Valorizamos pouco as lutas populares pela democracia. Não as mediatizamos como mereciam, não tomamos as suas dores como nossas, não nos mobilizamos para que os seus valores sejam um prolongamento dos nossos. Foi assim em Hong Kong (2019), contra a lei que permitia a extradição para a China continental, caindo na alçada de um sistema judicial sem transparência e que usa e abusa de mecanismos autoritários punitivos. Foi assim na Sérvia (2018), quando a prepotência do Partido Progressista Sérvio e a cobertura dada pelo Presidente Vucic passaram a alvos dos milhares que saíram às ruas de Belgrado com temperaturas negativas, em protesto contra as violações à separação de poderes, à liberdade de imprensa e à integridade física de membros da oposição.
Foi assim no Montenegro (2019), depois de uma investigação jornalística ter levantado um esquema alargado de corrupção que envolvia o Presidente Dukanovic, há 30 anos a oscilar entre a chefia do governo e a presidência, e de um jornalista ter sido baleado após ter publicado uma série de artigos onde esticava a teia a vários políticos e empresários. Os montenegrinos saíram à rua em protesto contra a opacidade do sistema político, a credibilidade dos resultados eleitorais e a podridão da rede de corrupção no Estado. Não fosse a coragem do jornalismo de investigação – que alguns pagaram com a vida, como a maltesa Daphne Caruana Galizia e o eslovaco Ján Kuciak – e a democracia dificilmente se regenerava para acolher as expectativas de milhões de cidadãos, ao contrário dos constates obituários. Tal como noutras alturas da História recente (1974, 1989 ou 1991), eles só precisam de apoio no tempo e no modo certos.