Nos últimos anos, enquanto se desenrolavam processos sobre alegada corrupção desportiva no futebol português, andou entre o céu e o inferno. Ao mesmo tempo que era investigado e inquirido a pretexto de diversas suspeitas, Jorge Nuno Pinto da Costa, 70 anos, coleccionou três títulos no FC Porto, estes sem sombra de pecado. Católico, devoto de Fátima, crente na justiça divina e confessadamente dedicado aos pobres, o presidente do campeão português de futebol vive diariamente incensado ou excomungado, qual personagem de Coppola. Para uns, é a versão pátria do Padrinho e dos seus códigos no que da bola e seus meandros se trata. Para outros, o eterno, competente e invejado líder de um clube ganhador que, há pouco mais de trinta anos, ainda tremia das pernas quando galgava as fronteiras da cidade Invicta.

Morreu Pinto da Costa



Com 26 anos de presidente do FC Porto e quase 55 de sócio, casado com Filomena Morais e pai de dois filhos, Pinto da Costa quase poderia ser refl exo do poema que gosta de declamar entre amigos: Cântico Negro, de Régio. Pois, não terá ele escorregado já em becos lamacentos ou deixado levar pelos ventos? Não amará ele o longe, a miragem, os abismos, as torrentes e os desertos? Não será ele um vendaval que se soltou? Quem o guia? Deus e o Diabo, mais ninguém? Ele nega: faz por ser levado apenas pela mão dos céus, garante.
Aqui na terra, Pinto da Costa é chamado por estes dias a responder por actos comuns aos mortais. E num dia passado com a VISÃO, não se escondeu das perguntas que todos fazem, em nenhuma faceta se refugiou, outras revelou. No restaurante do Carlton Hotel, no Porto, com o Douro em fundo e acompanhado da mulher, almoçou pato, não resistiu aos chocolates, contou e ouviu histórias, antecipou planos para depois do adeus ao FC Porto, entre desejos e projectos a concretizar na cidade. Foi entrevistado durante três horas. Ininterruptamente e sem «ais».

Segue-se o que fica da conversa. Também neste caso, não transitada em julgado.

Se não fosse presidente do FC Porto, seria o quê?
Quando jovem, queria seguir Direito, ser advogado. Envolvi-me nisto e já não fui para a universidade, com desgosto da família. Mas houve outra razão: quando acabei o 7.º ano, respondi ao anúncio de um banco. Chamaram-me para testes e quinze dias depois era funcionário. Ainda quis sair, mas aumentaram-me. Ao fim de um ano, pensei ir para Coimbra, mas voltaram a aumentar-me. Fui ficando.

Sente-se realizado no FC Porto?
Ao fim de 26 anos, sou o presidente do mundo com mais títulos no futebol e nas outras modalidades. Realizei muito mais do que sonhei. Se fosse por mim, estaria satisfeito. Mas o clube não é meu: é da cidade, do País e uma referência internacional. Pessoas com responsabilidades afastam-se e encostam-se a outros lados, prognosticando que, quando deixar a presidência, o FC Porto se transformará num clube provinciano. Vou sair quando entender e antes dos sócios quererem e provar aos calculistas que o FC Porto continuará organizado, conquistador e orgulho da cidade.

Ser figura nacional envaidece-o ou perturba-o?
Nem envaidece nem perturba, embora às vezes me prejudique. Ser uma figura do Porto e do Norte que sobressai origina problemas, perseguições e incompreensões. Sempre foi assim e há-de ser, resta resignar-me. Por isso, trabalho para a satisfação de uma cidade, de uma região e de muita gente que, exceptuando as vitórias do FC Porto, não tem razões para se sentir feliz. Por mais testemunhas que comprem e pessoas que ensinem a contar histórias na Judiciária e no Ministério Público, chega-me a minha consciência e a certeza de que as pessoas que amo e me amam conhecem o que sou. Por felicidade, não por mérito, nasci numa família de princípios, pude ter uma educação rigorosa e instruir-me, embora haja quem, não tendo a sorte das minhas origens, se tenha cultivado e instruído mais do que eu.

Mas o futebol não o contaminou?
Não. No futebol, existe muita gente boa, culta e instruída. Mas, como em muitas coisas da vida, também temos de lidar com pessoas boçais, incultas e até estúpidas. E há também incultos que, chegando a determinados lugares, metem uma cassete na cabeça, contratam gente para cuidar da imagem e professores para aprenderem a falar. Não me revejo nessa gente, embora tenha de lidar com ela.
A mim, o futebol nunca me privou de fazer o que sempre gostei: ir a concertos, exposições, participar em actos culturais. Num festival de música ainda consigo passar despercebido, mas o futebol expõe-me mais.

No futebol, o que parece é…
É por isso que quando abandonar o futebol já não terei de conhecer determinadas pessoas e ignorarei outras.

Já recusou um busto seu na sede do FC Porto. E não aceitou que dessem o seu nome ao novo estádio. Modéstia a mais ou rejeita o culto de personalidade?
O culto da personalidade é detestável. Se permitisse um busto ou o meu nome no estádio, fazia uma fi gura ridícula. A proposta de darem o nome ao novo estádio foi votada por unanimidade num plenário do FC Porto. Não vetei a decisão, mas disse que, se fosse mantida, me demitia.

Quem manda, afinal, no FC Porto? É o senhor ou as votações são colegiais?
Se convido pessoas para a direcção, tenho de aceitar que as decisões são da maioria do plenário.
Há excepções. Por exemplo: a escolha do treinador da equipa principal é minha, não a levo a reuniões. Ouço toda a gente ligada ao futebol, mas, corra bem ou mal, a responsabilidade é minha. Assim, o treinador também sabe que não deve o lugar a ninguém, nem se preocupa se este votou a favor ou contra.
Sabe apenas que é o meu treinador. Mas já houve questões em que fui derrotado. Prevalece a vontade da maioria.

Passemos aos processos judiciais. Condenado ou absolvido, arrisca ficar para a história, aos olhos de muitos, como o «pai» da corrupção desportiva…
Sabe, no colégio Almeida Garrett tinha um colega que sofria de ataques epilépticos. Foi internado, fez um tratamento, melhorou muito, mas continuavam a chamar-lhe maluco. E ele dizia: «Não sou maluco. Estive internado num manicómio, mas deram-me alta. Não sei se vocês, caso lá entrassem, tinham saído». Isto para dizer o seguinte: podem pôr–me os nomes que quiserem.

E as suas relações com os árbitros?
Tive e tenho, há anos, o telemóvel sob escuta. Verificaram as vias verdes, os restaurantes onde fui, para ver se me apanhavam encontros, telefonemas ou combinações com árbitros. Tudo espremido, encontraram um árbitro que foi tomar café a minha casa, que nunca tinha apitado o FC Porto nesse campeonato e só apitaria um jogo em que já éramos campeões. Nem sequer ganhámos! E incriminaram-me por tentativa de corrupção num caso em que dois árbitros pedem a um amigo meu sem ligação ao FC Porto que arranje umas meninas ou senhoras para terem companhia à noite. Nos processos, arquivados até alguém escrever o livro de uma certa senhora, não há uma chamada para árbitros. Sinto-me perseguido, obviamente que sim! Se certos papagaios que aí andam fossem escutados e fosse vigiada a forma como se fazem algumas contratações…

Acha que o Ministério Público e Maria José Morgado seleccionaram alvos?
Sinto-me seleccionado. A Carolina foi levada à Judiciária, umas vezes pela jornalista Leonor Pinhão, outras pelo Luís Filipe Vieira. Há provas. E a irmã da Carolina disse que ela foi industriada por gente do Ministério Público.

Diz-se que Ana Maria Salgado é sua protegida…
Não, não! Não é nem deixa de ser. Não pedi nada nem ela me contactou. Mas há coisas indiscutíveis: a Carolina escreveu e disse que contratou indivíduos para mandar matar Ricardo Bexiga. Não acredito, é absurdo. Nunca no tempo que convivi com ela, o nome foi falado. Se Carolina fez o que disse, é gravíssimo.
Se não fez, é gravíssimo também. No entanto, não foi constituída arguida.

Acha que ela é uma ponta-de-lança.
É óbvio que é!

…do Ministério Público?
A que propósito e com que fins a Leonor Pinhão acabou o livro e a levava à Judiciária?!

E o original do livro?
Sei quem o tem, está bem guardado. Não confere com a versão final: há coisas que saíram e outras entraram. No momento próprio será divulgado. Mas havendo quem confesse ter sido contratado pela Carolina para matar o doutor Fernando Póvoas e apesar da PJ ter encontrado o indivíduo contratado por ela para incendiar o meu escritório e de Lourenço Pinto, ela continua a ser credível. É esta a pessoa idónea que serve de base às denúncias?!

Viveu com ela seis anos. Se é assim, como é que alguém com a sua experiência de vida manteve a relação, sabendo-se que a ingenuidade não é propriamente uma das suas fraquezas?
Mais do que ingénuo, fui estúpido. Tinha uma vida estável com uma pessoa que amava e nunca deixei de amar. Por isso estou novamente casado com ela. Foi e é a pessoa da minha vida. Mas às vezes somos levados para situações em que, quando damos conta, já não podemos sair.

O mundo do futebol é o responsável?
Não é só no futebol que acontece. Não devia ter acontecido, é verdade. Mas quem denegria a imagem dela agora trata-a como se fosse a Madre Teresa de Calcutá. Quando ela disse no tribunal que era escritora, dei uma gargalhada. Quando as revistas cor-de-rosa lhe mandavam perguntas para entrevistas, ela era incapaz de responder. Pedia a um amigo nosso, advogado, que o fizesse e ele depois mandava-lhe as respostas por e-mail. Quando vejo os artigos dela no Correio da Manhã, rio-me. Sei quem os escreve e para que e-mail são enviados. Ela depois manda-os para o jornal.

Quem os escreve?
Muitos foram escritos pelo Pedro Rita [ jornalista do DN]. O Correio da Manhã paga à senhora dois mil euros pelos artigos que outros escrevem.

Miguel Sousa Tavares e Rui Moreira, sócios do FC Porto, consideram que deveria pedir desculpa por deixar que a sua vida privada interferisse na imagem do clube….
Se a imagem do clube tivesse sido prejudicada, teria efeitos na adesão das pessoas. Mas ainda recentemente, em Setúbal, vi a forma terna e carinhosa como se dirigiram à minha mulher e quiseram que ela fosse a madrinha da Casa do FC Porto. Tenho um convite para ir a Nova Iorque e a Washington inaugurar casas do clube e insistem que a leve. As pessoas dizem-me que estão felizes com a reconstituição da minha família. O resto é passado, momentos maus. Ainda hoje não tenho culpa de que alguma comunicação social ande sempre atrás de mim e se dependure nos muros da casa para tirar fotografias. Não exponho a minha vida privada, mas também há coisas que deixo sair. Não tenho nada de que me envergonhar.

É verdade que afastou Domingos Matos, anterior presidente do Conselho Fiscal do FC Porto por ser administrador da Cofina, proprietária do Correio da Manhã e do Record?
Não foi esse o motivo, ele já pertencia à Cofina quando o escolhi para o Conselho Fiscal. Tive o cuidado de ir a Lisboa, ao Hotel Ritz, dizer-lhe que não contava mais com ele por razões de falta de solidariedade. Quando o Record fez determinada campanha, disse-lhe que não era correcto. E ele respondeu-me: «É por essas e por outras que não leio o Record. Mas isso não é nada comigo». Ou seja, deu-me razão, mas reagiu à Pilatos.

As suas relações com Joaquim Oliveira estão como estavam?
Como estavam?!

São boas?
São normais.

Boas ou normais?
Cordiais, cordiais.

Comenta-se que não gostou do facto dos jornais do grupo Global Notícias, de Joaquim Oliveira, terem dado demasiado crédito a Carolina…
Não, ele não interfere na linha editorial. Mas a verdade é que vejo vender a imagem de can- didatas ao prémio Nobel da Literatura que não são capazes de responder a meia-dúzia de perguntas de uma revista cor-de-rosa.

O que espera do novo livro de Carolina?
Não o vou ler. Também não li o primeiro. Tenho muitos livros ainda para ler e sei quem são os autores (risos).

Viu o filme Corrupção?
Também não vi. Mas li o guião feito pela Leonor Pinhão, também tenho isso. Curioso foi o Correio da Manhã ter feito mais promoção a esse filme do que àqueles que ganham Óscares. Nem o Manoel de Oliveira, com quase 100 anos, conseguiu ser tão falado.

E a acareação com Carolina no próximo dia 14, preferia não a fazer?
Prefiro fazê-la! Essa senhora disse que eu almoçava e jantava com Pinto de Sousa e Valentim Loureiro para escolher os árbitros para os jogos do Gondomar. É falso. Nunca almoçámos os quatro, nunca! Os quilómetros de fita das minhas chamadas gravadas talvez dêem para ir à Luz não ao hospital! e voltar. Mas desafio alguém a encontrar uma palavra minha sobre o Gondomar. Nunca me interessou se o Gondomar subia ou descia, nunca vi um jogo, nunca emprestámos um jogador ao clube e eu ia almoçar, tomar o pequeno-almoço ou encontrar-me numa esquina para combinar os árbitros do Gondomar?! Ridículo.

Está a ser investigado por fraude fiscal e branqueamento de capitais decorrentes de transferências de jogadores. Fala-se de mais de 150 operações bancárias sob suspeita…
Tudo isso é baseado apenas no que a Carolina diz…

E várias contas no estrangeiro.
É o que ela diz, mais nada. Ela diz que uma imobiliária da qual sou o accionista maioritário serviu para se fazerem lá transferências de dinheiro de Jorge Mendes e Joaquim Oliveira. A PJ fez uma busca à contabilidade. Por mim, podem levar tudo. Não existe nada que não sejam movimentos de compra e venda de casas. Mas se ela disser que tenho um poço de petróleo escondido, talvez venham os procuradores e a PJ de Lisboa fazer um levantamento.

Disse em tribunal que ganhava dez mil euros por mês, mas, segundo o Correio da Manhã, baseado supostamente na sua declaração de IRS, ganha mais de 50 mil euros.

Não. Passou-se algo mais grave do que isso. Uns dias depois da doutora Maria José Morgado ter sido nomeada procuradora chefe do processo, o doutor Saldanha Sanches foi à SIC afirmar que era preciso acabar com a corrupção no futebol porque o presidente do FC Porto tinha dito em tribunal que ganhava 4oo euros por mês! E disse-o com a maior impunidade. Que credibilidade é que tem? Se fosse do Ministério Público, obrigava-o a esclarecer.

Mas ganha quanto, afinal?

Disse em tribunal que ganhava mais ou menos dez mil euros por mês. Disponibilizei-me perante a senhora juíza para mostrar os recibos do valor certo, mas não foi preciso.

Processos na Liga. A Comissão Disciplinar pode determinar a perda de pontos do clube e a sua suspensão do cargo por um período de seis meses a dois anos. Como encara estas situações?

Com tranquilidade. A Liga baseia os argumentos no depoimento da dita senhora, tal como o Ministério Público.

Não aceita perder pontos?

Não. No meu caso irei até às últimas instâncias internacionais. Se calhar, terei oportunidade de revelar muitas coisas.

Se for condenado nos processos judiciais, deixa a presidência da SAD do FC Porto?

Não admito ser condenado.

Como cidadão, diz-se preocupado com questões sociais, instituições de solidariedade. Como presidente do FC Porto está a braços com a Justiça. O contraste não o preocupa?

Preocupa-me quando pessoas, apenas por serem minhas amigas, são perseguidas. O Coração da Cidade é uma instituição que dá alimentação e dormida aos «sem-abrigo». O FC Porto não dá nada, mas eu ajudo no que posso: arranjo pessoas e empresas que dão donativos e alimentos, dou muita roupa, etc. Mas por causa disso, a directora, dona La Salete, passou um dia na Judiciária para respon- der se o FC Porto lavava dinheiro no Coração da Cidade. Quando uma instituição destas, que se substituiu ao próprio Estado, tem de passar por isto, incomoda-me.

Reconhece que por vezes baixa o nível para defender o FC Porto?

É difícil não baixar o nível com certas pessoas. Se mantiver o nível, elas não percebem. Não vou citar o José Régio ou o António Nobre com alguém do futebol senão ainda me perguntam se são presidentes da Firestone ou da Goodyear. E eu de pneus não percebo nada (risos).

Lobo Xavier, diz que Pinto da Costa não é propriamente um anjinho de asas brancas…

Asas têm os passarinhos e os milhafres, como aquele do Estádio da Luz. Dizem que é uma águia, mas é um milhafre.

O poder mudou-o?

Não sei o que é ter poder, se o tivesse talvez algumas pessoas não fizessem o que fazem. No essencial, sou a mesma pessoa de sempre.

É na guerra que encontra a paz?

Não me meto com ninguém, a menos que se metam comigo. Cristo levou uma bofetada, deu o outro lado e veja como acabou.

De onde saiu a expressão «o Papa»?

Não faço ideia, nem me reconheço nela.

Indignou-se por insinuarem que era «um mafioso rodeado de seguranças». Não contribuiu para essa imagem?

Nunca tive seguranças. De dia ou de noite vou a qualquer lado e a única segurança que tenho é a minha mulher. Quando se trata de uma deslocação da equipa, é diferente.

Já falou das intromissões na vida privada. Mas houve uma fase em que as permitiu…

Fui arrastado involuntariamente para isso. Quando vi que as coisas ultrapassaram a medida, disse como o outro, há dias: «Basta!». Sendo uma figura pública, aceito que também nos queiram fotografar em concertos ou noutras ocasiões. Mas nunca viu a minha mulher aparecer em reportagens só para se exibir.

Valentim Loureiro disse, numa entrevista, que no campo amoroso não gere tão bem as emoções como no futebol. O amor enfraquece-o?

O amor fortalece-me. Isso diz-me muita gente, até mesmo no clube, desde que voltei a casar. Uma coisa é estar com alguém, mas a hora da verdade é quando decidimos casar ou não. Casando, uma pessoa sente-se mais forte, estável e segura. Ganhei anos de vida, estou mais feliz. Quando se casa, há garantias de amor e interesse comum. Encontrei isso novamente. Por isso, passo por cima das guerras e difamações. Não me passam ao lado, mas não beliscam.

Sendo católico, é capaz de odiar?

As pessoas em que poderá estar a pensar, não odeio. Desprezo. Odiar é um sentimento, ainda que mau. Há pessoas que não merecem qualquer sentimento. Não odeio um verme. Porque hei-de odiar uma cobra? Desprezo-a, apenas. Quero-a longe.

Como é que as suas confessadas preocupações sociais convivem com a obrigação, decorrente das suas funções, de negociar salários milionários de jogadores? Como gere esse contraste?

Ser futebolista é uma arte. Tal como os cantores, dão espectáculos pagos. Por vezes, choca-me. Mas digo aos jogadores que há pessoas a precisar deles. Envolvo-os em acções de solidariedade, em visitas a crianças e doentes. E eles são sensíveis. Outro exemplo: no próximo jogo em casa, faremos um almoço com pessoas do Coração da Cidade e vamos levá-las ao estádio. Isto só é possível porque os artistas são bons, enchem o Dragão e ganham campeonatos.

Não acha que o futebol tem hoje um protagonismo exacerbado na vida das nações?

Tem, mas é dado pela Comunicação Social. Três jornais desportivos diários são um absurdo. E os diários de informação geral também trazem muitas páginas sobre futebol. Além disso, temos programas televisivos semanais onde só se fala de arbitragens, de penaltis com dez anos, e se dizem barbaridades. Devo ser dos presidentes que menos entrevistas dá. Mas há indivíduos que falam todas as semanas, para não dizer todos os dias. Falam porque vão ouvi-los. Só desprestigiam. Para a promoção do futebol, basta ouvir jogadores e treinadores. E mesmo aí, doseado.

Recuperou há semanas, em São João da Madeira, a tese do «Norte esquecido» e do «Norte hostilizado». E disse: «É no poder local que temos de fazer a resistência». Descodifique…

Olhe, há dias, no centenário da Associação Comercial do Porto, o presidente Rui Moreira analisou a situação precária e de esquecimento na cidade e na região. E chocou-me que o Primeiro-Ministro tenha, na ocasião, respondido a isso com um discurso de propaganda política. Toda a gente saiu de lá frustrada, dizendo: «Viemos a um comício!». O engenheiro Sócrates nem sequer teve uma palavra para a associação e os seus dirigentes. E não foi por qualquer atitude ostensiva, foi por desconhecimento. Para os nossos governantes, Portugal é Lisboa. Cada vez mais. Com a regionalização metida na gaveta e a descentralização atirada ao mar, só vejo possibilidade de resistência através do poder local.

Como é que isso se faz?

Faz-se quando as populações elegerem pessoas capazes de bater o pé ao poder central, reivindicativas, com discurso justo e inteligente. Como fez Rui Moreira na sessão.

Que circunstâncias o fariam meter-se na política?

Na política propriamente dita, em circunstância alguma. Não me identifico com os processos partidários. Bastariam, por exemplo, estes últimos seis meses do PSD para dizer: «Com esta gente não quero nada». Um líder eleito pelas bases, com uma confortável margem, no dia seguinte já estava a ser contestado por aqueles que não deram a cara. Mesmo com todos os erros e insufi ciências do líder fizeram tudo para derrubá-lo. Não sei se foi bem ou mal eleito, não tenho nada a ver com isso. E se tivesse, se calhar, não votava nele. Enfim, política partidária, não. Nunca.

Nem com regionalização?

Poderei estar disponível para participar em causas justas, sem querer lugares, e em lutas que sirvam o País e a nossa região. Poderei entrar numa luta em defesa da nossa cidade.

Traduza…

Olhe, envolver-me numa candidatura que não seja fruto de uma escolha partidária imposta à própria cidade.

Apoiaria Elisa Ferreira, cada vez mais falada para candidata pelo PS à Câmara do Porto?

Ela ainda não é candidata. Mas reconheço-lhe qualidades, capacidade, inteligência e determinação. Se houvesse dois candidatos, o actual presidente e a Elisa Ferreira, nem hesitaria: apoiá-la-ia. Mas tenho um sonho para o Porto: um candidato independente.

Seria esse candidato?

A cidade do Porto não é o PSD, em que qualquer um acorda e diz: «Sou candidato».

Mas responda: nunca seria o senhor?

Não digo nunca. A isso, não digo nunca.

Não tem medo de ir a votos fora do FC Porto?

Não, nenhum. Na situação que me coloca, não teria medo de ir a votos. Por uma questão simples: não iria para ser ministro ou primeiro-ministro. Mas prefi ro apoiar alguém que não esteja a fazer curriculum. Não interessa se é para perder ou ganhar. A mim, o não ter partido dá-me liberdade. Em determinada circunstância, já votei no PCP porque escolho pessoas. Não sou comunista, mas se o PCP apresentasse para a Câmara alguém que eu acreditasse lutar pelo interesse da cidade e não pensasse em trampolins para outras coisas, votaria neles. As autarquias têm de estar acima dos partidos.

Dava-lhe um gozo especial enfrentar Rui Rio…

Não. Uma candidatura à Câmara do Porto não pode ser contra alguém. Quem concorrer como independente e farei tudo para encontrar um disponível para lutar pela cidade não pode ir com esse espírito.

Está a ver alguém capaz?

Posso estar, mas não vou revelar senão amanhã tinha logo o Ministério Público em cima dele (risos).

Há uns anos, Berlusconni desafiou-o a entrar na política e a formar um partido, não foi?

Foi, ainda tenho lá uma pasta com a propaganda toda que ele ia lançar. E um relógio. mas não me identifi co politicamente com ele.

Sócrates desiludiu-o ou surpreendeu-o?

Nem uma coisa nem outra. Como Ministro do Desporto, foi excelente, interessado e colaborante.

Mas tem opinião sobre a actual governação?

Um amigo meu, de Angola, diz que Portugal é um estado policial com uma ditadura fiscal. No engenheiro Sócrates, admiro duas qualidades: é determinado e toma decisões. Mas apertou o cinto e esqueceu as pessoas.

Assustou-o a hipótese de Rio chegar a líder do PSD?

Se fosse do PSD, assustava-me. Como não sou.

Como explica que a estratégia de Rio tenha sido bem sucedida eleitoralmente, mesmo depois da «guerra» entre a Câmara e o FC Porto?

O FC Porto é campeão por mérito próprio e tem muitos pontos de avanço por demérito dos outros. Talvez isto se aplique à situação da Câmara do Porto.

O discurso demasiado regionalista e radical não prejudicou muitas vezes o Norte?

Quem divide o País não são as pessoas do Norte. Nós nunca dizemos «vamos ao Sul». Dizemos «vamos a Lisboa, a Beja ou ao Algarve ». Mas lá em baixo dizem «vamos ao Norte». Nunca ouviu ninguém dizer «os sulistas». Mas ouve dizer «os nortenhos». Houve até um antigo ministro que disse que no Sul era do Benfica e no Norte era do Boavista!

Mas houve muitos discursos inflamados...

Discursos inflamados?! Nem com discursos inflamados nos ouvem! No tal jantar da Associação Comercial do Porto ouvi dizer que o avião das quartas-feiras para Lisboa era o avião dos pedintes. Pedintes porque, por causa de um simples despacho, de um assunto do banco, têm de ir a Lisboa. Bancos, companhias de seguros, está tudo lá. Aqui, resiste o FC Porto, uma orquestra de nível internacional e algumas instituições centenárias que vivem atrofiadas pelas dificuldades. Quem quer benesses ou singrar tem de ir para Lisboa. Isto só se resolve com regionalização. Como ela está na gaveta, só uma conjugação de esforços do poder local evitará que seja pior.

A «cultura» do FC Porto é elogiada com frequência. Qual é a receita? Criar um inimigo externo?

Não, é tudo uma questão de regras. Uma das minhas vantagens foi chegar ao FC Porto há quase 50 anos. Percorri as secções, dirigi as actividades amadoras. Vivendo por dentro, compreendi o que estava mal. A dada altura, até os directores do ciclismo e do ténis de mesa decidiam se um jogador de futebol ficava ou não no clube! Não podia ser. Hoje, as regras são as mesmas que segui quando tomei conta do futebol: treinador escolhido por mim, jogadores escolhidos por mim e pelo treinador, balneário blindado só entra o director do futebol e o presidente treinos a mesma coisa. Como correu bem, a tradição mantém-se.

Como é que cada jogador absorve essa cultura rapidamente?

Quem não respeita as regras e a disciplina, não vem, nem fica. Não interessa ser só bom jogador.

No passado, os jogadores estavam sempre bem porque, se corresse mal, o treinador é que ia embora. Por isso, quando digo «este é o meu treinador», os jogadores ficam a saber que tem de ser respeitado e não será posto em causa pelos resultados. Só estará em causa se trabalhar mal. Isso dá-lhe muita força.

O que é um jogador «à Porto?» Que «raça» de jogadores procura?

Uma vez disseram-me que tive sorte em descobrir o Timofte. E eu disse: «Foi, foi uma sorte. Fui ao circo Mariano, ele estava lá a dar uns toques e eu, no intervalo, pensei “este é capaz de ser jogador”». O Timofte, tal como o Lisandro, o Lucho e outros, não foram observados apenas por marcarem golos e serem bons jogadores. A sua personalidade e forma de jogar são analisadas para saber se encaixam aqui como uma luva. Se me oferecerem alguns craques internacionais, não os quero.

Os jogadores têm o seu número de telemóvel, podem ligar a qualquer hora, preocupa-se com os problemas deles extra futebol?

Nenhum tem o meu telefone, nem tenho os deles. Se quiserem falar comigo, seguem os mecanismos: falam com o director, o vice-presidente administrador e só então, se necessário, chegam a mim. Como amigo, é evidente que, se tiverem problemas pessoais, tentarei ajudar. Questões de futebol, situações enquanto jogadores, não falam comigo.

E Jesualdo Ferreira, sendo benfiquista, é um treinador «à Porto»?

O ser ou não ser benfiquista, não me interessa. Já conhecia o Jesualdo como treinador e se fosse só por isso não o contratava. Mas sabia também da sua rectidão, da forma como se entrega aos projectos e vive a camisola que defende. O Jesualdo é treinador «à Porto» há muitos anos. Só não estava cá.

O presidente do Benfica apresentou há dias, na Liga, supostas provas de viciação de resultados. O que espera deste processo?

Não vi as provas, estou à espera que a Liga mostre. Para dizer que se tem provas basta não ser mudo.

O que acha que acontecerá ao Benfica se continuar a não ganhar títulos nos próximos anos?

Não acontecerá nada. O Fernando Seara continuará a falar na SIC de penaltis com vinte anos e a fazer a defesa do presidente e dos jogadores. O senhor António, do Trio da Ataque, continuará a dizer que o Benfica é um clube nacional e o maior. E os sócios continuarão sempre à espera do próximo ano, que será melhor.

Mas qual é o problema do Benfica?

Se dissesse, eles ainda o resolviam! Estão bem como estão.

O que lhe aconteceria se estivesse tantos anos sem ganhar títulos e corresse o risco de acabar em terceiro ou quarto lugar?

Já estariam a fazer a missa de aniversário do meu linchamento (risos).

Sporting e Benfica são iguais para si?

Distingo completamente. Com pessoas do Sporting sou capaz de conversar.

Luís Filipe Vieira ainda é sócio do FC Porto?

É, é.

E paga as quotas?

Paga, se não era eliminado. Tem as quotas em dia.

Está interessado em algum jogador do Benfica?

Não. Nem que estivesse livre. Do Sporting, gostava que viesse o João Moutinho. É um jogador «à Porto».

Não penso contratá-lo. Sei que para o Sporting é um jogador inegociável.

Quaresma, Lisandro, Lucho, Bosingwa, Bruno Alves. Qual deles vai ser mais difícil segurar?

O Quaresma, porque tem cláusula de rescisão. Quando leio que o Real Madrid está disposto a dar 125 milhões pelo Ronaldo, não é exagerado pedir 40 pelo Quaresma.

Vítor Baía será o Rui Costa do FC Porto?

Baía já é um elemento directivo e pode vir a ser muita coisa no FC Porto. Não digo que não seja o mesmo que Rui Costa no Benfi a, mas, no imediato, está a ser inteligente: gere o seu prestígio e está na faculdade a tirar um curso de gestão desportiva para aspirar a outros lugares.

Vai escrever as suas memórias?

Escreverei algo sobre as minhas recordações, talvez ainda durante o meu mandato: o lado positivo os títulos, as vitórias mas também o lado negativo do que me aconteceu. Quando esse livro sair, talvez as pessoas percebam que havia razões para me perseguirem.

Rápidas e directas

LIGA
«A Liga preocupa-se com muita coisa, com a Taça da Liga, a Carlsberg e os patrocínios. Mas a Liga não serve para fazer contratos com as cervejeiras. Sou solidário com o Boavista e clubes com difi culdades, mas é inadmissível que a Liga permita situações destas. É concorrência desleal. Se eu puder contratar jogadores para não pagar, vou já buscar o Cristiano Ronaldo. E quem vier atrás que feche a porta.»

SELECÇÃO
«Preferia um treinador português. Não é uma questão de reconhecer ou não competência a Scolari, porque isso analisa-se através de resultados. Portugal já ganhou não sei quantos jogos, mas também perdeu uma oportunidade única de ser campeão da Europa perdendo uma final em casa com a Grécia. Se um treinador do FC Porto perdesse uma final da Liga dos Campeões, no Dragão, com o campeão grego, já cá não estava de certeza absoluta».

LISBOA
«Gosto da zona das «partidas» no aeroporto (risos). Lisboa tem coisas bonitas e sinto-me bem na cidade, onde tive e tenho muitos e grandes amigos. Um deles era o actor Artur Semedo, fanático benfiquista. Era visita de nossa casa.»

25 DE ABRIL
«Vi a revolução com esperança, mas não vou agora dizer que era um lutador antifascista (risos). Vejo indivíduos a dizerem-se antifascistas e eu, que era colega deles, nunca os vi nessas lutas. Eram tão antifascistas ou fascistas como eu. Uma das coisas que mais ansiava porque me indignava não ser assim era que o Porto pudesse escolher o seu presidente da Câmara. Até essa altura, apenas tinha participado voluntariamente na acção de campanha do general Humberto Delgado, a 15 de Maio de 1958. O Delgado fazia anos nesse dia, tal como a minha mãe. Foi o meu primeiro ídolo fora do futebol»

Íntimo e pessoal

LITERATURA
José Régio e António Nobre são os preferidos. Declama, aliás, alguns poemas dos dois. E não esquece Camilo Castelo Branco: «Ia muito para São Miguel de Ceide e achava piada ao facto dos filhos dele se chamarem Jorge e Nuno». Aprecia António Lobo Antunes e devorou As Intermitências da Morte, de Saramago. «Aquilo de ninguém morrer, dos asilos sobrelotados, as funerárias na falência, as preces para a morte voltar.achei fantástico». É ainda viciado nas refl exões de Almeida Santos publicadas em livro.

PINTURA
Gosta de pintura portuguesa clássica. Influências, talvez, do bisavô Honório de Lima, grande mecenas da pintura e da música. Artur Loureiro é o pintor preferido. Num aniversário, ofereceu à mulher, Filomena, um quadro deste paisagista que retratava a Praia dos Ingleses, na Foz, por ser a praia que ela frequentava na juventude. Aprecia também José Malhoa e o modernista Henrique Medina. Este até conheceu pessoalmente, pois ia pintar para a quinta do tio Armando, irmão da mãe, em Famalicão.

MÚSICA
Na casa de família, em Cedofeita, ouvir música era como respirar. Havia um piano. Cantores, artistas, passaram por lá. Caruso, tenor italiano, cantou em privado para a família. Hoje, Pinto da Costa elege Tchaikovsky como compositor preferido e Madame Butterfl y, de Puccini, na ópera. Uma das suas paixões é a Orquestra Nacional do Porto, a cujo concerto da Páscoa assistiu na Igreja da Lapa, tendo conhecido então o maestro franco-italiano Marc Tardue, grande adepto do FC Porto.

TEATRO
Foi ao Rivoli ver Música no Coração. «Goste-se ou não, La Féria é um craque». Talvez por isso, neste capítulo dá tréguas a Rui Rio: «Quando as coisas não funcionam, devem ser entregues a quem as ponha a funcionar. Pelo menos, o Rivoli tem vida.

CINEMA
As segundas-feiras, reserva-as para o cinema. «Não é por ser mais barato, é por ser o dia mais calmo. Normalmente, não marco reuniões nesse dia». O critério de escolha é da mulher, Filomena. O último foi O Tesouro Encalhado, comédia romântica cheia de acção e aventura. «Divertido»

CURIOSIDADES
O pai falava sete línguas. Ele fala e escreve francês, o inglês é «médio» e desenrasca-se no alemão. Passa habitualmente na livraria Caixotim, nos Clérigos, para ver novidades. Dantes ia muito a alfarrabistas, agora menos. Tem várias edições dos seus livros preferidos de Régio e António Nobre.

Palavras-chave:

Amado por muitos e odiado por tantos outros, Jorge Nuno Pinto da Costa fica para a história não só como o homem que mais tempo ocupou a presidência do Futebol Clube do Porto mas também como o presidente com mais títulos conquistados em todo o mundo. Durante todos os seus mandatos à frente dos Dragões, foram mais de 1340 títulos nas mais diversas modalidades, sobretudo no atletismo, basquetebol, andebol e hóquei em patins. Mas foram os 64 triunfos no futebol que ajudaram a criar a lenda de um dirigente vitorioso, com um percurso único. Nos 42 anos em que Pinto da Costa foi presidente, o FC Porto conquistou uma Taça dos Campeões Europeus e uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA e uma Liga Europa, duas Taças Intercontinentais, uma Supertaça Europeia, 22 Campeonatos Nacionais, 13 Taças de Portugal e 21 Supertaças Portugal. Pelo meio, ficam muitos anos de polémicas e trocas de acusações, alianças e vinganças, adversários e aliados. Fica também as acusações do Apito Dourado, processo no qual era acusado de corrupção desportiva, mas do qual acabou absolvido pela Justiça, que não admitiu as escutas que Portugal inteiro ouviu como meio de prova.

“O culto da personalidade é detestável”. A grande entrevista de Pinto da Costa à VISÃO

Nas eleições para os órgãos sociais do clube que se realizaram a 27 de abril de 2024, Pinto da Costa acabou derrotado por larga margem por André Villas-Boas. Em agosto, anunciou publicamente que lhe tinha sido diagnosticado um cancro na próstata e, já no final do mês de outubro, lançou o derradeiro livro de memórias, Azul Até ao Fim, já visivelmente debilitado. Nos dias que seguiram, surgiram notícias do agravamento do seu estado de saúde e do alastramento do tumor a outros órgãos do corpo, nomeadamente os ossos. Terá, inclusivamente, fraturado, por via disso, o fémur, o que o obrigou a movimentar-se em cadeira de rodas.

Para além de milhões de admiradores da obra que construiu ao serviço do FC Porto e até pela defesa da cidade Invicta e da região Norte, Jorge Nuno Pinto da Costa deixa dois filhos, fruto de uma vida romântica intensa. Casou, primeiro, com Manuela Carmona Costa, com quem teve o filho Alexandre. Apesar do divórcio só ter sido consumado em 1997, muito antes se tinha apaixonado por Filomena. Com a mãe da sua filha Joana, casou duas vezes, pois, pelo meio, chegaram a divorciar-se, num período em que foi público o tórrido e polémico romance com Carolina Salgado. Após o segundo divórcio com Filomena, ainda casou, no Brasil, com Fernanda Miranda, 50 anos mais nova. A relação durou cinco anos, findos os quais Pinto da Costa se juntou a Cláudia Campo, 40 anos mais nova, com quem casou em 2023.

A expressão não é nossa. Claro que nunca se escreveria na VISÃO que alguém está demasiado velho, gordo e feio seja para o que for, a começar porque não somos adeptos da humilhação alheia, muito menos por causa da idade ou do aspeto físico. Depois, francamente, faria algum sentido escolher esse trio de adjetivos para caracterizar atores como Richard Gere e Hugh Grant?

Ao ver nas páginas anteriores Bosko, o irascível chefe do gabinete da CIA em Londres interpretado pelo norte-americano Gere na série The Agency, acabada de estrear em Portugal na SkyShowtime, repara-se mais depressa nos punhos cerrados com que ele se apoia na secretária onde está sentado o agente secreto Martian (Michael Fassbender), numa expressão óbvia de força e liderança, do que no seu cabelo branco.

E, nestas páginas, quem não fica fascinado com o olhar fixo de Mr. Reed, o diabólico protagonista do filme Herege que tanto intrigou o britânico Grant, logo à primeira leitura do guião escrito por Scott Beck e Bryan Woods? Os antiquados óculos dos anos 90, pedidos pelo ator à responsável pelo guarda-roupa, tornam-no ainda mais sinistro – e é nisso que pensamos e não “Hum, ele está mesmo acabado”.

A expressão, quebre-se já o suspense, é da responsabilidade do próprio Hugh Grant, conhecido por ser um mestre do humor autodepreciativo, característico também das personagens que o tornaram famoso, como o tartamudeante Charles em Quatro Casamentos e Um Funeral (1994), o livreiro William Thacker em Notting Hill (1999) ou o afável primeiro-ministro David de O Amor Acontece (2003). E o ator haveria de a usar, sempre com direito a parangonas.

A primeira vez foi em junho de 2019 quando uma jornalista da revista The Hollywood Reporter lhe perguntou: “Disse que tem permanentemente um complexo de inferioridade porque é ‘apenas o tipo das comédias românticas’. Isso é verdade?” A resposta veio com as suas hesitações típicas e entre risos: “Bem, sim, mas agora menos, porque fiquei demasiado velho, feio e gordo para as fazer, por isso agora faço outras coisas e tenho um pouco menos de ódio a mim próprio.”

A libertação de Grant

Por essa altura, Grant era quase sexagenário (nasceu em Londres, a 9 de setembro de 1960) e parara de interpretar homens cujo charme advinha de estarem constantemente a desculpar-se pela sua existência. Nos últimos anos, contracenara com Meryl Streep em Florence, Uma Diva Fora de Tom (2016), fizera de vilão no filme Paddington 2 (2017) e chocara o Reino Unido com o seu papel na minissérie histórica A Very English Scandal (2018). Ao dar corpo a Jeremy Thorpe, um político acusado de tentar matar o ex-amante, apagara a imagem de rapaz simpático (nice guy) que o levara até Hollywood.

A segunda vez que o ator recorreu àquele trio de adjetivos foi durante a promoção do filme Wonka (2023), uma prequela de Charlie e a Fábrica de Chocolate (2005), em que faz de Oompa Loompa, os miniajudantes de Willy Wonka (Timothée Chalamet), multiplicados digitalmente. No seu talk show na CBS, a atriz Drew Barrymore falou do seu afastamento do género rom com (de romantic comedy), e ele repetiu, então do alto dos seus 63 anos, ter ficado demasiado velho, gordo e feio, “obviamente”.

Grant é conhecido pela ironia que dispara quase sempre na sua própria direção. Aquela tirada era, também obviamente, uma piada, embora tivesse um fundo de verdade que não lhe provocava nenhuma mágoa.

O facto de não ter vendido a alma ao Diabo tinha-lhe valido a oferta de “coisas mais interessantes”, permitindo-lhe um trabalho “gratificante”, disse a Barrymore, com quem contracenou em Música e Letra (2007). “Melhorei um pouco. E depois também fiquei um pouco menos mau quando tive filhos, casei e fiquei mais feliz.”

Sempre cativante Nos seus papéis agora sombrios, Hugh Grant recupera o passado de nice guy, das muitas comédias românticas em que entrou, para nos surpreender ainda mais

O ator casou-se em 2018 com a sueca Anna Eberstein, mais nova 22 anos, assumindo finalmente a relação que começara no início da década e passara por várias interrupções. Dessa relação nasceram três filhos, entre 2012 e 2018. E Grant tem mais dois filhos, com Tinglan Hong. Chegado a 2023, fazer de Oompa Loompa não ajudava no seu casamento, gozava. “O anterior marido da Anna era campeão de esqui, e agora ela está casada com aquilo.” Um duende cor de laranja.

Numa entrevista já este ano à revista Variety, Grant admitiu que largar as rom com não foi uma escolha consciente. Pura e simplesmente, as ofertas começaram a diminuir, até que o fracasso de bilheteira do filme Ouviste Falar dos Morgans? (2009) o levou a parar. “Passa-se de herói a absolutamente zero no espaço de um segundo”, lembrou, “mas tem sido muito divertido voltar a construir lentamente a carreira e numa nova direção”.

O novo fôlego não foi, porém, imediato. De início, o choque levou-o a “praticamente desistir do mundo do espetáculo”, contou em 2020 à revista de cinema Screen International, durante a promoção da minissérie da HBO The Undoing, em que interpreta o suspeito de homicídio Jonathan Fraser. “Estava envolvido na política britânica [especificamente na campanha Hacked Off, que defendia uma imprensa livre e responsável no Reino Unido], enquanto Hollywood pensava: ‘Não estamos interessados em ti agora, e já estás um pouco velho.’”

O hiato terminou quando o realizador Stephen Frears, seu camarada nessa campanha, insistiu para que fizessem algo juntos e convidou-o a contracenar com Meryl Streep, no já referido filme sobre Florence Foster Jenkins. “Foi ele quem realmente me arrastou de volta para a representação”, recordou então Grant. “E não só me arrastou de volta, como me fez gostar. Há décadas que não gostava de atuar. Agora gosto mesmo.”

“Passa-se de herói a absolutamente zero no espaço de um segundo”, diz Hugh Grant, “mas tem sido muito divertido voltar a construir lentamente a carreira e numa nova direção”

Estava na cara que sim, vimos todos os que assistimos ao seu desempenho no thriller de mistério da HBO em que ele contracena com Nicole Kidman, ao sermos surpreendidos com as profundezas sombrias de um homem aparentemente irrepreensível. E muito porque Jonathan Fraser começa por nos aparecer como um marido e um pai amoroso e encantador, no fundo um tipo semelhante aos antigos heróis românticos de Grant.

O ator tinha pensado em interpretar Fraser como “um seguidor de Nietzsche, um mulherengo e um parisiense pretensioso”. Ganhou a sugestão da realizadora, Susanne Bier, que pensou ser divertido importar o seu género de personagem das rom com, porque as pessoas iriam achar impossível ser alguém capaz de cometer um homicídio. “Portanto, fiz um pouco isso”, explicou o ator, “mas foi uma luta, foi como voltar a vestir uns calções de banho molhados”.

A sensação não terá sido das melhores, mas o resultado compensou – e provou que La Palice tinha razão. Tudo o que Grant fizera para trás podia ser recuperado a seu favor, por causa do fator surpresa. Mais: The Undoing levou-o a casa de muito boa gente que o cristalizara nas comédias delicodoces. O próprio confessaria à revista Brief Take: “É bom libertar-me dessa coisa de ter de ser um ator principal apaixonado.”

Fast forward para o final de 2024 e para a estreia de Herege, filme em que o seu “desempenho subversivo” mereceu excelentes críticas, lemos na Variety. Entre elas, a do New York Times, que começa por descrever um Hugh Grant “exuberantemente vampiro” e termina a aplaudir o facto de ele se ter “soltado” ao envelhecer.

“Grant soltou-se à medida que foi envelhecendo, como se já não estivesse inibido pelo fardo de interpretar o desejável e previsível protagonista romântico. Não está a tentar seduzir ninguém em Herege. Não importa. O prazer que exala como um demónio irredimível é bastante sedutor.”

Os voos de Gere

Escreva-se ainda que Grant meteu a sua colherada no guião em que duas jovens missionárias entram na casa do cativante Mr. Reed para não voltarem a sair. E com diplomacia. “A minha técnica é fazer alguns takes exatamente como escreveram e depois, no quinto take, tentar algo. E fico mesmo à espera da gargalhada abafada vinda do monitor”, contou à Variety. A sua bucha “Nunca tive um[a] Wendy”, de dupla leitura por causa da cadeia de hambúrgueres Wendy’s, foi uma das que os realizadores mantiveram.

Hoje, o ator garante que só aceita um papel quando sente que será algo que vai diverti-lo. O primeiro filme de 2025, Bridget Jones: Louca por Ele, que se estreia em Portugal esta quinta-feira, 13, prova isso mesmo, além de ser a exceção que confirma a sua nova regra de aceitar personagens o mais longe possível do estereótipo do herói romântico. O seu Daniel Cleaver regressa como um aliado de Bridget (Renée Zellweger), que está a lidar com a morte de Darcy (Colin Firth), e ainda flirta com ela, mas nada como dantes.

O próprio explicou à Variety por que razão disse que sim ao quarto Bridget Jones, como sempre baseado num livro de Helen Fielding. “Era sobre uma mulher que lidava com a morte do marido e tinha de criar os filhos sozinha. Talvez por causa dos meus 500 filhos, achei muito comovente e engraçado”, gozou.

Mais a sério, conta como fez “alguns rabiscos”, para ajudar a mostrar o desenvolvimento de Daniel entre os 40 e os 63 anos. “Se eu conhecer bem a personagem, sou muito bom a sugerir diálogos”, diz, sem falsa modéstia. Afinal, já são quase quatro décadas a interpretar personagens no cinema.

Grant estreou-se a fazer teatro, aos 23 anos, acabando por formar uma companhia com alguns amigos. No grande ecrã, arriscou alguma coisa, até ser desviado para as comédias românticas. Antes de explodir com Quatro Casamentos e Um Funeral, foi um homossexual em Maurice (1987), de James Ivory, que chamou a atenção do público e da crítica. E foi ainda Chopin em Impromptu (1991), voyeur em Lua de Mel, Lua de Fel (1992), de Roman Polanski, e narcisista em Jogos de Ilusão (1995).

Agora “a sério” Richard Gere anda há anos a apostar em personagens a milhas do herói romântico em que o cristalizámos. Oh, Canada, que estreia em Portugalno dia 20, poderá ser o filme que o confirma como grande ator

Para a revista Vogue, ele é “o Cary Grant da geração X”, mesmo sabendo que um crítico escreveu, nos anos 90, que tinha “mais tiques do que o Benny Hill”. Mas, para as pessoas nascidas entre os anos 1960 e os anos 1970, há um claro empate entre Hugh Grant e Richard Gere que tantos suspiros provocou com American Gigolo (1980), Oficial e Cavalheiro (1982) e Pretty Woman: Um Sonho de Mulher (1990).

A muitos de nós ainda não caiu a ficha de que Gere tem 75 anos, embora na Wikipedia se garanta que o ator norte-americano nasceu em Filadélfia, a 31 de agosto de 1949. Claro que o seu cabelo já não está castanho-escuro como em 1999, quando a revista People decretou ser ele o Homem Mais Sexy Vivo (um título que soa melhor em inglês, Sexiest Man Alive), mas o seu Bosko da novíssima série The Agency tem uma energia invejável e, sobretudo, é convincentemente interpretado.

“O que se perde com a idade ganha-se em maturidade, o que dá um certo poder de interpretação”, analisa Manuel Halpern, jornalista e crítico do Jornal de Letras, Artes e Ideias, e colaborador da VISÃO.

Será esse o caso de Richard Gere, que recordamos como um belo canastrão (ou um canastrão belo)? Halpern ri-se, mas não faz uma avaliação tão depreciativa do ator. “Ele entrou num Kurosawa…”, lembra.

E tem razão, claro. Gere foi dirigido pelo lendário japonês Akira Kurosawa, em Rapsódia de Agosto (1991), um filme sobre uma velha senhora que ainda sofre por ter perdido o marido quando a bomba atómica explodiu em Nagasaki. O seu Clark, um norte-americano que visita a família e pede desculpas pelo sucedido em 1945, não podia ser mais diferente de Edward Lewis, o empresário rico e solitário que no ano anterior caíra de quatro por Julia Roberts em Pretty Woman.

A obra de Kurosawa poderia ter sido o descolar de uma carreira de “ator sério”, mas foi apenas mais uma com que Gere tentou outros voos e voltou à casa da partida. Estava já marcado por Edward, por azar uma personagem “quase criminosamente mal escrita”, disse na masterclass que deu no último Festival de Veneza.

“Recorri a muitos aspetos do meu pai, que morreu com 101 anos. Foi mais difícil envelhecer do que rejuvenescer”, contou Richard Gere. O resultado é simplesmente fenomenal

“Ele era basicamente um fato e um bom corte de cabelo”, ironizou o ator. E mesmo depois de Gere ter improvisado uma cena mal-humorada ao piano, para que Vivian (Julia Roberts) pudesse ver o interior do seu Edward, aparentemente ninguém deu pelo seu potencial como ator “a sério”.

Em 1991, o seu casamento com a top model Cindy Crawford, curto mas mediático, carregou ainda mais no cor-de-rosa do romance e no dourado fátuo da fama. Richard Gere ascendera ao papel de herói romântico na vida real. Estava feito – e por muito tempo.

Bem mostrou ele ao mundo que era um ativista empenhado, nomeadamente a defender o Tibete para os tibetanos. Nos anos 90, vimo-lo em mais filmes de ação do que em rom coms, mas o estereótipo de nice guy – e oco – colara-se-lhe na pele.

Nessa década, bastaram Mr. Jones (1993) e Noiva em Fuga (1999) para eclipsarem da memória coletiva o seu advogado que faz tudo para ilibar Edward Norton em A Raiz do Medo (1996). Nada de surpreendente, na verdade, se pensarmos que já poucos se lembravam que Gere tinha começado por cima, com o filme Dias do Paraíso (1978), do grande Terrence Malick.

Gere disse sempre que esse era o seu melhor filme – e já tem mais de 55 no currículo. Será que vai mudar de ideias à medida que mais pessoas forem vendo e gostando de Oh, Canada, de Paul Schrader, em que interpreta um realizador em estado terminal?

Oh, Canada, que estreia em Portugal no dia 20, é o primeiro de Gere com Schrader depois de American Gigolo. E é uma delícia vê-lo ora catravelho, ora a interpretar um jovem de 28 anos, em cenas alternadas com Jacob Elordi. O ator teve de ser maquilhado de branco para parecer mais velho, mas não é a maquilhagem que torna excelente esta sua interpretação.

Estar com os filhos

Maturidade, por fim? “Recorri a muitos aspetos do meu pai, que morreu com 101 anos. Foi mais difícil envelhecer do que rejuvenescer”, contou no canal France 5. Seja. O resultado é “simplesmente fenomenal”, lê-se no blogue de cinema Cinapse.

“Desde que [Gere] trocou os filmes de estúdio por produções de menor escala, o seu trabalho tem demonstrado que é um dos atores mais subestimados da sua geração. Em Oh, Canada, dá grande vulnerabilidade e conflito à personagem, tornando-a um mistério que vale a pena resolver.”

Na vida real, Richard Gere não tem pressa de envelhecer nem de passar por aventuras à la The Agency, o remake do thriller francês Le Bureau des Legendes. “Só quero cultivar algo bonito, tomar um chá e estar com os meus filhos [tem três, os dois mais novos com a espanhola Alejandra Silva, de 41 anos]. Fazer amor com a minha mulher. É isso que quero fazer”, disse recentemente, ao site TV Insider.

Está como Hugh Grant, que durante as filmagens de The Undoing, em Nova Iorque, se queixou de não ter os filhos perto. Ambos se encontram numa fase em que já não tentam seduzir ninguém – e sobretudo parecem ter deixado de se importar com o que pensamos sobre eles. E ainda bem.

SEMPRE LÁ EM CIMA

A idade não estragou as suas prestações. Pelo contrário

ROBERT REDFORD
Em 2018, anunciou que O Cavalheiro com Arma, de David Lowery, seria o seu último filme como ator. Tinha quase 82 anos, andava naquilo desde os 21 e pensou: “Já é suficiente.” Forrest Tucker, um ladrão muito peculiar, era uma bela personagem para fechar a carreira. Mas, no ano seguinte, ainda fez um cameo em Vingadores: Endgame, com o seu Alexander Pierce

JEFF BRIDGES
No final do ano passado, pudemos vê-lo a protagonizar a 2.ª temporada da série O Velho (Disney+). Aos 75 anos, o ator interpreta um ex-agente da CIA e está, como sempre, maravilhoso. Com um tumor no estômago, que a quimioterapia reduziu para o tamanho de um berlinde, já prometeu que vai continuar a apostar na televisão.

PAUL NEWMAN
Em 2002, o ator interpretou um chefe da máfia no grande filme de ação Caminho para Perdição, de Sam Mendes. Tinha 77 anos, contracenou com Tom Hanks, Jude Law e Stanley Tucci, e foi nomeado para o Oscar de Melhor Ator Secundário. Se tivesse ganhado, seria a sua segunda estatueta.

Era o primeiro discurso de Pedro Nuno Santos como líder num Congresso. Naquele início de janeiro de 2024, o partido lambia ainda as feridas de se ver apeado do governo depois da demissão de António Costa e, com as legislativas já à vista, Pedro Nuno prometia vitórias não nessas, mas nas eleições seguintes: as regionais (que perdeu), as autárquicas (que o PS prepara agora) e as presidenciais que mereceram uma promessa solene: “O PS apoiará um candidato como há muito tempo não o faz, honrando os melhores presidentes que Portugal já teve.” António Costa estava na primeira fila e, mesmo que não fossem segredo as suas ambições europeias, não faltava quem pensasse que podia vir a ser esse candidato. Com Costa como presidente do Conselho Europeu, Mário Centeno declaradamente fora da corrida e António Vitorino hesitante, aquele que parecia então um candidato altamente improvável está a fazer um caminho que arrisca condicionar a escolha de Pedro Nuno Santos.

“Pedro Nuno está refém de ter dito que ia ter um candidato a Belém”, comenta um alto dirigente socialista, que acredita que o perfil definido na reunião da Comissão Política Nacional do último sábado pode ter estreitado ainda mais o caminho, ao incluir uma referência à necessidade de o candidato ter “uma mundividência socialista”. É que se no PCP, no BE e no Livre há quem não enjeite a possibilidade de uma candidatura da esquerda unida em torno de Sampaio da Nóvoa e se no PS são vários os socialistas que já apoiaram o antigo reitor, caso António José Seguro avance, Pedro Nuno não terá como explicar a falta de apoio a um antigo secretário-geral do seu partido. “O problema é Seguro”, resume a mesma fonte.

Compromisso Pedro Nuno Santos prometeu que o PS apoiaria um candidato socialista. Mas o nome tarda a revelar-se…

António José Seguro é um problema essencialmente porque Pedro Nuno Santos duvida de que possa ser o melhor candidato da área socialista para disputar umas eleições que, um ano antes de acontecerem, parecem ganhas por um candidato, o Almirante Gouveia e Melo, que ainda nem anunciou que o é. Eram, aliás, as boas sondagens que faziam Pedro Nuno pender para o apoio a Mário Centeno, uma figura de quem nunca foi especialmente próximo.

Agora, explica-se no Largo do Rato, o líder “está à espera de que algum diga alguma coisa mais definitiva”, garantindo-se que Pedro Nuno Santos “não tem preferência nenhuma”, como deixou claro na reunião da Comissão Política. Esta falta de preferência pode, contudo, estar já a ser construída com base na ideia – cada vez mais difundida entre quem o rodeia – de que António Vitorino (que ainda está em silêncio) não vai a jogo. O facto de não ter dado um sinal claro e de Seguro estar a fazer o seu caminho, independentemente de quem mais possa aparecer na área socialista, são, acreditam muitos socialistas, motivos suficientes para Vitorino não entrar numa aventura que corria o risco de dividir os eleitores do PS.

Bases do PS veem Seguro “com simpatia”

Enquanto Vitorino hesita e Pedro Nuno espera, António José Seguro segue caminho. Na reunião da Comissão Política Nacional foi o único nome a ser pronunciado por quem falou, mesmo que os que o apoiaram sejam ilustres desconhecidos a nível nacional. “O PS de base vê Seguro com simpatia”, concede um dirigente nacional, explicando que há quem no partido entenda que um apoio às presidenciais será uma maneira de compensar a forma como foi afastado da liderança por António Costa depois de ter vencido as eleições europeias de 2014 “por poucochinho”.

Quem esteve na Comissão Política Nacional – à qual não foram os “seguristas” Francisco Assis e Álvaro Beleza – diz que a reunião deu vantagem a uma candidatura de Seguro. “No mínimo, a Comissão Nacional do PS [que reunirá para discutir os nomes de quem anunciar que pretende ser candidato] ficará dividida”, afirma um socialista.

Rivais André Ventura já anunciou intenção de se candidatar, Marques Mendes já fez o anúncio formal. Aguarda-sea decisão de Gouveiae Melo

Quando, no final de setembro, António José Seguro fez alguns telefonemas para felicitar quem tinha ganhado as eleições federativas no PS, poucos estariam em condições de antecipar que essa reaproximação ao aparelho poderia fazer parte de um regresso à política com Belém à vista. Mas isso ficou mais claro quando Seguro estreou um espaço de comentário na CNN Portugal a 28 de novembro. Nessa altura, o antigo líder socialista deu todas as pistas ao ler o Sísifo, de Miguel Torga. O poema não deixava grande margem para dúvidas e era todo um programa. “Recomeça…/Se puderes/Sem angústia/E sem pressa./E os passos que deres,/Nesse caminho duro/Do futuro/Dá-os em liberdade./Enquanto não alcances/Não descanses./De nenhum fruto queiras só metade.”

Seguro não tem descansado. Se andou quase dez anos a recusar convites, começou a aceitá-los todos. Se andou em silêncio, começou a falar e até a lançar ideias que deixaram alguns socialistas com os cabelos em pé, com a proposta de discutir a possibilidade de o Orçamento do Estado deixar de ser votado, para evitar que haja o risco de uma crise política a cada ano.

A ideia de Seguro que arrepiou o PS

António José Seguro disse que queria “introduzir algumas regras institucionais” para a governabilidade do País. “É apenas uma sugestão: teríamos sempre um Orçamento. O Governo apresenta um Orçamento e ele só seria derrotado, só seria chumbado, se o Parlamento aprovasse um outro Orçamento. O que é que significaria? Se se aprovasse um outro Orçamento, tinha uma nova maioria política e, portanto, poderia governar”, explicou à TSF. “Nem no tempo do Estado Novo”, reagiu António Mendonça Mendes, que faz parte do Secretariado Nacional de Pedro Nuno Santos. “Não conheço nenhuma democracia em que o Orçamento e os impostos não sejam aprovados pelos respetivos parlamentos”, acrescentou Fernando Medina ao Público.

Quando, em setembro, Seguro fez telefonemas a felicitar alguns vencedores de eleições federativas internas, poucos anteciparam que isso fazia parte do seu regresso à política

A proposta de Seguro que arrepiou tantos socialistas só foi feita publicamente depois de o antigo secretário-geral do PS ter almoçado com Pedro Nuno Santos, no final de 2024, mais ou menos na mesma altura em que Pedro Nuno teve um almoço com Mário Centeno, também com Belém na ementa. Desde essa altura, sabe a VISÃO, nunca mais nenhum dirigente socialista voltou a falar com António José Seguro, que, ao contrário do PS, já definiu um calendário para se pronunciar sobre as presidenciais: “Sou um homem livre, não sou condicionado por nenhuns prazos, não sou condicionado por ninguém, tenho os meus próprios prazos. As eleições são daqui a 11 meses, é muito cedo para poder tomar uma decisão. Talvez lá para a primavera ou o início do verão”, disse no seu comentário na CNN Portugal, onde não escondeu o desconforto com Pedro Nuno Santos, ao declarar que “a direção nacional do PS tem claramente um candidato que é António Vitorino”.

Sem ficar à espera do PS, António José Seguro criou o movimento UPortugal, uma espécie de think tank para pensar o País, que, para já, não tem nomes sonantes, mas ajuda a criar uma agenda própria para o putativo candidato presidencial. “É distinto de um movimento para apoio a uma eventual candidatura às presidenciais”, explicou Seguro na CNN sobre a associação que diz ter como objetivo “contribuir para o reforço da participação democrática dos cidadãos e para a promoção de uma sociedade livre, justa, plural, humanista, progressista, coesa, solidária, desenvolvida e ecologicamente sustentável”.

Santos Silva sem tração no PS

Quem parece não ter tração para uma candidatura presidencial é Augusto Santos Silva, que ainda não se pôs fora da corrida, apesar de ter instado quem não está interessado a fazê-lo, sem hesitar em dirigir-se diretamente a Vitorino. “António Vitorino, que é outra das personalidades que poderiam candidatar-se com vantagem para todos, se se quiser excluir liminarmente dessa possibilidade, o que eu digo é que começa a ser tempo de o dizer”, afirmou no Crossfire da CNN.

“As coisas devem ser graduais. Neste momento, não é o tempo de apresentação de candidaturas. Começa a ser o tempo de quem recusar liminarmente essa possibilidade o poder dizer”, respondeu sobre a sua possível candidatura, mostrando que continua disponível, apesar da falta de entusiasmo que gera no partido – a cúpula socialista considera-o demasiado “divisivo” e as sondagens são desanimadoras.

Divisões Em 2006, Manuel Alegre dividiu o PS, que apoiava Mário Soares para um 3.º mandato. Em 2016, foi a vez de Maria de Belém ir a jogo sem o apoio do partido

O estilo truculento de Santos Silva ficou, aliás, notório na forma como afirmou que António José Seguro não cumpre “os requisitos mínimos” para ser candidato a Belém. “Não me parece cumprir os requisitos mínimos de uma candidatura que possa ser apoiada pelo PS e por um vasto campo de forças democráticas. Fica-se pelas banalidades e nós precisamos de mais do que banalidades para Presidente da República”, disse numa entrevista à RTP2, que lhe valeu um coro de críticas, encabeçado por João Soares.

“[Seguro] foi, e continua a ser, objeto de uma campanha de bullying político, tentando diminuir e menosprezar por vezes de forma ignóbil as suas qualidades”, afirmou João Soares, que aproveitou o ensejo para declarar o seu apoio a António José Seguro, caso este seja candidato, e atacou Santos Silva por fazer parte de uma campanha contra o antigo líder do PS que acredita estar “abaixo dos níveis mínimos de civilidade, dignidade e solidariedade” exigíveis em política.

“As palavras de Augusto Santos Silva sobre Seguro são ordinárias”, concordou Ascenso Simões na SIC Notícias, apontando as razões pelas quais o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de António Costa não tem, em seu entender, condições para ser Presidente. “Faltam-lhe dois requisitos essenciais: proximidade com os portugueses e compaixão. É alguém profundamente frio, que nos últimos 30 anos viveu afastado da realidade nacional.”

Palavras-chave:

Numa breve volta pelos momentos quentes, recordo-me do Chega ser acusado de clonar jornais para partilhar informação falsa nas redes sociais. Mais tarde, de ler que o líder do partido foi condenado por ofensas a uma família do Bairro da Jamaica, no Seixal, a quem chamou de bandidos. Até aqui… chamaria gestão corrente de um partido que nasceu a 9 de abril de 2019 e que necessitava de se afirmar na senda política.

Mas, esse mesmo partido já se apresentou a vários atos eleitorais e, claro, necessitou de identificar/mapear homens e mulheres que, de norte a sul, sem esquecer as ilhas, compõem as suas fileiras, tal qual outro partido político. Por outras palavras, cresceu e é hoje a terceira força política, num país que embora se diga democrático ainda olha com alguma desconfiança para todos os partidos fora do chamado “arco da governação”.

Voltando aos casos, e quando tudo parecia ter tudo para correr bem, eis que quase numa assentada o país fica a saber que deputados – municipais ou com assento parlamentar – do Chega estão acusados de furtar malas em aeroportos, conduzir embriagados, prostituição de menores, participação económica em negócio. Para um partido que convida a “Limpar Portugal” ou que sublinha “Chega de Corrupção”… não bate a bota com a perdigota.

Não há partidos imunes a escândalos e o Chega não é exceção. No entanto, o líder do Chega tem gerido os “casos” em tempo real e, sobretudo, mantendo-se coerente nas posições políticas. E, é exatamente este ponto que me leva a questionar: porque não têm os líderes dos outros partidos – também a braços com escândalos – reação semelhante? Porque não exigem a quem prevarica a renuncia imediata ao mandato? Porque optam por uma estratégia de “passar por entre os pingos da chuva” ou não vi, não ouvi, não falo?

A diferença não está na génese do partido. A diferença está no facto de o Chega já ter chegado ao poder, mas ainda não ser poder. Uma latitude que permite a André Ventura imprimir curativos no Partido, enquanto líderes como Luís Montenegro ou Pedro Nuno Santos apenas imprimem paliativos. Afinal, chegar e manter-se no poder significa ter rede. Uma rede composta por homens e mulheres que, qual formiga, trabalham no terreno de forma incansável e em prol de dias de liderança da sua força política.

Gerir pessoas significa coordenar e orientar equipas de forma eficiente para alcançar objetivos organizacionais. Gerir partidos políticos significa também gerir egos. E um ego mal gerido é suficiente para abalar uma estrutura de base larga (leia-se cacique).

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Um novo estudo científico realizado por uma equipa de investigadores da University College de Londres, no Reino Unido, sugere a saúde mental e o estado de espírito são melhores durante o período da manhã. O objetivo da investigação, publicada recentemente na revista BMJ Mental Health, passava por analisar variações na saúde mental – como sintomas depressivos ou de ansiedade – e no bem estar – felicidade hedónica e eudaimónica – dos participantes ao longo do dia e quais os períodos do dia em que estes são mais elevados.

Para a investigação – que envolveu quase um milhão de participantes – foram utilizados dados de um estudo anterior, em que existiu um acompanhamento regular dos inquiridos entre março de 2020 e novembro de 2021. “Recorremos a uma grande amostra de dados repetidos – quase um milhão de respostas a inquéritos de 49 mil participantes ao longo de dois anos”, explicou Feifei Bu, um dos autores do estudo. No questionário, para além da saúde mental e bem estar, foram também observados fatores como a solidão e a satisfação com a vida, através de questões como: “Na semana passada, até que ponto se sentiu feliz?”, “Até que ponto se sentiu satisfeito com a sua vida?” e ”Até que ponto sentiu que as coisas que faz na sua vida valem a pena?”.

As respostas foram depois complementadas com outras informações sobre os inquiridos, como a idade, género, etnia, nível de escolaridade, situação profissional, zona de residência (rural, urbana) e as condições de saúde física e mental. Cerca de 76.5% dos participantes eram mulheres, 68% tinha um nível de escolaridade elevado e apenas 6% integravam alguma minoria.

Segundo os resultados, os inquiridos mostraram ter maiores índice de bem-estar e saúde mental durante o período da manhã, com menores níveis de ansiedade e sentimentos de solidão. Por outro lado, os participantes afirmaram sentir-se ligeiramente pior à noite – sobretudo por volta da meia-noite. No entanto, de acordo com os investigadores, o momento em que as pessoas optaram por preencher os questionários pode ter influenciado os seus resultados. “Este padrão pode refletir o momento em que as pessoas escolhem responder ao inquérito, em vez de um efeito direto da hora do dia. Por exemplo, quem já se sente melhor de manhã pode ter mais probabilidades de responder ao inquérito nessa altura”, continuou.

Já as diferenças verificadas entre os dias de semana e os fins-de-semana podem ficar a dever-se a fatores como a rotina, diferente entre os fins-de-semana e os dias úteis. Foi possível verificar a existência de melhores índices de bem-estar e satisfação com a vida às segundas e sextas-feiras comparativamente aos domingos. As terças foram os dias com melhores valores de felicidade.

Os investigadores verificaram ainda algumas mudanças no humor dos participantes consoante a estação do ano. Comparativamente às outras estações do ano, durante o inverno, os inquiridos mostraram uma tendência a apresentar valores menores na saúde mental – mais ansiedade e depressão -, felicidade e satisfação com a vida e mais solidão. O verão foi a estação com um melhor nível de felicidade embora a estação do ano não tenha afetado as alterações no bem-estar observadas ao longo do dia.

Por se tratar de estudo observacional, os investigadores referem não ser possível determinar os motivos para estas variações. Contudo, sugerem que determinadas mudanças na saúde mental e no bem-estar ao longo do dia podem estar associadas ao relógio biológico. “Por exemplo, o cortisol [uma hormona que regula o humor, a motivação e o medo] atinge o seu pico pouco depois de acordar e atinge os seus níveis mais baixos por volta da hora de deitar”, disse o especialista.

De acordo com os investigadores, esta investigação é a mais abrangente até à data uma vez que, por norma, os estudos científicos que se debruçam sobre este tema não analisam as mudanças tendem apenas a analisar grupos específicos ou muito pequenos de pessoas. Os resultados terão agora de ser reproduzidos noutros estudos para se ter a certeza de que correspondem à realidade. “Embora estes resultados sejam intrigantes, têm de ser reproduzidos noutros estudos que tenham em conta este potencial enviesamento. Se forem validados, poderão ter implicações práticas importantes”, concluiu o investigador.

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Com a polémica gerada em volta da atriz Karla Sofía Gascón – a atriz de Emilia Perez –, Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, ganhou terreno na luta pelo Oscar para o melhor filme internacional. Mas este ano há, pelo menos, dois outros grandes filmes que também mereceriam a estatueta. Em primeiro lugar, o iraniano A Semente do Figo Sagrado, de que já falámos aqui, e, depois, este A Rapariga da Agulha, do sueco Magnus von Horn, obra impressionante, filmada em Copenhaga, decorrendo a ação no final da II Guerra Mundial.

A Rapariga da Agulha é, em primeiro lugar, um filme de argumento. Diz-se isto no sentido em que tem um enredo intenso, muito bem trabalhado, cheio de complexidades, em que se privilegia a ação, numa luta árdua pela sobrevivência quotidiana. Há, desde o primeiro momento, a ideia de uma sociedade devoradora e uma personagem, Karoline – uma operária fabril cujo marido desapareceu na guerra –, que funciona em modo de reação, vendo-se forçada a responder a acontecimentos que a ultrapassam.

Foto: DR

O filme começa logo com um ritmo frenético, expondo a dureza daquela sociedade, o que em termos de curva narrativa poderia ser um risco. Mas a história de Von Horn é tão rica e poderosa, com tantos episódios significativos e volte-faces no enredo, que se consegue manter quase sempre num ponto alto.

Filmado a preto-e-branco, reconhece-se a estética de algum cinema dinamarquês e polaco, mas não é subsidiário da escola Dogma, ou talvez apenas na forma crua como retrata aquele mundo, por si só cruel – sendo a banda sonora da dinamarquesa Puce Mary um elemento ousado e determinante nesse sentido.

Apesar de vivermos sempre as desventuras de Karoline, fica a ideia de vermos vários filmes. Na verdade, de forma muito clara, esta longa podia estender-se facilmente para uma série, mesmo que não busque de maneira óbvia uma estética televisiva, como o faz, deliberadamente, Emilia Perez, o mais pobre dos seus concorrentes nos Oscars. 

A Rapariga da Agulha > De Magnus von Horn, com Vic Carmen Sonne, Besir Zeciri, Trine Dyrholm > 123 min

Em conferência de imprensa, a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, lamentou esta sexta-feira a conduta do grupo parlamentar do Chega, sobretudo o incidente que ocorreu na sessão plenária de quinta-feira, quando a deputada Diva Ribeiro acusou a socialista Ana Sofia Antunes, que é cega, de só conseguir “intervir em assuntos que, infelizmente, envolvem deficiência”.

Alexandra Leitão defendeu que “o ambiente de violência verbal, de provocação e de intimidação que se vive na Assembleia da República tem que acabar e é tempo de dizer basta” àquele tipo de situações, considerando que o código de conduta do deputado que está em vigor “é manifestamente insuficiente”.

“O PS vai estudar e propor alterações ao código de conduta no sentido de tornar mais efetivo o cumprimento deste e de outros deveres, incluindo a previsão de sanções como existem em parlamentos de vários países e no parlamento europeu”, antecipou.

Alexandra Leitão considerou ainda que o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, deveria apresentar, em nome do Parlamento, “um pedido de desculpas à deputada Ana Sofia Antunes”.

De acordo com os relatos da líder parlamentar no PS, após as declarações da deputada do Chega, foram ouvidos apartes, com o microfone desligado, nos quais se pode ouvir expressões como “aberração, isto não é uma esquina, pareces morta, és uma drogada”, dirigidas à bancada socialista.

O conselheiro nacional do Chega e principal rosto partido em Oliveira do Hospital demitiu-se esta sexta-feira do cargo e desfiliou-se do partido. O agora ex-militante do Chega utilizou a rede social Facebook para anunciar a sua demissão.

“Venho a informar que não sou militante do partido CHEGA, e que também apresentei a minha demissão do cargo de conselheiro nacional do partido”, escreveu, sublinhado que confia na Justiça e que espera que a “verdade prevaleça”.

João Rogério Silva está acusado de montar uma emboscada contra António José Cardoso, um militante que também se candidatou à liderança da Concelhia de Oliveira do Hospital. De acordo com a acusação, avançada inicialmente pelo Jornal de Notícias, Cardoso encontrava-se a conduzir o carro da empresa em que trabalhava, entre Oliveira do Hospital e Mangualde, quando foi abalroado por outro veículo, onde seguia o principal rosto do partido na região.

O agressor terá depois saído do carro e desferido “várias pancadas com força” no automóvel, com o militante ainda lá dentro. Silva estaria armado com um pedaço de mangueira e uma faca, que utilizou para ameaçar Cardoso, prometendo matá-lo. “Enquanto João Silva se encontrava com a faca na mão proferiu a seguinte expressão, em tom sério e ameaçador dirigida a António Cardoso ‘vou-te matar’, tendo de imediato passado com a faca junto ao seu pescoço, simulando o gesto do crime”, pode ler-se na sentença citada pelo JN. Na altura, numa publicação interna no portal do Chega, João Silva terá admitido que cometeu “um tresloucado ato”.