A famosa Inteligência Artificial (IA), nos últimos tempos, tem andado muito ocupada e gerou vídeos de presidentes, CEOs, cantores e atores famosos, quando os legítimos nada tinham a ver com isso. Era uma questão de tempo até que alguém em Portugal invocasse que tinha sido vítima de deepfake, alegando que certas imagens de vídeo não eram suas. 

Deveremos perceber que, para já, não existe uma única IA, mas sim vários sistemas, criados pelo ser humano, que fazem mais que o tratamento de dados que recebem – eles conseguem gerar novos resultados, como previsões, recomendações ou decisões. 

Como qualquer ferramenta, a sua utilização depende de quem a utiliza e dos respetivos fins.

Se recentemente foi notícia a clonagem de voz de uma personalidade pública, com o seu consentimento, para a realização de um podcast, importa sublinhar que este tipo de tecnologias permite a clonagem da voz de qualquer cidadão, a partir de amostras de voz que podem ser obtidas por vários meios, nomeadamente através de chamadas ou introduções ilegítimas em sistemas informáticos que legitimamente as guardam, nomeadamente para prova de transações comerciais.

Não é difícil perceber que os respetivos áudios gerados podem dar origem a balbúrdias e ser instrumento para cometimento de crimes.

Da mesma forma, vídeos com conteúdo não correspondente a um evento histórico podem colocar a imagem de alguém num tempo, num espaço, num contexto, a fazer ou a não fazer algo, quando… nada existiu.

Num processo-crime, os clássicos exemplos de alguém plantar uma impressão dactiloscópica num local para afastar a responsabilidade penal de outrem, após a polícia ter inspecionado devidamente o local, têm sido, com relativa facilidade, desmontados.

Num futuro próximo, se alguém enveredar por tais práticas, seja para desviar a atenção da investigação, seja para criar uma dúvida razoável que leve à sua não responsabilidade penal, os tribunais, para formar a sua convicção, terão de recorrer a especialistas e (outras) ferramentas de inteligência artificial que irão analisar detalhadamente vídeos e áudios para permitir a conclusão se as imagens e sons são objeto de manipulação digital ou verdadeiros.

O problema do deepfake é que teremos de desconfiar dos nossos sentidos, mormente visão e audição. Teremos de analisar se os dados que estão na origem dos nossos inputs não foram alterados ou modificados. No fundo, garantir a segurança dos dados e a transparência.

Para as polícias, o desafio, para além de ter de investir em pessoas e ferramentas para detetar aqueles pequenos defeitos que a IA ainda vai criando imagem a imagem, é de elevar ainda mais aquilo que sempre tem feito – rapidamente obter elementos de prova cada vez mais disponíveis na nossa pegada digital que todos deixamos e assegurar uma cadeia de custódia, para garantir que as provas não são alteradas.

Em conclusão, tenha cuidado com os seus dados biométricos, desde a sua imagem à sua voz, passando por algo tão único como a sua íris. Atue rapidamente se for vítima de algum esquema criminoso, desde logo para remoção de conteúdos falsos e eventuais indemnizações. Se for criminoso, perceba que plantar provas falsas, por si mesmo, é mais um crime, que o abrange a si e a todos que podem estar no esquema. 

O deepfake é um desafio aos nossos sentidos, à privacidade, à honra e consideração, à segurança, integridade da informação, à prova em qualquer processo, à justiça e à democracia. Por isso mesmo, teremos todos de estar conscientes e à altura do desafio.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

A Polícia de Segurança Pública apresentou números oficiais sobre a criminalidade em Lisboa. Carlos Moedas não concorda com os resultados.

Os dados, a incluir no Relatório Anual de Segurança Interna, apontam uma queda de 12,6% na criminalidade geral e de 10,4% na grave e violenta. Que boa notícia! Achámos nós. Qualquer autarca celebraria o resultado, aproveitando para daí tirar crédito, merecido ou não. O Presidente da Câmara de Lisboa – que habitualmente celebra rankings do Instagram que elevam a cidade a melhor do mundo – mostrou-se “preocupado”. De onde virá esta desconfiança sobre os relatórios das forças policiais?

O tema da segurança entrou para a ordem do dia desde o célebre comunicado de Montenegro ao país, num espaço televisivo reservado a solenidades e emergências. Não existindo qualquer facto que justifique o alarme, sendo a segurança uma realidade e um “ativo” (em economês) para o país, para o turismo, para a atração de investimento, para a economia e a qualidade de vida em Portugal, é porque há interesse político.

Moedas fez download da receita. Em ano de autárquicas, o presidente incumbente prefere um debate estéril a partir das “perceções” de cada um do que falar da realidade: a crise da habitação, por exemplo, é uma realidade, ou a tragédia dos transportes públicos. O trânsito infernal é uma realidade. A extinção do comércio local, o despejo de instituições históricas, o deslaçamento dos bairros seculares, em prol da especulação imobiliária, são uma realidade. O aumento dos sem-abrigo é uma realidade. A aposta do município em iniciativas vazias de propaganda, em detrimento dos projetos comunitários, também. Interessa, portanto, instalar um debate superficial, o mais extremado possível, sobre “perceções” individuais. A ficção contra a realidade.

Para ajudar à cortina de fumo, o debate foi colocado num eixo absurdo. Acontece, convencionou-se, entre duas fações opostas: uma que dá importância à segurança, defende a polícia e reconhece que existe crime em Portugal; a outra que despreza o tema e quer abolir as polícias porque não existe crime em Portugal. Imbecil? Dá um jeitão que assim seja.

Ficou claro na cobertura mediática à manifestação “Não nos encostem à parede”, traduzida como protesto de um “extremo” – palavras do primeiro-ministro – “contra a polícia” – no léxico de vários canais informativos. Ninguém entre as dezenas de milhares de pessoas, oriundas dos vários quadrantes ideológicos (talvez só não do Chega, que tinha a sua própria festa de aniversário ali por perto), se pronunciou contra a existência da polícia, ou recusou importância ao tema da segurança. Ninguém. Não foi registada uma única declaração nesse sentido. Mas estamos assim. O sujeito ideal do totalitarismo, escreveu Hannah Arendt, não é o ideólogo convicto, mas a pessoa para quem a distinção entre facto e ficção deixa de existir.

Ironicamente, quem hoje mais questiona as forças de segurança é o senhor presidente da CML, ao contestar os relatórios policiais. Se vê necessidade de mais policiamento, porque não comunica responsavelmente às autoridades, ao invés do megafone mediático? É insólito que quem mais devia proteger os interesses da cidade use a sua plataforma para disseminar o pânico, falando ao país contra a polícia. Ficará, aliás, para a História da magna cidade a sua genial quote, quando confrontado com a evidência: “podemos ter um número menor nas estatísticas, mas a criminalidade é maior”. Em Lisboa, é a ficção que supera a realidade.

PS. Talvez por sorte ou por ser domingo, o autor redigiu este texto ao ar livre na perigosíssima cidade de Lisboa sem ser vítima de nenhum crime. Veremos como corre para a semana, que isto está um perigo.

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Desculpe, este kizomba é seu?

Ó meu rico Parlamento Europeu

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Trump sabe uma coisa: são os americanos que vão pagar as tarifas aplicadas aos produtos chineses, mexicanos e canadianos, e o mesmo acontecerá com a Europa quando chegar a sua vez. Trata-se de uma total inversão de valores. À China, pouco interessam as tarifas. Quem tem de as pagar são os importadores americanos.

O grande problema dos Estados Unidos reside na sua dependência dos produtos importados. Não importa quem exporta, mas sim quem paga e como isso se reflete no preço para o consumidor.

É fundamental ter uma noção dos números associados às importações da China: por dia, 1,64 biliões (métrica americana) de produtos (unidades de produtos) entram nos Estados Unidos. Não é possível enumerar cada um deles, mas vão desde ingredientes farmacológicos a produtos eletrónicos, vestuário, maquinaria, alimentos, painéis solares, roupas de luxo e até componentes para a NASA.

Interferir nesta cadeia diária significa travar os EUA a todos os níveis. Se a isto se somar o que vem do Canadá e do México — particularmente deste último —, então Trump ficará isolado no seu continente, sem capacidade industrial ou agrícola para competir com um gigante como a China ou com fornecedores mistos como o México e o Canadá.

As tarifas pressionam os chineses, obrigando-os a reduzir os preços de fabrico? Pouco ou nada. Os americanos, pelo contrário, sentirão os efeitos mais depressa, ficando irritados e revoltados. Uma América fechada, isolada e sozinha é um ideal ultrapassado e impossível de concretizar. Se a China parasse de produzir durante um mês, os Estados Unidos deixariam de funcionar a todos os níveis — até nos mais elementares. Trump vive noutro mundo.

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O escritor e ilustrador britânico, a viver na Austrália, não só deu respostas diretas a perguntas enganadoramente simples (sobre micróbios, macacos, formigas e pombos), como elogiou o entrevistador, fez perguntas de volta e deixou pistas de pesquisa.

Para miúdos tão curiosos como o Gabriel! 

Qual é a estação mais importante do ciclo da água? 

Cada etapa do ciclo da água é muito importante! Sem evaporação, não poderia haver condensação. Sem condensação, não haveria precipitação. Sem precipitação, não haveria evaporação. Cada etapa de um ciclo tem um peso igual de responsabilidade. Isto é válido para qualquer ciclo natural – estações do ano, órbita planetária, ciclos de vida, marés, dia e noite – cada fase é tão importante como a seguinte. Consegues pensar em mais algum ciclo natural? 

Como é que pela primeira vez um macaco passou para humano? 

Acordei no jardim zoológico uma manhã e vi que o tratador tinha deixado a porta das traseiras aberta… então fui a correr! Roubei uma t-shirt, encontrei uma máquina de escrever e aqui estou. Haha, só a brincar. Bem, mais ou menos ;) 

Não é que tenhamos evoluído dos macacos. Partilhamos, sim, um antepassado comum com os símios (e ainda mais atrás na nossa história, partilhamos um antepassado com os macacos). Os biólogos pensam que nós, humanos peludos, partilhamos um antepassado com os chimpanzés e outros símios em algum momento, há cerca de 5 a 7 milhões de anos. Este antepassado não era nem humano nem símio, mas sim uma espécie mais primitiva de primata. Desde então, nós e os símios temos evoluído separadamente, ao longo das nossas próprias linhas evolutivas. 

Como se criaram os micróbios? 

Ninguém sabe realmente. Mas os micróbios estão tão vivos como tu e eu. E tal como partilhamos um antepassado com os macacos, também partilhamos um antepassado com os micróbios (muito, muito mais atrás). Uma vez fiz um livro com o meu amigo Idan Ben-Barak sobre este assunto – a origem da vida na Terra – chamado We Go Way Back

Como é que as formigas salvam o planeta? 

Estas perguntas são ótimas, acho que já deves ter lido todos os meus livros? Obrigado :) Não tenho a certeza se as formigas salvam o planeta, mas certamente ajudam a torná-lo um lugar melhor para a vida prosperar. As formigas são uma parte superimportante de tantos ecossistemas em todos os continentes do mundo (exceto na Antártida! Não chegaram lá… ainda). À medida que realizam as suas tarefas, as formigas reciclam e decompõem coisas velhas e mortas, transformando-as num solo novo e rico em nutrientes, no qual as novas plantas podem crescer e prosperar. 

Porque é que o coala é inútil? 

Os coalas dormem cerca de 20 horas por dia e dão cocó aos seus pobres bebés! Mas não são inúteis, ou pelo menos não são mais, nem menos inúteis do que qualquer outra coisa viva (incluindo tu e eu!). E tal como qualquer outro ser vivo, os coalas estão muito bem adaptados à vida no seu cantinho do mundo. São talvez a parte mais fofa e peluda do seu ecossistema. A ideia por detrás do título deste livro (Os animais mais inúteis do mundo) era a de troçar da suposição humana comum de que os animais têm uma finalidade ou uma utilidade. 



Os pombos são bons para o planeta? 

Eu acho que sim! Têm evoluído exatamente ao mesmo tempo que eu e tu, e parecem muito bem adaptados aos seus novos lares nas nossas cidades. Os pombos desempenham o seu papel em muitos ciclos naturais (mais recentemente o ciclo «Fazer cocó em estátuas e carros estacionados»). 

Como é que tu descobriste esta informação? 

Boa pergunta! Não sou especialista em nada (exceto em desenhar olhos em coisas que não deveriam ter olhos). Por isso, todos os livros de não-ficção começam com cerca de três a seis meses de pesquisa numa grande variedade de fontes. 

Mais importante ainda, tudo o que forneço deve ser apoiado em fontes estabelecidas ou revistas por pares. Algumas das minhas fontes favoritas são a Nature, a Encyclopedia Britannica e a Scientific American. A Britannica Kids [enciclopédia online para crianças] é sempre um ótimo lugar para começares a tua própria pesquisa ou validares algo que leste noutro sítio. 

Porque é que tu quiseste ser escritor? 

Tenho três filhos, que têm agora 11, 9 e 7 anos. O meu primeiro livro foi escrito como presente de primeiro aniversário para a minha filha Florence (9). Eu não pretendia que se tornasse um livro a sério, mas acabou por se tornar nisso mesmo. Desde então, todos os livros que escrevi foram feitos a pensar num dos meus filhos. Através das suas muitas perguntas e interesses, eles tornam muito fácil para mim pensar em novos tópicos e criar novos livros. Também gostam de ajudar com pesquisas e piadas parvas. É muito divertido :) 

Descobre mais em penguinlivros.pt e visita-nos em @penguinkidspt! 


CONTEÚDO PATROCINADO* POR PENGUIN


*Um conteúdo patrocinado é um texto escrito por uma empresa ou marca, e não por jornalistas.

De Apocalypse Now a Platoon, de Bom Dia, Vietname a Nascido para Matar, muitos filmes já foram feitos sobre a Guerra do Vietname – até séries, como a recente The Sympathizer.

Quando se assinalam os 50 anos do fim do maior conflito armado da Guerra Fria, esta série documental conta a história na primeira pessoa, com testemunhos de quem combateu no Vietname, como Melvin Pender: o atleta foi chamado a competir nos Jogos Olímpicos em 1968, durante o serviço militar, conquistando uma medalha de ouro.

Em 1965, milhares de jovens soldados foram recrutados, alguns nem sabiam onde ficava o Vietname, mas tinham a convicção, tal como as suas famílias, de que servir os EUA os tornaria homens. Lutaram inspirados pela forte camaradagem, em que morreriam uns pelos outros.

“Soldado, como se sente?”, pergunta um repórter da televisão ABC à chegada dos recrutas ao território. A imagem serve de exemplo da intensa cobertura mediática, com equipas de reportagem integradas na frente de batalha. Hilary Brown, a primeira mulher correspondente no estrangeiro para um canal de televisão, fala sobre a cobertura em primeira mão da queda de Saigão, em abril de 1975, que poria fim à guerra marcada pela polarização entre forças comunistas e capitalistas – o Vietname do Sul, apoiado pelos americanos, e o Vietname do Norte (vietcongues), que contava com a ajuda dos soviéticos.

Narrados pelo ator Ethan Hawke, os seis episódios são feitos com imagens emotivas, de reencontros, abraços, agradecimentos, mas também de gritos, tiros de rajada, explosões, túneis subterrâneos secretos. Mais de 1 100 horas de material de arquivo foram analisadas para a realização da série documental por Rob Coldstream. São vários os ex-militares que se reconhecem nos vídeos da guerra, voltam a recordar os pesadelos por que passaram e cujas memórias não desapareceram. O tempo não cura tudo.

Vietname: A Guerra que Mudou os EUA > Estreou 31 jan, sex > seis episódios > Apple TV +

Palavras-chave:

1. Passa-Montanhas
Linda Martini

A sua história vem dos primeiros anos deste século. De algum modo, os Linda Martini são já resistentes, diríamos “clássicos”, se essa palavra não parecesse tão inapropriada perante este rock ainda jovial, torrencial, enérgico. Continuam a jogar com as regras que criaram para si próprios numa espécie de “amor combate” que se vai construindo álbum a álbum, à antiga. Talvez por isso, falam assim do novo trabalho: “Há uma ideia persistente ao longo das novas canções: conversar melhor. Talvez seja essa a procura quando quatro pessoas se fecham voluntariamente numa sala e esperam sair de lá com qualquer coisa que não existia antes de entrarem.” Este Passa-Montanhas, com dez novas canções, é o primeiro registo em estúdio com o guitarrista Rui Carvalho (aka Filho da Mãe) que, em 2022, substituiu Pedro Geraldes.

2. Viva la Muerte
Mão Morta

Não é de ânimo leve que se escolhe para título de um disco o sinistro slogan dos falangistas na Guerra Civil Espanhola, “viva la muerte”. Mas nada aqui é de “ânimo leve”; estamos a milhas do hedonismo rock de Budapeste, talvez a canção mais célebre dos Mão Morta nos 40 anos de carreira que agora se assinalam. Adolfo Luxúria Canibal e o resto da banda bracarense fazem questão de que a mensagem que querem passar seja bem clara, sem ambiguidades, naquele que é o seu disco mais assumidamente político de sempre (e já havia Há Já Muito Tempo que Nesta Latrina o Arse Tornou Irrespirável, de 1998, de inspiração situacionista, e Pelo Meu Relógio São Horas de Matar, de 2014). Num álbum que é também espetáculo, a apresentar ao longo deste ano, complementado com conferências (Do Fascismo à Extrema-Direita e Vice-Versa), nada ficar por dizer, emulando um fascismo e um autoritarismo que ameaçam os nossos dias. Rock de combate.

3. Cidade de Cinema
Mazgani

Não muda tudo, mas muda muito. Acompanhamos Mazgani desde 2007 (ano de Songs of the New Heart) em canções em inglês, que remetem para uma melancolia e uma energia a fazerem pensar em Cohen, Cash ou Tom Waits. Desta vez, todo o novo disco é em português. Primeiro estranha-se…, depois convence, em canções delicadas e inspiradas (a melancolia mantém-se). Agora, o iraniano radicado desde muito jovem em Portugal parece criar uma ponte, como nunca antes, com a música popular portuguesa de autor – deste século e até de outros tempos. Em A Bondade, um dos dez novos temas, é fácil ouvir ecos de Variações no refrão: “Eu não quero a verdade/ dá-me antes a bondade…” Úria, Jorge Cruz, e até Salvador Sobral, também nos ocorrem, mas Mazgani já conseguiu encontrar o seu espaço há muito.

4. Circus Mundi Decadens
Kubik

Algo se mantém da estreia do projeto Kubik (aka Victor Afonso) em disco, em 2001, com Oblique Music: a dificuldade em colocá-lo, bem-arrumado, na gaveta de um género musical (neste caso, uma gaveta virtual, já que o disco ainda não teve edição física). Kubik é sempre um caleidoscópio musical, um carrossel louco, uma viagem que nos surpreende a cada guinada, de faixa para faixa e dentro de cada um dos temas, com títulos em latim (reminiscência da banda rock que o músico fundou nos anos 80, Nihil Aut Mors, que cantava, sobretudo, em latim?). O “circo decadente do mundo” do título anuncia-se logo, entre o naïf e o sinistro, nos primeiros segundos. Estilhaços de rock, folk e instrumentos de várias geografias, eletrónica de dança ou experimental esperam-nos logo a seguir, numa experiência viciante e alucinatória.

Estudioso de longa data do fenómeno das migrações, o sociólogo Pedro Góis, professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, é desde outubro o diretor científico do Observatório das Migrações. A missão deste organismo passa por recolher, produzir e divulgar informação relacionada com um tema que tem preenchido a agenda política na Europa, com Portugal a não fugir à regra – ainda neste fim de semana voltou a estar na ordem do dia, primeiro em forma de manifestações, na sequência da recente rusga da PSP no Martim Moniz, e depois através de confrontos entre imigrantes na mesma zona de Lisboa. Pedro Góis é também um dos autores do recente barómetro produzido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), que retrata o modo como os portugueses olham para quem vem de fora e elucida sobre o desfasamento entre certas perceções e a realidade.

Apesar de todo o mediatismo e da polarização em torno da imigração, os portugueses estão hoje um pouco mais abertos a receber imigrantes do que há 15 ou 20 anos?
Os portugueses estão mais preparados e também mais habituados. Aquela ideia do primeiro estranha-se e depois entranha-se tem aqui um bom exemplo. Quando chegaram grupos no passado que também eram diferentes dos portugueses, como os ucranianos, houve um momento inicial de resistência e de estranheza. Hoje, quando olhamos para os ucranianos ou moldavos que chegaram há 20 anos, eles fazem parte da sociedade portuguesa. Para alguns grupos que estão agora a chegar, estamos nessa fase inicial, enquanto para grupos mais antigos, de facto, existe uma integração que já não se estranha. E isso é um bom indicador.

Essa ideia aplica-se aos novos imigrantes do subcontinente indiano que, segundo o barómetro da FFMS, levam 63% dos inquiridos a defender uma redução da sua presença em Portugal?
É difícil dizer com toda a certeza, porque os fluxos não são exatamente iguais. E as características dos imigrantes também são diferentes. Por exemplo, os ucranianos que chegaram há 20 anos, no início do milénio, eram cristãos ortodoxos e relacionaram-se muito fortemente com as comunidades portuguesas. Também nessa esfera religiosa, os que estão a chegar agora do subcontinente indiano têm outras características, outras religiões e outros hábitos culturais. Creio que essa integração também vai acontecer, mas nós queríamos que fosse imediatamente e, se calhar, vai demorar algum tempo.

As diferenças que apontou explicam uma resistência tão grande a esse grupo de imigrantes, quando os oriundos da Índia, do Nepal e do Bangladesh representam menos de 10% do fluxo migratório para Portugal?
É um somatório entre a estranheza e a falsa perceção de que são muitos mais do que aquilo que são. De facto, estamos a falar de um número muito pequeno, dentro do que são os imigrantes em Portugal. Mas a perceção que temos sobre estes imigrantes também é exponenciada pelas notícias de alguns eventos, o que leva a pensar que são muitos mais. Esta perceção, aliada ao facto de ter havido uma chegada abrupta e de se ter passado de uma expressão quase inexistente para umas dezenas de milhares de pessoas, talvez tenha esta repercussão na forma como a sociedade portuguesa os vê, sendo que a rejeição acontece até em áreas do País onde praticamente não há imigrantes com estas origens. Ou seja, ela é nitidamente mediatizada para lá do que existe no nosso dia a dia, na nossa vizinhança, na nossa convivência com estes grupos.

Tendo Portugal uma ligação histórica à Índia, e sendo que ainda recentemente teve como primeiro-ministro alguém com raízes goesas, António Costa, não seria de esperar maior tolerância?
É verdade, mas a questão é que a Índia é um continente em si, não é? E muitos dos migrantes que estão a chegar são de regiões da Índia que nada têm a ver com o passado colonial português. Também pesa, como já referi, a sua presença no espaço público, além de ser uma comunidade ainda muito masculinizada. Por outro lado, há também aqui uma questão de classe social. António Costa é descendente das elites de Goa, não é propriamente descendente das classes populares da Índia. Na verdade, há outros indianos em Portugal para os quais não temos grandes sintomas de rejeição, casos das elites que vivem em Cascais ou no Algarve.

Não é só sobre o número de imigrantes do subcontinente indiano que existe uma perceção exagerada. De um modo geral, há uma noção desfasada da realidade quanto ao peso da população estrangeira que vive entre nós.
Acontece em Portugal como acontece em toda a Europa. Há sempre a ideia de que os migrantes são mais do que aquilo que são. Não conseguimos calcular grandes massas de população no nosso imaginário e, de facto, a visibilidade de alguns destes grupos pode transferir esse cálculo para números que não têm nada a ver com a realidade. As pessoas pensam que a imigração se situa nos 30%, quando anda à volta dos 10%, talvez um pouco acima.

Segundo dados da OCDE, chegará aos 12%, mas o peso dos migrantes em Portugal mantém-se muito abaixo na comparação com a grande maioria dos países desenvolvidos.
Algumas organizações internacionais consideram os nascidos fora de Portugal, outras partem da existência ou não de passaporte português. Mas, sim, com a recuperação das pendências da manifestação de interesse, deverá estar a aproximar-se muito rapidamente dos tais 12%.

A imigração como gatilho da criminalidade parece ser o tema do momento da política europeia, e não só, com os partidos de direita radical a acenarem esta bandeira. Há dados que sustentem esta relação de causa e efeito em Portugal?
Não há. Todos os estudos feitos no passado mostram até que uma parte substancial dos estrangeiros presos não tem nada a ver com Portugal. Ou seja, foram detidos como mulas nos aeroportos, como responsáveis de tráfico de droga ou como estrangeiros de passagem no País, não sendo residentes, que é aquilo que define o que são imigrantes. Não há essa relação, mas seria até expectável que houvesse, porque quando essa população cresce até 12%, se calhar, a criminalidade deveria crescer na mesma percentagem, uma vez que os imigrantes são pessoas como nós e, portanto, haverá de tudo no seu seio. De todo, nem as estatísticas mostram essa realidade nem a perceção que as forças policiais têm sobre estes grupos fazem prever que vá aumentar o número de crimes associados à imigração. Outra coisa diferente é conseguirmos contrariar esta perceção, porque ainda esta semana tivemos no Martim Moniz uma pequena quezília entre grupos, que podia ter resultado do fim de um jogo entre Benfica e FC Porto ou Sporting. Estas foram muito mediatizadas e as outras não são tanto. Isto aumenta a nossa perceção de que existe aqui um problema, quando, de facto, nada parece indicar nesse sentido.

As forças de segurança descartam uma relação, os dados oficiais, nomeadamente o Relatório Anual de Segurança Interna, não discriminam a criminalidade por nacionalidade. No entanto, mais de dois terços dos inquiridos no barómetro da FFMS entendem que os imigrantes contribuem para o aumento a criminalidade. Estamos perante um preconceito sem sentido, uma realidade alternativa?
Estamos perante o efeito de um discurso que visa criar desordem na nossa sociedade para depois propor um modelo que contraria essa desordem, que é o modelo autoritário e que não faz sentido. Desde logo, porque os nossos relatórios não discriminam, e bem, em função da nacionalidade, porque o artigo 13º da nossa Constituição proíbe a discriminação em função de um conjunto de características, entre as quais a nacionalidade. Portanto, não faz sentido dar a volta à Constituição para traduzir num documento algo que a própria Constituição proíbe. Muito do discurso político em torno deste assunto tem o objetivo de criar uma perceção de desordem onde ela não existe. O que está errado na nossa sociedade atual não são os comportamentos dos imigrantes, são os discursos dos políticos sobre os imigrantes.

Geram criminalidade?
Geram, pelo menos, um efeito de insegurança, e quando nos sentimos inseguros tendemos a ser menos racionais. Temos de contrariar esse discurso precisamente porque nada mostra que faça sentido. Quer isto dizer que os imigrantes não cometem crimes? Não. Quer dizer é que os imigrantes não cometem mais crimes do que qualquer outra pessoa. Para os regularizarmos, solicitamos certificados criminais nos países de origem e em Portugal. Se houver alguma mancha nos comportamentos destes indivíduos, eles não são regularizados e, portanto, nós acabamos por fazer uma seleção à entrada. Quando estão cá, o normal é que continuem a ser quem eram e não se tornem criminosos de um momento para o outro.

Muitos dos discursos anti-imigração alegam que não existe qualquer tipo de controlo à entrada.
Não é, de todo, assim. Aliás, uma das causas para termos tantas pendências no processo de regularização é porque há diferentes mecanismos de fiscalização de quem se propõe vir trabalhar para Portugal. Há documentos que têm de ser emitidos pelo país de origem, que são fiscalizados pelas nossas autoridades, e só depois é que é concedido esse estatuto para poderem residir em Portugal. Podem dizer-me: “Sim, mas enquanto não estão regularizados podem ser potencialmente criminosos.” Certo, mas num país que recebe dezenas de milhões de turistas, esta é a parte do risco de sermos o país que somos. As pessoas que estão em trânsito no País não serão todas anjos e santos, haverá de tudo. Temos de lidar com isso e investir recursos para que nada aconteça aquando da sua presença no País.

Apesar do aumento real do número de imigrantes com essas origens [Brasil, África, países ocidentais, Europa de Leste e China], verifica-se uma diminuição da negatividade associada a essa migração

Tendo em conta que a associação da imigração à criminalidade se estende, atualmente, por muitos países da Europa e que mais de dois terços dos portugueses estão alinhados com esta posição, diria que este discurso dá votos?
Não posso medir, mas espero que não. Até porque também há, no seio destes grupos políticos que se mimetizam uns aos outros e criam esta tal internacional de direita que parece estar a emergir, outros discursos que não podemos aceitar, como os antivacinas ou antialterações climáticas. A questão da imigração é apenas mais uma parte que não cola com a realidade e com o que a Ciência nos tem dito. É mais uma tentativa de falsificação da perceção social que aparentemente está a atingir um grupo demasiado grande de portugueses face ao que seria expectável.

Atribui alguma responsabilidade à cobertura jornalística de certos acontecimentos?
Nalguns momentos, sim, porque, por exemplo, os discursos políticos de extrema-direita são repetidos. Muitas vezes deixam de ser notícia. Mas ainda assim há uma repercussão destes discursos. E há uma tentativa de criar espetáculo em seu torno, como vimos, aliás, neste fim de semana. Quando temos o nosso espaço mediático inundado com um paralelismo entre manifestações que têm milhares de pessoas e manifestações que têm dezenas de pessoas, é estar a valorizar em excesso estes pequenos grupos que fazem parte da nossa sociedade e a desprezar a imagem real do País, que tem de emergir. Não estou de todo a sugerir que haja censura, os critérios editoriais é que têm de ser devolvidos a uma análise da realidade em vez de a projetarmos a partir dos discursos. De qualquer forma, ainda que os jornalistas fizessem o seu trabalho de acordo com os padrões jornalísticos mais rigorosos, não deixariam de ter a concorrência ali ao lado das redes sociais, que não fariam nada disso. Nós, hoje, temos de olhar para esta realidade mediática integral, onde cada um pode ser jornalista e de alguma forma usurpar a função informativa, muitas vezes dando um olhar marginal e apenas ideologicamente conotado.

Factualmente desfasada da realidade é, também, a opinião da maioria dos portugueses (52%) que considera que os imigrantes recebem mais em apoios sociais do que contribuem para a Segurança Social. O saldo positivo é superior a dois mil milhões de euros.
É, mais uma vez, a criação desta imagem em que há bons e maus. Os bons são os cidadãos portugueses que pagam os seus impostos, fazem os seus descontos para a Segurança Social e não abusam do sistema, e os maus são os imigrantes, que tentam por todos os meios usufruir do sistema sem para ele contribuírem. Os dados da Segurança Social mostram-nos que há muito maior contribuição do que recebimento, e não seria de pensar outra coisa. Estamos a falar de uma população muito jovem, trabalhadora, que está aqui na tentativa de ganhar dinheiro para poder voltar aos seus países, fazer os seus investimentos sociais na sua família ou poder ter uma vida melhor. Conhecemos esta história. É a história da emigração portuguesa. Claro que vai sempre haver casos de abuso, como há na comunidade portuguesa. Cabe às autoridades competentes atuar.

Há mais de 250 mil imigrantes em Portugal a viver abaixo do limiar da pobreza, ou seja, 26,6% do total. Porquê?
Uma grande franja de estrangeiros recebe salários-base abaixo do salário mínimo nacional. É por isso que, nas zonas metropolitanas de Lisboa, Porto e Algarve, não conseguem alugar um apartamento e é necessário juntar várias pessoas. O País precisa de subir os salários mais baixos, dos imigrantes e dos portugueses.

Entre os imigrantes, são os de fora da União Europeia que fazem baixar a média salarial e, por isso, aqueles que vivem em piores condições.
Há várias dimensões. Em primeiro lugar, os cidadãos da União Europeia têm uma transferência direta dos seus diplomas e das suas qualificações. Um enfermeiro da Bulgária poderá exercer a função em Portugal, mas um enfermeiro do Nepal já não. Por outro lado, há dois tipos de atores que fazem falta em alguns setores. Os empregadores têm de ter comportamentos éticos para com os imigrantes e subir-lhes os salários, por exemplo, no setor agrícola ou no dos cuidadores, e os sindicatos têm de pugnar para que o direito laboral seja cumprido em todas as suas dimensões, para todas as pessoas.

Face aos dados do barómetro, e em jeito de balanço, é legítimo afirmar que os portugueses querem sobretudo um controlo mais apertado sobre a entrada de imigrantes no País e, uma vez esta regularizada, defendem uma igualdade de direitos para todos?
O que sinto é que os portugueses querem alguma governação das migrações. Ou seja, não podermos receber toda a gente a todo o tempo sem termos criadas as condições para que os direitos e deveres de quem chega possam ser efetivos. É muito difícil governar a entrada, porque Portugal é um país com fronteiras abertas a muitos países, como os da CPLP, da União Europeia ou do Brasil, de onde as pessoas que vêm não têm necessidade de ter um visto. Mas, depois, os indicadores mostram que os portugueses até advogam o direito de voto para imigrantes regularizados.

Comparativamente a estudos anteriores, regista-se agora uma menor animosidade face a todos os grupos de imigrantes avaliados, oriundos de Brasil, África, países ocidentais, Europa de Leste e China?
Apesar do aumento real do número de imigrantes com essas origens, verifica-se uma diminuição da negatividade associada a essa migração, o que não deixa de ser interessante.

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Acerca das guerras, como já testemunhamos várias vezes e em tantas delas de forma dramática, sabemos como começam, mas desconhecemos sempre como e quando acabam. Desta vez, no entanto, as coisas são ligeiramente diferentes. Já sabemos que a próxima grande guerra comercial, segundo o anúncio feito no sábado por Donald Trump, vai iniciar-se precisamente às 12.01 de amanhã (presume-se que seja o horário de Washington…), quando entrarem em vigor as tarifas de 25% sobre as importações do Canadá e do México, e de 10% sobre as da China – um valor que, neste caso, se soma às que já estavam em vigor. 
Ao que tudo indica, este será apenas o primeiro tiro de uma guerra que, nos próximos tempos, deverá atingir muitos outros países e blocos económicos. Por isso, a sua duração é, neste momento, completamente imprevisível. Até porque, como acontece sempre, as guerras aumentam de intensidade à medida que os dois lados se vão atacando mutuamente: após um ataque é sempre preciso esperar uma contraofensiva. E, acima de tudo, muitos efeitos colaterais em países que, como se diz em linguagem corrente, sofrem consequências “por tabela”. 
É precisamente por isso que esta guerra comercial anunciada por Donald Trump deve preocupar o mundo. Embora as tarifas sejam dirigidas apenas, para já, aos vizinhos diretos dos EUA e ao seu adversário estratégico, ninguém duvida que, dentro em breve, elas irão ser impostas às importações de muitos outros países – nomeadamente às da União Europeia

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Velhos são os trapos, diz a sabedoria popular, mas também aquele que muitos consideram ser o melhor futebolista de todos os tempos. A um ritmo de mais de meio milhão de euros por dia (de acordo com as notícias sobre a mais recente renovação de contrato), Cristiano Ronaldo caminha a passos largos para se tornar, já no próximo dia 5 de fevereiro, um dos quarentões mais bem-sucedidos da história do futebol e do desporto mundial. Muito poucos conseguiram, como ele, manter-se a competir ao mais alto nível com uma idade tão avançada. E ainda menos foram capazes de, na mesma altura da vida, continuar apostados em estabelecer recordes e em atingir novas metas. Para o madeirense mais famoso do mundo, parece não haver limites e tudo é sempre possível. Seja chegar aos 1000 golos, seja ser o único a marcar em seis Campeonatos do Mundo. O futuro é já ali.

A defender as cores do Al Nassr desde 2023, Cristiano Ronaldo terá chegado recentemente a acordo com o clube saudita para prolongar o contrato que os une até 2026. Em troca, o craque português receberá cerca de 200 milhões por ano, o que representa a módica quantia de 3,8 milhões por semana ou, se quisermos ser ainda mais minuciosos, 550 mil euros por dia. Um contrato que, além de ser o mais caro de sempre da história do futebol, abre portas aos dois grandes objetivos que CR7 terá traçado para o final da sua carreira. Jogando até 2026 no Al Nassr, o avançado português tem a oportunidade de alcançar a tão desejada marca dos 1000 golos (no último domingo, 26, chegou o 920º golo) e mantém aberta a via para representar a Seleção Nacional, ao serviço da qual poderá disputar mais uma fase final de um campeonato do mundo. Se Portugal lograr o apuramento para o Mundial2026, que se disputará nos EUA, Canadá e México, Cristiano Ronaldo poderá ter a oportunidade de participar na sua sexta fase final consecutiva e ser o único da história do futebol a marcar em seis mundiais.

Lendas Pepe jogou quase até aos 42. Óscar “Tacuara” Cardozo (41) e Luka Modric (39) continuam aí para as curvas

Antes disso, já nos próximos dias 20 e 23 de março, CR7 será seguramente um dos convocados por Roberto Martínez para disputar, diante da Dinamarca, o play-off de acesso à Final Four da Liga das Nações, que se disputará entre 4 e 8 de junho, na qual poderá somar mais um título importante à já infindável lista de troféus conquistados em 23 anos de carreira ao mais alto nível. Ao todo, são 34 títulos, dos quais se destacam um Campeonato da Europa e uma Liga das Nações por Portugal, 5 Ligas dos Campeões, 4 Mundiais de Clubes e 7 títulos de campeão nacional nas suas passagens pelo Manchester United, de Inglaterra, o Real Madrid, em Espanha, e a Juventus, na Itália. Conquistas coletivas às quais há que juntar uma impressionante lista de prémios e recordes individuais que fazem deste jogador o mais bem-sucedido de sempre do futebol português e um dos mais reputados do mundo. Numa carreira que, como se vê, não está prestes a acabar, ainda que o próprio Cristiano já comece a dar sinais de já estar a pensar no day after, abrindo a porta à compra de um clube de futebol. Mas isso será algo que só deverá acontecer, salvo algum percalço físico, lá para finais de 2026, altura em que, prestes a chegar aos 42, CR7 considere que é hora de pendurar a chuteiras. Ou talvez não…

Quarentões na alta roda

CR7 não está sozinho na sua longevidade desportiva. Um dos casos mais recentes é de outro português (nascido no Brasil, é certo), que garantiu também um lugar na história do futebol nacional. Antes de ter pendurado as chuteiras no final da época passada, Pepe tinha-se tornado o jogador mais velho a disputar e a marcar num jogo da Liga dos Campeões, ao serviço do FC Porto. Isto, meses antes de, com a camisola da Seleção Nacional, ter inscrito o seu nome na história do futebol europeu, ao ser o mais velho a jogar numa fase final de um Campeonato da Europa, tendo entrado em campo com 41 anos e 130 dias. Esse Portugal-França a contar para os quartos de final do Euro2024, perdido na marcação de grandes penalidades, acabaria por ser o último jogo de mais este craque quarentão. Para trás, ficou uma carreira de 23 anos, com passagens marcantes e recheadas de títulos (29) nacionais e internacionais ao serviço de FC Porto, Real Madrid e Seleção Nacional.

Falando ainda de futebol e de antigos colegas de equipa de Cristiano Ronaldo, há que lembrar Luca Modric, que, a pouco mais de sete meses de completar 40 anos (nasceu a 9 de setembro de 1985), continua a ser peça importante no Real Madrid. Mesmo não sendo um titular absoluto, tem jogado praticamente em todos os jogos dos merengues nesta época 2024/2025. Em 12 épocas e meia no clube da capital espanhola, o internacional croata ganhou tudo o que havia para ganhar e está na luta para, este ano, poder celebrar a conquista da 7ª Liga dos Campeões, 4º Mundial de Clubes e 5º título de campeão nacional espanhol. Um currículo como há poucos.

Com menos títulos no currículo, mas com uma passagem marcante pelo futebol português, sobretudo para os adeptos do Benfica, Óscar “Tacuara” Cardozo é outro exemplo de uma carreira longa, ao mais alto nível. A menos de quatro meses de completar 42 anos (nasceu a 20 de maio de 1983), o avançado paraguaio continua a defender as cores do Libertad, de Asunción, clube para o qual se transferiu depois de longa passagem pela Europa, durante a qual brilhou, sobretudo, nas sete épocas que passou de águia ao peito.

Ainda no futebol, há outros exemplos. O também paraguaio Roque Santa Cruz, aos 43 anos, continua a jogar, também com a camisola do Libertad. Mais a sul, no Brasil, o internacional brasileiro Thiago Silva, de 40 anos, que jogou no Milan, PSG e Chelsea, é agora capitão do Fluminense. O seu antigo companheiro de seleção brasileira, Dante, com 41 anos, continua a jogar no Nice, depois de anos ao serviço do Bayern de Munique. Todos eles, porém, ainda com uma década a menos do que o futebolista mais velho em competição: o japonês Kazu Miura, de 57 anos, que, depois de ter jogado na época passada por empréstimo na Oliveirense, atua agora no Atlético Suzuka, do Japão.

Outra estrela planetária

Foto:ALLISON DINNER/LUSA

Com 40 anos feitos a 30 de dezembro de 2024, LeBron James tem, no basquetebol mundial, um estatuto em tudo idêntico ao de CR7 no futebol. Com uma carreira recheada de títulos e recordes na NBA, o basquetebolista dos LA Lakers é, atualmente, o mais velho em competição na principal prova mundial da modalidade e goza, à semelhança do futebolista português, de uma popularidade planetária. Tem também dividido com ele, ao longo dos últimos anos, os tops dos desportistas mais bem pagos do mundo. O facto de continuarem a ser máquinas de gerar receitas e contratos milionários será, porventura, uma das principais razões para LeBron, Cristiano e alguns outros resistirem tanto a colocar um ponto final nas respetivas carreiras.

Rui Rocha foi reeleito para um segundo mandato como líder da IL. Foi eleito pela primeira vez em janeiro de 2023, com 51,7% dos votos. Os 73,4% que obteve este domingo, IX Convenção Nacional do partido, no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures. deixaram-no significativamente à frente do conselheiro nacional Rui Malheiro, com que disputou a liderança, e que se ficou pelos 26,6 por cento.

Os resultados foram aplaudidos de pé pela esmagadora maioria dos elementos da IL presentes na sala, entre gritos, relata a agência Lusa, de “Rocha, Rocha!”.

À chegada, Rui Rocha tinha manifestado a sua “absoluta confiança” na reeleição, considerando que o partido está unido em torno da “construção de uma solução política” para o país.

“Não há nenhuma divisão” a nível interno, garantiu.