A figura tem nome: Donald John Trump, e acabou de fazer história por ter sido o primeiro antigo presidente dos EUA preso à ordem de um tribunal, a fim de ser identificado e formalmente acusado de dezenas de crimes.
Trump começou por construir uma personna, a partir da fortuna que recebeu do pai para se iniciar nos negócios, passou pela televisão e acabou sentado na Sala Oval. Como se sabe a América adora estórias de sucesso e ele explorou essa idiossincrasia cultural muito bem.
Se tivesse nascido pobre e negro provavelmente estaria a apodrecer na cadeia como milhares de concidadãos com esse perfil, mas como nasceu rico teve a possibilidade de corporizar o “sonho americano”, que para muitos é mais um pesadelo. Em especial para aqueles que não têm dinheiro para estudar nem para cuidar da saúde, num sistema que condena à partida os mais vulneráveis da sociedade à pobreza persistente e definitiva.
A sua biografia está repleta de episódios pouco edificantes e escândalos, quer em matéria de vida pessoal quer nos negócios e relações com o fisco, configurando a imagem do chico esperto norte-americano. O seu percurso roça o absurdo, como se comprova pela charge da popular série de desenhos animados The Simpsons que profetizou há anos Trump como inquilino da Casa Branca. Devido às invulgares características do sistema eleitoral americano Trump foi eleito em 2016 pois venceu em número de delegados de colégios eleitorais, embora Hillary Clinton o tenha derrotado pelo voto popular nas urnas, onde obteve uma margem superior a 2,8 milhões de votos, a maior já registrada na história dos Estados Unidos.
O indivíduo caracteriza-se por uma postura de fanfarronice e por dizer as maiores barbaridades, falsidades e insultos a quem se lhe opõe. Machista, preconceituoso e amigo do peito de ditadores, nacionalista e isolacionista levou os EUA a perderem influência global. Em sinal de força adoptou o gesto comunista do punho fechado da mão direita e de braço no ar. Trump não reconheceu a derrota eleitoral em 2020 e recusou-se a “passar o testemunho” a Biden, numa atitude miserável que diz tudo sobre o seu carácter.
Em vez disso incitou publicamente os apoiantes a assaltarem o Capitólio para impedirem a posse do presidente eleito, acto de que resultaram vítimas mortais. E alguns apoiantes fanáticos estavam mesmo dispostos a liquidar Mike Pence, o vice-presidente a quem competia validar a eleição. Depois de tudo isto Trump ainda se vitimiza.
Martin Seligman (Universidade da Pensilvânia) defende cientificamente o sorriso como influência positiva na vida humana por promover plenitude e equilíbrio físico, mental e emocional. A Psicologia do Sorriso, de acordo com os resultados dos estudos, revela que o sorriso cultiva as emoções positivas e promove a qualidade de vida ao reforçar os recursos intelectuais, físicos e sociais.
Nas relações profissionais, quando o sorriso é espontâneo e natural, além de reforçar a credibilidade do indivíduo, sugere empatia e receptividade aproximando assim as pessoas, sejam colegas, clientes ou colaboradores, contribuindo para um clima mais leve e positivo na organização, potenciando o aumento da satisfação e a produtividade.
O simples facto de um homem que não sabe sorrir atrair tantos apoios na população só pode atestar um clima generalizado de crispação social e de extremismo, potenciado pela utilização massiva das redes sociais, que por não terem filtro propagam notícias falsas e distorcem os factos, levando milhões à cólera gratuita e ao engano.
Mas não só. É preocupante pensar que Hitler subiu ao poder nos anos trinta impulsionado pelos líderes religiosos católicos e protestantes da Alemanha, que só muito tarde perceberam o terrível logro em que tinham caído, mas já era tarde demais e ficaram com as mãos sujas de sangue. Vimos exactamente o mesmo nos EUA com Trump e no Brasil com Bolsonaro, onde apenas não se chegou aos extremos do nazismo. Em grande parte por causa disto a fé cristã na Europa caiu verticalmente no pós-guerra.
Guardo comigo a ideia de Chaplin: “Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror.” Por isso, sempre que vejo a imagem de Trump recordo o bom princípio de nunca confiar num homem que não sabe sorrir.
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+ Sou alérgico a messias em política, especialmente militares
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