Destituído do poder na sequência da ofensiva rebelde que, às primeiras horas deste domingo, 8, capturou a capital Damasco, Bashar al-Assad deixou a Síria rumo a Moscovo, que lhe concedeu asilo “por razões humanitárias”.

A notícia foi avançada há instantes pelas agências estatais russas TASS e Ria Novosti. Segundo a primeira, uma fonte do Kremlin confirmou a decisão de conceder asilo a al-Assad e à sua família, que já se encontram na capital da Rússia.

A par do Irão, a Rússia de Vladimir Putin foi sempre um dos maiores aliados do ditador sírio, desempenhando um papel fundamental para suster os intentos dos rebeldes, ao longo dos 13 anos de guerra civil, que passavam por derrubar o regime Assad. Com a invasão da Ucrânia, o apoio militar russo ao seu principal aliado no Médio Oriente perdeu força, mas, pelo menos para já, é a Moscovo que o presidente deposto recorre para os primeiros tempos de exílio.

Ainda de acordo com a fonte governamental citada pela TASS, a Rússia defende uma solução política para o futuro próximo da Síria mediada pelas Nações Unidas, que apelou à “calma” neste momento de transição, numa nota assinada pelo secretário-geral António Guterres.

“Depois de 14 anos de guerra brutal e da queda do regime ditatorial, o povo da Síria pode hoje aproveitar uma oportunidade histórica para construir um futuro estável e pacífico”, escreveu o líder da ONU, sublinhando que “a soberania, a unidade, a independência e a integridade territorial da Síria devem ser restauradas” sem recurso à violência e no respeito de todos os sírios e do pessoal diplomático.

O resposável português garantiu ainda o empenho das Nações Unidas no objetivo de “construir um país onde a reconciliação, a justiça, a liberdade e a prosperidade sejam realidades partilhadas por todos”, que de resto estava salvaguardada, desde 2015, na resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU.

Vê-se como um “imigrante privilegiado”, até porque tem conseguido, em Portugal, viver da sua escrita – no jornalismo, na literatura e em investigações académicas. No Recife, no estado de Pernambuco, onde nasceu em 1973, dedicava-se, sobretudo, ao jornalismo desportivo. Atualmente, faz parte da equipa da Mensagem, jornal online sobre Lisboa. Nos oito anos que já passou a viver em Portugal, colecionou vários prémios, como o Novos Talentos FNAC, em 2018, com o conto Otelo e, mais recentemente, o Prémio Rogério Rodrigues de Crónica Jornalística 2023. No mesmo ano venceu o Prémio Baptista-Bastos com Disfarça, que Lá Vem Sartre – obra centrada na estada do filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980) no Recife, Brasil, em 1960, acompanhado por Simone de Beauvoir, que aí seria hospitalizada por ter contraído tifo. Curiosamente, apesar do prémio, não está (ainda) prevista uma edição portuguesa desse livro…

O mais recente romance de Álvaro Filho publicado em Portugal é O Mau Selvagem (Urutau, 178 págs., €15), no qual quis abordar as experiências de uma nova vaga de imigrantes brasileiros. Centrado numa livraria onde trabalham vários empregados vindos do Brasil, é um emocionante policial no qual o autor pretende falar-nos da sua realidade e do País onde vive há oito anos, contrariando a ideia feita de que esperamos de um autor brasileiro que nos fale sempre do Brasil, entre favelas, grandes cidades e algum exotismo. “Além dos brasileiros neandertais das primeiras vagas e os sapiens das últimas, houve sempre um terceiro tipo de imigrante do Brasil a mover-se entre os conterrâneos todo-o-terreno e os com o diploma perdido numa gaveta num armário da Ikea: o brasileiro novo-rico, com muito dinheiro e pouca educação e cultura”, lê-se a páginas tantas.

A maior comunidade estrangeira a viver em Portugal é, de longe, a brasileira, que chegou em várias vagas, com características e motivações diferentes. Qual foi a sua principal razão para vir para Portugal?
Acho que podemos falar em quatro ou cinco vagas, mais ou menos recentes. Eu faço parte da quarta vaga, que veio quando o Brasil começou a piorar politicamente, e também economicamente. Mas, no meu caso, fui mais sensível à questão política, no fim do governo de Dilma. Também houve vagas inversas… Quando Portugal esteve na era da Troika, houve muitos brasileiros a regressar ao Brasil. A minha vaga foi-se tornando mais forte com a aproximação da eleição do Bolsonaro. Muitas das pessoas que vieram nessa altura têm, hoje, uma vida em Portugal menos confortável do que poderiam ter no Brasil, menos privilegiada.

Foi uma fuga ao governo de Bolsonaro, ao novo contexto político…
Exato. Eu cheguei em 2016, no ano do golpe contra o governo de Dilma. Estive em Lisboa, em contexto de férias com a família, em janeiro desse ano, e já pensava na mudança; a ideia foi mesmo ver como era Lisboa no inverno, sem o calor e a efusividade dos turistas e das pessoas todas na rua. Em setembro mudei-me para cá, com a ideia de fazer um doutoramento, e instalei-me em Alfama, na mesma casa onde tinha estado nessas férias. Nessa altura, julgo que havia cerca de 50 mil brasileiros a viver em Portugal, e já se achava um número muito alto. Cresceu muito mais nos últimos anos.

Pode falar-se numa quinta vaga?
Talvez, mas continuaram a chegar muitos brasileiros com as características de vagas anteriores. Acredito que, agora, também pode haver bolsonaristas a chegar que não querem viver num Brasil governado por Lula… Talvez essa seja uma quinta vaga, de brasileiros que gostam de se instalar na linha de Cascais. Mas essa ainda não está estudada e catalogada. A minha vaga mudou o perfil dos brasileiros em Portugal. Alguns artistas, gente diplomada… A grande diferença é que essas pessoas não vieram por ter falta de oportunidades. Na grande massa das vagas anteriores, chegavam pessoas que não tinham oportunidades lá no Brasil e eram submetidas a um certo tratamento de inferioridade, pelos próprios brasileiros. Aqui, prolongava-se esse tratamento, mas agora como imigrantes, com a possibilidade de terem um emprego… Não pretendiam propriamente ter uma voz ou provocar um debate aqui, essa nunca tinha sido a realidade deles. Com a nova vaga, de privilegiados, chegou outra capacidade de articulação, de conhecimentos, de networks e até de relações com o poder em Portugal. Essa vaga procurou estimular um debate. E quando se tenta isso, as tensões aparecem…

No seu último romance, o policial O Mau Selvagem, fala do “complexo do jesuíta”, quando os portugueses tentam explicar tudo muito direitinho, e com algum tom de superioridade, aos brasileiros que chegam… Também sentiu isso? E a expressão é sua?
É minha, sim. E senti. Como se não houvesse a capacidade de resolver qualquer assunto que exige uma explicação sem a tentativa de catequização da outra pessoa, que tem de ser convencida e doutrinada… Há 20 anos, vim pela primeira vez a Portugal, como jornalista, vindo das Olimpíadas de 2004, na Grécia. E quando estamos cá como visitantes ou turistas, a relação com os locais é muito diferente. Se vivemos cá e, por exemplo, escolhemos a fila errada para o atendimento num banco, avisam-nos, mas não nos dizem só qual é a fila correta. A coisa podia parar por aí, mas não… Como veem que viemos de um contexto diferente e que podemos ainda não ter sido apresentados à civilidade, há uma necessidade de explicar tudo; de catequizar, lá está. Isso acontece em muitos lugares, como se tivéssemos de estar sempre a ser apresentados ao sistema por alguém mais “civilizado”. Até a nível profissional, por vezes, noto isso. Eu cometo um qualquer erro e posso levar logo com uma grande aula de introdução ao jornalismo, como se o problema estivesse lá bem atrás… Essa necessidade de enquadrar tudo e catequizar é o “complexo do jesuíta”.

Isso surpreendeu-o?
Sim. E aqui tive pela primeira vez a noção de que falo “brasileiro”. Eu até posso concordar. Mas muitas vezes isso é dito, parece-me, com o significado de que o que eu falo não é bem “português”. Foi a partir dessas observações, que ouvi também de outros brasileiros em Portugal, que nasceu o livro O Mau Selvagem.

Nessas várias vagas, faz algum sentido falar de um problema específico de integração de imigrantes brasileiros em Portugal?
Acho que isso é demasiado radical… Mas há atritos, e estereótipos, claro. Como há noutros lugares com grandes comunidades imigrantes de um certo país ou de uma certa região: os argentinos e latino-americanos em Espanha, os turcos na Alemanha, os albaneses em Itália… Há uns dias, ouvi uma mulher brasileira dizendo: “Eu vim já com o meu marido, não vim roubar o marido de ninguém…” O que acontece hoje, sobretudo, é haver um grande contingente de imigrantes que não está disposto a baixar a cabeça. Apesar de podermos dizer que a cultura portuguesa e a brasileira não são muito diferentes, podem agudizar-se tensões… Uma comunidade muito forte, dentro da imigração brasileira, é a dos evangélicos, que pode ser problemática e criar atritos. Já criou problemas noutros países da lusofonia, como Angola, como gerou mesmo no Brasil. E tudo isto se passa num contexto global, em que Portugal está inserido, de radicalização contra os estrangeiros. Há uma comunidade jurídica de brasileiros, aqui, que está muito atenta a esses atritos, e até lucra com eles. Quando, nas minhas crónicas da Mensagem, falo de dificuldades relacionadas com os brasileiros em Portugal, problemas com a obtenção de um visto, por exemplo, contactam-me logo.

O seu livro O Mau Selvagem nasce de todo esse contexto…
Parte da possibilidade de abrir esse diálogo, da minha vontade de contribuir para isso. É um policial, e uma alegoria, que radicaliza a questão da violência, vai por esse lado, que obviamente não é o que eu defendo ou sugiro. É fácil um imigrante chegar aqui como um “bom selvagem”, pisando um terreno que não conhece, e transformar-se num “mau selvagem”. Gradualmente, vai-se sentindo mais à vontade, percebendo o seu lugar, a sua posição… E há várias maneiras de reagir a isso: uns podem gritar, outros vão agredir, há quem escreva um poema…E eu um fiz um livro. Foi a minha forma de me transformar num “mau selvagem”.

Como é ser um autor brasileiro e lisboeta? E como lida com a língua portuguesa escrita nos seus livros? E no jornalismo?
E na academia…

Escreve aqui como se estivesse no Brasil?

Não. É confuso… Quando cheguei, para fazer o doutoramento, na universidade pediram-me para escrever os meus artigos em português europeu. Tentei fazer isso. Decidi ler muitos livros de escritores portugueses, com esse objetivo, fazer uma imersão na literatura portuguesa – o que não foi nada desagradável, antes pelo contrário. Depois estive no jornal O Corvo e na Global Media, onde fazia mais vídeos do que textos. No primeiro livro que publiquei em Portugal, Alojamento Letal [Planeta, 2019], a minha editora pediu-me que o personagem principal fosse português, que pensasse e falasse como um português. Foi um exercício interessante, para mim, criar um português que morava em Alfama. Gostei da experiência, mas decidi não voltar a fazê-lo. Até porque me interessava explorar como é ser brasileiro aqui. E também porque me parecia que não devia tentar concorrer com os escritores portugueses; sou um brasileiro que mora aqui. E tem sido uma aventura… Na Mensagem, ouvi alguns comentários. Quando entrevistei o [escritor] Afonso Reis Cabral, alguém perguntou logo porque tinham mandado um brasileiro entrevistar uma figura da literatura portuguesa. Acho que fui criando alguns artifícios para a minha escrita jornalística parecer mais amigável ao ouvido português, fiz esse esforço. Mas, na verdade, isso nunca foi um problema na Mensagem. Aliás, neste momento até trabalho como editor, lendo e editando textos de outros.

A sua identidade, como autor, mudou desde que veio para Portugal?
Em geral, já não sei bem que português é este que escrevo hoje… Acho que perdi parte dessa identidade brasileira. Os meus textos ficaram maiores, menos sintéticos. Isso é muito português. Julgo que há mais subentendidos no português do Brasil, não é preciso dizer tudo… Agora estou a fazer o doutoramento num departamento de Literatura [na Universidade Nova] e julgo que há um respeito maior pelo meu modo de escrever, talvez até porque o diretor, o professor Abel Barros Baptista, é especialista em Literatura Brasileira… A minha escrita já foi um problema, até já foi uma limitação quando passei pelo Diário de Notícias, e agora é um não problema. Achei curioso que numa entrevista recente que dei para uma revista brasileira sobre este meu livro, perguntaram-me: “Porque escolheu escrever em português europeu?” Respondi que não escolhi escrever em português europeu. Mas acho que perdi algo, devo estar num meio caminho… Há expressões fantásticas que aqui se usam e não fazem sentido para um brasileiro. Gosto muito, por exemplo, de “se calhar”, que aqui se ouve muito e no Brasil não se diz. Ou “menos conseguido”… Uma expressão que demorei muito até conseguir usar bem: “Sempre vai?” Para um brasileiro esse “sempre vai” não faz sentido nenhum. Posso dizer que gosto muito do meu português atual.

Perdeu e ganhou ao mesmo tempo?
Sim. Às vezes, tento recuperar a minha agilidade perdida, a tal língua mais rápida e sintética, e já não consigo. Nos jornais e revistas em que colaboro atualmente no Brasil, estão sempre a dizer-me isso.

Um dos objetivos do Acordo Ortográfico de 1990 era criar uma harmonização entre o português daqui e o do Brasil, e de outros países da lusofonia, até para facilitar a vida às editoras. Acha que isso faz sentido? E que esse caminho foi percorrido?
Não. E até provocou mal-entendidos. Para um leitor brasileiro não é fácil ler Saramago, ou mesmo Eça de Queirós, mas sabemos que são exemplos de boa escrita em português, e isso nunca foi um problema. O Acordo não fez com que se lessem mais autores brasileiros aqui ou mais portugueses no Brasil. Na verdade, não fazia falta. 

Na “ponte cultural” entre o Brasil e Portugal, de que tanto se fala, parecia durante anos haver um só sentido. Ultimamente os brasileiros têm mais acesso à cultura portuguesa, nas várias artes?
Julgo que há uma coisa que ainda não foi bem entendida em Portugal, hoje. O facto de haver aqui mais de 500 mil brasileiros, alguns que transitam entre cá e lá, também significa que eles levam Portugal para o Brasil. O Marco Neves, professor que tem um canal de TikTok sobre a língua portuguesa, tem tantos seguidores brasileiros como portugueses… Acho que hoje há um mercado no Brasil para a literatura contemporânea portuguesa, mas isso não teve nada que ver com o Acordo Ortográfico e sim com estas vagas de que falávamos. Quando hoje vou ao Brasil, falo aos amigos dos autores portugueses que gostei de descobrir aqui.

No seu doutoramento estuda a literatura policial nos países do Sul da Europa. Não tem uma grande tradição em Portugal…
Nos países onde houve um grande hiato democrático, a literatura policial foi sempre muito maltratada, pouco relevante ou mesmo inexistente. Porque ela lida com uma matéria-prima que nunca é agradável para um governo autoritário, uma ditadura: poder, dinheiro, violência… Muitos dos seus protagonistas são políticos, empresários ou polícias corruptos. Claro que a censura não proibia policiais de outros países, até eram úteis: isso é lá em França ou nos Estados Unidos, ou em Inglaterra… Quem é a Agatha Christie da Alemanha ou de Itália? Não existe. A produção nesses países foi praticamente nula. O meu doutoramento é especificamente sobre o renascimento do género, com as democracias. E em Portugal estudo especificamente o Francisco José Viegas, como inventor desse regresso do policial português, com o seu Jaime Ramos. Houve policiais antes, claro, muitas vezes assinados com pseudónimos, como Dennis McShade [pseudónimo de Dinis Machado], mas não cumpriam uma das características essenciais do género: a crítica à sociedade.

A sentença é de Trump, que está de volta – «paguem ou saio da NATO! Ajudar a Ucrânia? Esqueçam». Mas voltemos ao Assad, que se foi. Sem alarido. Sem luta. De repente, sem darem conta, os rebeldes chegaram a Damasco. Assim. Sem mais.

Como é que um oftalmologista londrino virou um ditador sanguinário? À sombra de um czar moderno. Putin. Mas o czar cedeu. Ordenou a retirada da Síria. Equipamento. Tropas. Tudo. Feito em silêncio. Pela calada. E o que aconteceu? Informação viral no «X» e no «Telegram»: «Avancem. Damasco está deserta.»

Corrida sem travões. Estrada de Damasco. Quem chegou primeiro saqueou. Palácios? Vazios. Residências? Devastadas. A fazer lembrar o corrupio de cadeiras, tapetes e cortinas pelas ruas de Bagdad. Em 2003.

A queda foi instantânea. Dá para suar: a Kadyrov da Chechénia, e a Lukashenko, em Minsk. E com razão. Estão apavorados. Amedrontados. Instabilizados.

A Síria era um trunfo estratégico. Para Moscovo. Para Putin. Servia para conter Israel. Limitava os EUA. Mas sem recursos militares, a aliança ruiu. A tutela desfez-se. E Assad desapareceu, madrugada dentro. Foi-se, com um sopro. Apenas.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Bashar al-Assad abandonou a Síria, deixando os comandos do país às forças rebeldes, ao fim de 50 anos de uma ditadura iniciada pelas mãos do seu pai, Hafez al-Assad. Às primeiras horas da manhã deste domingo, 8, os rebeldes anunciaram a captura de Damasco, sem grande resistência das forças militares leais a Bashar al-Assad, que terá voado para o estrangeiro a partir do aeroporto da capital síria.

Após 13 anos de guerra civil, uma ofensiva relâmpago dos grupos opositores do regime, liderados pelo HTS (Hayat Tahrir al-Sham), também designado por Organização para a Libertação do Levante, supreendeu o regime, os seus principais aliados, Irão e Rússia, e tomou o poder em poucos dias, depois de ganhar o controlo de várias cidades importantes, como Alepo.

Em 2016, os dois aliados tinham ajudado al-Assad a recapturar esta cidade, cuja zona oriental estava na posse dos rebeldes desde 2012, à custa de uma destruição brutal e já depois de terem sido decisivos na recuperação de outras regiões do país.

Nas redes sociais, Donald Trump foi dos primeiros a anunciar, na manhã deste domingo, que Bashar al-Assad “fugiu do país”, uma vez que “o seu protetor, a Rússia, liderada por Vladimir Putin, já não o queria proteger”. Segundo o presidente eleito dos Estados Unidos da América, que tomará posse para um segundo mandato a 20 de janeiro, a Rússia “perdeu todo o interesse na Síria por causa da Ucrânia” e dos “600 mil soldados feridos ou mortos” acumulados “numa guerra que nunca deveria ter começado e que pode durar para sempre”, apesar de ele insistir na necessidade de a terminar o quanto antes, defendendo um cessar-fogo imediato e o início das negociações de paz.

O primeiro-ministro sírio em funções já veio garantir uma transição pacífica no poder, e os rebeldes, extremistas islâmicos, prometeram não ocupar para já as instituições governamentais, embora tenham apelado a que as forças militares não se aproximem das mesmas. Na televisão nacional, sugeriram também o regresso de todos os exilados a “uma Síria livre”, mas o futuro próximo na região ainda é muito incerto, até porque há várias fações e interesses entre os grupos islâmicos que derrubaram o regime.

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Os influencers são vistos, tal como o conceito indica, como personalidades que influenciam pessoas a tomarem decisões, sejam elas adquirirem serviços ou produtos. No caso concreto do fitness, os influencers tendem a partilhar conteúdo relacionado com a prática de exercício físico, nutrição, estilos de vida saudáveis e abordam inclusive temas relacionados com a medicina. Neste sentido, assume-se que eles têm um papel importante na promoção de comportamentos saudáveis. Porém, não é isso que os dados indicam.

Considerando o crescimento em número de influencers e de temas abordados associados à saúde, investigadores de diversos países interessaram-se por compreender o papel que os influencers têm na promoção de comportamentos saudáveis e ativos. Investigadores do Brasil, em 2021, quiseram analisar se as informações sobre exercício e saúde publicadas por influenciadores populares brasileiros no Instagram eram precisas do ponto de vista técnico-científico. Ao todo, eles analisaram 33 perfis de fitness influencers com uma média superior a um milhão de seguidores, que totalizavam um alcance médio de 30 milhões de contas. Avaliaram as 15 publicações mais recentes de cada fitness influencer, tendo por base tópicos como medicina, nutrição, exercício físico, fitness e bem-estar, num total de 495 publicações no Instagram. Os resultados mostraram que sensivelmente 25% dos fitness influencers não possui habilitação profissional para abordar os temas que são partilhados pelos mesmos. Igualmente, os investigadores descobriram que nem sequer 3% do conteúdo partilhado é suportado por evidências científicas, sendo o restante opiniões, experiências ou estratégias de marketing de venda de produtos ou serviços. Das 495 publicações feitas no Instagram pelos fitness influencers, apenas 13 continham referências científicas que suportavam as afirmações dos influencers. Ao contrário, 400 publicações não as tinham e 82 tinham citações que não corroboravam a informação partilhada. Um dos resultados finais destacados foi que “a desinformação divulgada pelos influenciadores sobre exercício e saúde pode impactar negativamente a qualidade de vida de muitas pessoas, levando a comportamentos prejudiciais”.

Em 2020, investigadores britânicos tiveram como objetivo de estudo analisar a credibilidade dos fitness influencers do Reino Unido que abordam a gestão de peso. O estudo utilizou uma amostra de nove influenciadores das redes sociais com verificação de “blue-tick” em pelo menos duas e que mantinham um blogue ativo sobre gestão de peso. Foram analisadas as dez receitas de refeições mais recentes de cada blogue, comparando-as com as metas de calorias do serviço nacional da Inglaterra e o esquema de rotulagem alimentar do Reino Unido para avaliar a qualidade nutricional. Os resultados do estudo mostraram que as percentagens de credibilidade dos blogues dos influenciadores variavam entre 23% e 85%, com o maior percentual a pertencer a um nutricionista registado. Além disso, a análise revelou que, em geral, o conteúdo partilhado por estes influenciadores pode não ser fidedigno para recursos de gestão de peso. Os resultados mostraram que a maioria das receitas apresentadas pelos influenciadores não atendia adequadamente a essas diretrizes nutricionais. Especificamente, as receitas frequentemente apresentaram um número elevado de “luzes vermelhas” em relação ao teor de gordura ou gordura saturada, indicando que muitas excediam as recomendações para esse nutriente. Apenas um influencer forneceu informações nutricionais detalhadas, o que sugere que a exibição de informações sobre calorias e nutrientes nas redes sociais, em matéria de gestão de peso, pode ser inadequada.

Um terceiro estudo realizado por investigadores franceses, em 2021 teve como objetivo investigar a relação entre o consumo de vídeos de fitness no YouTube e as intenções de exercício dos espectadores. A amostra era composta por 275 participantes, em que mais da metade afirmou que realiza algum tipo de exercício físico, enquanto os restantes não se exercitam. Os resultados indicaram que os espectadores que não praticavam exercício físico estavam motivados a assistir a vídeos de fitness pelo entretenimento. As intenções de assistir a vídeos relacionados com a prática de exercício físico apenas tinham impacto nos seguidores que já praticavam exercício. Ou seja, quem não fazia exercício físico, não ficava motivado para o fazer ao ver vídeos dos fitness influencers.

Os resultados destes estudos são interessantes e ao mesmo tempo preocupantes. Embora os fitness influencers tenham um alcance significativo e o potencial para promover hábitos saudáveis, a qualidade da informação que partilham é frequentemente inadequada. A ausência de rigor científico, a falta de qualificação profissional em muitos casos e o foco em entretenimento ou estratégias de marketing limitam a capacidade desses influenciadores de impactar positivamente o comportamento do público. Além disso, o conteúdo por eles divulgado tende a reforçar comportamentos já existentes, em vez de motivar mudanças significativas, especialmente entre aqueles que não praticam atividade física. Assim, destaca-se a necessidade de um consumo crítico de informações vindas de influencers. Da próxima vez que vir algo relacionado com o fitness, questione-se: será que a pessoa que está a falar sabe do que está a falar?

Referências:

Marocolo, M., Meireles, A., de Souza, H. L. R., Mota, G. R., Oranchuk, D. J., Arriel, R. A., & Leite, L. H. R. (2021). Is Social Media Spreading Misinformation on Exercise and Health in Brazil? International journal of environmental research and public health, 18(22), 11914. https://doi.org/10.3390/ijerph182211914

Sokolova, K., & Perez, C. (2021). You follow fitness influencers on YouTube. But do you actually exercise? How parasocial relationships, and watching fitness influencers, relate to intentions to exercise. Journal of retailing and consumer services, 58, 102276. https://doi.org/10.1016/j.jretconser.2020.102276

Sabbagh, C., Boyland, E., Hankey, C., & Parrett, A. (2020). Analyzing Credibility of UK Social Media Influencers’ Weight-Management Blogs: A Pilot Study. International journal of environmental research and public health, 17(23), 9022. https://doi.org/10.3390/ijerph17239022

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

No Largo do Rato, ninguém quer ouvir falar de presidenciais. “Não é assunto para a direção do PS”, diz um dos mais próximos de Pedro Nuno Santos. “Os comentadores têm sempre de arranjar um drama. Falta imenso tempo”, reage um dos elementos do Secretariado Nacional. As autárquicas estão primeiro no calendário e a multiplicação de protocandidatos à Presidência da República, nenhum dos quais com sondagens muito encorajadoras na área socialista ajuda a explicar este “qual é a pressa?” com que reagem os dirigentes do PS quando são confrontados com o tema.

Estratégia Pedro Nuno Santos quer esperar pela definição dos candidatos para decidir quem apoia. A prioridade são as autárquicas

Sem que nenhum dos putativos candidatos tenha anunciado de forma clara que quer entrar na corrida a Belém, o PS está bastante dividido. Na direção do partido, há quem se entusiasme com Mário Centeno, quem não descarte a hipótese de Seguro, quem duvide da possibilidade de encontrar um candidato vencedor na área socialista e até quem admita que o almirante Gouveia e Melo poderá conquistar votos entre as bases do PS.

Pedro Nuno Santos, acabado de sair de um drama orçamental que quer esquecer, não tem a menor intenção de se enredar numa discussão que volte a fazer parecer que o PS está partido. E é por isso que o próximo ponto no calendário do secretário-geral, que já faz contas às escolhas para as autárquicas, serão os Estados Gerais. Ainda assim, e mesmo que Pedro Nuno não queira, a forma como o almirante Gouveia e Melo deu um sinal forte de querer ser candidato, ao fazer saber que estava indisponível para ser reconduzido como chefe de Estado-Maior da Armada, acelerou jogadas de bastidores que há muito se tinham iniciado.

Seguro e Pedro Nuno não falaram

Há meses que António José Seguro começou a ter conversas sobre a possibilidade de ser candidato presidencial, depois de ter estado oito anos fora da política. Pedro Nuno Santos sabia dessas movimentações e, quando numa entrevista à CNN Portugal, quis dar a ideia de que o PS tinha um leque amplo de opções presidenciáveis, lançou o nome de Seguro. O objetivo era demonstrar que Mário Centeno, que ainda não foi absolutamente claro sobre as suas intenções, não era a única hipótese com força. “[Centeno] é um bom candidato, mas nós temos muitos outros nomes que eu acho que são bons candidatos. Augusto Santos Silva também é um nome muito importante. António Vitorino, António José Seguro, Mário Centeno, Ana Gomes.”

Pormenor? Pedro Nuno Santos e António José Seguro, confirmou a VISÃO junto de várias fontes, nunca tinham falado sobre essa hipótese. “Fiquei muito sensibilizado”, não tardou a reagir Seguro, mal se estreou na CNN como comentador, numa entrevista em que recitou um poema de Miguel Torga, Sísifo, que parecia ser o anúncio de uma candidatura. “Recomeça…/ Se puderes/ Sem angústia/ E sem pressa./ E os passos que deres,/ Nesse caminho duro/ Do futuro/ Dá-os em liberdade./ Enquanto não alcances/ Não descanses./ De nenhum fruto queiras só metade.” Os versos parecem à medida de quem está a voltar à política, depois de um longo interregno, pronto para os mais altos voos.

Apesar disso, Seguro recusa fazer mais algum comentário além dos que fez na CNN, quando admitiu estar “a ponderar” e não ser “refém” do seu partido. “Uma eventual candidatura minha é uma candidatura de um homem livre, com convicções e com uma determinada perspetiva daquilo que deve ser o exercício da Presidência da República num momento difícil da vida do País e do mundo”, disse.

Memória Jorge Sampaio serve de modelo? Em 1996, avançou e condicionou o PS

Seguro pode não estar refém do PS, mas é muito improvável que avance para uma candidatura presidencial sem garantir o apoio do partido. A hesitação em anunciar que é candidato tem também que ver com o facto de não ter fechada essa garantia. Para já, apoios declarados só tem o de Francisco Assis e de Álvaro Beleza que, apesar de terem sido apoiantes de Pedro Nuno, são parte da ala direita do partido.

Ser o primeiro a avançar para a corrida pode condicionar todos os outros. O PS lembra-se bem de como Jorge Sampaio obrigou António Guterres a apoiá-lo para Belém, quando este preferia Fernando Gomes, por ter feito o anúncio antes que qualquer outro pudesse avançar. António José Seguro podia repetir a jogada e travar a via a outro candidato socialista. “Seguro não é Sampaio”, contrapõe uma fonte da direção socialista, notando que, nessa época, Jorge Sampaio era presidente da Câmara de Lisboa e tinha sido secretário-geral do partido há menos tempo.

A última sondagem sobre presidenciais, um barómetro da Intercampus feito com 650 entrevistas, vem dar argumentos aos que acham que António José Seguro não tem notoriedade. Nesse estudo, Seguro aparece como o candidato preferido de 4,7% dos inquiridos, enquanto Centeno (o mais bem colocado do centro-esquerda) recolhe a preferência de 6,4%.

Centeno, o desejado ou o cativador?

“Centeno é o mais desejado no PS”, afiança um alto dirigente socialista. Mas outra fonte da cúpula do PS admite que o ex-ministro das Finanças está muito conotado com as cativações, coisa que preocupa. O que se garante no Largo do Rato é que, ao contrário do que foi aventado por fontes seguristas ao Expresso, António Costa não terá poder de veto na matéria. “Era o que mais faltava.”

Curiosamente (ou não), na ala carneirista, a oposição interna a Pedro Nuno Santos, muito alinhada com o costismo, António José Seguro também não aparece como o candidato preferido. “Centeno ou Santos Silva são nomes fortes. E ainda é preciso perceber se pode aparecer mais alguém. Muita coisa pode acontecer”, diz à VISÃO um crítico do pedronunismo.

Para os defensores de Mário Centeno, o ex-ministro tem a vantagem de falar ao centro-direita, graças aos feitos nas Finanças, tem uma personalidade simpática e apoios na banca e nas elites culturais. “O Seguro ninguém sabe quem é. O Centeno segura melhor a base eleitoral do PS, entra bem nos meios intelectuais de esquerda, porque está sempre em exposições, lançamentos de livros e na ópera, e a banca gosta dele”, assegura um dos seus indefetíveis na direção socialista.

Candidato? O almirante Gouveia e Melo teve um pré-anúncio de apoio do Chega, mas tem simpatias no PS

O problema? Ninguém tem a certeza absoluta de que Mário Centeno queira avançar, apesar de estar claro que lhe agrada a ideia de se manter na política e que gosta de estar entre os putativos candidatos. “É uma boa pergunta, mas a resposta é a mesma: o meu foco é fazer o meu trabalho e, honestamente, não penso nisso”, disse na CNN Summit, quando perguntado sobre se avançaria para uma candidatura presidencial.

“Tenho dúvidas sobre se avançará mesmo. Ele gosta mais de funções executivas”, comenta quem já trabalhou de perto com Mário Centeno. “Tem feito declarações muito ambíguas, depende de como as queremos ler”, admite um próximo de Pedro Nuno.

António Vitorino e Augusto Santos Silva não entraram para o barómetro da Intercampus, mas estão nas conversas do PS sobre presidenciais. No núcleo duro de Pedro Nuno há quem veja Vitorino como “um bom candidato”, apesar de ser alguém com fraca notoriedade fora da bolha política e de serem muitos os que acreditam que dificilmente sairá da sua confortável vida profissional para uma aventura presidencial na qual a vitória está longe de garantida. Já Augusto Santos Silva parece muito mais interessado em ir a jogo.

Santos Silva “sem tração”

“Não me ponho de fora, nem para a assembleia de freguesia, nem para Presidente da República”, disse Santos Silva ao Público na semana em que lançou um livro sobre o poder e defendeu o surgimento de uma candidatura “única e forte à esquerda”.

A reação à disponibilidade declarada do antigo presidente da Assembleia da República foi gelada. No Largo do Rato ninguém se entusiasma com Santos Silva. “Não tem tração nenhuma”, diz um alto dirigente socialista.

“Santos Silva não colhe entusiasmo. Não colhia sequer quando era presidente da Assembleia da República”, diz um dirigente do PS, notando que de todos os nomes falados o de Santos Silva será o mais distante de Pedro Nuno, mesmo que os outros dois também estejam longe de serem muito próximos. “Pelo Centeno não tem um especial amor, pelo Seguro não tem um fascínio grande”, resume um dos elementos do núcleo duro pedronunista.

Entre os socialistas ouvidos pela VISÃO, mais e menos próximos de Pedro Nuno Santos, não há quem acredite na tal candidatura “única e forte à esquerda” com ou sem Santos Silva. Há até quem tema que juntar forças com PCP e BE afastasse eleitorado do PS. “Isso não seria PS mais dois, seria PS menos”, analisa um destacado socialista.

Sampaio da Nóvoa em silêncio

Aliás, é também por parecer posta de parte essa ideia de uma esquerda unida na corrida à Belém que o nome de António Sampaio da Nóvoa também parece não ter força no PS, apesar de ter ido nas legislativas a iniciativas de vários partidos de esquerda, do PCP ao Livre, fazendo um pleno pouco comum. Além disso, nota uma fonte da direção, “é um candidato já testado, que não entusiasmou”.

Contactado pela VISÃO, Sampaio da Nóvoa recusa fazer qualquer comentário até ao dia 12 de dezembro, a data em fará a sua oração de sapiência para assinalar a jubilação como professor catedrático. “Até lá não falo.”

Almirante seduz bases do PS

O almirante Henrique Gouveia e Melo é a carta fora do baralho partidário capaz de virar todo o jogo. É a contar com a popularidade de Gouveia e Melo (a confiar nas sondagens) que no PS se fazem contas àquele que para já é o grande objetivo de um partido que há 20 anos não põe os pés em Belém: conseguir ir a uma segunda volta. “O importante é chegar à segunda volta. Para já, nem o almirante tem 50% mais um”, nota um membro do secretariado de Pedro Nuno.

Quando se fala com os socialistas aparece, contudo, um dado curioso: alguns setores do PS parecem não estar imunes ao charme da farda. A ideia de que Gouveia e Melo pode ser um bom sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa faz algum caminho entre as bases e até presidentes de concelhia, e os ecos disso chegam ao Largo do Rato, onde (pelo menos para já) ninguém assume partilhar dessa ideia, mas não falta quem refira ter-se já cruzado com militantes desejosos de apoiar o almirante. “Há no PS muita inclinação por ele”, reconhece um dirigente socialista. “Há pessoas do PS que não rejeitam o almirante. As pessoas gostam de ganhar”, acrescenta outro pedronunista.

Nem Mário Centeno
nem António José Seguro
entusiasmam.
Pedro Nuno Santos
prometeu que, desta vez, o PS terá candidato, mas
aguarda para ver quem avança

A tese, sustentada em alguns trabalhos jornalísticos, que recuperam declarações de Gouveia e Melo sobre temas políticos e sociais, de que o militar é, afinal, um centrista, ajuda a minimizar o espanto que este apoio das bases do PS pode suscitar a um candidato que antes de o ser já tinha anunciada a possibilidade de colher o apoio do Chega de André Ventura.

Pedro Nuno Santos, que está a ser pressionado por algumas federações para fechar nomes para as autárquicas até ao final do ano (mesmo que não sejam para anunciar já), não está a tomar a iniciativa de contactos para acertar apoios nas presidenciais. “Para mim, é claro. O Partido Socialista não escolhe candidatos presidenciais. As candidaturas presidenciais emanam da vontade individual de uma determinada personalidade”, afirmou Pedro Nuno Santos em entrevista ao Jornal de Negócios e à Antena 1.

Mesmo que na direção do PS se admita que “nenhum dos candidatos de que se fala tem força para avançar sem o apoio do partido”, a tradição socialista dita que a decisão sobre o apoio só é tomada depois de os candidatos avançarem. E há até quem admita que Pedro Nuno possa levar o tema em aberto para a Comissão Nacional se pronunciar, “coisa que seria inédita” e que, nota um pedronunista, “lançaria o caos no partido”.

Pedro Nuno Santos terá de apoiar alguém, porque o prometeu, na moção com que foi eleito secretário-geral. “O PS apoiará um candidato, sem hesitações nem dúvidas”, reiterou, ainda há uma semana. Mas isso não deve acontecer tão cedo.

O problema de Montenegro

Direita Marques Mendes, Aguiar-Branco e Pedro Santana Lopes: um deles pode ser o candidato do PSD

Luís Montenegro tem um problema: Luís Marques Mendes, que anda há anos a posicionar-se para ser candidato presidencial, não descola nas sondagens nem entusiasma as hostes sociais-democratas. Mendes encaixava como uma luva no perfil presidenciável definido por Montenegro, por ser militante do PSD, mas o furor causado pelo almirante Gouveia e Melo está a baralhar as contas que estavam feitas para o comentador da SIC Notícias avançar para Belém, que tem adiado o anúncio sobre se quer ou não ser candidato.

Sem um candidato com garantias de ganhar à primeira volta, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, tem feito declarações que alimentam o tema das presidenciais e tornam difícil tentar adivinhar quem poderá ter o apoio do partido. “Imagine que não há nenhum militante do PSD a candidatar-se? É evidente que o PSD não poderia apoiar nenhum candidato”, disse Hugo Soares na SIC, numa entrevista que deu gás à especulação em torno da possibilidade de o PSD não ter um candidato próprio, ficando o almirante Gouveia e Melo com caminho livre no centro-direita.

Mas não teria de ser só Marques Mendes a desistir do sonho presidencial para isso acontecer, uma vez que há pelo menos um militante social-democrata que pode ser candidato: José Pedro Aguiar-Branco, que alguns setores do partido veem como uma boa opção. Outra hipótese era Pedro Santana Lopes deixar a Câmara da Figueira para voltar a ter cartão “laranja”. Mesmo que as sondagens não o atestem, não lhe falta confiança. “Eu sou capaz de ganhar ao almirante”, disse no Expresso da Meia-Noite, da SIC Notícias.

Há, contudo, outro Pedro muito mais desejado no PSD: Passos Coelho, que tem recusado fazer declarações públicas sobre o tema, afirmando apenas estar “muito afastado da vida política”. Passos é, pelas sondagens, o preferido para Belém logo a seguir a Gouveia e Melo, mas tem feito saber pelos mais próximos que não está na corrida. Uma garantia que foi reforçada esta semana pelo seu antigo conselheiro Miguel Morgado.

Tem-se especulado muito nos bastidores sobre a possibilidade de Carlos Moedas deixar a Câmara de Lisboa para tentar Belém, mas essa jogada de alto risco (o PSD poderia perder Lisboa e não há garantias de ganhar a Presidência) parece ter sido posta de parte por Moedas. “É um cenário que não equaciono”, disse ao Observador no final de outubro. E esta semana Rui Rio garantiu estar “sem vontade” de voltar à vida política. Menos duas hipóteses para Luís Montenegro, que já tinha ficado a saber que Leonor Beleza, um nome lançado por Hugo Soares, também não estava disponível.

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