Discorre-se aqui sobre três elos que conduzem a uma questão inquietante. 
No discurso que proferiu, no último dia 6, em Fafe, sua terra natal, na apresentação da sua candidatura às Presidenciais de janeiro de 2026, Marques Mendes desferiu uma certeira indireta ao protocandidato almirante Henrique Gouveia e Melo, que por agora lidera todas as sondagens. Puxando – e bem – dos galões da sua vasta experiência política, Marques Mendes disse: “O cargo de Presidente da República é eminentemente político. O tempo que vivemos nem aceita política sem princípios, nem recomenda política sem experiência. Não é tempo de aventuras, experimentalismos ou tiros no escuro.” 
O segundo elo relaciona-se com o “retiro” de líderes da União Europeia (UE) promovido, no passado dia 3, pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa, no Palácio d’Egmont, em Bruxelas, com a Segurança e a Defesa na agenda do debate “livre”, dadas as vicissitudes (para dizer o mínimo…) da atuais relações da Europa com a Administração Trump. Cálculos da Comissão Europeia revelam que são necessários investimentos adicionais na defesa de cerca de 500 mil milhões de euros durante a próxima década. Mas, para concretizar tais investimentos, os líderes da UE, entre a emissão de uma dívida comum e a flexibilização orçamental, não se entenderam. Presente no Palácio d’Egmont como convidado de António Costa, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, atalhou-lhes caminho. Resumindo para encurtar razões, o antigo primeiro-ministro dos Países Baixos propôs que o investimento na Defesa se fizesse à custa do Estado Social. 

Este artigo é exclusivo para assinantes. Clique aqui para continuar a ler.

Se há escrita que reúna de forma complexa a imaginação e a realidade, ela é o romance biográfico. Não se trata da tantas vezes seca biografia histórica, repleta de dados e factos, subjugada a uma avalanche de supostas provas. Nem se trata de um romance totalmente livre da nente de quem o idealiza. É um compromisso que quer suscitar no leitor um entendimento da personalidade, uma visão global que o entenda.

Cristina Carvalho tem-nos habituado a esse exercício de nos dar textos que, mais que nos elencar dados de uma vida num correr de momentos, nos leva para dentro da vida, dos sentidos que dão miolo à carapaça visível dos factos. Cada capítulo de cada um dos já vários romances históricos de personalidades da cultura contemporânea com que nos brindou, é um ensaio sobre uma dimensão que torna essa pessoa, ao mesmo tempo, genial no seu universo de criação, e nosso igual na inevitável humanidade.

Neste seu volume, “António Gedeão. Príncipe Perfeito” (Relógio d’Água), Cristina Carvalho leva ainda mais longe a natureza ensaísta, interpretativa, do texto de sabor biográfico. Por um lado, a autora é filha de Rómulo de Carvalho, o nome de batismo daquele que ficou na poesia conhecido como António Gedeão e, por outro, todo o texto é um caminho no sentido de nos alertar para o facto desse homem genial ser hoje pouco reconhecido. Sim, Cristina Carvalho não é uma autora isenta, apresenta a sua “declaração de interesses”, e nem seria suposto sê-lo, não por ser filha de Rómulo, mas por fazer um texto de natureza crítica.

E é quase inquietante a forma como, a pouco e pouco, a escritora vai assumindo o seu lugar junto da figura apresentada. Não há um esconder. Mas há um recato, uma necessidade de ser rigoroso, apesar do rigor do que é tratado apenas lhe ser acessível porque era filha. À medida que os capítulos se sucedem, essa distância vai-se esbatendo.

Nos mais pequenos detalhes do quotidiano, Cristina Carvalho procura encontrar os traços do génio, aquilo que o suportava, com rigor e exigência, num constante ritmo de trabalho. Em certa medida, na linha do que já tem feito para outras personalidades das artes, a autora não resiste à tentação de fazer o seu quadro de interpretação do que permite ao génio a sua relação com o mundo que o rodeia.

Os momentos da vida de Rómulo de Carvalho, no correr do livro, vão-se sucedendo em direção à morte e às homenagens de que foi alvo aquando do seu 90º aniversário. Esse fim é o principal balanço do livro, num reencontro com uma obra que importa hoje recuperar. Aliás, na escrita de Cristina Carvalho há uma certa mágoa pela dificuldade que se encontra em colocar António Gedeão, mais que Rómulo de Carvalho, nos panteões das áreas em que foram mestres, a poesia, no caso do primeiro, e a investigação e divulgação científica, no segundo caso.

Quando terminamos a leitura deste volume, ficamos com uma sensação mista resultante da tensão entre dois opostos. Se nos é gratificante ficar a conhecer mais esse poeta que marcou gerações com a sua poesia, por outro, sobressai da escrita de Cristina uma constatação que nos obriga a pensar: a equação entre a obsessão pelo trabalho e o rigor geométrico da vida que, nessa regular organização de tudo, encontrava a serenidade que lhe permitia criar.

São escusos os caminhos da criatividade e da produção, como são ainda mais complexos os caminhos da construção da memória. Num tempo de micro-especialização, cruzada com a rapidez e superficialidade da criação de conteúdos, uma figura como Rómulo de Carvalho, surge, sem sombra de dúvida, como um Príncipe Renascentista, uma figura completa que nos avassala na qualidade e na quantidade, mostrando que, em muito da construção do saber, estamos a afastar-nos do essencial.

MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR

+ Pompeu Martins, e a voragem de se ser

+ Emma Lazarus, a “velha” Era Dourada

+ A urgência da Fraternidade

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Decorreu esta madrugada o 59º Super Bowl, a grande final da NFL, liga de futebol americano, no Caesars Superdome, em Nova Orleães. Os Philadelphia Eagles foram, pela quinta vez, os grandes vencedores da taça Vince Lombardi, derrotando os Kansas City Chiefs por 40-22. Liderados pelo quarterback Patrick Mahomes, os Kansas City Chiefs procuravam tornar-se na primeira equipa da história da competição a conquistar três vezes seguidas o campeonato da NFL.

Como já é habitual, durante o intervalo, as atenções dos 83 mil espectadores do que é considerado um dos maiores eventos desportivos do mundo, voltaram-se para o tão aguardado halftime show, este com o rapper norte-americano Kendrick Lamar como convidado. Após vencer vários Grammys na semana passada – incluindo Melhor Canção do Ano com “Not Like Us” – Lamar tomou o palco do Super Bowl para uma atuação memorável, que contou com a presença de outros artistas como a cantora de R&B SZA, o ator norte-americano Samuel L. Jackson – vestido de “Uncle Sam”, um dos símbolos nacionais dos Estados Unidos – e até a tenista Serena Williams. 

Kendrick Lamar interpretou onze dos seus grandes êxitos ao longo da sua carreira, incluindo “squabble up”, “Humble”, “luther”, “All The Stars” – em dueto com SZA – e “Not Like Us”, a famosa disstrack dirigida ao rapper Drake. À sua volta, mais 400 dançarinos – vestidos de azul, vermelho e branco – acabaram por compor uma bandeira dos Estados Unidos. A atuação de Lamar está disponível na página de Youtube da NFL.

Para saber mais: Drake vs Kendrick Lamar: O confronto lírico entre os maiores rappers da atualidade que está a apaixonar a Internet

Esta edição do Super Bowl contou também com a presença de várias celebridades e figuras bem conhecidas do público norte-americano, incluindo o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que se tornou no primeiro líder em funções do país a assistir presencialmente à partida.

Também grandes personalidades do mundo da música, cinema e desporto estiveram presentes, como o ator Bradley Cooper, o ex-Beatle Paul McCartney, Beyoncé e o marido Jay-Z, o jogador de futebol argentino Messi e a artista Taylor Swift, namorada de um dos jogadores dos Kansas City Chiefs, Travis Kelce.

A cantora e compositora norte-americana foi vaiada pelo público após aparecer num dos ecrãs gigantes do estádio Caesars Superdome, momento que se tornou viral nas redes sociais e que foi, mais tarde, comentado por Donald Trump, numa publicação na rede social Truth Social, onde escreveu: “A única pessoa que teve uma noite mais difícil do que os Kansas City Chiefs foi Taylor Swift. Ela foi vaiada para fora do estádio. O MAGA [Make America Great Again] é implacável!”. Relembre-se que a cantora mostrou publicamente o seu apoio à adversária democrata de Trump, Kamala Harris, durante as eleições norte-americanas. 

Isaac Gemal apresentou na semana passada uma ferramenta destinada a curar momentos de tédio, ao mesmo tempo que ajuda a aumentar a cultura do utilizador: no WikiTok, deslizamos na vertical ao longo de artigos da Wikipedia, como se faz para ver vídeos no TikTok. O WikiTok é igualmente viciante, mas de uma forma mais positiva, sem haver um algoritmo que manipula o conteúdo apresentado e que ajuda o utilizador a ganhar conhecimentos.

A página funciona em ambientes móveis e também em navegadores de desktop e oferece um feed de artigos puxados diretamente através da API da Wikipédia num aspeto de scroll vertical. Cada entrada de texto é acompanhada de uma imagem e, se o utilizador gostar do que está a ver, pode carregar em ‘Ler mais’ para ser direcionado para a página completa da Wikipedia sobre o tema, explica o ArsTechnica.

O criador explica que o fluxo é completamente aleatório e que está a lutar contra a tentação de começar a ajustar os conteúdos com base nos interesses do utilizador. “Tenho várias mensagens de pessoas e até temas levantados no GitHub a pedir algumas alterações loucas no algoritmo do WikiTok. Tive de fazer finca pé e dizer algo como já somos controlados por algoritmos opacos e impiedosos na nossa vida diária, porque não podemos ter um pequeno canto sem eles?”.

A ideia do WikiTok foi lançada por Tyler Angert no X, replicada depois por outros intervenientes até chamar a atenção de Gemal. Este entra na ‘discussão’ no dia seguinte e começou a pensar em construir um produto minimamente usável. Com o auxílio de ferramentas de programação com Inteligência Artificial dos modelos Claude e Cursor da Anthropic, terminou um protótipo em duas horas apenas e publicou-o no X de madrugada. A informação foi depois publicada no Hacker News, de onde acabou por merecer várias republicações.

O código do WikiTok está disponível no GitHub, onde é possível sugerir modificações ou fazer contribuições. O serviço está disponível em 14 idiomas, incluindo português do Brasil.

A liderança é caracterizada como a habilidade de influenciar, motivar e guiar um grupo de pessoas para alcançar objetivos ou realizar tarefas de forma eficaz. Um líder inspira confiança, comunica claramente, toma decisões estratégicas e cria um ambiente de trabalho positivo e colaborativo. Além disso, a liderança envolve a capacidade de identificar e desenvolver o potencial dos membros da equipa ou organização, adaptando-se às necessidades e desafios do momento, mantendo o foco nas metas estabelecidas.

No livro A Arte da Guerra, Sun Tzu descreve o líder ideal como uma figura multifacetada, equilibrando força, inteligência, disciplina e sensibilidade para alcançar os melhores resultados.

Atrevemo-nos a acrescentar a estas características a capacidade de comunicação, empatia, integridade, resiliência, capacidade de motivar e de inspirar confiança. Estes atributos ajudam a construir um líder eficaz e a criar um ambiente onde a equipa ou organização se sinta valorizada, motivada e comprometida com os objetivos do grupo.

Nos sistemas hierarquizados, o líder exerce uma influência ainda mais significativa, já que a sua posição na estrutura organizacional atinge diretamente a dinâmica de trabalho, as relações entre os diferentes elementos da cadeia hierárquica e os resultados que se pretendem alcançar.

No caso do Ministério Público, a sua estrutura hierarquizada está constitucionalmente consagrada no art.º 219.º, n.º 4, da Constituição da República Portuguesa, quando alude que “os agentes do Ministério Público são magistrados responsáveis, hierarquicamente subordinados (…)”.

A hierarquia do Ministério Público caracteriza-se pela subordinação dos magistrados aos de grau superior, com o consequente acatamento de diretivas, ordens e instruções.

Tais instrumentos hierárquicos, estatutariamente consagrados, que os magistrados do Ministério Público têm o dever de acatar, destinam-se a estabelecer formas de atuação, regras processuais e/ou a regular aspetos específicos dos serviços. Formalmente é assim que funciona a estrutura do Ministério Público.

Com a tomada de posse do senhor Procurador-Geral da República, Sr. Conselheiro Dr. Amadeu Guerra, ocorrida em 12 de outubro de 2024, mudou o topo da hierarquia no Ministério Público.

Pese embora os escassos meses à frente desta Magistratura, já são visíveis algumas características de liderança, nomeadamente a capacidade de comunicação, de direcionamento e orientação, de motivação e engajamento, de influência na cultura organizacional e de implementação de mudanças.

De facto, a comunicação da Procuradoria-Geral da República é agora mais atual, moderna e dinâmica, o que permite ao cidadão formar um juízo crítico e lhe possibilita escrutinar, de forma clara e esclarecida, a atuação do Ministério Público. Desta forma, evita-se a distorção da informação, designadamente através de garantias de objetividade, responsabilidade e qualidade, criando um plano de comunicação estratégica, que auxilia no alcance de resultados e cumprimento de objetivos.

Por outro lado, com o programa de visitas às 23 comarcas do País, o Sr. Procurador-Geral da República tem conseguido uma significativa aproximação aos magistrados do Ministério Público, ouvindo-os, motivando-os e realçando a importância do trabalho que cada um realiza dentro da estrutura hierárquica. Este engajamento, cria um ambiente de trabalho positivo, oferecendo reconhecimento e incentivando o crescimento profissional dos magistrados.

No entanto, continua premente a necessidade de mudanças estruturais e tecnológicas que se tornam essenciais ao desenvolvimento do Ministério Público, e que são mais facilmente implementadas quando o topo da hierarquia assume a responsabilidade pela sua execução.

Entre as alterações estruturais, realça-se a tão aguardada autonomia financeira que abranja todo o Ministério Público, que tarda em chegar, e a necessidade de readaptar o quadro de magistrados por comarca de acordo com valor de referência processual (VRP).

Ao nível tecnológico impõe-se um novo sistema informático que acompanhe a modernização digital da Justiça, cujo caminho julgo ser irreversível face aos avanços tecnológicos da sociedade, sendo certo que sistema informático utilizado atualmente no Ministério Público – o Citius – não tem capacidade, nem as ferramentas necessárias, para suportar uma efetiva desmaterialização do processo em fase de inquérito.

Assim, e em jeito de conclusão, dir-se-á que a influência de um líder num sistema hierarquizado é crucial para garantir que a estrutura organizacional funcione de forma eficiente. Um líder tende a criar um ambiente de trabalho mais positivo, baseado na confiança, respeito e colaboração, promovendo uma cultura de apoio e inovação, onde todos se sentem valorizados. Confia na sua equipa, dá-lhe autonomia para tomar decisões e incentiva-os a agir com independência, reconhecendo as suas conquistas como estímulo ao crescimento individual.

Só me resta desejar que o Sr. Procurador-Geral da República seja o líder que o Ministério Público necessita para alcançar os desígnios desta Magistratura, e que o sucesso da sua liderança se traduza no sucesso de cada um dos magistrados que constituem e são parte desta Instituição.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

A General Atomics Electromagnetic Systems e a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos EUA (NASA) estão a testar o uso de tecnologia termo-nuclear para alimentar futuras missões espaciais. As duas organizações revelaram ter atingido um marco importante neste desenvolvimento, que se destina a perceber se o combustível nuclear pode ser usado nas condições extremas do Espaço. “Estamos muito encorajados pelos resultados positivos dos testes que provam que o combustível pode sobreviver nestas condições operacionais, colocando-nos mais perto do uso seguro e fiável de propulsão termo-nuclear para as missões lunares e no espaço profundo”, lê-se no comunicado da General Atomics.

Durante estes testes, a General Atomics sujeitou as amostras de combustível a seis ciclos termais nos quais foi usado hidrogénio quente para aumentar a temperatura rapidamente para os 4220 graus centígrados. O objetivo era perceber se o combustível suportava estas condições de exposição extremas.

Depois, em testes adicionais, a empresa analisou funcionalidades protetoras para perceber como melhorias nos materiais ajudavam a melhorar o desempenho do combustível em condições semelhantes às de um reator nuclear.

Christina Back, vice-presidente da General Atomics, conta que “pelo que sabemos, somos a primeira empresa a usar a instalação CFEET [sigla em inglês para teste ambiental de elementos combustíveis compactos] da NASA para testar e demonstrar a capacidade de sobrevivência do combustível depois de ciclos termais completos”, cita o Space.com.

Com a sujeição do combustível a estas temperaturas e a informação de que este apresenta um bom desempenho, estamos mais próximos de um futuro onde um sistema termo-nuclear pode vir a ser usado em missões espaciais, com uma performance duas a três vezes melhor do que a dos sistemas de foguetões convencionais.

Depois de confirmar a restauração completa dos serviços da rede PlayStation Network, a conta de suporte Ask PlayStation na rede social X informou que a Sony vai dar cinco dias extra de serviço a todos os subscritores do PlayStation Plus como forma de compensação. O ‘apagão’ durou quase um dia, com os utilizadores a começarem a reportar problemas na noite de sexta-feira (hora de Lisboa). Quase 24 horas volvidas, a Sony confirmou que a situação estava sanada.

O comunicado que dá conta do restauro não fornece quaisquer detalhes sobre o que se passou: “Os serviços de rede já estão completamente restaurados depois de um problema operacional. Pedimos desculpa por qualquer inconveniente e agradecemos à comunidade pela sua paciência. Todos os membros do PlayStation Plus vão receber automaticamente mais cinco dias de serviço”, cita o The Verge.

Durante o ‘apagão’, os utilizadores reportaram dificuldades em aceder às suas contas, visitar a PlayStation Store ou mesmo executar jogos. A situação não afetou todos os utilizadores e jogos de forma uniforme.

A UpHill acaba de obter a certificação do seu software como dispositivo médico classe Ila, um reconhecimento que poucas empresas na Europa receberam ainda. A distinção valida a fiabilidade e segurança da plataforma de orquestração e automação de cuidados de saúde desenvolvida pela tecnológica portuguesa e já implementada em mais de 40% das Unidades Locais de Saúde no nosso país.

Os dispositivos médicos são classificados em diferentes categorias, dependendo do risco associado ao seu uso e da sua complexidade. Por dispositivo médico entenda-se aparelhos, equipamentos ou produtos utilizados para diagnóstico, prevenção, monitorização ou tratamento de doenças e, no contexto atual da prestação de cuidados de saúde, também o software para processamento de dados é considerado um dispositivo médico.

Software da Uphill

No caso da UpHill, o diretor executivo, Eduardo Freire Rodrigues, explica em comunicado que “o software que certificámos é de orquestração de cuidados de saúde, algo extremamente complexo que envolve automação de tarefas, suporte à decisão clínica e a coordenação de tarefas entre equipas, numa jornada de cuidados contínua e prolongada no tempo. Contrariamente a grande parte do software médico certificado na UE, que são soluções de telemonitorização que apenas recolhem dados e os processam, a UpHill não se contentou com o primeiro nível de certificação. Esta decisão contrasta, claramente, com a maioria das empresas que tendem a minorizar aquilo que fazem e optam pela certificação de classe I que é autoreportada, ou seja, dispensa o processo, longo e rigoroso, de auditoria a que nos submetemos, obrigatoriamente feito ao nível internacional, por entidades competentes nomeadas pela União Europeia”.

O processo de certificação decorreu ao longo dos últimos anos, com um investimento de meio milhão de euros da empresa e foi liderado por um conjunto de auditores internacionais independente.

A UpHill opera desde 2012, acumula mais de 12 milhões de euros em investimento e tem o seu software a ser usado em praticamente metade das unidades de saúde em Portugal, em áreas distintas como gestão de doenças crónicas, otimização de percursos cirúrgicos, coordenação de jornadas oncológicas ou mesmo a redefinição de fluxos das urgências.

Um estudo de 2023 de investigadores do BCE sobre operações de crédito realizadas por bancos na Zona Euro entre 2018 e 2022, observa que o crédito concedido por esses bancos já diferencia as empresas consoante os seus riscos ambientais, em duas vertentes:

  • O risco atual, medido pelo setor de atividade da empresa e pelas emissões de gases de efeitos de estufa (GEE) associadas a esse setor
  • O risco futuro, medido pela existência, ou sua ausência, de metas de descarbonização por parte das empresas

Concretizando, os bancos analisados cobram um juro mais elevado/baixo às empresas em setores com maior/menor pegada carbónica. A diferença de juro cobrado entre setores tem um valor médio de 14 pontos base (pb; uma centésima de ponto percentual), com um mínimo de 5 pb e um máximo de 24 pb.

Figura 1: juros cobrados a empresas com baixas/altas emissões de carbono (fonte BCE)

Adicionalmente, os bancos cobram um juro mais baixo às empresas que se comprometam com metas futuras de descarbonização, comparativamente com as empresas que não apresentem compromissos. A diferença de juro cobrado tem um valor médio de 20 pb, com um mínimo de 13 pb e um máximo de 26 pb.

Figura 2: juros cobrados a empresas com/sem metas de descarbonização (fonte BCE)

Este estudo permite inferir algumas observações importantes para as empresas, nomeadamente as PME, na forma como encaram a sustentabilidade e como a banca pode ser um fator crucial na sua jornada.

  • Em primeiro lugar, a diferenciação que a banca faz entre as empresas, não é nova nem consequência da atual regulação de sustentabilidade. Resulta de uma análise aprofundada dos riscos percecionados, consoante a empresa esteja em setores expostos à necessidade de transição
  • Contudo, esta diferenciação poderá acentuar-se nos próximos anos com a necessidade da banca calcular e divulgar a proporção de crédito concedido a atividades sustentáveis. O Green Asset Ratio (GAR) é um forte incentivo à banca diferenciar entre atividades sustentáveis ou não, e quando for incorporado nos rácios prudenciais da banca, terá um impacto direto no pricing do crédito
  • Para as empresas com atividade num setor de emissões intensas em GEE, caso nada façam, tenderão a ter custos de financiamento superiores a outros setores, implicando menor atratividade dos investidores. Isto poderá ser um incentivo a essas empresas alterarem o seu funcionamento, incluindo adoção de tecnologias mais eficientes que diminuam as suas emissões.
  • Se essas empresas se comprometerem publicamente com essas alterações de funcionamento, de uma forma estruturada e verificável, a banca e os restantes financiadores poderão fazer um juízo informado sobre a trajetória dessa empresa, melhor aferir o seu risco futuro e eventualmente aceitar um juro mais baixo.

O leitor poderá achar que uma diferença de 14 ou 20 pb é coisa pequena e que não merece perder tempo. Mas considere este acréscimo de spread – porque é disso que se trata – no juro pago pela sua empresa ao banco. Por cada milhão de euros de crédito, estamos a falar de 1.400€ a 2.000€. Se o leitor for um diretor financeiro, sabe que é um número que já mexe o ponteiro.

Além disso, este spread poderá aumentar no futuro – ou reduzir-se – consoante a empresa saiba preparar-se para a jornada da sustentabilidade, correspondendo às expetativas dos financiadores e especialmente da banca. Ou seja, está nas mãos da empresa atuar desde já, e indiretamente, melhorar as suas condições negociais com os financiadores. E de certa forma, essa melhoria de condições quantifica o pricing da sustentabilidade.

Helena F. S. Lopes sempre se interessou por um tema que ganhou muitas páginas e segundos de ecrã: a II Guerra Mundial. Mas a historiadora, que viveu dois anos em Taiwan e gostava de cinema chinês, descobriu que havia capítulos por contar: “Macau era um mistério. Para qualquer pessoa que estude a China, em Portugal, Macau é um caminho inevitável. Mas não havia nada publicado sobre o assunto. E eu sempre gostei de explorar tópicos sobre os quais não sabia muito”, confessa. Seguiu o conselho de Julia Strauss, sua orientadora de tese em Londres e especialista em História da China: estudou a fundo o idioma chinês, foi diretamente às fontes chinesas, e escreveu sobre Macau e a II Guerra Mundial no seu segundo mestrado, e sobre as relações entre Portugal e China durante o conflito, no doutoramento feito em Oxford. Neutrality and Collaboration in South China ‒ Macau During the Second World War (Cambridge University Press, 2023) é uma leitura que ganha ressonâncias, com os 25 anos da transferência de administração de Macau de Portugal para a China agora celebrados. Ainda sem tradução portuguesa, o livro revela as tensões e jogos de forças da dita neutralidade, a pluralidade de atores que competiam por interesses e recursos, os mitos políticos.

“Macau, durante a guerra, é um autêntico filme”, diz a historiadora. Refúgio para os milhares de pessoas da China e de Hong Kong que fugiam do Exército japonês, entre 1936 e 1940, Macau saltou de 120 mil para 400 mil residentes: dos diplomatas aos camponeses, da fortuna à fome, tudo está aqui. Coautora de Xangai 1937 – Relatório sobre o conflito sino-japonês do cônsul português António Alves (Abysmo, 2024) e a preparar um novo livro sobre Macau, Hong Kong e Guangzhou, a investigadora encontra tempo para dar aulas sobre como usar filmes como fonte histórica – “algo que não faço neste livro”, avisa.

No epílogo, menciona um filme chinês de 2006, Haoqing suiyue/Love in Macau, em que os portugueses da época são representados por atores asiáticos. É o cinema a funcionar como ferramenta alternativa às fontes históricas?
O cinema, mesmo quando se ambienta num período histórico específico ou tenta ser mais fidedigno, é sempre ficção. O que achei curioso nesse filme foi ter acompanhado uma mudança na historiografia na China continental, aparecendo na mesma altura em que surgiu um imenso interesse por parte dos académicos chineses na II Guerra Mundial em Macau, quando antes havia apenas pequenos artigos sobre o tema. Nessa pequena produção cinematográfica, não houve talvez tempo ou orçamento para contratar atores portugueses… Mas o que é fascinante é a correspondência aí criada entre a vitória do Japão na II Guerra Mundial e a transferência de soberania do território, que nada têm que ver! E se algo tivessem que ver, seria [demonstrar] como a experiência de Macau durante o conflito atrasou precisamente esse processo… a mim, interessa-me perceber como certos acidentes da História, coisas não planeadas que acontecem em dias ou semanas, transformam o futuro dos territórios durante décadas.

Vários atores que viveram em Macau durante a II Guerra Mundial recordam a experiência como algo cinematográfico. Há uma ideia romantizada, mas, para muitos, esse período foi também de ansiedade e medo

A Macau da II Guerra Mundial era, diz, “um autêntico filme”. Historiadores como Philip Snow chamaram-lhe a “Casablanca do Leste Asiático”. Esta imagem é uma romantização cultural?
Vários atores históricos que viveram em Macau durante a II Guerra Mundial, e sobreviveram, recordam a experiência como algo cinematográfico. Há uma ideia romantizada transmitida pela cultura popular, um elemento cor de rosa para tornar livros, filmes, podcasts, num entretenimento. Mas, para muitos, esse período foi também de grande ansiedade e medo. A ideia de que Macau era um porto de abrigo seguro… Bem, era-o até certo ponto. Também era um território onde havia perigo, perseguição, censura e chacinas, fome e pobreza, e imensa desigualdade. Li documentos de arquivo e outras fontes sobre Macau, que me fizeram concluir que nem a ficção chegou a este ponto. Havia uma população que cresceu exponencialmente e em que a maioria vivia na maior pobreza, locais com condições miseráveis onde eram confinados os refugiados mais frágeis, fome e picos de mortandade relacionados com a escassez de bens, frio, doença. Aquilo que aparecia nos jornais de Macau, dizendo que era tudo caridade cristã, é muito diferente do que se lê noutro tipo de documentação. E havia muitos pedintes, cadáveres na rua a serem recolhidos na manhã seguinte, sobretudo em 1942. O próprio governador da época refere o canibalismo nos seus telegramas para Lisboa, embora ele tente conter a divulgação destes casos. Também estou consciente de que muitas coisas escritas sobre Macau, incluindo testemunhos de história oral recolhidos há 20 ou 30 anos – muitas décadas depois de terem acontecido… – também refletem leituras. Deteto semelhanças na maneira como se referem a certo tipo de dinâmicas em Macau, por exemplo nas infinitas vezes em que são citados os casos de canibalismo. Às tantas, interrogo-me se as pessoas estarão meramente a reproduzir descrições de eventos que, de facto, não viveram.

É outra versão da tal Casablanca neutral?
O termo “Casablanca do Oriente” foi aplicado a outras cidades neutrais: Guangzhou, Istambul, a Xangai do final dos anos 1930 até 1941… Na verdade, havia muitas “Casablancas” por aí. A ideia de um local pequeno, atípico, controlado por uma potência colonial relativamente fraca, mas conveniente para uma série de intervenientes; uma cidade que é um sítio de trânsito, de espera, onde as pessoas podem ter acesso a informação, a papéis, a fundos – um lugar de oportunidade.

A narrativa oficial de Macau como encontro de culturas e de coexistência pacífica, que atravessa os períodos colonial e pós-colonial, é reciclada na atualidade

Portugal era visto como um poder colonial fraco: Christina Mui Bin Cheng chamou-lhe “anomalia no colonialismo e da descolonização”, e Cathryn Clayton, um “imperialista desafortunado”. No livro, Macau é recentrada como um tabuleiro com muitos players. Tal aconteceu apesar do poder colonial português, ou por causa da fraqueza do colonizador?
É uma pergunta complicada. No caso da II Guerra Mundial, Macau era um território neutral porque Portugal era neutral. Mas nenhuma das potências coloniais europeias que controlavam territórios na China (quer lhes chamassem colónias, concessões, ou outro termo) tomou uma posição clara e inequívoca de apoio ou de beligerância à China. O facto de Macau ter continuado a ser um território neutral, criava ali uma série de oportunidades para atores internacionais e cidadãos anónimos – chineses na sua maioria, mas também britânicos e alguns norte-americanos a partir de 1941. Não as atribuo ao estilo de colonialismo português. É difícil falar de neutralidades durante a II Guerra Mundial: estas estão repletas de casos surpreendentes e até ambíguos. No caso de Macau, existiu um claro favorecimento do Japão em muitas questões, mas também houve facilidades dadas sobretudo aos britânicos – que eram aliados dos chineses. E, a partir de dada altura, havia uma consciência clara do rumo do conflito entre China e Japão e de quem iria governar as áreas limítrofes de Macau – e com quem era preciso ter uma relação funcional. A partir de 1949, temos o paradoxo total: um governo português ditatorial e anticomunista, que não tem relações diplomáticas com a China de Mao mas que tem uma working relationship bastante pacífica e até construtiva, mais até do que com as autoridades nacionalistas de Taiwan que Salazar reconhece mas com quem se dá pessimamente. Por isso, quem estudou outros períodos de Macau vai sempre destacar a relação de convivência pacífica – mas esta nunca foi sempre pacífica.

Portugal assistia a tudo isto à distância?
Tenho sempre o cuidado de distinguir Portugal enquanto país e a administração colonial do Estado Novo. O período que investigo não é um período de democracia: o público português não tinha palavra alguma sobre como é que se geria o império. E a maior parte das notícias sobre o que se passava em Macau não eram divulgadas em Portugal. Aliás, na China dos nacionalistas, sobretudo no período pós-guerra (que também não era propriamente uma democracia), há imensas notícias sobre Macau, há debate, há pessoas que escrevem opiniões e enviam missivas às suas assembleias provinciais, há quem defenda “Macau deve voltar à China”, etc., ou seja, há uma sociedade civil a ter opinião, e que não tem paralelo com o Portugal de então. O que tentei demonstrar [neste livro] é que Macau foi importante para vários atores, por razões diferentes, e a administração colonial portuguesa era apenas um destes atores. Naturalmente esta queria era continuar a controlar Macau – como os britânicos quiseram continuar a controlar Hong Kong –, mas não era inevitável que, em 1945, este fosse o desfecho da situação. Macau, tal como Hong Kong, é um bocadinho salvo pela guerra civil chinesa, porque retira esta pressão. Do ponto de vista geoestratégico, toda a história da presença dos portugueses em Macau tem que ver com a importância daquele sítio com ligações a outras partes do mundo. Também é assim que, hoje em dia, Macau continua a ser defendido por autoridades de Macau e da China e por observadores de outras nacionalidades: uma porta de entrada para o mundo lusófono…

Assinala que houve tentativas falhadas do Estado Novo para ocupar as ilhas próximas de Macau: Lapa, D. João e Montanha. Portugal quis mais território?
Penso que se tratava de um certo oportunismo, um tentar tirar partido dos apuros em que o governo chinês republicano se encontrava, a braços com uma guerra brutal com efeitos devastadores na província de Guangdong, muito visíveis em Macau. Esta ideia de algumas figuras portuguesas, algumas com planos grandiosos, de ocupar aquelas ilhas sob o pretexto de que haveria um reconhecimento de facto por parte das forças japonesas de que aquilo estaria controlado por Portugal…. Na verdade, nem as forças japonesas estavam interessadas (estas entravam onde e como quisessem, sem “dar cavaco” às autoridades portuguesas), nem haveria poucas reclamações por parte da China sobre o que os portugueses estariam ali a fazer. Portugal não tinha capacidade militar para ocupar aqueles territórios, e houve apenas uma pequena presença policial em Lapa. Algo fascinante é verificar o quão dependente Portugal era de efetivos de outras colónias, nomeadamente Moçambique, mas também alguns polícias indianos vindos do império britânico. Era um caldo muito global… Hoje, há interesses de Macau nestas antigas ilhas, para as operar sob a sua jurisdição, o que tem uma certa ironia.

Há, aqui, muitos episódios que testaram a neutralidade no terreno. Por exemplo, o do apoio médico dado em Macau às vítimas envolvidas no conflito.
Macau era muita coisa, não se tratava apenas de uma realidade determinada por quaisquer fantasias expansionistas de algum cônsul ou governador. Havia muitos entendimentos a nível local, contrabando de bens e sobretudo de pessoas: estas podiam sair de Macau para a China não ocupada. Como em todas as colónias, havia intermediários eficazes a contactarem com todos os lados do conflito para garantirem que as coisas acontecem com o mínimo de disrupções. E havia entendimentos na área fronteiriça, por exemplo, para deixar vítimas chinesas e até guerrilheiros terem tratamento em Macau. Tudo isso acontece porque Macau tinha uma maioria da população chinesa que não tem interesse em viver sob o jugo japonês, e por isso há uma série de ajudas ad hoc prestadas à resistência chinesa, seja esta de que cor política for. É verdade que houve mais controlo sobre instituições e grupos mais pró-resistência do que em pró-japoneses – até porque havia a consciência de que o Japão poderia ocupar Macau em três tempos se quisesse. Mas o Japão não tinha interesse em ocupar Macau. Essa é outra ideia contraditória no território: os japoneses andavam a ajudar outras zonas asiáticas a libertarem-se do colonialismo europeu e norte-americano, mas faziam-no nos seus termos. Os chineses colaboracionistas tentaram explicar-lhes que não fazia sentido terem Macau ali sob o domínio português e o Japão não tomar nenhuma ação… Mas era estrategicamente conveniente eles terem aquela cidade neutra para monitorizarem a resistência – e terem canais de comunicação com o inimigo, uma realidade dos conflitos que não cai muito bem nas narrativas contadas a preto e branco.

A ideia da Macau cosmopolita sobreviveu nas narrativas atuais.
A Macau cosmopolita também o era por causa dos refugiados, à semelhança do que acontecia no continente europeu com as populações deslocadas a trazerem novos hábitos, ideias, experiências. Entre os milhares que ficam em Macau durante a II Grande Guerra, havia muitos refugiados das grandes cidades chinesas, como Xangai e Cantão, que estabeleceram empresas, negócios. Havia artistas, cantores de ópera cantonenses, figuras da educação que contribuíram grandemente para este cosmopolitismo de guerra. Algumas terão um papel fundamental no Macau da Guerra Fria, como o jovem Stanley Ho fugido de Hong Kong…

Como lê a nova geopolítica da região?
Tenho muita relutância em fazer futurologia. Mas diria que, por vezes, parece um pouco o clima de rumores alarmistas vividos em Macau durante a II Guerra Mundial. Há uns cenários cataclísmicos que, na verdade, não se materializam – e ainda bem. A narrativa oficial de Macau como encontro de culturas e de coexistência pacífica, que atravessa os períodos colonial e pós-colonial, é reciclada – e esta não é necessariamente uma narrativa problemática. Talvez por influência do que se passa em Hong Kong (que tem características específicas, nem sempre decalcáveis para Macau), há tendência a referir uma contração das liberdades individuais nunca antes vista, [mas] deve haver alguma cautela. Qualquer pessoa que analise o período colonial, verá que as limitações das liberdades eram, talvez, piores do que existe hoje em dia (havia muitas práticas de censura em Macau, não havia imprensa livre…), e que não devem ser desvalorizadas questões como o acesso à saúde e à educação. Não há comparação entre o que é Macau hoje e a Macau em 1937 ou em 1945, ou talvez até a de 1965. Não estou a sancionar quaisquer limitações à liberdade. Mas estes períodos que estou a referir já são todos no pós-colonial. Macau continua a ser um sítio de oportunidades para muitos, e onde alguns encontram refúgio. Em Hong Kong, isso não é uma dimensão tão clara como era há dez anos, há muito medo e alarmismo – e há coisas que eram possíveis há 20 anos e não o são agora. Mas a história é cíclica: nem sempre há uma contração inevitável de espaço e de liberdade que nunca mais volta.