Desta vez é a Ucrânia, além de algumas outras esquecidas pelo mundo, mas infelizmente os conflitos bélicos são constantes, entre outras razões porque há que vender armas, munições e todo o tipo de material de guerra, que é cada vez mais sofisticado e caro. E nenhuma época é poupada, nem mesmo a natalícia, apesar de a mensagem do Natal ser essencialmente de paz.
Longe vão os tempos em que a guerra implicava uma ética de respeito pelo inimigo. Um dos casos mais famosos é o da paragem espontânea dos combates na noite de Natal de 1914, durante a 1ª Guerra Mundial, em Ypres, próximo da fronteira francesa, porque “As guerras precisam de natais”.
Durante essa noite os soldados de ambos os lados do conflito saíram das suas trincheiras, cumprimentaram-se, trocaram presentes entre soldados alemães, por um lado, e franceses e ingleses por outro (comida e charutos), cantaram canções natalícias e fizeram orações pelos camaradas de armas que tinham morrido, além de realizarem um jogo de futebol entre ambos os lados do conflito na “terra de ninguém”.
Depois desta trégua original e espontânea, lá voltaram para as respetivas trincheiras e continuaram a guerra.
De facto, a mensagem dos anjos na noite em que Jesus de Nazaré veio ao mundo, há dois mil anos, tem três partes. Primeiro eles proclamaram glória a Deus nas alturas, depois anunciaram paz na terra e finalmente boa vontade para com os homens, isto é, entre os seres humanos. Na verdade um erro de tradução de apenas uma letra levou a pensar que a mensagem cantada pelos anjos seria “paz na terra entre os homens de boa vontade”, mas na verdade foi “boa vontade entre os homens”. Ou seja, a paz é oferecida de modo genérico à humanidade e não apenas a parte dela, o que, a ser assim não faria qualquer sentido.
Todavia esta mensagem deve ser compreendida de trás para a frente, porque havendo boa vontade entre os homens abre-se a caminho à paz na terra. E havendo paz na terra, Deus é glorificado nos céus.
Neste Natal, sejamos fatores de paz mesmo em tempos de guerra. A paz começa em cada um de nós.
Deixo-vos com três pequenos poemas alusivos à época, que em tempos escrevi, aproveitando para desejar um Santo Natal a todos os leitores e respetivas famílias.
Neste Natal não tenho sapato
Neste Natal não tenho sapato
nem meia de lã
penduro apenas
um pé descalço
na minha oração
e um olhar líquido
no rumor dos anjos.
Os Pastores
Os pastores voltam aos rebanhos
da noite
levam uma canção
no ouvido
e uma estrela dentro.
O Regresso dos Magos
No Oriente depositaram
com mãos gentis
a luz guardada
nos olhos
no regresso de Belém efrata
como se já nenhuma noite
os intimidasse
e mais nenhum mistério houvesse
no céu.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.