Em primeiro lugar, umas breves notas sobre a composição étnica e, principalmente, religiosa da Ucrânia. Com uma população de 41 milhões de habitantes, este país é composto, etnicamente, por 77.8% de ucranianos e 17.3% de russos. Segundo dados da Kyiv International Institute of Sociology (2019), 86.3% são cristãos, divididos em: 72.7% ortodoxos, 11.3% católicos e 2.3% protestantes. Dentre os ortodoxos, 58.3% são membros da Igreja Ortodoxa da Ucrânia e 25.4% da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscovo.
Na sequência do anúncio do Papa Francisco, consagrando a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, e a pedido dos bispos católicos da Ucrânia, a imagem peregrina (réplica) da Nossa Senhora de Fátima chegou hoje (17 de março de 2022), na martirizada Ucrânia, em Lviv, via Cracóvia, cidade da catolicíssima Polónia.
É importante lembrar que, apesar de ser a primeira vez na Ucrânia, a figura (con)sagrada de Nossa Senhora tem uma forte e antiga ligação histórica e religiosa com a Rússia e com a Ucrânia, elementos centrais do atual conflito: um agente do bem-Ucrânia outro agente do mal-Rússia.
De acordo com a tradição ortodoxa, Nossa Senhora apareceu, no início do século X, numa igreja cristã em Constantinopla (hoje a turca Istambul), criada no século IV, pelo imperador romano Constantino, quando a cidade estava sob ataque de inimigos. Segundo a tradição, Maria orou no altar da igreja, depois estendeu o seu manto sagrado sobre a congregação e, milagrosamente, os exércitos invasores retiraram-se.
No que se refere especificamente à Ucrânia, em 1037, Yaroslav, o Grão-Príncipe de Kiev, consagrou Maria como protetora deste país. Por isso, até hoje, é conhecida como a “Rainha da Ucrânia”. No dia 14 de outubro, é realizada a ‘Pokrova’, a Festa da Proteção de Maria.
Outra manifestação de Maria é a figura da ‘Oranta’ (a Grande Panagia). O mosaico da Oranta está localizado na Catedral de Santa Sofia, em Kiev, construída no século XI, um marco espiritual da cidade. Os braços estendidos para cima simbolizam a resistência, o “Muro Indestrutível”, a proteção divina de Kiev. O que é certo é que esta Catedral sobreviveu a séculos de destruição, provocada por invasões e guerras. Os fiéis sempre acreditaram que, enquanto o ícone estiver de pé, com as mãos estendidas, a Ucrânia e Kiev continuarão protegidas contra os inimigos; agora contra a atual força do mal – Putin e o seu exército invasor.
A religião, historicamente, sempre esteve entre a guerra e a paz. Seguindo o princípio cristão, Nossa Senhora de Fátima é um sinal de paz, conciliação, esperança e de amor. Neste momento, os martirizados ucranianos estão a orar e a pedir a Maria que interceda divinamente para trazer a tão desejada paz e a fraternidade entre os dois povos irmãos, agora separados por um agressor, insano e cruel.
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