Sabia que foi no ano de 1933 que o formato “PDF” foi criado por uma conhecida empresa para facilitar a acessibilidade ao conteúdo de um documento, de forma segura e independente do sistema? Numa época em que os faxes eram reis e as máquinas de escrever eletrónicas estavam no seu apogeu, o que estava em causa era a fiabilidade da informação e a facilidade da sua transmissão.

Atualmente, quando se fala em reforma da justiça, necessariamente temos de ponderar os meios informáticos à disposição de quem atua no setor da justiça.

Utilizar um computador apenas como máquina de escrever ou recetáculo de documentação eletrónica é desperdiçar recursos e energias. 

Se um órgão de polícia criminal ou um perito  produzir um documento de texto, para o mesmo dar entrada num processo, o mesmo atualmente terá de ser impresso, assinado, enviado e do outro lado um oficial de justiça terá de perder horas a digitalizar não só esse documento, como os muitos produzidos diariamente para cada um dos processos, correr um programa para reconhecer carateres e finalmente, com erros, ser novamente integrado num ficheiro informático, como anexo, no tal formato pesquisável de PDF, numa base de dados estática.

Claro, há expedientes que são enviados informaticamente, porém aí o desafio é o limite de espaço: 15 Mb ou 20 Mb são pouquíssimo para enviar documentos.

O desafio atual não são mais digitalizadores – é o sistema informático aumentar a eficiência e rapidez da atividade processual e o processo decisório. Um dos caminhos apontados é a utilização de sistemas LLM’s, vulgo inteligência artificial, que permita analisar e produzir informação. Esse tipo de sistema é classificado como de risco elevado, porquanto podem colocar em causa o direito à dignidade humana e à não discriminação bem como os valores essenciais da igualdade e da justiça. 

Por isso mesmo é essencial que estejam, tal como acontecesse noutros países, sujeitos à tutela de quem os gere e produz, mormente o poder judicial (e o Ministério Público, como autoridade judiciária, na fase de inquérito).

Também por isso essencial para Portugal a existência de um sistema informático que permita a interoperabilidade dos dados entre polícias, operadores judiciais e tribunais, para que todos trabalhem juntos de maneira eficiente, promovendo e fazendo justiça.

Se tem sido notícia que a PGR terá um sistema informático inovador para a fase de inquérito e com capacidade de dados serem utilizados na fase de audiência de discussão e julgamento, não será um desperdício de recursos e má gestão a não utilização de uma tal ferramenta inovadora? Replicar a lógica do papel nos computadores não é a solução para uma justiça mais célere e eficaz. 

Por outro lado, deificar a inteligência artificial, com o pretexto de redução de erros humanos, garantindo maior consistência do algoritmo e padronizar decisões judiciais, também não é igualmente a solução. Com efeito, o princípio da alucinação na inteligência artificial é algo real – às vezes os sistemas criam respostas que não são verdadeiras ou com base em dados inexistentes, minando a confiança no sistema de justiça.

Por isso mesmo, um novo paradigma de justiça é necessário – um que, para além do armazenamento, permita a análise de documentos, incluindo a capacidade de compreender contextos jurídicos complexos, para que seja sejam produzidas informações de suporte, com maior profundidade, essenciais à produção de decisões judiciárias humanas, garantindo o controle, transparência e segurança de todos os dados. A justiça é dos homens e para os homens. Apenas uma decisão de natureza humana, baseada em regras claras e pré-determinadas, pode ser fundamento, fonte de legitimidade e proporciona a confiança da sociedade no sistema judicial.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Os auriculares com formato open-ear já não são uma novidade, mas continuam a tentar impor-se como uma alternativa aos modelos tradicionais. Para isso, não é apenas a qualidade sonora que importa. O design dos FreeArc permite um encaixe muito confortável na orelha, ao ponto de quase nem os sentirmos, algo salientado pela construção maioritariamente em silicone.

No entanto, não passam despercebidos, tanto pelas dimensões como pelo tamanho considerável da caixa de carregamento. Dado o formato dos auriculares, seria difícil reduzir significativamente o volume da caixa, mas, em bolsos mais pequenos, o transporte pode tornar-se incómodo e comprometer a portabilidade.

Boa qualidade sonora

Em testes anteriores com outros modelos open-ear, ficámos algo desiludidos com o desempenho do som, mas desta vez a experiência foi diferente. A qualidade sonora dos FreeArc impressionou-nos pela positiva. Embora não consigam entregar o impacto sonoro dos melhores auriculares tradicionais, garantem um som convincente, tornando-se uma opção válida para diversas situações. Os graves, apesar de não serem extremamente impactantes, mantêm um nível de qualidade satisfatório, e mesmo em volumes elevados não sentimos qualquer distorção. Já os agudos são nítidos e limpos, enquanto os médios permitem distinguir cada instrumento com clareza, proporcionando uma experiência auditiva equilibrada.

Mas é importante realçar que não contam com tecnologia de cancelamento de ruído (ANC) – até porque o propósito deste formato é justamente o contrário, permitir ao utilizador ter a perceção daquilo que se passa ao seu redor.

Design e resistência a ‘pensar’ no desporto

Ao contrário de muitos auriculares tradicionais, que tendem a cair das orelhas com o movimento, estes mantêm-se firmes. Para quem pratica desporto, são uma opção válida, permitindo correr, saltar ou abanar a cabeça sem que saiam do lugar. Graças ao design ergonómico, garantem estabilidade e proporcionam música sem interrupções.

Outro ponto de destaque é a certificação IP57, que assegura resistência ao pó e a imersões na água até cerca de 1,5 metros de profundidade. Isto elimina qualquer preocupação com o suor ou com uma chuvada inesperada durante o treino. Além disso, a limpeza torna-se mais simples, pois podem ser lavados com água, garantindo uma higienização eficaz – algo que não é possível com a maioria dos auriculares.

O design open-ear impede que os auriculares escorreguem da orelha

Personalização q.b.

A aplicação AI Life permite algumas personalizações, embora em menor quantidade do que nos auriculares tradicionais, em parte devido à ausência de cancelamento ativo de ruído (ANC). Ainda assim, é possível ajustar alguns detalhes, como o modo de som preferido. Entre as quatro opções disponíveis – Predefinido, Acentuar, Aumentar Agudos e Vozes – optámos pelo modo Vozes, que garante um som mais impactante e expressivo. Além disso, através de um equalizador manual, é possível criar um perfil de som personalizado de acordo com as preferências do utilizador.

Outro aspeto personalizável é a função atribuída a cada toque no painel tátil dos auriculares. Este painel destaca-se pela excelente sensibilidade ao toque e pela resposta imediata, um detalhe relevante, já que frequentemente encontramos dificuldades com sensores táteis em outros auriculares.

Os FreeArc suportam a sincronização com dois dispositivos em simultâneo, um detalhe importante, pois permite estar ligado, por exemplo, ao portátil e ao smartphone, com deteção automática da origem do som. Assim, ao reproduzir música em qualquer um dos dispositivos, os FreeArc identificam a fonte e iniciam a reprodução sem necessidade de troca manual.

Autonomia e carregamento

No que toca à autonomia, apesar de ser bastante satisfatória, garantindo cerca de sete horas de utilização contínua, deixa-nos com um sentimento algo agridoce. Tendo em conta que não incorporam tecnologia ANC, seria expectável uma autonomia superior, especialmente quando comparados com outros modelos no mercado que disponibilizam cancelamento de ruído e uma duração de bateria semelhante. Por fim, destaca-se o desempenho do estojo de carregamento, que, em apenas 10 minutos, proporciona cerca de três horas de audição. Quando totalmente carregado, disponibiliza um total de 28 horas de reprodução.

Tome Nota
Huawei FreeArc – €199
Site: huawei.com/pt

Som Bom
Ergonomia Muito Bom
Autonomia Muito Bom
Conforto Muito bom

Características Driver 12 mm ○ Cancelamento de ruído para chamadas, Efeitos sonoros Multi-EQ ○ Codecs: SBC, AAC ○ Autonomia anunciada: 7 horas ○ Bluetooth 5.2 ○ Capacidade da bateria (estojo): 510mAh ○ Carregamento total (UBS-C): 1h ○ Dimensões: 45,4×18,35×47,5 mm ○ IP57 ○ Peso: 8,9 g (auriculares) ○ 67g (caixa)

Desempenho: 4,5
Características: 3,5
Qualidade/preço: 3,5

Global: 3,8

Jantar com amigos. Um comentário sem graça. Um sorriso automático. Um dia exaustivo. Alguém pergunta se está tudo bem e a resposta sai rápida e ensaiada: “Sim, claro!”. Não precisamos do Carnaval para usar máscaras – fazemos isso diariamente, quase sem perceber. E se, por um lado, essa camuflagem emocional nos protege, por outro, pode afastar-nos da nossa essência. Afinal, até que ponto conseguimos carregar esta encenação sem que o peso se torne insuportável?

A sociedade ensinou-nos a disfarçar sentimentos como um ator que domina a sua personagem. Desde cedo ouvimos comandos como “não chores”, “sê forte” ou “mantém-te firme”. Criamos, assim, um repertório de expressões socialmente aceites, ensaiamos sorrisos e contemos gestos, como se a vulnerabilidade fosse um erro a corrigir.

E há ciência por trás desta performance. O nosso cérebro é programado para procurar aceitação. A amígdala, a guardiã das emoções, dispara sinais de alerta sempre que sentimos medo ou angústia. Mas o córtex pré-frontal – aquele que nos ensina a ser civilizados – modula essas respostas para que possamos navegar no mundo sem parecer frágeis ou descontrolados. O problema? Quando mascaramos emoções repetidamente, começamos a perder o contacto com elas, acumulando tensão, ansiedade e solidão disfarçada de normalidade.

Quando a máscara começa a apertar

No início, pode parecer leve. Uma expressão polida aqui, uma emoção reprimida ali. Mas, com o tempo, o hábito de esconder o que sentimos começa a pesar. A exaustão emocional instala-se silenciosamente. O riso forçado num dia difícil transforma-se em desconforto; a incapacidade de dizer “não” resulta em cansaço; a necessidade constante de agradar aos outros esgota a autenticidade. Fingimos que não nos importamos, mesmo quando algo nos magoa. Dizemos estar bem, mesmo quando tudo grita o contrário. Construímos um personagem tão convincente que, por vezes, até nós próprios acreditamos nele. E então vem a grande questão: se nunca mostramos ao mundo quem realmente somos, como poderemos sentir-nos verdadeiramente aceites?

Despir a máscara

Experimente doses graduais de verdade – Não é necessário um monólogo dramático sobre os seus sentimentos em cada conversa. Pequenos gestos bastam: trocar um “está tudo bem” automático por um “foi um dia difícil, mas estou a gerir” já é um começo.

Crie espaços seguros para sentir – Emoções reprimidas não desaparecem, apenas se acumulam. Seja através da escrita, da arte, da terapia ou de uma conversa honesta, dar nome ao que se sente ajuda a aliviar o peso.

Observe os seus padrões – Que emoções tem mais dificuldade em expressar? Em que contextos sente que precisa de se esconder mais? A resposta a estas perguntas pode revelar muito sobre onde a máscara está mais apertada.

Lembre-se: vulnerabilidade não é fraqueza – Ser autêntico pode ser desconfortável no início, mas cria ligações mais genuínas. Permitir-se sentir é um ato de coragem, não de fragilidade.

O baile não acaba só porque decidimos ser autênticos  

As máscaras podem ser úteis, mas a longo prazo, são exaustivas. Entre a necessidade de nos protegermos e a vontade de nos mostrarmos como somos, o equilíbrio é essencial. Afinal, que sentido faz dançar neste grande baile da vida se nunca tivermos a ousadia de tirar a máscara? Talvez, ao arriscar revelarmo-nos, descubramos que não há nada mais libertador do que sermos vistos – e aceites – exatamente como somos.

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Palavras-chave:

A imagem do copo meio vazio, ou do copo meio cheio, é das mais usadas no campo da autoajuda, mostrando-nos qual é a perspetiva com que encaramos o mesmo meio copo. Mas um copo vazio é um copo vazio. Não há nada a fazer. Há uma falta de líquido que, qualquer que seja a perspetiva, nunca lá estará. Pior, se está vazio é porque antes esteve cheio. Um copo vazio é a imagem do líquido que se perdeu e é, ainda muito pior, a imagem negativa do oásis: se o oásis é a miragem da água que se deseja beber, o co(r)po vazio é a certeza de não vir a matar a sede.

O copo vazio é a perfeita síntese deste livro de Natália Timerman, a história de uma perda, do fim de uma relação amorosa, que deixa esse vazio imenso que é um copo sem nada. Mas é uma perda, e esse é o drama da narrativa, que vai além da perda em si. No texto de Natália, a perda é uma perda que se arrasta no tempo, que se torna como que constitutiva daquela que a sofreu, a personagem central do romance, e que é sobretudo uma sede. Uma perda que para a personagem nunca é definitiva e, por isso, está lá sempre presente como uma sede imensa que não se consegue matar.

Quantas perdas todos nós temos na vida, sejam perdas de pessoas com quem nos relacionamos afetivamente de forma mais intensa e prolongada, sejam os amigos de quem fomos muito próximos, confessores e confessados. Experimentei ambas, e todas elas nos deixam essa sensação que não é simplesmente a ideia trivial que nos diz que qualquer pessoa, sendo única e irrepetível, é insubstituível. Não, não é nada disso. É que algumas pessoas, poucas, mais que deixarem um vazio, deixam uma vontade de estar com elas que é implacável na forma como se impõe.

Mirela, a quem Pedro desapareceu, passa a ser essa imagem do copo vazio que nunca consegue corresponder à sede que tem. Uma sede de Pedro que a leva quase à loucura, apesar todas as técnicas para superar a perda, especialmente a substituição por Rui. Uma perda tão forte que, para Mirela, à medida que se desvanece a memória de Pedro, aí sim, a perda toma o seu lugar. Pedro passa a ser a perda. E Pedro passa a ser inconcebível sem ser ausência.

E a principal imagem nesta conceção de perda que passa a ser a natureza daquilo que é perdido, encontra-se na forma como a perda acontece. Regressando a tudo o que todos nós já vivemos, a todas as perdas com que fomos vivendo, algumas delas vão sendo construídas, outras ocorrem abruptamente. As construídas, como que encerram nesse processo um luto que se vai fazendo; as outras, as inesperadas, carecem sempre da presença do corpo que permite o luto. Assim é Mirela e Pedro. Apenas com o Pedro-ausente, não há luto possível. O copo vazio é também o corpo igualmente vazio.

Um dia, sem mais nem menos, o Pedro que no dia anterior era parte central numa vida, desaparece. Sem sinais, muito menos, sem notas ou justificações, apenas se eclipsa. Esta forma abrupta de nos apresentar a perda, rasga o tempo e o espaço numa narrativa escrita de forma esplendorosa. O arrastar do primeiro ano depois desse desaparecimento misterioso, mostra-nos uma vida totalmente centrada nessa perda. Já não necessariamente o Pedro que desaparecera, mas o que de constitutivo a perda se tornara em Mirela.

Não fosse Natália Timerman médica psiquiatra, e mestre em psicologia, e talvez nos fosse mais difícil apanhar a profundidade existencial que foi colocada nesta personagem. Cansados e esgotados, tantas vezes, por correr atrás de perdas, não percebemos que são essas perdas que possivelmente nos formam.

Aliás, arrisco dizer que mais que sermos aquilo que conseguimos adquirir e manter, somos aquilo que perdemos. Somos as inúmeras sedes que nunca conseguimos matar, somos os copos vazios que não conseguimos encher.

Este livro de Natália Timerman é uma obra espantosa, de leitura de um só folego, que merece ser editada em Portugal com a maior brevidade possível.

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A 97.ª cerimónia de entrega dos Oscars teve lugar esta madrugada no Dolby Theatre, em Los Angeles, Estados Unidos. A cerimónia, que premiou o que melhor se fez no mundo do cinema em 2024, foi conduzida pelo humorista e apresentador Conan O’Brien, uma estreia na apresentação de uma das noite mais aguardadas do ano.

A tão aguardada cerimónia ocorreu cerca de dois meses depois dos incêndios que devastaram a ‘cidade dos anjos’ e que chegaram até muito perto do histórico bairro de Hollywood.

A edição deste ano contou com 23 categorias. O musical francês “Emilia Pérez” liderava a nomeações – com 13 categorias, incluindo Melhor Filme – seguido por “O Brutalista”, de Brady Corbet, e “Wicked”, de Jon M. Chu, ambos com 10 nomeações, mas foi “Anora”, de Sean Baker, a vencer o Oscar de Melhor Filme. À estatueta mais cobiçada, a película foi premiada com os Oscars para Realização, Argumento Original, Montagem e, surpreendentemente Melhor Atriz, com Mikey Madison a derrotar a grande favorita Demi Moore (“A Substância”).

O filme brasileiro de Walter Salles, “Ainda estou aqui”, estava nomeado para Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres, que se tornou na segunda atriz brasileira nomeada para a premiação, depois da mãe, Fernanda Montenegro, em 1999. Fernanda Torres não ganhou o Oscar para Melhor Atriz, mas “Ainda Estou Aqui” ganhou o Oscar de Melhor Internacional, o primeiro para o Brasil.

Lista completa de vencedores

Melhor Filme: Anora

Melhor Realização: Sean Baker – Anora

Melhor Atriz: Mikey Madison – Anora

Melhor Ator: Adrien Brody – O Brutalista

Melhor Atriz Secundária: Zoe Saldaña – Emilia Pérez

Melhor Ator Secundário: Kieran Culkin – A Verdadeira Dor

Melhor Animação: Flow 

Melhor Curta-Metragem Animação:In the Shadow of the Cypress

Melhor Argumento Original: Anora

Melhor Argumento Adaptado: Conclave

Melhor Filme Internacional: Ainda Estou Aqui

Melhor Banda Sonora Original: O Brutalista

Melhor Canção Original: El Mal – Emilia Pérez

Melhor Montagem: Anora

Melhores Efeitos Visuais: Duna: Parte 2

Melhor Som: Duna: Parte 2

Melhor Fotografia: O Brutalista

Melhor Guarda Roupa: Wicked 

Melhor Cabelo e Maquilhagem: A Substância

Melhor Curta-metragem: I’m not a Robot

Melhor Longa-metragem Documental: No Other Land

Melhor Curta-metragem Documental: The Only Girl in the Orchestra

Palavras-chave:

Hoje, todas as olheiras são justificadas. Muitas delas, tais como as minhas, não serão culpa de uma noite carnavalesca que se estendeu para lá do previsto. Há muito tempo que não sentia tanto bruááá à volta da entrega das estatuetas mais ambicionadas da indústria do cinema (até tive direito a um mini grupinho de Whatsapp para partilhar emoções em tempo real). Razões não faltaram para esta noite de insónia, em direto com o Dolby Theatre, em Los Angeles. 

A primeira só a mim me diz respeito, pois foi para em primeira mão lhe dizer, caro leitor, que a atriz Fernanda Torres não ganhou o prémio de Melhor Atriz. Gostava de estar a acordá-lo com notícias mais felizes, mas nem tudo se perdeu na noite dos Oscars. Mas já lá vamos, que ainda não elenquei todas as razões para ter decidido escapar à cama nesta noite. 

Ia na segunda, não é? Pois, essa prende-se com o anúncio dos nomeados ter sido adiado uma semana devido a dificuldades logísticas causadas pelos enormes incêndios que consumiram Hollywood e atingiram as casas de muitas das estrelas que nos habituámos a ver no grande ecrã. Ontem à noite, como seria de esperar, houve várias referências a esses fogos e até uma homenagem ao corpo de bombeiros que andou a lutar com as chamas.

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Comecemos por falar de Stella Maris, um lugar da infância dos irmãos Enric e Irene, na Catalunha, em Espanha, que dá também nome a um sexteto pop composto por seis irmãs, que cantam o amor a Cristo, apelando à devoção, numa lógica de que estão a prevenir o fim do mundo – ou não se intitulassem “deusas do sol”.

Enric já é adulto quando vê e ouve o grupo musical religioso em videoclips virais na Internet e começa a procurá-lo. Não só perdeu o rasto a estas seis irmãs como a Irene e à própria mãe, Montserrat, uma mulher negligente, depravada, que degenera apesar de se julgar uma santa.

Qualquer semelhança com o grupo pop cristão Flos Mariae é segundo a dupla criativa pura coincidência. Foto: DR

Quase todas as personagens de A Messias vão ter três atores a representá-las em diversas fases da vida, o que faz com que a série tenha várias linhas cronológicas que explicam o passado e o presente. O trauma de um incêndio, da clausura e da privação, os segredos gerados pela austeridade típica de uma seita são traços que enriquecem as histórias individuais, dando-lhes várias camadas nas diferentes idades.

A Messias, da dupla espanhola Los Javis, Javier Ambrossi e Javier Calvo (La Llamada, Paquita Salas, Veneno), que se estreou, em 2023, no Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, é um drama de suspense psicológico que vai do thriller ao musical, num registo muito cativante, diferente do tom cómico de outras criações de Los Javis.

Ao abordarem uma das muitas formas de fanatismo religioso – em que o sagrado interfere na educação – falam também da arte como salvação, escape ao medo e permissão para sonhar.

Qualquer semelhança com o grupo pop cristão Flos Mariae, as sete irmãs Bellido Durán que cantaram entre 2013 e 2021, é segundo a dupla criativa pura coincidência. Ao site Cinemanía, Javier Ambrossi garantiu: “É uma história original em que parte é investigação, e mais de metade é pura, pura originalidade e imaginação.”

A Messias > Estreia 3 mar, seg 22h10 > TVCine Edition e TVCine+ > 7 episódios, um por semana

Com o romance de estreia, As Primeiras Coisas, de 2013, venceu o Prémio Saramago e deu-nos a conhecer o Bairro Amélia, que é um território de ficção, mas se inspira diretamente no Vale da Amoreira, no concelho da Moita, bairro ocupado por quem chegava das ex-colónias em 1975, como o seu pai, onde cresceu. Nascido em 1978, diz-se “filho do 25 de Abril” e da democratização do País, mas, hoje, não hesita em assumir-se de direita.

O seu mais recente romance, Toda a Gente Tem um Plano (Quetzal, 216 págs., €18,80), volta a aproximar-nos da vida nos bairros suburbanos, e das derivas que daí podem nascer. Acompanhamos Calita, uma personagem que tanto nos atrai como repele, sempre à procura de um futuro, sempre a tropeçar. As semelhanças com a realidade não são mera coincidência.

Quando sentiu que a realidade do bairro onde cresceu, a sua vida e, sobretudo, as vidas à sua volta podiam transformar-se em literatura através de si?
Em 2007 o meu pai, que na altura estava a viver em França, veio de férias a Portugal. Contou-me muitas histórias e episódios do período em que o bairro começou, quando foi ocupado. Lembro-me de partilhar essas histórias, algumas bastante inacreditáveis, com um amigo e de ele me ter dito algo como “aí tens o material para o teu romance”.

Ficou a pensar no assunto…
Ele disse-me isso porque já lhe tinha falado de algumas tentativas que tinha feito, de uma aproximação a uma espécie de romance passado naquele ambiente. Mas nada do que eu tinha feito me soava a verdadeiro. Tinha as personagens, as situações, mas tudo me soava a falso, parecia vindo de alguém que não conhecia aquilo, a escrever de forma excessivamente melodramática, a querer fazer literatura. O tom não estava certo. Era tudo falso, só o meu desejo de escrever sobre aquele mundo era verdadeiro.

E como encontrou o tom certo?
Terá sido por volta de 2009, quando escrevi um texto que acabou por ser um dos últimos capítulos do livro As Primeiras Coisas, sobre o Zeca. Publiquei-o num blogue, que nem era um blogue literário…

Qual?
Era um blogue político, coletivo, o Cachimbo de Magritte. E fiz esse esboço de uma personagem, inspirada em alguém real, que até tinha esse nome. Foi aí que pensei: “E se eu fizer isto sobre mais personagens, acontecimentos, memórias?” Um pouco depois, pensei escrever sobre a experiência de, aos 15 anos, ter desistido da escola durante um ano para trabalhar num café lá do bairro. E quando comecei a escrever, percebi que já tinha alcançado uma tal distância em relação a esses acontecimentos que podia moldá-los literariamente. Gostei muito da sensação. Foi aí que comecei a encontrar o registo do que viria a ser As Primeiras Coisas.

No novo romance, Toda a Gente Tem um Plano, volta a escrever sobre uma personagem real. O Calita existe mesmo, certo?
Sim, mas chama-se Canina.

É alguém que conhece bem, ou houve um trabalho, quase jornalístico, de investigação?
Não houve grande investigação… O que houve foi uma afinidade entre duas pessoas, que cresceram no mesmo sítio e passaram uma parte significativa da infância e do início da juventude no mesmo lugar e que, depois, seguiram caminhos completamente diferentes. Já o tinha encontrado antes de escrever As Primeiras Coisas, e até inspirou algumas passagens e pormenores do livro. Voltámos a afastar-nos. Não éramos, propriamente, amigos. E há uns anos reencontrámo-nos, no Barreiro, onde vivíamos, ele numa casa abandonada. Fomos conversando, por acaso, e nunca cheguei a combinar nada como uma entrevista, ou algo assim. Numa das primeiras dessas conversas, ele disse-me: “Tens de escrever um livro sobre a história da minha vida.”

E ficou mesmo a pensar nisso…
Muitas vezes íamos no barco, os dois, numa viagem de 20 minutos, dava para me contar muitas coisas da vida dele, da infância, de que eu não fazia a mínima ideia. Era alguém que sempre que parecia que estava a recompor-se, sofria mais um golpe. A certa altura, sim, comecei a pensar que tinha de arranjar uma maneira de escrever sobre tudo isso, coisas que ele me contava em pequenos lampejos.

O Canina já leu o livro?
Não. Neste momento, está a trabalhar na Holanda.

Este livro sobre o Calita chegou numa altura em que a atualidade noticiosa nos pôs a olhar para bairros suburbanos, para jovens que são descritos como perigosos para a sociedade, para os acontecimentos que se seguiram à morte de Odair Moniz. Quando vê essas notícias, pensa em Calita, ou noutros “Calitas”? E em mal-entendidos que podem carregar injustiças no nosso modo de olhar?
Penso que além de um plano, toda a gente tem uma história. Eu não escrevo com essa intenção de corrigir os males do mundo, ou dar a conhecer uma realidade pouco conhecida… Mas acredito que a ficção, pelo seu método, que passa por aproximar-nos de vidas e histórias, permite furar a película que envolve as massas anónimas, seja de que estrato social forem, e olhar bem para casos individuais. O grande instrumento do romance é esse: permitir ver o indivíduo no seu todo, indo aos pormenores, ao seu interior. Nas nossas vidas, o que é que conhecemos das outras pessoas? Muito pouco… Perceções e generalizações que fazemos a partir de um ou outro pedaço de informação.

Mas sente que há uma injustiça nalgumas generalizações que se fazem quando rebentam estes casos nos chamados “bairros perigosos”?
Não me revolta, nem vejo como uma injustiça… O mundo é assim. Na maioria dos casos, vivemos com essas generalizações, que nos são confortáveis. O esforço humano que tínhamos de fazer para conhecer tudo, todos os contextos, é irreal, não é possível. Se uma pessoa vivesse com esse ideal de empatia… estoirava, não aguentava. Agora toda a gente fala de “empatia”, uma “empatia” completamente artificial e falsa, uma coisa idiota. Mas é importante que essa insensibilidade, que muitas vezes é um método de autodefesa e autopreservação, não degenere em ações que contribuem para agravar as injustiças. Eu não escrevo para corrigir perceções erradas, mas pode ser que, às vezes, tenha esse efeito colateral.

Se um leitor lhe disser “li o seu livro e senti imensa empatia pelo Calita e por pessoas como ele, obrigado”, fica irritado com essa tal “empatia”?
Ótimo. Se a pessoa se sentir bem, ótimo. Mas, na maior parte das vezes, sinto que essa questão da “empatia” é uma história que as pessoas contam para se sentirem bem consigo próprias. Não muda rigorosamente nada na vida das pessoas pelas quais dizem sentir empatia. “Ah, condoo-me com o sofrimento do outro.” E então?! E depois disso? Caímos quase no cliché do “coitadinhos dos pretinhos…”. Isso serve exatamente para quê? Para anunciares que és uma pessoa muito empática? O que muda na realidade? Mas amar uma personagem de ficção, sentir empatia por ela, é fácil, temos acesso a tudo, é uma construção. Na maioria dos casos, as pessoas não têm acesso a todos esses factos em relação aos outros. É mais fácil amares o Raskólnikov [personagem de Crime e Castigo, de Dostoiévski] do que o teu vizinho do 5º esquerdo.

Tem-se aproximado da chamada direita democrática em muito do que escreve, de opiniões partilhadas…
É engraçada essa necessidade de acrescentar sempre o “democrática” a seguir a direita. Antes era tudo corrido a “fascista”, agora já se fala em “direita democrática”, mas sempre em risco de contaminação, a qualquer momento caem para a extrema-direita e transformam-se em fascistas outra vez [Risos].

E parece ter alguma irritação com uma espécie de obrigação, em Portugal, de que todas as figuras das artes e letras sejam de esquerda. Ainda sente isso?
Ainda funciona assim…

Em 2020 assinou um manifesto [A Clareza que Defendemos], em que também estava o músico Samuel Úria, que levantou essa questão… Parece que é sempre surpreendente para a opinião pública ver figuras das artes a não alinharem pelos valores da esquerda.
É verdade. Muita gente olhou para o nome do Samuel Úria ali e pensou: “Mas porque é que este tipo é de direita?? Gosto tanto dele, canta tão bem, tem letras tão espetaculares…” Por defeito, estamos à esquerda. E se não estiveres, mais vale ficares calado, “pelo menos, disfarça e não digas que és de direita…”. No mundo das artes, e da literatura em particular, acho que isso não mudou muito desde meados do século XX, quando se dizia que havia uma ditadura política de direita no poder em Portugal e uma ditadura cultural de esquerda. Ainda é um bocadinho assim.

Coloca-se de fora dessa dicotomia ou assume-se como um escritor de direita?
Hoje não há grupos organizados, está cada um por si, mais ou menos… Os escritores não estão reunidos, não se encontram em partidos políticos. Há escritores de esquerda e de direita, mas estes últimos são mais difíceis de encontrar, é preciso procurá-los, alguns não quererão falar disso. Isso também não é o mais importante num escritor. Não me vejo como um “escritor de direita”.

Mas como alguém mais próximo da direita?
Claramente, sim. Não sou militante de nenhum partido, nunca fui. Mas identifico-me com o PSD, que tem correntes diferentes, como todos os grandes partidos, com algumas coisas da Iniciativa Liberal e até há coisas de um certo PS, não o atual, que não me repelem… Mas já votei PS, e não me arrependo.

Nesse assumir-se de direita há, também, um lado de irritação com uma certa esquerda?
Sim, muito. Estudei no ISCTE, no curso de História Moderna e Contemporânea, e lembro-me de uma vez estar a fazer um trabalho de grupo. Eu não tinha grandes conhecimentos de política, acompanhava a atualidade, mas não sabia quase nada dos fundamentos ideológicos de cada partido, não me identificava com nenhum… Tinha aquela atitude de concordar com umas coisas e discordar de outras, independentemente dos partidos e das ideologias. Até me lembro de ter votado no Bloco de Esquerda nas primeiras eleições em que concorreram, em 1999. Estava, então, nesse tal trabalho de grupo, para aí em 1997, e cometi a imprudência de dizer aos meus colegas que nas autárquicas desse ano tinha ponderado votar no CDS-PP. Percebi rapidamente que não devia ter dito uma coisa dessas… Fui logo ostracizado, olharam para mim como se tivesse dito que andava a violar velhinhas. Há um grande sentimento de superioridade moral da esquerda, sem dúvida. Eu sempre fui um bocado do contra, e ao ver algumas reações a certas coisas que eu dizia e escrevia, percebi que isso até me dava algum prazer.

Nasceu em 1978. Vê-se como um filho do 25 de Abril, resultado das chamadas conquistas de Abril?
Factualmente, se não tivesse havido 25 de Abril eu nem teria nascido [o pai de Bruno veio de Angola em 1975 e conheceu a mãe em Portugal]. Mas imaginando que havia um Bruno, mesmo assim… Sem o 25 de Abril esse Bruno não estaria aqui a ser entrevistado pela VISÃO, era muito improvável. A democratização, a escola pública alargada, as bibliotecas públicas… isso mudou tudo. Mesmo nos anos 90, ouvi gente na minha família a dizer que o Ensino Superior era para os filhos dos ricos. E eu senti bem esse fosso em relação aos meus colegas cujos pais já eram licenciados, um fosso enorme. Vivia a 40 minutos de Lisboa, mas era como se vivesse noutro planeta. As transformações que vieram do 25 de Abril permitiram que esse fosso fosse, pelo menos, disfarçado. Não sei se hoje não se está a aprofundar mais, outra vez.

Festeja o 25 de Abril?
Não, não desço a avenida, não saio à rua com cravos… Mas também não festejo o 25 de novembro [Risos]. Se a esquerda vê as comemorações do 25 de Abril como uma afirmação tribal, pronto, fiquem lá com a festa. Eu considero-me um filho do 25 de Abril, sim, e sei que essa é a grande data da transformação que houve em Portugal. Quando vêm com essa conversa do 25 de novembro… A data que marca o fim de uma ditadura de 48 anos foi o 25 de Abril, que deu início a um processo, que tem outras datas, claro. Tornou-se um jogo de disputa simbólica: a ver se tenho força suficiente para impor a minha data… Não festejo o 25 de Abril, mas passo aos meus filhos a importância de vivermos em democracia, com liberdade. E tenho um bocadinho de libertário, mas não sou maluco.

Isso do libertário, hoje, faz pensar naquela espécie de anarcocapitalismo do Javier Milei, na Argentina…
Às vezes, é preciso um tratamento de choque. As coisas podem chegar a um tal estado de entropia, que é preciso haver um choque. Como no caso de um sítio sem regras, de cada um por si, seria preciso um reforço do Estado para regular as coisas… Eu acredito no Estado ao serviço dos indivíduos, num Estado regulador, mesmo que mínimo… O problema é que um Estado que só regule tem pouco poder até para regular. Mas quando ganha força, já não quer ser só regulador e pode transformar-se numa grande máquina que se alimenta a si própria. Enfim, não vamos resolver aqui essas questões… Costuma dizer-se que as democracias são frágeis. Mas ainda bem que são, porque fortes são as ditaduras! São frágeis, chatas, é tudo aborrecido… É só gente sem carisma, uns chatarrões. O António José Seguro, por exemplo, que, coitado, até leva porrada, com uma fúria que não percebo, dos seus correligionários… Acho-o um tipo muito decente, comprava-lhe um carro usado, até dois, mas olho para ele e penso: “Eu não votava neste gajo.” É o rosto de quão aborrecida pode ser a democracia. E as pessoas querem emoções… O André Ventura dá emoções, não só aos seus eleitores como a muitos jornalistas, mesmo os que nunca votariam nele.

Esta dupla Trump/Musk, com tanto poder, assusta-o?
O excesso de poder é sempre mau. O poder absoluto corrompe absolutamente, não é? E quando há uma tal concentração de poder, isso é um perigo. Uma das coisas boas dos EUA é aquele sistema dos “checks and balances”, que, supostamente, permite limitar esse poder absoluto… Mas claro que há um perigo, até porque a fonte de informações da maioria das pessoas hoje passa pelas redes sociais, especificamente pelo Twitter [atualmente X, propriedade de Elon Musk]. Não sou catastrofista, não acho que os EUA vão transformar-se numa ditadura, não creio que vá ser o fim do mundo, mas pode ser o início do fim… [Risos.] Até onde é que o império está disposto a ir para não colapsar? E quando está disposto a chegar até certo ponto, pensando, por exemplo, em armas nucleares, isso não significa que já colapsou? Espero que quando sair do poder, Trump não tenha estragado muito.

E acha que têm potencial literário?
Todos os indivíduos têm um potencial literário. Um romance é sempre a forma como o contas, não há apenas factos, não basta uma boa história. Estou a pensar n’O Outono do Patriarca, do García Márquez, que narra a vida de um ditador duma forma barroca que condiz com aquele ambiente… Para o Trump, imagino talvez um romance escrito pelo Bret Easton Ellis, com muitas referências a marcas, muito simplismo e tremendismo.

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Há muitas, mas qual das duas é melhor? A moção de censura é mais importante porque tem o poder de derrubar o Governo, alterando drasticamente o cenário político do país. Já a moção de confiança é uma tentativa do Governo de reafirmar a sua posição, sem necessariamente causar uma mudança direta.

Por outras palavras, a moção de confiança é um instrumento governamental de autolegitimação, enquanto a moção de censura é uma ferramenta essencial da oposição para controlar e, se necessário, destituir o Governo.

O PCP vai apresentar uma moção de censura ao Governo, que, para já, não será aprovada, o que elimina, naturalmente, a necessidade de uma moção de confiança. A votos irá a mais importante, aquela que os «pais» da Constituição determinaram que, se aprovada, implicaria a queda imediata do Executivo.

A outra é acessória e desnecessária. Quem tem a espada da censura é o PS, mas não a vai desembainhar. Não quer eleições. A queda do Governo, que não está a desencantar os portugueses, seria sempre atribuída aos socialistas, o que não daria um bom cartaz eleitoral.

Tudo resolvido, então? Nada disso. A oposição não vai largar o primeiro-ministro, com perguntas cada vez mais intrusivas e pessoais, e a Assembleia da República, com um Governo sem maioria absoluta, está no centro de todas as decisões e indecisões políticas. Não há dia que passe sem mais uma confusão.

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