A incubadora X, onde são desenvolvidos os projetos futuristas da Google, anunciou ter testado com sucesso uma nova forma de transmitir sinal de Internet a velocidades elevadas através de feixes de luz. A equipa da Taara revelou ter criado um chip fotónico que usa luz para transmitir dados pelo ar. Os investigadores conseguiram o feito com um chip do tamanho de uma unha. Para a primeira geração, o Taara Lightbridge, criaram um sistema do tamanho de um semáforo que usa espelhos e sensores para dirigir a luz.

A tecnologia da Taara começou a ser criada ainda no Projeto Loon, no qual a Alphabet/Google/X pretendiam explorar o uso de balões de ar quente que servissem de transmissores de Internet. Esta iniciativa foi descontinuada em 2021, mas deu origem depois a um piloto tecnológico que cruzava o rio Congo e as ruas de Nairobi com este tipo de acessos.

Segundo o Engadget, o chip da Taara pode ser usado para transmitir dados a 20 Gigabits por segundo, cobrindo distâncias até 20 quilómetros. Os feixes de luz, que substituem cabos de fibra ótica, são transmitidos entre duas unidades que devem estar alinhadas para criar uma ligação segura. Em vez de serem necessárias partes móveis que ajustam a direção do feixe, no chip há software que controla as emissões e dirige automaticamente a luz.

Outra vantagem desta solução passa pela rapidez de instalação, com a Taara a explicar que consegue colocar um sistema destes operacional em poucos dias, em vez dos meses ou mesmo anos necessários para criar uma infraestrutura de fibra ótica. Nos testes, foi possível enviar dados a 10 Gbps ao longo de um quilómetro e a equipa está a criar a próxima geração para permitir mais velocidade e alcance, que devem estar prontos em 2026.

Os trabalhadores da divisão de Inteligência Artificial da Google receberam um e-mail de Sergey Brin, o cofundador da empresa que após o ‘boom’ provocado pelo ChatGPT voltou a ter um papel ativo . Na comunicação, Brin salienta que a corrida pela Inteligência Artificial Generalista está ao rubro e recomenda que se dupliquem os esforços e que se criem produtos sem tantas restrições e amarras.

Na nota a que o The New York Times teve acesso lemos que “já se passaram dois anos do programa Gemini e Google Deepmind. Já percorremos um longo caminho e com muitos esforços dos quais nos devemos orgulhar. Ao mesmo tempo, a competição acelerou imenso e a corrida final para a Inteligência Artificial Generalista está aí. Considero que temos todos os ingredientes para vencer esta corrida, mas vamos ter de acelerar os nossos esforços”.

Sergey Brin recomenda que a equipa dedicada a esta corrida trabalhe mais tempo (“60 horas por semana é ponto ideal da produtividade”), vá para o escritório todos os dias úteis da semana e dê prioridade a “soluções simples”, tendo de se movimentar mais rapidamente (“não podemos esperar 20 minutos para correr um pouco de Python”).

Na última parte da missiva, deixa uma recomendação que pode indiciar o futuro da empresa, quando descreve que os produtos de IA da Google “estão carregados de filtros e de impedimentos de vários tipos”. O executivo diz que é tempo de “confiar nos utilizadores” e “deixar de construir produtos-ama”, ou seja, que limitem os cenários de utilização.

De recordar que Sergey Brin esteve na tomada de posse de Donald Trump, ao lado do atual diretor executivo da Google, Sundar Pichai, e que agora parece estar a advogar no sentido de se criarem produtos sem tantas limitações.

Naquela que aparenta ser uma mudança de 180 graus na política de cibersegurança, a nova administração dos EUA parece não considerar a Rússia como uma ciberameaça. Apesar de não haver qualquer comunicação oficial direta neste sentido, as ordens mais recentes do Secretário de Defesa, Pete Hegseth, evidenciam isso: o Comando de Cibersegurança recebeu a ordem direta para “parar todo o planeamento contra a Rússia, incluindo iniciativas de ofensiva digital”, enquanto a Agência de Cibersegurança e Segurança de Infraestruturas (CISA no acrónimo em inglês) tem “novas prioridades”, nas quais são mencionadas as ameaças da China e de outros países, mas sem se referir a Rússia.

A ordem não se aplica, para já, à Agência Nacional de Segurança americana (NSA). Uma fonte anónima da CISA conta que “a Rússia e a China são os nossos maiores adversários. Com todos os cortes que estão a ser feitos em diferentes agências, muito do pessoal de cibersegurança foi despedido. Os nossos sistemas não vão estar protegidos e os nossos adversários sabem-no. As pessoas estão a comentar que a Rússia está a ganhar. Putin está por dentro agora”, sublinha o Gizmodo.

Os oficiais da CISA terão recebido instruções verbalmente para não perseguirem a Rússia ou seguirem relatos de ameaças russas, conta outra fonte. “Há milhares de funcionários e militares americanos a trabalhar diariamente na grande ameaça que a Rússia representa enquanto, possivelmente, a maior nação maliciosa. Não é para diminuir a significância da China, do Irão, da Coreia do Norte, mas a Rússia está pelo menos ao nível da China enquanto ameaça mais significativa”.

Apesar das grandes promessas de eliminar gastos considerados desnecessários nas agências e organizações governamentais, a NSA tem passado incólume ou pelo menos sem grandes cortes para já.

Sabia que foi no ano de 1933 que o formato “PDF” foi criado por uma conhecida empresa para facilitar a acessibilidade ao conteúdo de um documento, de forma segura e independente do sistema? Numa época em que os faxes eram reis e as máquinas de escrever eletrónicas estavam no seu apogeu, o que estava em causa era a fiabilidade da informação e a facilidade da sua transmissão.

Atualmente, quando se fala em reforma da justiça, necessariamente temos de ponderar os meios informáticos à disposição de quem atua no setor da justiça.

Utilizar um computador apenas como máquina de escrever ou recetáculo de documentação eletrónica é desperdiçar recursos e energias. 

Se um órgão de polícia criminal ou um perito  produzir um documento de texto, para o mesmo dar entrada num processo, o mesmo atualmente terá de ser impresso, assinado, enviado e do outro lado um oficial de justiça terá de perder horas a digitalizar não só esse documento, como os muitos produzidos diariamente para cada um dos processos, correr um programa para reconhecer carateres e finalmente, com erros, ser novamente integrado num ficheiro informático, como anexo, no tal formato pesquisável de PDF, numa base de dados estática.

Claro, há expedientes que são enviados informaticamente, porém aí o desafio é o limite de espaço: 15 Mb ou 20 Mb são pouquíssimo para enviar documentos.

O desafio atual não são mais digitalizadores – é o sistema informático aumentar a eficiência e rapidez da atividade processual e o processo decisório. Um dos caminhos apontados é a utilização de sistemas LLM’s, vulgo inteligência artificial, que permita analisar e produzir informação. Esse tipo de sistema é classificado como de risco elevado, porquanto podem colocar em causa o direito à dignidade humana e à não discriminação bem como os valores essenciais da igualdade e da justiça. 

Por isso mesmo é essencial que estejam, tal como acontecesse noutros países, sujeitos à tutela de quem os gere e produz, mormente o poder judicial (e o Ministério Público, como autoridade judiciária, na fase de inquérito).

Também por isso essencial para Portugal a existência de um sistema informático que permita a interoperabilidade dos dados entre polícias, operadores judiciais e tribunais, para que todos trabalhem juntos de maneira eficiente, promovendo e fazendo justiça.

Se tem sido notícia que a PGR terá um sistema informático inovador para a fase de inquérito e com capacidade de dados serem utilizados na fase de audiência de discussão e julgamento, não será um desperdício de recursos e má gestão a não utilização de uma tal ferramenta inovadora? Replicar a lógica do papel nos computadores não é a solução para uma justiça mais célere e eficaz. 

Por outro lado, deificar a inteligência artificial, com o pretexto de redução de erros humanos, garantindo maior consistência do algoritmo e padronizar decisões judiciais, também não é igualmente a solução. Com efeito, o princípio da alucinação na inteligência artificial é algo real – às vezes os sistemas criam respostas que não são verdadeiras ou com base em dados inexistentes, minando a confiança no sistema de justiça.

Por isso mesmo, um novo paradigma de justiça é necessário – um que, para além do armazenamento, permita a análise de documentos, incluindo a capacidade de compreender contextos jurídicos complexos, para que seja sejam produzidas informações de suporte, com maior profundidade, essenciais à produção de decisões judiciárias humanas, garantindo o controle, transparência e segurança de todos os dados. A justiça é dos homens e para os homens. Apenas uma decisão de natureza humana, baseada em regras claras e pré-determinadas, pode ser fundamento, fonte de legitimidade e proporciona a confiança da sociedade no sistema judicial.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Os auriculares com formato open-ear já não são uma novidade, mas continuam a tentar impor-se como uma alternativa aos modelos tradicionais. Para isso, não é apenas a qualidade sonora que importa. O design dos FreeArc permite um encaixe muito confortável na orelha, ao ponto de quase nem os sentirmos, algo salientado pela construção maioritariamente em silicone.

No entanto, não passam despercebidos, tanto pelas dimensões como pelo tamanho considerável da caixa de carregamento. Dado o formato dos auriculares, seria difícil reduzir significativamente o volume da caixa, mas, em bolsos mais pequenos, o transporte pode tornar-se incómodo e comprometer a portabilidade.

Boa qualidade sonora

Em testes anteriores com outros modelos open-ear, ficámos algo desiludidos com o desempenho do som, mas desta vez a experiência foi diferente. A qualidade sonora dos FreeArc impressionou-nos pela positiva. Embora não consigam entregar o impacto sonoro dos melhores auriculares tradicionais, garantem um som convincente, tornando-se uma opção válida para diversas situações. Os graves, apesar de não serem extremamente impactantes, mantêm um nível de qualidade satisfatório, e mesmo em volumes elevados não sentimos qualquer distorção. Já os agudos são nítidos e limpos, enquanto os médios permitem distinguir cada instrumento com clareza, proporcionando uma experiência auditiva equilibrada.

Mas é importante realçar que não contam com tecnologia de cancelamento de ruído (ANC) – até porque o propósito deste formato é justamente o contrário, permitir ao utilizador ter a perceção daquilo que se passa ao seu redor.

Design e resistência a ‘pensar’ no desporto

Ao contrário de muitos auriculares tradicionais, que tendem a cair das orelhas com o movimento, estes mantêm-se firmes. Para quem pratica desporto, são uma opção válida, permitindo correr, saltar ou abanar a cabeça sem que saiam do lugar. Graças ao design ergonómico, garantem estabilidade e proporcionam música sem interrupções.

Outro ponto de destaque é a certificação IP57, que assegura resistência ao pó e a imersões na água até cerca de 1,5 metros de profundidade. Isto elimina qualquer preocupação com o suor ou com uma chuvada inesperada durante o treino. Além disso, a limpeza torna-se mais simples, pois podem ser lavados com água, garantindo uma higienização eficaz – algo que não é possível com a maioria dos auriculares.

O design open-ear impede que os auriculares escorreguem da orelha

Personalização q.b.

A aplicação AI Life permite algumas personalizações, embora em menor quantidade do que nos auriculares tradicionais, em parte devido à ausência de cancelamento ativo de ruído (ANC). Ainda assim, é possível ajustar alguns detalhes, como o modo de som preferido. Entre as quatro opções disponíveis – Predefinido, Acentuar, Aumentar Agudos e Vozes – optámos pelo modo Vozes, que garante um som mais impactante e expressivo. Além disso, através de um equalizador manual, é possível criar um perfil de som personalizado de acordo com as preferências do utilizador.

Outro aspeto personalizável é a função atribuída a cada toque no painel tátil dos auriculares. Este painel destaca-se pela excelente sensibilidade ao toque e pela resposta imediata, um detalhe relevante, já que frequentemente encontramos dificuldades com sensores táteis em outros auriculares.

Os FreeArc suportam a sincronização com dois dispositivos em simultâneo, um detalhe importante, pois permite estar ligado, por exemplo, ao portátil e ao smartphone, com deteção automática da origem do som. Assim, ao reproduzir música em qualquer um dos dispositivos, os FreeArc identificam a fonte e iniciam a reprodução sem necessidade de troca manual.

Autonomia e carregamento

No que toca à autonomia, apesar de ser bastante satisfatória, garantindo cerca de sete horas de utilização contínua, deixa-nos com um sentimento algo agridoce. Tendo em conta que não incorporam tecnologia ANC, seria expectável uma autonomia superior, especialmente quando comparados com outros modelos no mercado que disponibilizam cancelamento de ruído e uma duração de bateria semelhante. Por fim, destaca-se o desempenho do estojo de carregamento, que, em apenas 10 minutos, proporciona cerca de três horas de audição. Quando totalmente carregado, disponibiliza um total de 28 horas de reprodução.

Tome Nota
Huawei FreeArc – €199
Site: huawei.com/pt

Som Bom
Ergonomia Muito Bom
Autonomia Muito Bom
Conforto Muito bom

Características Driver 12 mm ○ Cancelamento de ruído para chamadas, Efeitos sonoros Multi-EQ ○ Codecs: SBC, AAC ○ Autonomia anunciada: 7 horas ○ Bluetooth 5.2 ○ Capacidade da bateria (estojo): 510mAh ○ Carregamento total (UBS-C): 1h ○ Dimensões: 45,4×18,35×47,5 mm ○ IP57 ○ Peso: 8,9 g (auriculares) ○ 67g (caixa)

Desempenho: 4,5
Características: 3,5
Qualidade/preço: 3,5

Global: 3,8

Jantar com amigos. Um comentário sem graça. Um sorriso automático. Um dia exaustivo. Alguém pergunta se está tudo bem e a resposta sai rápida e ensaiada: “Sim, claro!”. Não precisamos do Carnaval para usar máscaras – fazemos isso diariamente, quase sem perceber. E se, por um lado, essa camuflagem emocional nos protege, por outro, pode afastar-nos da nossa essência. Afinal, até que ponto conseguimos carregar esta encenação sem que o peso se torne insuportável?

A sociedade ensinou-nos a disfarçar sentimentos como um ator que domina a sua personagem. Desde cedo ouvimos comandos como “não chores”, “sê forte” ou “mantém-te firme”. Criamos, assim, um repertório de expressões socialmente aceites, ensaiamos sorrisos e contemos gestos, como se a vulnerabilidade fosse um erro a corrigir.

E há ciência por trás desta performance. O nosso cérebro é programado para procurar aceitação. A amígdala, a guardiã das emoções, dispara sinais de alerta sempre que sentimos medo ou angústia. Mas o córtex pré-frontal – aquele que nos ensina a ser civilizados – modula essas respostas para que possamos navegar no mundo sem parecer frágeis ou descontrolados. O problema? Quando mascaramos emoções repetidamente, começamos a perder o contacto com elas, acumulando tensão, ansiedade e solidão disfarçada de normalidade.

Quando a máscara começa a apertar

No início, pode parecer leve. Uma expressão polida aqui, uma emoção reprimida ali. Mas, com o tempo, o hábito de esconder o que sentimos começa a pesar. A exaustão emocional instala-se silenciosamente. O riso forçado num dia difícil transforma-se em desconforto; a incapacidade de dizer “não” resulta em cansaço; a necessidade constante de agradar aos outros esgota a autenticidade. Fingimos que não nos importamos, mesmo quando algo nos magoa. Dizemos estar bem, mesmo quando tudo grita o contrário. Construímos um personagem tão convincente que, por vezes, até nós próprios acreditamos nele. E então vem a grande questão: se nunca mostramos ao mundo quem realmente somos, como poderemos sentir-nos verdadeiramente aceites?

Despir a máscara

Experimente doses graduais de verdade – Não é necessário um monólogo dramático sobre os seus sentimentos em cada conversa. Pequenos gestos bastam: trocar um “está tudo bem” automático por um “foi um dia difícil, mas estou a gerir” já é um começo.

Crie espaços seguros para sentir – Emoções reprimidas não desaparecem, apenas se acumulam. Seja através da escrita, da arte, da terapia ou de uma conversa honesta, dar nome ao que se sente ajuda a aliviar o peso.

Observe os seus padrões – Que emoções tem mais dificuldade em expressar? Em que contextos sente que precisa de se esconder mais? A resposta a estas perguntas pode revelar muito sobre onde a máscara está mais apertada.

Lembre-se: vulnerabilidade não é fraqueza – Ser autêntico pode ser desconfortável no início, mas cria ligações mais genuínas. Permitir-se sentir é um ato de coragem, não de fragilidade.

O baile não acaba só porque decidimos ser autênticos  

As máscaras podem ser úteis, mas a longo prazo, são exaustivas. Entre a necessidade de nos protegermos e a vontade de nos mostrarmos como somos, o equilíbrio é essencial. Afinal, que sentido faz dançar neste grande baile da vida se nunca tivermos a ousadia de tirar a máscara? Talvez, ao arriscar revelarmo-nos, descubramos que não há nada mais libertador do que sermos vistos – e aceites – exatamente como somos.

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A imagem do copo meio vazio, ou do copo meio cheio, é das mais usadas no campo da autoajuda, mostrando-nos qual é a perspetiva com que encaramos o mesmo meio copo. Mas um copo vazio é um copo vazio. Não há nada a fazer. Há uma falta de líquido que, qualquer que seja a perspetiva, nunca lá estará. Pior, se está vazio é porque antes esteve cheio. Um copo vazio é a imagem do líquido que se perdeu e é, ainda muito pior, a imagem negativa do oásis: se o oásis é a miragem da água que se deseja beber, o co(r)po vazio é a certeza de não vir a matar a sede.

O copo vazio é a perfeita síntese deste livro de Natália Timerman, a história de uma perda, do fim de uma relação amorosa, que deixa esse vazio imenso que é um copo sem nada. Mas é uma perda, e esse é o drama da narrativa, que vai além da perda em si. No texto de Natália, a perda é uma perda que se arrasta no tempo, que se torna como que constitutiva daquela que a sofreu, a personagem central do romance, e que é sobretudo uma sede. Uma perda que para a personagem nunca é definitiva e, por isso, está lá sempre presente como uma sede imensa que não se consegue matar.

Quantas perdas todos nós temos na vida, sejam perdas de pessoas com quem nos relacionamos afetivamente de forma mais intensa e prolongada, sejam os amigos de quem fomos muito próximos, confessores e confessados. Experimentei ambas, e todas elas nos deixam essa sensação que não é simplesmente a ideia trivial que nos diz que qualquer pessoa, sendo única e irrepetível, é insubstituível. Não, não é nada disso. É que algumas pessoas, poucas, mais que deixarem um vazio, deixam uma vontade de estar com elas que é implacável na forma como se impõe.

Mirela, a quem Pedro desapareceu, passa a ser essa imagem do copo vazio que nunca consegue corresponder à sede que tem. Uma sede de Pedro que a leva quase à loucura, apesar todas as técnicas para superar a perda, especialmente a substituição por Rui. Uma perda tão forte que, para Mirela, à medida que se desvanece a memória de Pedro, aí sim, a perda toma o seu lugar. Pedro passa a ser a perda. E Pedro passa a ser inconcebível sem ser ausência.

E a principal imagem nesta conceção de perda que passa a ser a natureza daquilo que é perdido, encontra-se na forma como a perda acontece. Regressando a tudo o que todos nós já vivemos, a todas as perdas com que fomos vivendo, algumas delas vão sendo construídas, outras ocorrem abruptamente. As construídas, como que encerram nesse processo um luto que se vai fazendo; as outras, as inesperadas, carecem sempre da presença do corpo que permite o luto. Assim é Mirela e Pedro. Apenas com o Pedro-ausente, não há luto possível. O copo vazio é também o corpo igualmente vazio.

Um dia, sem mais nem menos, o Pedro que no dia anterior era parte central numa vida, desaparece. Sem sinais, muito menos, sem notas ou justificações, apenas se eclipsa. Esta forma abrupta de nos apresentar a perda, rasga o tempo e o espaço numa narrativa escrita de forma esplendorosa. O arrastar do primeiro ano depois desse desaparecimento misterioso, mostra-nos uma vida totalmente centrada nessa perda. Já não necessariamente o Pedro que desaparecera, mas o que de constitutivo a perda se tornara em Mirela.

Não fosse Natália Timerman médica psiquiatra, e mestre em psicologia, e talvez nos fosse mais difícil apanhar a profundidade existencial que foi colocada nesta personagem. Cansados e esgotados, tantas vezes, por correr atrás de perdas, não percebemos que são essas perdas que possivelmente nos formam.

Aliás, arrisco dizer que mais que sermos aquilo que conseguimos adquirir e manter, somos aquilo que perdemos. Somos as inúmeras sedes que nunca conseguimos matar, somos os copos vazios que não conseguimos encher.

Este livro de Natália Timerman é uma obra espantosa, de leitura de um só folego, que merece ser editada em Portugal com a maior brevidade possível.

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A 97.ª cerimónia de entrega dos Oscars teve lugar esta madrugada no Dolby Theatre, em Los Angeles, Estados Unidos. A cerimónia, que premiou o que melhor se fez no mundo do cinema em 2024, foi conduzida pelo humorista e apresentador Conan O’Brien, uma estreia na apresentação de uma das noite mais aguardadas do ano.

A tão aguardada cerimónia ocorreu cerca de dois meses depois dos incêndios que devastaram a ‘cidade dos anjos’ e que chegaram até muito perto do histórico bairro de Hollywood.

A edição deste ano contou com 23 categorias. O musical francês “Emilia Pérez” liderava a nomeações – com 13 categorias, incluindo Melhor Filme – seguido por “O Brutalista”, de Brady Corbet, e “Wicked”, de Jon M. Chu, ambos com 10 nomeações, mas foi “Anora”, de Sean Baker, a vencer o Oscar de Melhor Filme. À estatueta mais cobiçada, a película foi premiada com os Oscars para Realização, Argumento Original, Montagem e, surpreendentemente Melhor Atriz, com Mikey Madison a derrotar a grande favorita Demi Moore (“A Substância”).

O filme brasileiro de Walter Salles, “Ainda estou aqui”, estava nomeado para Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres, que se tornou na segunda atriz brasileira nomeada para a premiação, depois da mãe, Fernanda Montenegro, em 1999. Fernanda Torres não ganhou o Oscar para Melhor Atriz, mas “Ainda Estou Aqui” ganhou o Oscar de Melhor Internacional, o primeiro para o Brasil.

Lista completa de vencedores

Melhor Filme: Anora

Melhor Realização: Sean Baker – Anora

Melhor Atriz: Mikey Madison – Anora

Melhor Ator: Adrien Brody – O Brutalista

Melhor Atriz Secundária: Zoe Saldaña – Emilia Pérez

Melhor Ator Secundário: Kieran Culkin – A Verdadeira Dor

Melhor Animação: Flow 

Melhor Curta-Metragem Animação:In the Shadow of the Cypress

Melhor Argumento Original: Anora

Melhor Argumento Adaptado: Conclave

Melhor Filme Internacional: Ainda Estou Aqui

Melhor Banda Sonora Original: O Brutalista

Melhor Canção Original: El Mal – Emilia Pérez

Melhor Montagem: Anora

Melhores Efeitos Visuais: Duna: Parte 2

Melhor Som: Duna: Parte 2

Melhor Fotografia: O Brutalista

Melhor Guarda Roupa: Wicked 

Melhor Cabelo e Maquilhagem: A Substância

Melhor Curta-metragem: I’m not a Robot

Melhor Longa-metragem Documental: No Other Land

Melhor Curta-metragem Documental: The Only Girl in the Orchestra

Palavras-chave:

Hoje, todas as olheiras são justificadas. Muitas delas, tais como as minhas, não serão culpa de uma noite carnavalesca que se estendeu para lá do previsto. Há muito tempo que não sentia tanto bruááá à volta da entrega das estatuetas mais ambicionadas da indústria do cinema (até tive direito a um mini grupinho de Whatsapp para partilhar emoções em tempo real). Razões não faltaram para esta noite de insónia, em direto com o Dolby Theatre, em Los Angeles. 

A primeira só a mim me diz respeito, pois foi para em primeira mão lhe dizer, caro leitor, que a atriz Fernanda Torres não ganhou o prémio de Melhor Atriz. Gostava de estar a acordá-lo com notícias mais felizes, mas nem tudo se perdeu na noite dos Oscars. Mas já lá vamos, que ainda não elenquei todas as razões para ter decidido escapar à cama nesta noite. 

Ia na segunda, não é? Pois, essa prende-se com o anúncio dos nomeados ter sido adiado uma semana devido a dificuldades logísticas causadas pelos enormes incêndios que consumiram Hollywood e atingiram as casas de muitas das estrelas que nos habituámos a ver no grande ecrã. Ontem à noite, como seria de esperar, houve várias referências a esses fogos e até uma homenagem ao corpo de bombeiros que andou a lutar com as chamas.

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