vão ser o novo rock ‘n’ roll, talvez o novo punk. Por isso, bem podias ir já treinando, em vez de estares para aí a dizer que quem gosta da fase mais comercial do Bowie é uma besta ignorante – sobretudo quando, ainda por cima, TU gostas da fase comercial do Bowie.” Bem, seria ótimo que as tensões se cingissem a debates sobre fases mais e menos comerciais de artistas. Infelizmente, há meio mundo a desejar o mal do outro meio, por, basicamente, tudo – desde as coisas maiores às mais pequenas. Adorava que, aos 20 anos, alguém me tivesse dado uma valente ensaboadela sobre as virtudes de uma pessoa se calar um bocadinho para ouvir. É tão útil que o meu filho ainda só tem 15 e eu já lhe dei a tal ensaboadela mais do que uma vez.

MARCELO REBELO DE SOUSA
Presidente da República

Há desafios eternos

Uma ressalva inicial, óbvia: é facílimo julgar ou apenas apreciar o passado da frente para trás.Tinha 20 anos. Era 1968. António de Oliveira Salazar saíra, depois de longas décadas de poder. O que unia muitos de nós, na diversidade dos caminhos, chamava-se democratização, descolonização, desenvolvimento ao compasso da Europa. As nossas metas eram poucas, essenciais e de curto prazo.Pensávamos nós.Lição não aprendida ‒ não uma, mas duas.Primeira ‒ Democratizar, descolonizar e desenvolver seriam não uma mudança instantânea, questão de Constituição, de leis, de poder político, mas processos longuíssimos. E isso não antevíamos. Oito anos para a Democracia plena. Vinte e dois anos para chegar à CPLP. Uma luta sem fim para desenvolver uma sociedade subdesenvolvida. E, nesse percurso, 12 anos até à integração europeia e 24 até à aprovação da moeda única.Segunda ‒ Enquanto iríamos calcorrear essas rotas das pedras, a Europa e o mundo não estavam parados. Antes o tempo aceleraria, de modo impensável, mesmo naquele 1968. Alucinantemente. Estas as lições que só aprendi depois de ter 20 anos, em 1968.A vida é assim.Naquele tempo, o que parecia – e era – prioritário, era sonhado para o dia seguinte, os dias seguintes, as semanas seguintes, os anos seguintes. Não foi assim. Mudar um Império, uma ditadura, uma sociedade por desenvolver, demora muito mais tempo.É mesmo um desafio para sempre.

BERNARDO SILVA
Futebolista

Sem limites

Diria ao meu eu de 20 anos que o esforço e o foco para atingir os meus objetivos valem a pena. E para nunca deixar de sonhar alto, nem meter limites no que posso conquistar.

E, no meio de tanto, aproveitar cada momento, pois tudo passa demasiado rápido.

ALEXANDRA LEITÃO
Deputada

Respeitar e ter empatia

A ideia de escrever uma carta a um filho ou filha, quando este ou esta atinge a maioridade e, por isso, inicia o seu percurso na vida e na comunidade como cidadão pleno, é tão maravilhosa como rara nos tempos que correm. Saúdo, por isso, a Mafalda Anjos.

Na verdade, em tempos de imediatismo, de intolerância, de egoísmo, de tribalismos e acantonamentos, em que a misoginia, a xenofobia, o racismo, a desigualdade e o ódio parecem ressurgir como já não achávamos possível, emerge como fundamental, de forma quase binária, a separação entre o que é decente e o que não é. E, perante esta opção primordial, tudo o resto é secundário.

Tenho também duas filhas, já maiores. Considero-me uma mãe simultaneamente exigente e respeitadora da liberdade individual e das escolhas das minhas filhas, seja no plano estritamente pessoal, seja na sua mundividência ou no seu posicionamento político. Valorizo, em família como na sociedade, a diferença, o pluralismo e a diversidade. Não impor aos outros as nossas conceções de vida, ideológicas, religiosas ou outras, é um valor em si mesmo.

Mas sempre procurei deixar duas ideias muito claras às minhas filhas: que cometer erros é inevitável, mas que devem tentar não cometer erros irreversíveis; e que devem sempre esforçar-se por pautar o seu comportamento de modo a ser dignas do respeito dos outros. Ser decente é isso: é respeitar e ter empatia pelos outros como iguais. E, por isso, ser também digno do respeito e da empatia dos outros.

DINO D’SANTIAGO
Cantor

Somos seres emocionais

As tuas emoções estão sempre certas. Se estás a sofrer, procura ajuda, junto de quem confias. Cuidar da saúde mental é importante para que te tornes um ser emocionalmente saudável, equilibrado e para que os teus sonhos não sejam limitados pela energia do medo. Já diziam os meus ancestrais, que o melhor negócio será sempre “vender o medo para comprar coragem”. Nu Bai! [“Vamos!”, em crioulo.]

INÊS MENESES
Comunicadora

Uma caixa de primeiros socorros à mão

Em 1989, eu ainda não tinha 20 anos nem o calendário universal se compadecia com o ritmo da minha adolescência. Don Henley (The Eagles), juntamente com Bruce Hornsby (um cantautor genial e discreto), escrevia uma canção chamada The End of the Innocence que ecoou longamente num verão, como se tivesse sido a minha vida inteira. Estávamos em grupo na praia a cantar isto repetidamente e ao mesmo tempo a pensar o que seria o fim da inocência. Não faltaria muito, foi mesmo ali a rondar os 20 que descobri que a inocência conheceria vários fins. Como o verão. Como o tempo da praia. O fim da inocência era afinal um compasso da vida. Aconteceria mais. Muito mais. Um refrão que não foi pedido.

Talvez em retrospetiva, gostasse que alguém, um dia, me tivesse dito que o fim da inocência, que primeiro parece só acontecer uma única e dolorosa vez, se iria repetir pela vida fora. Que dói muitíssimo, porque achámos que foi ali mesmo que deixámos de ser crianças, mas que, depois, vai continuar a doer de cada vez que nos magoarmos, nos enganarmos ou nos desiludirmos. O fim da inocência não acontece só uma vez, como ingenuamente pensámos. É uma ferida repetida que nos apanha desprevenidos pela vida fora. Devíamos ter uma caixa de primeiros socorros sempre connosco. Era essa a lição que gostava de ter recebido.

Tive sorte, porque a música me amparou na queda. Nas sucessivas quedas, de cada vez que a inocência ameaçou perder-se.

DULCE MARIA CARDOSO
Escritora

Reinventar a felicidade e o bem

Olho para os meus 20 anos, agora que tenho o triplo dessa idade. Imagino alguém que tenha neste momento 20 anos, a olhar para nós, aqui, a partir de 2064. O que esse alguém gostará que eu lhe diga talvez seja diferente do que eu gostaria que me tivessem dito em 1984.

O que gostaria que me tivessem dito, em 1984?

Qualquer coisa mais ou menos assim:

Considera-se que estás, agora, por tua conta. Não te esqueças de que os outros cuidaram de ti (formaram-te, deformaram-te) para que sejas uma cidadã útil. A felicidade foi-te apresentada como subproduto da utilidade, mas isso não é verdade. Ou se é, não devia ser. Cabe-te a ti mudar ou pelo menos contribuir para a mudança. O que os outros querem que faças de ti, não tens de o fazer. Não tens de usar a tua vida para lhes agradar, para lhes arrancares aprovação. Não tens de te reconhecer no coro indistinto que te cerca e ensurdece. O teu valor mede-se pela tua felicidade não pela tua utilidade. Reinventa a felicidade. A tua. Persegue-a. Deita fora as máscaras que te oferecem. Aprende a sem-vergonha da nudez. Não esqueças, no entanto, de que a vida é uma batalha contra a solidão. Precisas dos outros. Está atenta aos outros. Não para os receares, mas para os cuidares. Nada te é devido. Tudo te é devido. Nada deves. Tudo deves. A contabilidade social é um assunto complexo. A afetiva mais ainda. Não desistas nem de uma nem de outra. Reinventa o Bem. Tem calma. A pressa é inimiga das vontades que importam. Boa sorte.

Os que neste momento têm 20 anos talvez já façam parte da primeira geração amortal. Mesmo quando já nenhuma doença nos matar, continuaremos a existir, nós humanos, como fonte de sofrimento uns dos outros. E de felicidade também. Afinal talvez lhe deva dizer o mesmo que gostaria que me tivessem dito. A felicidade é um vírus bom. Desde que estejamos disponíveis para nos chegarmos a todos, desde que queiramos contagiar todos. Mas todos, mesmo, os que são mais de oito mil milhões agora.

Em nome da decência

Estes testemunhos fazem parte do prefácio colaborativo de Carta a um Jovem Decente, em que Mafalda Anjos convidou 20 personalidades para partilharem o que gostariam de ter sabido aos 20 anos

Como nos relacionarmos com os outros? Como aproveitar bem a vida e lidar com as adversidades? Como navegar no digital sem ser enredado? Quais os conceitos políticos elementares para pensar pela própria cabeça? As respostas a estas e a outras perguntas tentam ser dadas por Mafalda Anjos, ex-diretora da VISÃO, num livro que, como ela afirma, começou para ser escrito para os seus quatro filhos, mas que decidiu alargar à reflexão de todos os jovens, pais, avós, educadores e aos que se interessam pela vida pública. Ou, como Mafalda Anjos também escreve, “um pequeno manual sobre como não ser um imbecil”.