Esta semana, o dr. Carlos César, socialista, presidente do Governo Regional dos Açores, invocou uma norma legal para exigir: “O imposto extraordinário cobrado nos Açores deve ficar nos Açores!” O seu colega da Madeira, dr. Alberto João Jardim, social-democrata, aproveitou logo a deixa, qual irmão Dupont (com t) e exibiu os canhenhos da lei, enquanto vociferava (não sem advertir o sr. [Cavaco] Silva para que inspecionasse a constitucionalidade da medida): “O imposto extraordinário cobrado na Madeira deve permanecer na Madeira!” Será isto o Bloco central de interesses? Acontece que os dois inefáveis patriotas, partidários desta forma de cobrança dos impostos e aplicação de receitas, logo provocaram um brado continental: “E os impostos cobrados no Continente devem ficar no Continente! A ver o que acontece às ilhas! Cada um que se governe!”
Após um equívoco inicial, que levou o sr. Soares dos Santos a reclamar uma quota parte do Pingo Doce (quid pro quo rapidamente desfeito), esperava-nos mais: como, para lá do Caldeirão, mandam os que lá estão, o eng.º Macário gritou: “O imposto cobrado no Algarve deve ficar para os algarvios!” Generoso, compensou a reivindicação com um fechar de olhos às portagens na Via do Infante. Afinal, o País vive um momento difícil, ao contrário do que sucedia há quatro meses (com o Governo do PS…), em que o excelente autarca quase se dispunha a encabeçar uma desobediência civil contra as portagens. O País descobre-se, enquanto se inclina num sentido “obrigado!”.
Mas havia ainda mais: em Vila Nova de Gaia, o dr. Menezes protestou que uma parte do imposto cobrado na cidade devia destinar-se a promover as tripas à moda do Porto – e o restante a fazer o túnel para a Invicta, através do qual pretende atacar o castelo do dr. Rio. Já um seu vizinho, o sr. Pinto da Costa, agora dono de um canal de TV (como o sr. Nuno Cabral, de Montalegre…) resfolegava, preparando-se para fundar, finalmente, o seu partido regional: “Impostos cobrados no Norte são para o Norte, carago!”, que é como quem diz, para o Dragão. Em retaliação, arrebitando as orelhas, e lembrando-se de que o Benfica é uma “instituição nacional”, o sr. Vieira intimou o Estado a depositar o imposto cobrado aos benfiquistas, em todo o País, nas casas do Benfica. Entretanto a Sul, o dr. Costa impunha que o imposto cobrado em Lisboa devia ficar em Lisboa. Mas lembrando-se da vocação liderante da capital, bem como da sua própria vocação liderante, logo emendou: “Ou, pelo menos, na região de Lisboa e Vale do Tejo!”
Chegando-lhe os ecos da nova política fiscal em Portugal, a sra. Merkel logo aqui encontrou preciosos argumentos para reconquistar o eleitorado fugidio e evitar o holocausto eleitoral que lhe está anunciado: “O imposto cobrado na Alemanha é para os alemães! Nem mais um tostão para resgates financeiros dos outros!” Era o sonho de César e Jardim em todo o seu esplendor.
Mas tudo isto é insuficiente. E aqui fica uma forma verdadeiramente nova de cobrar o imposto, que (nem César nem Jardim, na sua lógica e sapiência, nos deixarão mentir) será a mais justa de todas: o imposto extraordinário cobrado a cada família portuguesa ficará, afinal, em casa dessa mesma família portuguesa! E está o caso resolvido.