Com a secção ‘Sociologia do Quotidiano’ pretende-se tratar acontecimentos do dia-a-dia, através de uma análise dos processos do funcionamento e transformação da sociedade, dos diversos comportamentos e práticas (individuais e de grupos) da vida quotidiana, incluindo as interações sociais e políticas, onde se jogam os interesses (que por vezes conflituam) dos diferentes agentes sociais.
Amanda Gorman é uma jovem poetisa, negra, norte-americana, formada em Sociologia pela Universidade de Harvard. Em 2017, quando tinha apenas 16 anos, foi a mais jovem poetisa laureada nos Estados Unidos. Conhecida da Vice-Presidente eleita Kamala Harris, foi convidada para escrever um poema especial para ser lido na cerimónia de posse do Presidente eleito Joe Biden. Segundo ela, o conteúdo final do texto ‘The hill we climb’ foi uma sentida reação à invasão do Capitólio, instigada pelo ex-presidente Trump, atentado que causou 5 mortes e abalou os alicerces da histórica democracia americana.
Reproduzo aqui este importante poema que ousei traduzir e interpretar, com cortes pontuais, sem alterar o significado, for sure!
‘A Montanha que Escalamos’
Ao amanhecer, nos perguntamos, onde encontrar luz nesta sombra sem fim?
A perda que carregamos, um mar sobre o qual navegamos.
Escapamos do ventre do monstro.
Aprendemos que o silêncio nem sempre é paz.
E as normas e noções do que é justo nem sempre é justiça.
E, ainda assim, o alvorecer é nosso.
De alguma forma fazemos por merecer.
De alguma forma, resistimos e testemunhamos
uma nação que não está quebrada, mas simplesmente inacabada.
Nós, os herdeiros de um país e de uma época
onde uma garota negra magra,
descendente de escravos e criada por uma mãe solteira
pode sonhar em se tornar Presidente.
E sim, estamos longe de ser polidos, longe de sermos intocados.
Mas isso não significa que estamos nos esforçando
para formar uma união que é perfeita.
Estamos nos esforçando para formar uma união com um propósito;
compor um país comprometido com todas as culturas, cores, personagens e condições humanas.
E, então, levantamos nossos olhares não para o que está entre nós,
mas para o que está diante de nós.
Resolvemos a desunião porque sabemos que,
para colocar nosso futuro em primeiro lugar,
devemos primeiro colocar nossas diferenças de lado.
Abaixemos as nossas armas
para que possamos estender nossos braços uns para os outros.
Não queremos prejudicar ninguém, queremos a harmonia para todos.
Deixe o mundo, quanto mais não seja, dizer que isso é verdade
Que mesmo enquanto sofríamos, crescíamos
Que mesmo sofrendo, esperávamos
Que mesmo cansados, tentávamos
Que estaremos para sempre juntos, ligados, vitoriosos.
Não porque nunca mais conheceremos a derrota
mas porque nunca mais semearemos divisão.
A Escritura (Bíblia) nos diz para imaginar
que todos se sentarão sob sua própria videira e figueira
E ninguém os assustará.
Se quisermos viver de acordo com nosso próprio tempo
então a vitória não estará na espada
mas em todas as pontes que fizermos.
Essa é a promessa da clareira, a montanha que escalamos.
Se apenas ousamos
é porque ser americano é mais do que um orgulho que herdamos.
Vimos uma força que destruiria nossa Nação
destruiria nosso país se isso significasse atrasar a democracia
e esse esforço quase teve sucesso.
Mas embora a democracia possa ser periodicamente adiada
Nunca poderá ser permanentemente derrotada.
Nesta verdade, nesta fé confiamos.
Enquanto temos nossos olhos no futuro, a história tem seus olhos em nós.
Esta é a era da justa redenção.
Temíamos desde o início.
Não nos sentíamos preparados para sermos os herdeiros de um momento tão aterrorizante, mas dentro dele encontramos a força para escrever um novo capítulo,
para oferecer esperança e alegria a nós mesmos.
Então, embora tivéssemos nos perguntado
como poderíamos sobreviver diante da catástrofe?
Agora nós afirmamos como a catástrofe poderia triunfar sobre nós.
Não caminharemos de volta ao que era, mas nos moveremos para o que será.
Um país que está ferido, mas inteiro, benevolente,
mas corajoso, feroz e livre.
Não seremos desviados ou interrompidos por intimidação
porque sabemos que nossa inação e inércia
serão a herança da próxima geração.
Nossos erros tornam-se seus fardos
Mas uma coisa é certa:
se fundirmos misericórdia com força e força com direito,
então o amor se torna o nosso legado e muda o direito de nascimento de nossos filhos.
Então vamos deixar um país melhor do que aquele que nos deixaram.
De cada respiração do meu peito que pulsa
elevaremos este mundo dilacerado num mundo maravilhoso.
Nos ergueremos das colinas com ramos dourados do Oeste,
nos ergueremos do nordeste varrido pelo vento,
onde nossos antepassados primeiro realizaram revolução.
Nos ergueremos das cidades margeadas por lagos dos estados do Meio-Oeste,
nos levantaremos do Sul queimado do sol.
Nos reconstruiremos, reconciliaremos e recuperaremos.
E cada canto conhecido de nossa nação e cada canto chamado de nosso país,
nosso povo diverso e belo surgirá, maltratado e belo.
Quando o dia chega, saímos da sombra, em chamas e sem medo.
O novo amanhecer floresce à medida que o libertamos.
Pois sempre há luz, se apenas formos corajosos o suficiente para ver isso,
se apenas formos corajosos o suficiente para sermos isso.
Um texto magistral pela defesa da liberdade e união da nação norte-americana. Conforme testemunham as primeiras ações do governo Biden, a América voltou a ter esperança num mundo melhor.