Este Papa não desceu da Cruz. Não renunciou. Não negou. Não rejeitou. Francisco, Santo Padre, tentou reformar a Igreja, reconhecer os seus graves pecados, iluminar o caminho e pedir perdão, sincera e humildemente, a todos os que foram abusados, esquecidos e destruídos.

Francisco fez a Igreja Católica avançar décadas, quando todos pensavam que ninguém teria esse poder e essa capacidade. Bento XVI desistiu. Desceu da Cruz. Esta Igreja Católica é hoje mais aberta, mais preocupada e mais inclusiva. Todos os que eram renegados voltaram a ser chamados pelo sucessor de Pedro.

Não há mais palavras, entre as milhares e milhões que já foram escritas, ditas e comentadas, que melhor traçem o perfil deste Papa da Companhia de Jesus. Na minha vida já passaram quatro Papas – Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco – e o sexto será escolhido no próximo Conclave.

Como acredito nos dogmas da Igreja, peço ao Espírito Santo que ilumine os cardeais na escolha do novo Santo Padre: um fiel servidor, marcadamente ecuménico e aberto ao mundo e a todas as confissões de fé. Afinal, no fundo, queremos um Papa que nos ouça a todos, em todos os continentes, e de todas as cores e feitios.

A acessibilidade digital está, felizmente, a deixar de ser vista como uma obrigação legal ou uma preocupação restrita a um grupo específico. Em Portugal, começamos a perceber que desenhar com mais empatia e atenção à diversidade não só é mais justo — resulta em experiências digitais mais simples, eficazes e agradáveis para todos.

Durante muito tempo, falou-se de acessibilidade apenas no contexto da deficiência. Hoje, o entendimento é mais abrangente. Uma solução digital acessível é aquela que serve também a pessoa idosa que começa a usar a internet, o jovem com uma lesão temporária, ou alguém a tentar preencher um formulário no telemóvel, num transporte em movimento. A acessibilidade não é um extra — é a base de uma boa experiência digital.

Nos últimos anos, temos assistido a um movimento cada vez mais claro: empresas e entidades públicas em Portugal estão a integrar princípios de acessibilidade nos seus processos de design, desenvolvimento e conteúdo. Há mais formação, mais consciência, mais vontade de fazer bem. Ferramentas e boas práticas estão disponíveis — e começam a ser usadas desde o início dos projetos, o que faz toda a diferença.

Claro que há desafios. A aplicação do Ato Europeu de Acessibilidade, com prazo para 2025, vai exigir mudanças reais em vários serviços digitais — do comércio online à banca, dos transportes à comunicação audiovisual. Mas a grande oportunidade está em não olhar para estas exigências como um obstáculo, e sim como uma alavanca para inovação e melhoria contínua.

Porque quando criamos experiências mais acessíveis — com bom contraste, navegação intuitiva, linguagem clara e compatibilidade com diferentes modos de uso — não estamos apenas a cumprir uma norma. Estamos a criar soluções mais robustas, mais respeitadoras das pessoas e, muitas vezes, mais eficazes para o próprio negócio.

A acessibilidade digital é, acima de tudo, uma escolha de qualidade. E essa escolha começa com uma pergunta simples, mas poderosa: será que todos conseguem realmente usar isto? Quando a resposta é sim, todos ganhamos.

A série “Adolescence” motivou um debate superficial sobre educação, redes sociais e violência de género. Um triângulo com um centro equidistante: rapazes adolescentes.

Tem sido duro constatar o desconhecimento flagrante destes fenómenos entre a nossa comunidade – pais, professores, comentadores – mas voemos sobre isso. Foi preciso uma série Netflix para que um alarme soasse no espaço público sobre problemas evidentes, estudados, observados e documentados há anos.

Infelizmente também não encontro surpresa – mas antes urgência – na sucessão aterradora de notícias ligadas à violência contra raparigas e mulheres nas últimas semanas. Não é um problema novo, de cifras e emojis, como tem sido tratado. É a ponta do iceberg de um sistema machista secular e à vista de todos, que urge atacar na raiz.

Andrew Tate tem sido tratado como rosto de um fenómeno novo. O influencer acusado de violação e tráfico humano surge como espécie de monstro que anda a desviar os adolescentes nas redes sociais, ensinando-os a ser misóginos e cruéis. Já o citei aqui no passado. Tate é, de facto, figura de proa de uma seita ultrarreacionária que influencia os jovens, mas custa-me vê-lo abordado como problema isolado. Antes vejo nele a hipérbole de um sistema global, no qual todos participamos: um sistema violento, machista, consumista, de competição permanente. O sistema onde vivemos, com o qual compactuamos, levado ao cúmulo numa figura.

Vivemos num modelo que premeia sociopatas. Como Elon Musk esclareceu em entrevista a Joe Rogan, “a fraqueza fundamental da civilização ocidental é a empatia”. Eis o mantra que melhor sintetiza a expressão radical da cultura egocêntrica na qual vivemos mergulhados: um modelo em que o respeito pelo outro é visto como desvantagem. E, portanto, choca-me a surpresa. Existe um Tate em cada homem para quem a empatia é uma fraqueza. Tate é o totem do machão implacável, rico, poderoso e sempre pronto para a guerra e, desse prisma, já o trouxe aqui centenas de vezes: há um Tate em Putin, há um Tate em Trump, há um Tate nas figuras idolatradas pela cultura dominante. Tate é apenas uma versão extremada dos ídolos da cultura mainstream, brutos, superficiais e obcecados com dinheiro. Mas vamos aos miúdos.

Por mais generoso ou sensível que seja, um rapaz de doze anos já sabe o que tem de ser para não ser esmagado: implacável. Aos doze anos, já se sentiu humilhado por mostrar fraqueza. Já foi gozado, se não agredido, e já aprendeu a lei da selva: na vida, salva-se o maior e o mais forte. Provavelmente, já vive frustrado e ansioso – como os adultos -, bombardeado por ideais inatingíveis de consumo, de sucesso e de beleza. Já sabe se é atraente, se corresponde ao cânone da virilidade, ou não. Já vê no carro dos seus pais um indicador do sucesso da família e alguém já fez o favor de o informar que o seu pai é um loser. Não é difícil compreender que a imagem grotesca de Andrew Tate, de six-pack ao volante de um Lamborghini, faça caminho. Será assim tão diferente daquilo a que a generalidade das pessoas aspira no modelo atual?

O ideal feminista do homem que recusa a agressividade e é capaz de exprimir emoções não encaixa na ideia dominante do sucesso. O homem sensível, criativo e pacífico não ganha eleições, nem é CEO de empresas – rara a exceção. Qualquer miúdo de doze anos já começou a perceber o esquema. Quem não corresponder, leva. É o ideal masculino reinante, que se torna a cultura reinante. Nenhum miúdo de doze anos vai mudar isso sozinho.

Quando falamos, portanto, de como prevenir a disseminação destas correntes reacionárias, de como formar cidadãos com valores humanistas de justiça social, está em causa a revisão do modelo educativo, da sociedade como um todo. Não basta a “atenção” ou “vigilância” sobre os jovens de quem viu uma série e acordou para vida. Não vale a pena ordenar aos miúdos que não façam tudo aquilo que os seus familiares e os seus professores fazem, permitem e até aplaudem.

Urge refundar a escola, consciencializar famílias e profissionais educativos para os desafios da tecnologia, das redes sociais, das tendências no quadro das subculturas adolescentes, como sempre foi. Há, no entanto, também que trazer ideais de empatia e respeito pelo outro, de liberdade e igualdade de género, para o centro da sociedade, da política e da economia. Há que questionar a ideia de sucesso. O que é afinal o sucesso?

Enquanto o modelo não mudar, Andrew Tate continuará a ter sucesso e a ganhar eleições, com votos de milhões de homens e mulheres, pobres e ricos, doutorados e analfabetos. E continuará a ser o espelho de um sistema que premeia e promove pessoas iguais a ele.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Uma equipa da Universidade da Califórnia afirma ter descoberto uma nova cor nunca antes vista. O olho humano típico consegue ver um número limitado de cores, com os especialistas a estimarem que se situa pouco abaixo das dez milhões de variações. Agora, cinco pessoas que submeteram as retinas a um tratamento de laser conseguiram ver uma nova cor, que se localiza fora do espectro visível a olho nu.

Ren Ng, professor de engenharia elétrica e ciência informática da Universidade da Califórnia, liderou a equipa que descobriu a técnica que permite ultrapassar a limitação das cores que conseguimos ver. A retina humana contém três tipos de cones, as células fotorrecetoras que detetam a luz nos diferentes comprimentos de onda e são responsáveis pela perceção das cores: os cones S operam nos comprimentos de onda curtos (tons azulados); os cones M reagem a comprimentos de onda médios (cores verdes); e os cones L respondem a comprimentos de onda longos (com as cores vermelhas). Estes sinais vermelhos, verdes e azuis viajam para o cérebro e são combinados em diferentes proporções, resultando nas cores que percecionamos.

A limitação das cores que vemos prende-se com a sobreposição dos diferentes comprimentos de onda: a luz que ativa os cones M, ativa também os S e os L. A técnica de Oz desenvolvida pelos investigadores usa lasers para ‘entregar’ doses precisas de luz aos cones selecionados do olho humano. O processo começou por mapear uma porção da retina para identificar cada cone como S, M ou L e depois, com o laser, entregar luz de forma precisa aos cones M.

Ren Ng foi um dos cinco a sujeitar-se a receber o laser na retina e explica que “não é propriamente um aparelho destinado ao consumidor. Trata-se de ciência visual básica e um projeto de neurociência”. Dos cinco participantes, três são coautores do estudo e os outros dois são colegas da Universidade de Washington que não conheciam o propósito do trabalho, explica a Scientific American.

O laboratório escurecido tinha lasers, espelhos, espelhos deformadores, moduladores e detetores de luz. Aí, cada participante teve de trincar uma barra para garantir que a cabeça e os olhos estavam imóveis enquanto o laser era disparado para a retina e viam um pequeno quadrado de luz, do tamanho de um quadrado de previsualização localizado a um braço de distância. Esse quadrado era da cor azul esverdeada que foi batizada de Olo.

Esta cor nova é descrita como um “azul-verde com uma saturação sem precedentes” por Ng. O mais próximo que conseguimos ver é o verde-azulado, representado pelo código hexadecimal #00ffcc.

Os investigadores quiseram confirmar a nova cor e que estava além do espectro visível a olho nu, realizando várias experiências de combinação de cor onde ajustavam a saturação ao adicionar ou retirar luz branca. Todos os participantes confirmaram que  adicionar luz branca, reduzindo a saturação, fez com que a nova cor era igual ao verde-azulado projetado diretamente pelo laser, confirmando-se que a Olo se situa além do espectro normal.

O desejo da equipa é que a técnica possa ser usada para construir ecrãs que mostram imagens e vídeos perfeitos ao ‘entregar’ luz aos cones individualmente, permitindo visuais claros e não pixelizados em cores ‘impossíveis’. “Vai ser extremamente difícil de fazer, mas não creio que esteja fora do que é possível”, admite Ng. Outra utilização é permitir a utilizadores congenitamente daltónicos ver cores, embora não possa ser considerado um tratamento: “A experiência Oz é transitória, não é permanente”, conta o investigador.

A tradicional bênção “Urbi et Orbi”, lida este Domingo de Páscoa da varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, foi o último texto escrito pelo Papa Francisco, que morreu esta segunda-feira de manhã, aos 88 anos. Na mensagem – lida pelo mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, Monsenhor Diego Ravelli – o Sumo Pontífice argentino mostrou preocupação sobre o agravamento dos conflitos mundiais atuais – mencionando diretamente o Médio Oriente, Ucrânia, Congo e Iémen – e alertou que “não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento”.

“Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano. Perante a crueldade dos conflitos que atingem civis indefesos, atacam escolas e hospitais e agentes humanitários, não podemos esquecer que não são atingidos alvos, mas pessoas com alma e dignidade”, escreveu o Pontífice.

O Papa Francisco apelou ainda aos “que, no mundo, têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do medo”, mas que ajudem os mais necessitados, que combatam a fome e que promovam iniciativas de desenvolvimento, a que designou “armas” de Paz. “Estas são as ‘armas” da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte!”, lê-se.

O Papa Francisco morreu esta segunda-feira aos 88 anos. A sua última aparição foi ontem, Domingo de Páscoa, na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para dar a tradicional bênção “Urbi et Orbi”. Pelo mundo, várias figuras internacionais já reagiram à morte do Sumo Pontífice.

Numa publicação na rede social X, Emmanuel Macron, presidente francês, reagiu à morte do chefe da Igreja, sublinhando que “De Buenos Aires a Roma, o papa Francisco queria que a Igreja levasse a alegria e a esperança aos mais pobres. Que unissem os homens entre si e com a natureza. Possa essa esperança ressuscitar sem fim para lá dele”, escreveu.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também prestou homenagem o Papa Francisco, sublinhado o “seu amor tão puro pelos mais desfavorecidos”. “O Papa Francisco inspirou milhões de pessoas, muito para além da Igreja Católica, com a sua humildade e o seu amor puro pelos mais pobres dos pobres”, escreveu Ursula von der Leyen.

Também o antigo primeiro-ministro português e agora Presidente do Conselho Europeu, António Costa, dedicou umas palavras ao antigo Papa. “Preocupou-se com os grandes desafios globais do nosso tempo – migração, alterações climáticas, desigualdade, paz – bem como com as lutas quotidianas de cada indivíduo”, disse António Costa.

A Casa Branca também reagiu à notícia através de uma publicação na rede social X, desejando que “Que o Papa Francisco descanse em paz”.

Vladimir Putin, líder russo, expressou condolências pela morte do Papa.

Já o Presidente argentino, Javier Milei, também lamentou o falecimento de Francisco, destacando a sua “luta incansável para proteger a vida desde a conceção”. “O gabinete do Presidente, Javier Milei, lamenta a morte do Papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio, que se tornou, em 2013, no primeiro argentino a chegar à liderança da Igreja Católica, conduzindo-a “com entrega e amor desde o Vaticano”, escreveu a presidência argentina no X.

“Ele sabia como dar esperança, aliviar o sofrimento através da oração e promover a unidade. Rezou pela paz na Ucrânia e pelos ucranianos”, escreveu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na mesma plataforma, pouco depois da notícia.

No Reino Unido, Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, e o rei Carlos III, publicaram notas de pesar pela morte do Pontífice. “Os seus esforços incansáveis para promover um mundo mais justo para todos deixarão um legado duradouro”, escreveu Keir Starmer. Já o monarca manifestou-se “profundamente triste” pela morte do Papa, louvando o trabalho e devoção de Francisco “durante toda a sua vida”.

Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana, publicou uma fotografia, ao lado do Papa, referindo que teve “o privilégio de desfrutar da sua amizade, dos seus conselhos e dos seus ensinamentos, que nunca falharam, mesmo nos momentos de provação e de sofrimento”, escreveu no X. “O seu magistério e a sua herança não se perderão. Saudamos o Santo Padre com o coração cheio de tristeza, mas sabemos que ele está agora na paz do Senhor”, acrescentou.

Em Portugal

Em Portugal, a Conferência Episcopal Portuguesa manifestou que foi com “profunda consternação” que receberam a notícia da morte do Papa Francisco, através de um comunicado. “Ao longo dos 12 anos do seu ministério pastoral, o Santo Padre legou-nos um extenso manancial de gestos, palavras e atitudes, tendo particular atenção as periferias geográficas e existenciais, qual convite à permanente conversão da Igreja, na sua essência sinodal e missionária”, lê-se.

Também o Patriarca de Lisboa,Rui Valério, publicou uma nota em que manifesta o seu pesar pelo falecimento do Sumo Pontífice e relembra a sua presença na Jornada Mundial da Juventude, em Portugal, em agosto de 2023. “O seu magistério e os seus gestos permanecem na nossa memória e elevamos a Deus um hino de gratidão por estes anos em que a Igreja foi pastoreada pelo seu esmero e dedicação incansáveis, como todos pudemos testemunhar”, escreveu. Rui Valério convoca “todos os diocesanos do Patriarcado de Lisboa para uma missa em sufrágio na Sé de Lisboa, hoje, dia 21 de abril, segunda-feira, às 21:00”.

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, vai falar esta segunda-feira ao país, pelas 20h00, sobre a morte do Papa Francisco. “O Presidente da República falará hoje ao país, sobre a morte do Papa Francisco, pelas 20h00”, pode ler-se num comunicado publicado no site da Presidência.

Também o Governo português já reagiu à notícia e, de acordo com uma fonte da agência Lusa, o Governo vai decretar luto nacional em memória do Papa Francisco.

Através de uma nota de pesar, o primeiro-ministro Luís Montenegro recorda que “Francisco foi um Papa extraordinário, que deixa um singular legado de humanismo, empatia, compaixão e proximidade às pessoas”. Montenegro relembra ainda as suas visitas a Portugal, no Centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima e na Jornada Mundial da Juventude, salientando que “marcaram o nosso país e geraram uma ligação muito forte do povo português com Sua Santidade”, lê-se.

Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, também se pronunciou, referindo que Francisco “foi um Papa que fez a diferença a todos os níveis”.

Já o presidente da Assembleia da República, Aguiar-Branco, considerou que o pontificado de Francisco foi para a Igreja e para o mundo um sinal de fraternidade, paz e misericórdia. “O seu pontificado foi para a Igreja e para o mundo um sinal de fraternidade, paz e misericórdia. A melhor homenagem que podemos prestar é garantir que as suas palavras continuam a ser um exemplo”, disse.

Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, enalteceu o legado do Papa, sublinhando que “ficará para sempre inscrito na história” pela sua “voz corajosa” em defesa da justiça, dignidade humana e paz.

A Universidade Católica Portuguesa também manifestou o seu pesar pelo falecimento do Papa Francisco, referindo que a sua partida “deixa uma dor profunda nos crentes e em todos aqueles que encontraram nas suas palavras, gestos e ações um testemunho luminoso de humildade, generosidade, proximidade e esperança”, lê-se numa nota da Instituição.“Esperança foi não só o mote da sua vida, mas o seu legado, uma mensagem particularmente relevante num mundo de dissidência e contradições, onde o Papa Francisco foi o derradeiro líder ético”, recordou Isabel Capeloa Gil reitora da Universidade.

1. Eles Pensavam que Eram Livres
Milton Mayer

“Como americano, a ascensão do nacional-socialismo na Alemanha causou-me repugnância; como americano de ascendência alemã, encheu-me de vergonha; como judeu, deixou-me destroçado; como jornalista, senti-me fascinado”, escreveu Milton Mayer, em 1954, contextualizando o trabalho a que se propôs, carregando todas essas identidades, mas privilegiando o impulso, as regras e o entusiasmo dados pela sua profissão. No livro Eles Pensavam que Eram Livres – Os Alemães 1933-1945, o jornalista queria perceber melhor, através de conversas com alemães comuns, o fenómeno do nazismo e o modo como conquistou tantos alemães (“Era um movimento de massas e não a tirania imposta a milhões de cidadãos indefesos por uns quantos indivíduos diabólicos”, escreve). Para cumprir esse objetivo esperou algum tempo, mas não demasiado, e sete anos depois do fim da II Guerra Mundial entrevistou longamente dez alemães com percursos muito diversos (um polícia, desempregados, um estudante, um alfaiate, um professor…) e que, de algum modo, foram próximos desse “movimento de massas”. O livro tem uma dedicatória: “Aos meus dez amigos nazis”, seguindo-se o nome e a profissão de cada um. “Como foi possível?”, parece ser a pergunta na base de toda esta pesquisa. E se dermos por nós a pensar como este trabalho com mais de 70 anos pode ter bastante atualidade, ficaremos (ainda) mais inquietos ao ler as próprias palavras de Mayer, escritas na época: “Regressei a casa algo receoso pelo meu país [EUA], com medo daquilo que ele pudesse desejar, alcançar e apreciar, pressionado pela realidade e a ilusão. Parecia-me – e ainda me parece – que não conhecera o Homem Alemão, mas o Homem, simplesmente.” Pedro Dias de Almeida. Tinta-da-China, 400 págs., €23,90

2. Herança
Harvey Whitehouse

O que podemos aprender com as sociedades mais antigas, aquela das quais, até, não há registo escrito? O que pode sugerir-nos a antropologia para a construção de um mundo dinâmico? São estas as duas grandes perguntas que percorrem o ensaio de Harvey Whitehouse, professor da Universidade de Oxford. Um olhar para o passado que se suporta em várias disciplinas e na capacidade que hoje temos de analisar grandes dados (com a ajuda da informática). É assim que se definem condicionantes da evolução coletiva – o conformismo, a religiosidade e o tribalismo –, ao mesmo tempo que se equaciona de que forma essas características sociais inatas podem jogar a nosso favor. Temas e Debates, 424 págs., €22,20

3. Quatro Personagens à Procura de Abril
Luís Reis Torgal

Estamos em abril de 2025 e é óbvio que ainda há muitas histórias por contar e aprofundar sobre um outro célebre abril, que aconteceu há 51 anos. O historiador Luís Reis Torgal assume no “prefácio ou posfácio” que este livro de História é, também, “de memórias”. Está organizado em torno de quatro figuras, “personagens reais mas simbólicas com que o autor contactou como leitor, como cidadão ou como militar”: o escritor Luís de Sttau Monteiro (1923-1993), o político e dinamizador cultural Joaquim Santos Simões (1923-2004), o padre Mário de Oliveira (1937-2022) e o militar Carlos Fabião (1930-2006). Lendo um historiador que escreve na primeira pessoa, temos uma visão singular do período revolucionário. P.D.A. Temas e Debates, 264 págs., €18,80

4. SPQR
Mary Beard

Professora da Universidade de Cambridge, Mary Beard é uma das grandes classicistas do nosso tempo, com uma obra vasta que não se limita a recuperar o passado, mas que define inúmeras pontes com a atualidade, como é o caso dos volumes Civilizações e Doze Césares. Depois de ter lançado Imperador de Roma, a editora Crítica recupera SPQR, que teve a sua primeira edição portuguesa há dez anos. É um dos seus estudos mais consagrados, uma visão global da evolução da História de Roma, desde a sua fundação ao seu legado, que ainda hoje influencia a sociedade contemporânea. Para a especialista, “Roma ainda ajuda a definir a maneira como compreendemos o nosso mundo e como pensamos acerca de nós mesmos, das teorias mais complexas à comédia mais simples. Após 2 000 anos, continua a escorar a cultura e a política ocidentais, o que escrevemos e como vemos o mundo e o lugar que nele ocupamos”. Crítica, 584 págs., €23,90

5. Scotland Yard
Simon Read

No cinema, nos romances e na música, a Scotland Yard, sede da Polícia Metropolitana de Londres, alcançou um estatuto mítico. “[Ela] faz parte do nosso tecido cultural, é uma ligação entre a História e a cultura pop”, defende Simon Read. “A obsessão atual pelos casos reais deve-se, em grande parte, aos primeiros casos da Yard, à cobertura sensacionalista levada a cabo pela imprensa, aos relatos pormenorizados dos processos penais e à glorificação dos detetives.” É todo esse processo que o jornalista norte-americano apresenta nesta história dos assassínios mais infames investigados pela polícia de Londres entre os inícios dos séculos XIX e XX. Read cita notícias de jornais, transcrições de julgamentos e depoimentos dos polícias para mostrar a construção da investigação criminal e, em particular, a ciência forense e o perfil do assassino. Casa das Letras, 592 págs., €26,90

6. Humano, Demasiado Humano
Neil D. Lawrence

Eis uma boa pergunta: “O que nos torna únicos na era da Inteligência Artificial (IA)?” Num mundo de computadores, de ferramentas que facilitam toda e qualquer tarefa, incluindo as criativas, a pergunta colocada por Neil D. Lawrence torna-se ainda mais pertinente. Mas o professor de Cambridge não se limita a colocá-la, ensaia uma resposta, no que podemos considerar uma história do presente que estamos a viver. Também não é um cético, nem um pessimista, ou não liderasse ele a área de IA da sua universidade. É por isso uma reflexão pessoal, uma “filosofia fragmentada”, que percorre várias etapas que nos conduziram até onde estamos, da mesma forma que define o que pode, no futuro, fazer a diferença. Como isto: “Precisamos de trabalhar com as máquinas de uma maneira que nos permita manter a autoria informada de quem somos.” Gradiva, 504 págs., €26,50

7. As Cleópatras
Lloyd Llewellyn-Jones

Entre o muito que se sabe (e se inventa) sobre Cleópatra, a poderosa rainha do Egito, aquela que seduziu dois dos mais relevantes homens da História de Roma, Júlio César e Marco António, eternizada (e denegrida) por poetas e dramaturgos, há um número poucas vezes mencionado: o VII. Cleópatra, a amada e odiada monarca do Egipto, de terras sem fim e ricos cereais, foi a sétima de uma dinastia de rainhas, a maior parte consorte, e o derradeiro nome do Egito governado pelos Ptolomeus. Grande especialista em História Antiga, Lloyd Llewellyn-Jones, da Universidade de Cardiff, no País de Gales, apresenta um retrato inédito dessas mulheres, todas excecionais, umas mais do que outras, como sempre sucede, mas que por vários motivos se destacaram no seu tempo. Além de ser uma outra forma de contar os últimos anos do Império Egípcio, antes de dar lugar à dominação romana, este também é um olhar para o poder exercido pelas mulheres, área de estudos que tem ganhado importância nos últimos anos. Desde o tempo de Hatshepsut, que se fizera representar em moldes masculinos, muito mudara no reino do Nilo. E para lá da lenda, muitas vezes negra, a própria Cleópatra foi uma governante quase sempre positiva, mesmo quando cometeu os seus erros e desvios, em particular o de se envolver nas fações da guerra civil romana. Por fim, ler estas biografias reais é descobrir ainda o mosaico de que o Crescente Fértil era feito, em verdadeiros (e estimulantes) encontros (e choques) culturais. Bertrand, 408 págs., €22,20

A Comissão Europeia (CE) terá adiado o anúncio de sanções contra a Apple e a Meta para depois das negociações relacionadas com as tarifas dos EUA. Segundo o The Wall Street Journal, este alegado adiamento terá deixado alguns eurodeputados preocupados com o impacto dos fatores políticos e comerciais na forma de atuação da CE.

Segundo algumas fontes próximas, a Comissão Europeia iria anunciar as medidas contra as duas tecnológicas norte-americanas na terça-feira passada e até já teria informado pelo menos uma delas desta intenção e data. Pouco tempo depois de o comissário Maroš Šefčovič se ter reunido com os responsáveis dos EUA em Washington para negociações sobre as tarifas, foi conhecida a decisão de se adiar o anúncio das penalizações. Um porta-voz confirmou que o trabalho técnico estava concluído, mas não adiantou qualquer data para a aplicação das medidas: “Estamos a trabalhar na adoção das decisões finais no curto prazo”, cita o Engadget.

As penalizações em apreço devem-se ao incumprimento do Regulamento dos Mercados Digitais por parte da Meta (que permite aos utilizadores não verem anúncios personalizados mediante o pagamento de um valor) e da Apple (pelas regras que limitam a capacidade dos programadores em levarem as transações dos clientes para fora da App Store). As investigações europeias arrancaram em março de 2024 e, recorde-se, ao abrigo do Regulamento podem resultar em multas equivalentes a 10% da faturação anual das empresas.

As fontes ouvidas pelo WSJ revelam que as sanções contra as empresas americanas vão mesmo avançar, mas ainda não é claro dentro de quanto tempo é que serão anunciadas. No passado, a Comissão afirmou que iria lutar para defender a sua “autonomia de regulação” apesar da pressão de Trump e dos apoiantes das grandes tecnológicas.

A maior parte dos robôs humanoides que esteve em prova na meia-maratona de Pequim não chegou a cruzar a linha da meta. Dos 21 robôs que começaram, apenas seis terminaram a prova, com os restantes a passarem por diferentes problemas de funcionamento – sobreaquecer, cair repetidamente e um deles até perdeu a cabeça, literalmente. Em competição, além dos corredores robotizados, estavam 12 mil pessoas.

O melhor ‘atleta’ robotizado foi o Tiangong Ultra, que terminou a prova em duas horas e 40 minutos. Os criadores dos robôs tiveram de recorrer a várias técnicas e ‘manipulações’ para levar os humanoides até ao fim, com recurso a fita-cola, mudanças de baterias, sprays de água para arrefecimento e até remover dedos dos pés ou cabeças para poupar peso.

O Interesting Engineering conta que alguns dos ‘falhanços’ desta maratona incluem o Huanhuan, um humanoide que só se mexia a passo de caracol e estava a tremer incontrolavelmente, o Shennong que começou a girar em círculos, bateu contra uma parede e levou os controladores humanos ao chão ou o Xuanfeng Xiaozi que se partiu ao meio e só foi salvo pela fita-cola.

Apesar destas situações insólitas, o facto de terem conseguido terminar a corrida é um feito digno de nota. Com apenas algumas décadas de investigação focada em robôs bípedes, os investigadores conseguiram que a tecnologia fosse avançada o suficiente para os robôs correrem uma longa distancia de forma estável e com o aquecimento a ser gerido de forma eficiente.

Alan Fern, professor de robótica, sublinha o feito à Wired contando que a Inteligência Artificial que controla estes robôs não avançou significativamente desde 2021, mas o hardware sim: “Há até cinco anos ou assim, não sabíamos como colocar os robôs a andar de forma fiável. Agora sabemos e isto [a meia-maratona] vai ser uma boa demonstração disso. O desafio de passar de uma corrida de cinco quilómetros para uma meia-maratona tem que ver com a robustez do hardware. Vou ficar impressionado se alguma destas empresas conseguir terminar a corrida sem substituir o robô”.

A corrida serviu para um teste público ao estado atual do desenvolvimento da robótica e, apesar dos avanços demonstrados, parece que ainda estamos longe de um cenário onde os humanoides podem auxiliar-nos em casa, nas fábricas ou em zonas de desastre sem requerer supervisão constante.