Volta e meia vale a pena fazer uma pausa na atualidade política. A análise ao facto imediato, a escolha do mais relevante na semana e a ditadura da perspetiva sobre o que aí virá são, muitas vezes, esgotantes. Há semanas em que o drama da escolha do tema é tanto maior quanto mais rica ela foi. Outras vezes, é pura falta de inspiração, frescura mental, motivação para enfrentar o que se move sem direção certa, mas sobre o qual somos impelidos a tomar uma posição. Os livros são, entre cinema, música, concertos, exposições, desporto e longas conversas, refúgios imprescindíveis para quem escreve. Trago-vos, desta vez, cinco propostas à volta da trilogia tempo, dinheiro e poder.
O polaco Jan Zielonka acaba de publicar The Lost Future, uma mistura eloquente entre interpretação histórica e apontamentos de cultura musical, cinematográfica e literária, com recurso à imagem gráfica. O tempo e o espaço são os grandes conceitos que acompanham a adaptação da política e que moldam as sociedades numa globalização tendencialmente inescapável. Zielonka faz uma crítica sustentada à miopia das democracias, reféns do presentismo, sem acautelarem, preventivamente, o desenho de respostas e as adaptações às acelerações tecnológica, financeira, ecológica, política e social em que mergulhámos. Isto ao mesmo tempo que dispomos de instrumentos únicos para lidar com a multipolaridade de problemas, desafios e crises, embora de aplicação disfuncional e com efeitos tantas vezes ineficazes. Em parte, a escritora franco-turca Elif Shafak já identificara uma série de males coincidentes quando escreveu o minimanifesto How to Stay Sane in an Age of Division. Na altura, arrumou-os num cardápio de perversidades que cruzavam tribalismos egocêntricos, narcisismos de grupo, ansiedade contagiosa, raiva, apatia, sectarismo, ausência de empatia e sociedades atomizadas. Publicado algures a meio de 2020, com a pandemia no início, três anos depois estamos no mesmo patamar ou ainda pior. Quem pensa que as respostas não passam pela política, pelas instituições, pelos compromissos e comportamentos das lideranças, e pela tradução das políticas públicas na melhoria de vida das pessoas, assume que o divórcio entre as múltiplas frustrações sociais e as virtudes da democracia é um fatalismo. É preciso contrariar este exercício.