Em Janeiro, após os atentados na redação do “Charlie Hebdo”, a resposta francesa ao terrorismo teve como ato mais visível a realização de uma marcha pacífica, nas ruas de Paris, com a presença de um vasto leque de líderes mundiais. A mensagem era, então, clara: à barbárie deve-se responder com a serenidade de quem acredita nos valores da liberdade, igualdade e fraternidade, a força da razão deve sempre prevalecer sobre a da violência. Dez meses depois, a resposta aos atentados de sexta-feira, 13, já não será, de certeza, no mesmo tom. No mínimo, ela será «implacável», como logo declarou o Presidente François Hollande. No máximo, ela pode implicar um novo cenário geopolítico, com a formação de uma grande coligação de forças, que inclua os antigos adversários da Guerra Fria, contra um inimigo que agora quase os obriga a unirem-se. Será, em qualquer dos casos, uma resposta com força. E com sangue.
Ninguém se pode surpreender com isso. Os franceses podem ter essa imagem, quase universal, de seres românticos e idealistas, mas em questões de guerra são tão ou mais ferozes e implacáveis do que outras nações a que, facilmente, chamamos bélicas. O “cadastro” gaulês na Indochina, na Argélia e em muitas operações secretas por esse mundo fora, ao longo das últimas décadas, é suficientemente elucidativo nessa matéria.
Os atentados de Paris surgem numa sequência cronológica que ajudam à formação de alianças contra o Daesh – o acrónimo árabe que Hollande usa para se referir ao autodenominado Estado Islâmico. Na véspera, um atentado semelhante havia sido cometido – e reivindicado pela mesma organização – em duas das mais movimentadas e cosmopolitas ruas de Beirute. Duas semanas antes, a explosão de um avião de passageiros russo, no Sinai, Egito, após descolar da estância de férias de Sharm-El-Sheik, tinha sido também atribuída ao mesmo movimento extremista. Quase em simultâneo com esses acontecimentos, nos campos de batalha da Síria e do Iraque, o Daesh sofreu duas importantes derrotas, perante os curdos e as forças ligadas ao regime de Assad.
Embora ambos combatam o Daesh, franceses e russos fazem-no através do apoio a fações antagónicas no conflito sírio. Até sexta-feira à noite, isso podia ser explicado por razões geoestratégicas, diferenças de opinião, até interesses económicos divergentes. Depois de contados os 128 mortos nas ruas de Paris e a três semanas de umas eleições regionais em que Marine Le Pen e a sua Frente Nacional podem alcançar um resultado histórico, dificilmente resta outra hipótese a François Hollande que não seja a de tentar encontrar o maior número de aliados possíveis para o ajudarem a aniquilar o principal inimigo dos franceses e do nosso modo de vida. Com força. E necessariamente com sangue. É a guerra…