“Nós apelamos a que o senhor primeiro-ministro, democraticamente, se sujeite a um instrumento parlamentar, que é a comissão parlamentar de inquérito, em vez de provocar uma crise política, que significará que vamos para eleições sem isto esclarecido”, afirmou Alexandra Leitão na conferência de imprensa de apresentação do requerimento para a constituição de comissão de inquérito potestativa para avaliar o cumprimento das regras por parte do primeiro-ministro na sequência do caso da empresa familiar.

A líder parlamentar do PS considerou que quem perde com esta crise política é “seguramente a democracia”, se o primeiro-ministro se apresentar a eleições “sem o esclarecimento cabal de um conjunto de situações que não é o PS apenas que levanta, são os outros partidos” e a comunicação social.

“Desde sempre o secretário-geral do PS tem repetido que não viabilizaríamos moções de censura, mas que não seja pedido um voto de confiança porque esse, em consciência, não podemos dar e portanto é a situação em que nos encontramos agora”, sublinhou Alexandra Leitão, insistindo que “esse escrutínio democrático [a comissão parlamentar de inquérito ]se possa fazer nesta legislatura”. “Seria muito melhor para o País, para o sistema, para o regime, para a democracia” se as eventuais eleições antecipadas acontecessem “com todos os esclarecimentos feitos”, defendeu.

“Aquilo que nós vamos ter, se o Governo não recuar na apresentação da moção de confiança, é partir para eleições num contexto em que não temos estes esclarecimentos feitos. E, portanto, não só isso vai ser tema na campanha como os portugueses serão chamados a votar sem ter todos os elementos sobre uma coisa crucial que é saber se regras de natureza ética, legal e até do próprio código de conduta do Governo foram cumpridas pelo primeiro-ministro que se apresenta novamente em eleições”, justificou.

A 14 de março de 1979, numa sala do Collège de France, decorria uma aula de Michel Foucault sobre Biopolítica. Nessa quarta-feira, o professor Foucault, entre muitas outras coisas, disse aos seus alunos o seguinte: “Ora, é evidente que não temos de pagar para ter o corpo que temos, ou que não temos de pagar para ter o equipamento genético que é o nosso. Isso tudo não custa nada. Bem, não custa nada – será mesmo? Podemos muito bem imaginar uma coisa dessas a acontecer (o que estou a fazer nem chega a ser ficção científica…)”.

É difícil imaginar como reagiram os alunos a estas afirmações. Mas, 46 anos depois, é seguro dizer que a política do corpo está, mais do que nunca, no centro da discussão cultural do Ocidente: a luta pelos direitos reprodutivos das mulheres; pela igualdade salarial entre géneros; a afirmação da comunidade trans e suas reivindicações; as tentativas de reduzir as horas da jornada de trabalho…Tudo isto tem, no seu âmago, o corpo humano e a sua respetiva valorização.

No mais recente filme de Bong Joon Ho – quem ainda se lembra da sua maravilhosa obra, Parasite  – intitulado Mickey 17, o realizador aborda uma realidade distópica e futurista onde um Congressista americano com tiques ditatoriais e pouca apetência para vencer eleições decide iniciar um projeto de colonização de um planeta de gelo inabitado. Para este efeito, é lançada uma mega-campanha de recrutamento de pessoas com as mais variadas habilidades, de modo a garantir uma “sociedade perfeita”.

É aqui que entra a personagem protagonizada por Robert Pattinson, Mickey Barnes. O protagonista é um indivíduo sem nenhum talento em especial e atolado em dívidas por causa de um negócio ruinoso em que investiu com o seu amigo Timo, que já lhes estava a valer umas quantas visitas do gangue a que pediram o dinheiro emprestado. Por esses motivos, e sem ler as letras pequeninas do que estava a assinar, Mickey inscreve-se no programa de colonização como um “Descartável”. E o que é, então, um “Descartável”, nesta missão de anos? Alguém que serve somente para morrer vezes sem conta. Porém, há um catch: sempre que morre, Mickey é reimpresso por uma máquina capaz de fazer cópias integrais de corpos humanos, transmitindo a consciência do original para a cópia.

Esta produção de “Mickeys” faz com que a equipa de cientistas do projeto submeta este homem – o único “Descartável” na missão – às mais inusitadas situações: exposição a vírus letais, trabalhos extremamente perigosos, experiências mortais. Sempre com o mesmo fim: a morte.

É isto a vida de um “Descartável”: Mickey 1, Mickey 2, Mickey 3, Mickey 4, Mickey 5…Mickey 17, Mickey 18.

A mensagem de Bong Joon Ho parece clara: uma crítica ao capitalismo utilitarista – existe outro? – que vê no Ser Humano apenas o seu valor enquanto força de trabalho, enquanto produtor de algum valor – o corpo como uma máquina ao dispor de governos e empresas. Tudo isto apresentado num cenário futurista, com naves espaciais, num planeta de gelo com formas de vida inteligente. Mas basta olhar para lá dos efeitos especiais para ver a desumanização do corpo humano, a noção de material genético enquanto capital, uma ditadura que pretende controlar os corpos dos seus súbditos para criar um “planet of purity” como diz o Congressista Kenneth Marshall, e a perigosa obsessão com o “espécimen perfeito”.

No meio desta exposição de temas tão importantes e complicados, o realizador deixa também uma mensagem de esperança: todas as impressões de Mickey saem sempre com diferenças de personalidade em relação às cópias anteriores. Porventura, uma tentativa de Bong Joon Ho de nos mostrar que, apesar de toda a ciência de ponta, todos os cálculos corretos e métricas certinhas, o que é humano tem sempre algo de incontrolável e não reproduzível. Há em cada um algo de humanamente inabalável que sobrevive a cópias, mutações e fabricações.

No seu core, Mickey 17 é um filme sobre a condição humana, sobre o corpo humano e a respetiva existência do mesmo num sistema económico que vive para produzir, produzir, produzir.

O que teria achado Foucault deste filme?

Nota: a citação de Foucault pode ser encontrada no seu livro “Nascimento da Biopolítica”, na aula de 14 de Março de 1979.

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De acordo com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, a revisão à ajuda internacional vai permitir que os EUA poupem “dezenas de milhares milhões de dólares” em iniciativas que “não funcionaram” e que “em alguns casos até prejudicaram” os interesses da nação.

Numa publicação na rede social X, Rubio disse ainda que o Governo de Donald Trump quer manter apenas 18% dos programas, o que corresponde a “aproximadamente mil” contratos. Estes programas “serão geridos agora de uma forma mais eficaz pelo Departamento de Estado”, escreveu agradecendo o trabalho do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk – que há pouco tempo tinha acusado a agência USAID de ser uma “organização criminosa”. “Agradecemos ao DOGE e à sua equipa que trabalhou muitas horas para concretizar esta tão aguardada reforma histórica “, lê-se. 

A Inteligência Artificial (IA) deve ser encarada não apenas como uma poderosa ferramenta de produtividade (duplicando a produtividade dos trabalhadores), mas como uma força motriz para uma abordagem completamente transformadora do trabalho.

A IDC prevê que, em 2025, as empresas irão explorar o mundo dos agentes de IA e dos fluxos de trabalho autónomos para melhorar tarefas que tradicionalmente dependiam das competências humanas. Os principais fornecedores de software e de serviços de IA serão essenciais para esta mudança, acrescentando funcionalidades inovadoras de IA.

O surgimento de plataformas de baixo código destinadas a criar agentes e fluxos de trabalho de IA irá motivar os líderes de TI de diferentes indústrias a adotar estes avanços, colaborando com as equipas de gestão de processos empresariais (BPM) para identificar processos que estão prontos para a automatização ou melhoria. Até 2027, os fluxos de trabalho irão remodelar a forma como as tarefas são entregues e executadas, afetando pelo menos 40% do trabalho de conhecimento nas empresas europeias e duplicando a produtividade.

Para obter ganhos substanciais em produtividade, é vital alargar os fluxos de trabalho destes agentes de IA além das funções empresariais padrão. Isto deve abranger áreas como o planeamento, a investigação, a tomada de decisões, a criação de conteúdos, o desenvolvimento de software, a configuração de TI, a monitorização do desempenho e outras atividades especializadas, bem como o trabalho de projeto colaborativo.

À medida que as organizações na Europa navegam nesta transformação, será essencial uma avaliação abrangente dos agentes de IA e dos fluxos de trabalho dos agentes de IA. O sucesso dependerá também da resolução dos atuais desafios culturais, ao mesmo tempo que se tira partido desta tecnologia para melhorar as capacidades humanas e simplificar o trabalho do conhecimento em vários sectores.

Os assistentes digitais baseados em grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, o DeepSeek e o Google Gemini, entraram de rompante nas vidas de muitas pessoas – algumas das quais já terão inclusive dificuldade em imaginar como seria o dia a dia, sobretudo no trabalho, sem estas ferramentas. E como o comboio da Inteligência Artificial (IA) promete ser imparável, o melhor mesmo é apanhar boleia desta revolução tecnológica o quanto antes. Saber usar e tirar partido dos principais sistemas de IA será uma mais-valia em muitas situações. Criamos uma lista de 50 instruções (prompts) para que consiga fazer de tudo um pouco com a IA: ser mais produtivo, tomar melhores decisões, fazer projetos pessoais, melhorar a criatividade e até mesmo resolver problemas. Este é o tema em destaque na mais recente edição da revista, a Exame Informática nº 354, mas não é o único a merecer a sua atenção, como pode ver em baixo.

Pode comprar a Exame Informática nº 354 nas bancas e em formato digital.

Sumário da Exame Informática nº 354

Capa

ChatGPT, Gemini e DeepSeek: 50 instruções para dominar a Inteligência Artificial

Testes

– O super Samsung Galaxy S25 Ultra

Huawei Matebook D16: Um portátil apelativo

– Smartphone com mag(ia): Honor Magic7 Pro

Huawei FreeBuds Pro 4: Concentração máxima

Aeroband Pocketdrums 2: O sonho de uma bateria virtual

Xiaomi Redmi Buds 6 Pro

– Nvidia GeForce RTX 5070 Ti: Placa gráfica de topo

Honor Magic7 Lite

– Dois ecrãs com o Asus Zenscreen Duo

Oppo Reno13 Pro: Vale a pena?

– Fujifilm Instax Wide Evo

Asus Zenbook A14: Incrivelmente leve

– HP OmniBook Ultra Flip 14: Versatilidade não lhe falta

Huawei FreeArc: Para os desportistas

– Lifestyle: Mochila HyperX Knight

I&D

– Especial: Inteligência Artificial nas empresas

Azulfy: A startup portuguesa que monitoriza a qualidade da água

VOLT

BYD Atto 2: Um novo trunfo

– O elétrico acessível: Citroen ë-C3

Audi Q6 e-tron Perfomance: Tecnologia de ponta

Polestar 3 Long Range Dual Motor: Melhorias precisam-se

Alfa Romeo Junior Elettrica: O primeiro elétrico da marca italiana

Sign Out

Sniper Elite Resistance

Like a Dragon: Pirata Yakuza in Hawaii

Avowed

O cargueiro “Solong”, registado na Madeira, colidiu esta manhã com um petroleiro norte-americano no Mar do Norte, ao largo da cidade de Hull, no nordeste de Inglaterra. De acordo com a Guarda Costeira britânica, o alerta foi dado pelas 09:48 da manhã e já foram mobilizados para o local vários meios de socorro, incluindo um helicóptero de salvamento, barcos salva-vidas, uma aeronave da Guarda Costeira e embarcações de combate a incêndios. “A Guarda Costeira está atualmente a coordenar a resposta de emergência a relatos de uma colisão entre um petroleiro e um navio de carga ao largo da costa de East Yorkshire”, refere a agência Marítima britânica num comunicado.

Segundo a BBC, a embarcação portuguesa e o petroleiro, designado “Stena Immaculate”, estão em chamas. De acordo com o órgão de comunicação toda a tripulação do navio petroleiro – mais de 20 pessoas – encontra-se já em segurança. Pelo menos 32 pessoas já foram resgatadas, mas a sua situação atual é ainda não é conhecida. Ainda há tripulantes por localizar.

A organização de socorro marítimo Royal National Lifeboat Institution (RNLI), citada pela BBC, avança ainda que vários passageiros que seguiam a bordo das embarcações terão abandonado as mesmas na sequência da colisão.

O cargueiro português tinha saído da Escócia e viajava até Roterdão, nos Países Baixos. Já o petroleiro, oriundo do porto grego de Agioi Theodoroi, estava ancorado perto de Hull. 

Ainda não se sabe a extensão do derrame de combustível.

(Notícia atualizada pelas 14h16)

No passado dia 5 de março, a Comissão Política do PS Oeiras reuniu para discutir e votar o nome de Ana Sofia Antunes como candidata à Presidência da Câmara Municipal de Oeiras. O resultado foi uma aprovação inequívoca, um momento que não apenas agregou as diferentes vozes da concelhia, mas que também marcou um ponto de viragem, creio.

Depois de anos de desaires, o PS de Oeiras parece finalmente encontrar um rumo, uma liderança capaz de galvanizar as suas bases e de oferecer uma alternativa real aos munícipes. Uma alternativa competente, experiente e agregadora, de modo a colocar o PS Oeiras como a única solução possível de quem quer um executivo diferente neste concelho.

Este não foi apenas um voto num nome; foi um voto na possibilidade de um futuro diferente já em 2025, e de vitória em 2029.

Ana Sofia Antunes chega a esta candidatura com um currículo que fala por si.

Deputada do Partido Socialista, antiga Secretária de Estado da Inclusão durante três governos socialistas, entre 2015 e 2024 – não é mero acaso ter sido reconduzida sucessivas vezes durante 9 anos. Tem experiência autárquica em Lisboa e em Coimbra, traz consigo, uma bagagem política sólida e diversificada, que há muito faltava em Oeiras.

Integra a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e a Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, além de ser coordenadora do PS na Comissão de Assuntos Europeus. Sob o lema “Em Oeiras todos contam”, a socialista apresenta uma candidatura que se descreve como “jovem, arrojada, de futuro e corajosa” – palavras que refletem não só a sua visão, mas também o seu percurso. Ana Sofia é uma líder testada, com provas dadas na defesa da inclusão e dos direitos fundamentais, qualidades essenciais para um concelho que precisa de se reinventar.

Não sou dado a alimentar episódios lamentáveis como o que ocorreu na Assembleia da República, quando Ana Sofia Antunes (e não só) foi insultada por deputados do Chega – correndo o risco de, mais uma vez, dar voz a quem não merece ser mencionado.

Mas há coisas que não podemos deixar passar. Para além do insulto, acusaram-na de só saber falar de um tema, numa sessão em que, ironicamente, abordava esse assunto pela primeira vez em plenário. Acusaram-na de limitação, quando ela coordena os Assuntos Europeus do PS e integra inúmeras comissões, provando uma versatilidade que os seus detratores jamais compreenderão.

Não me surpreende: a compreensão básica e a convivência democrática não habitam nas mentes daqueles para quem a mediocridade intelectual é um troféu.

Quem só sabe falar de um tema, são aqueles que abrem a boca e ligam os microfones para destilar ódio e roçarem a mediocridade. Por isso, nunca vencerão.

Mas há algo inspirador na Ana Sofia Antunes, que teve de lutar o dobro – ou até o triplo – do que qualquer outra pessoa para chegar onde está. Nada lhe foi dado de mão beijada. Cada conquista foi fruto de resiliência, determinação e uma vontade inabalável de ultrapassar barreiras.

Esta candidatura é mais um capítulo dessa jornada, um desafio que não será fácil num concelho onde o culto da personalidade (como já cantavam os Living Colour) é prática quotidiana. Oeiras tem sido dominada há demasiado tempo por um homem – Isaltino Morais – que, na reta final da sua carreira (felizmente), parece mais focado no mediatismo e nas poses para o Instagram do que nas necessidades de quem aqui vive.

Esta eleição coloca-nos perante um contraste claro: de um lado, um líder que se deixou esmorecer, que perdeu ambição, que não entende o que tem de perdurar; do outro, uma mulher corajosa que quer devolver a voz a todos, que acredita que Oeiras pode ser mais do que um palco para vaidades pessoais.

Para que o PS seja a força que Oeiras precisa, é essencial que saiamos da armadilha dos 10% que nos atormentam desde 2021. Os sucessivos desaires eleitorais mostram que precisamos de alargar a nossa base, de falar para além do núcleo duro e reconquistar os socialistas que, sim, existem em grande número neste concelho.

Com a possibilidade cada vez mais concreta de um “casamento” entre Isaltino e o PSD – uma aliança que parece saída de um filme siciliano, uma vendeta política onde o PSD se ajoelha para recuperar relevância – o PS tem uma oportunidade única.

Há uma percentagem considerável de eleitores em Oeiras que, eleição após eleição, votam PS a nível nacional, mas que nas autárquicas se refugiam no regaço de Isaltino. São eleitores que acreditam nos valores socialistas – mas que ainda não encontraram nas nossas propostas locais o reflexo dessas ideias. Cabe-nos agora construir uma plataforma agregadora, de futuro e ambição, que os traga de volta.

Ana Sofia Antunes é a pessoa certa para liderar essa missão. A sua candidatura não é apenas uma aposta num nome, não se esgota aí; é um sinal de que o PS está pronto para virar a página em Oeiras.

Estou certo de que estamos a assistir a um ponto de viragem histórico. Este é o momento de provar que, em Oeiras, o futuro pode ser bem mais do que o eco de um passado gasto.

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Era um sábado como os outros, mas Luís Montenegro falava como se fosse o último sábado de uma campanha eleitoral. As televisões transmitiam em simultâneo o comício do PSD que, desta vez, não aproveitou as oito da noite para anunciar novos veículos para as Forças Armadas. As declarações do primeiro-ministro, vitimizado, seguiam-se insuficientes e pouco esclarecedoras.

Para falar sobre um tema que só a si diz respeito — e pelo qual é o único responsável —, o chefe do Governo fez questão de se acompanhar do atual elenco governativo, comprometendo-os com as suas declarações. Mas isso não bastou: os portugueses descobriram que Luís Montenegro mentiu quando referiu que havia alienado todas as quotas na sua empresa familiar. Mas, afinal, a sua mulher, com quem vive em comunhão de adquiridos, ainda detinha uma participação; e só depois é que os filhos iriam assumir o controlo da empresa. O que não resolve qualquer conflito de interesse. Parece ser por demais evidente que os negócios da família do primeiro-ministro continuam a beneficiar do seu cargo público.

Luís Montenegro foi elencando demoradamente as supostas conquistas do seu mandato, muitas das quais tendo sido já alcançadas sob a governação de António Costa: a redução da dívida pública, o aumento da taxa de emprego e a diminuição do desemprego. Depois de apresentar um verdadeiro catálogo do IKEA, onde toda a mobília parecia encaixar na perfeição do país, Montenegro, apoiando-se no seu pretenso grande trabalho, acenou com uma moção de confiança. Moção de confiança que é sabido de antemão que não será votada favoravelmente pelo Partido Socialista.

Então, o que pretende o PSD? Novas eleições? Criar nova instabilidade política? Os portugueses sabem que, por mais atípico que tenha sido, o PS absteve-se na votação do Orçamento do Estado para permitir ao Governo continuar a governar. Mas também sabem que não será o PS a “dar a mão” ao Governo – tal seria extremamente inusitado no atual contexto político nacional. Ainda que Luís Montenegro pareça cada vez mais concentrado na conquista de votos ao centro, procurando responsabilizar o Partido Socialista pela instabilidade política, não deixa de ser o próprio quem tem dado lugar a essa mesma instabilidade.

Enquanto se passa tudo isto, os portugueses ficaram a saber de escolhas pessoais do primeiro-ministro que levantam muitas questões. Num país em que o salário mínimo é de 870 euros, o atual chefe de governo decide hospedar-se num hotel de cinco estrelas, onde a estadia por noite ronda os 300 euros, conquanto tem à sua disposição uma residência oficial: pasme-se!, a “Residência Oficial do primeiro-ministro.”

Todos sabemos que o líder do PSD tenta desviar-se dos pingos da chuva ao evitar responder aos jornalistas — por vezes até se escondendo deles — enquanto quase que decreta o fim de certos assuntos. Uma atitude destas é naturalmente incompreensível em plena democracia, e os portugueses exigem mais transparência! Não basta propaganda.

Por isso mesmo, a decisão tomada por Pedro Nuno Santos, na passada segunda-feira, é a mais sensata e estável. A proposta de uma comissão de inquérito, de forma potestativa, permitirá alcançar a transparência e as respostas que são devidas aos portugueses.

Contudo, dada a recém anunciada moção de confiança ao Governo, apresentada pelo primeiro-ministro, tudo indica que o mesmo estará prestes a cair. Logo após a queda de uma maioria absoluta devido a um parágrafo, Portugal parece entrar num período de instabilidade política semelhante ao da Primeira República. A incerteza sobre o futuro governativo do país vai aumentando, e o risco de sucessivas crises políticas pode não só comprometer a governabilidade, como também comprometer a confiança dos portugueses nas suas instituições.

Portugal não pode transformar-se numa república das bananas! Exige-se mais respeito pelos portugueses.

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A internet surgiu na década de 1960, mas o que conhecemos hoje como “internet” começou a ganhar forma em 1969, com a criação da ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), um projeto financiado pelo governo dos Estados Unidos. O objetivo da ARPANET era conectar computadores em diferentes universidades e centros de pesquisa para facilitar a troca de informações.

Nos anos seguintes, a ARPANET cresceu e em 1983 foi criado o TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol), um conjunto de regras que padronizou a comunicação entre computadores na rede. Isto permitiu a criação de uma rede global de computadores, que mais tarde, nos anos 1990, se expandiu e evoluiu para a internet pública como conhecemos hoje com a popularização da World Wide Web (www).

A internet de massas trouxe inúmeras vantagens para a sociedade e transformou praticamente todos os aspetos da vida quotidiana, nomeadamente o acesso à informação, à comunicação instantânea, a facilidade no trabalho e educação, o entretenimento e lazer, o comércio e serviços online, as conexões sociais, a inovação e negócios, a acessibilidade, e ainda, a facilidade de organização de tarefas.

Todavia, também existem diversas desvantagens e desafios que precisam ser considerados, designadamente a dependência e o vício, a exposição a conteúdos nocivos, riscos à privacidade e segurança, a desinformação e notícias falsas, o impacto na saúde mental, a distração e perda de produtividade, a falta de controlo sobre os conteúdos e isolamento social.

Mas a internet e as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) vieram também providenciar oportunidades variadas para a prática de crimes, modificando e exponenciando as possibilidades de ocorrência da criminalidade, seja porque se constituem em si mesmo enquanto alvos potenciais do crime, mas também porque podem fornecer os meios ou ferramentas através dos quais outros crimes podem ser cometidos.

Poderá, portanto, afirmar-se que a Internet veio proporcionar novas formas e oportunidades de praticar ou cometer crimes que poderemos designar como “convencionais”, como a perseguição, o abuso sexual de crianças ou a burla, mas veio igualmente alavancar o surgimento de novas formas de criminalidade, desta feita exclusivamente associadas ao uso de computadores, das TIC e dos sistemas informáticos.

Neste contexto, a Procuradoria Geral da República (PGR), através da Ordem de Serviço n.º 1/2019, de 16.01, concentrou a investigação do cibercrime e crime cometido em ambiente digital em secções e rede de magistrados especializadas, tendo por base a necessidade de especiais conhecimentos técnicos à investigação.

Contudo, as dificuldades da investigação deste tipo de criminalidade são vastíssimas, desde logo pela sua especificidade e complexidade, por se tratar de um tipo de criminalidade com linguagem própria, com intervenientes (agentes do crime) dotados de elevadas capacidades e meios técnicos especializados e, por vezes, de cariz transnacional.

A nível nacional, a cooperação das instituições fornecedoras de elementos probatórios, designadamente entidades bancárias e operadoras de rede móvel é bastante deficitária, colidindo, em muito dos casos, com os prazos razoáveis de resposta.

Esta delonga, associada à problemática dos metadados, tem dificultado o acesso à informação (Internet Protocol – IP) determinante à descoberta da verdade material, tendo como consequência a prolação de despachos de arquivamento por não ser possível alcançar, em tempo útil, esses elementos probatórios

Por outro lado, os fenómenos criminais associados à criminalidade informática são altamente voláteis, emergindo diariamente novos métodos de atuação altamente sofisticados e tecnológicos, com esquemas de engenharia social, que obrigam os magistrados do Ministério Público a uma constante adaptação, formação e aprofundamento de conhecimentos nestas matérias, de forma a realizar um efetivo e eficaz combate a estes fenómenos.

De acordo com a Nota Informativa do Gabinete de Cibercrime da PGR, referente às denúncias recebidas no ano de 2023, concluiu-se que “as denúncias de cibercrimes em sentido alargado recebidas por correio eletrónico pelo Gabinete Cibercrime aumentam persistentemente, de forma consistente, de ano para ano, desde 2016. No ano de 2020 as denúncias aumentaram de forma excecional, após a eclosão da pandemia resultante da COVID–19. Em 2021, porém, o aumento foi ainda mais expressivo do que tinha sido em 2020, mais que duplicando. Em 2022 esta tendência manteve-se: foram recebidas 2124 denúncias, quando em 2021 tinham sido recebidas 1160. Portanto, registou-se um aumento de 73,58%. Por último, em 2023 foram recebidas 2916 denúncias – correspondendo a 137,29% das denúncias do ano anterior.

No mesmo relatório também se pode ler que os fenómenos mais frequentes no ano de 2023 foram: o “olá mãe, olá pai” e falsos pagamentos à EDP; o phishing; burlas online; páginas “falsas”; “falso” trabalho online; burlas no mercado imobiliário; defraudações na utilização de plataformas de vendas online e em aplicações de pagamentos; burlas em supostos investimentos em criptomoedas; telefonemas fraudulentos; “falsas” convocatórias policiais; ataques informáticos – ransomware e “furto de credenciais de acesso a contas”; sextortion; e CEO Fraud.

No próximo artigo, revisitarei este tema para, com alguma pedagogia (assim espero), explicar em que consiste cada um dos mencionados fenómenos, mas, acima de tudo, formas de evitar ser vítima destes esquemas fraudulentos.

Para finalizar, nunca esquecer que nos tempos em que vivemos a informação está à distância de um clique e que a internet é uma janela virada para o mundo, seja isso uma virtualidade ou um inconveniente.

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A Apple pretende que a nova geração do assistente pessoal Siri tenha funcionalidades mais personalizadas, mas o desenvolvimento está a demorar mais que o previsto e a empresa já comunicou o adiamento do lançamento. A porta-voz Jacqueline Roy confirmou que “nos últimos seis meses, tornámos a Siri mais conversacional, introduzimos novas funcionalidades como escrever para a Siri e adicionamos uma integração para o ChatGPT. Estamos a trabalhar também numa versão mais personalizada, dando-lhe mais conhecimento sobre o contexto pessoal, bem como a capacidade de realizar ações para o utilizador em diferentes aplicações. Vai levar-nos mais tempo do que estávamos a contar para entregar estas funcionalidades e prevemos lançá-las no próximo ano”, cita o Daring Fireball.

A Apple não comentou ainda exatamente o que quer dizer com o “lançamento no próximo ano”. No ano passado, durante a WWDC, a Apple mostrou o Apple Intelligence com funcionalidades avançadas da Siri e tinha anunciado um lançamento “durante o próximo ano”, o que equivaleria a esperar um lançamento nesta primavera.

Segundo Mark Gurman, da Bloomberg, executivos da Apple expressaram internamente as suas preocupações, incluindo o líder de software, Craig Federighi, dizendo que “as novidades não funcionaram adequadamente – ou como anunciado – durante os testes pessoais”. O novo rumor é que “uma versão verdadeiramente modernizada, conversacional da Siri” não deve chegar antes do iOS 20 “na melhor das hipóteses”.