Um grupo de trinta laureados com o prémio Nobel encetaram uma iniciativa muito louvável ao pedirem diretamente a ajuda a líderes religiosos, através de carta, no sentido de desenvolverem iniciativas de paz neste mundo turbulento. Segundo o jornal digital 7 Margens: “enviaram uma carta aberta ao Papa Francisco, ao Patriarca Ortodoxo Bartolomeu, ao Dalai Lama e a vários representantes do Islão e do Judaísmo, pedindo-lhes que façam um apelo global a todos os governos para que, no espírito dos Jogos Olímpicos, seja alcançado um cessar-fogo à escala mundial.”
A ideia está muito para lá de sugerir uma trégua olímpica, sabendo-se que há um grupo de refugiados de dezenas de países do mundo que vai competir sem bandeira nacional, e sob a égide do próprio Comité Olímpico Internacional, sendo a segunda delegação a desfilar na cerimónia de abertura dos Jogos, logo após a Grécia, berço histórico do olimpismo.
O que se pretende é ir além da circunstância de Paris e pedir a libertação de quaisquer reféns, a devolução dos corpos dos que caíram em combate e o início efetivo de negociações para acabar com os mais de cinquenta e cinco conflitos em curso no planeta. Mas claro que há uma referência especial para a agressão da Rússia sobre a Ucrânia, pois “as consequências deste conflito prolongado, que entrou no seu terceiro ano, se repercutiram em vários países, provocando o aumento da fome nas nações africanas, uma crise migratória na Europa e a libertação de substâncias nocivas de cada bombardeamento para reservas de água, alimentos e leite que chegarão às pessoas dos seis continentes. Até ao final deste ano, o número de mortos e feridos na Europa Central deverá ultrapassar um milhão, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial”.
A carta, que é assinada por vários prémios Nobel da Medicina, da Literatura, da Química, da Física e da Paz, faz uma reflexão sobre o aumento dos orçamentos de defesa no mundo, e apresenta uma exortação frontal: “Em vez de sustentar a vida, desperdiçam-se recursos na propagação da morte”. Os signatários da missiva enviada às lideranças religiosas assumem que não representam Estados, mas fazem-no por força das circunstâncias: “(…) se os esforços dos Estados para restaurar a paz forem insuficientes, devemos agir. E imploramos que façam isso também! Pedimos-vos que apelem a um cessar-fogo e às ações necessárias para o alcançar. Devemos parar o fogo. Parar a perda de vidas humanas. Evitar uma catástrofe nuclear”.
Se a ideia era ter uma representação alargada das religiões abraâmicas, então por que razão ficou de fora um segmento religioso que engloba mais de 600 milhões de fiéis, como é o caso da World Evangelical Alliance (Aliança Evangélica Mundial)? De resto, em termos de números, a WEA tem muito mais peso do que alguns convocados do campo judaico ou budista. De igual modo se excluiu o World Council of Churches (Conselho Mundial de Igrejas), que congrega mais de 340 igrejas e denominações cristãs que representam para cima de 550 milhões de fiéis, presentes em mais de 120 países, em especial vastos sectores do protestantismo.
Uma coisa é certa. Não se pode esperar que investigadores de diversas áreas científicas tenham conhecimento da realidade religiosa do mundo, mas já seria razoável pensar que se poderiam ter tentado informar minimamente. Por outro lado, os líderes religiosos contactados sabem que não representam grande parte do espectro religioso global, pelo que poderiam ter tido a iniciativa de aconselhar os promotores a não manter os seus contactos tão limitados.
Todos são importantes nas tarefas de promoção da paz. E no mundo cristão todos conhecem o importante princípio ditado por Jesus Cristo no Sermão do Monte: “Bem-aventurados os pacificadores (felizes os construtores da paz), porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9).
Construir a paz é um processo de inclusão do que é diferente e passa desde logo por não deixar ninguém de fora.
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