Em menos de 24 horas depois da posse, uma nova secretária de Estado – a da Agricultura – já está envolta em novas polémicas. O Correio da Manhã noticiou que Carla Alves tem contas e outros bens arrestados, e que o seu marido, ex-presidente da Câmara Municipal de Vinhais, está acusado por prevaricação e corrupção ativa. A recém-empossada secretária de Estado da Agricultura não foi, porém, acusada neste processo.
“Isto é cansativo, confrangedor, insustentável. Não há maioria absoluta que resista a esta sucessão de episódios que minam a confiança nas instituições, no governo, nos políticos. Como é possível que seja cada tiro, cada melro? O que explica isto? Ou é incúria e desleixo no recrutamento, ou é falta de noção e sensação de impunidade”, diz Mafalda Anjos. “Tudo isto é combustível para o populismo, para quem vem dizer que isto é tudo uma ‘piolheira’ e que ‘os políticos’ são todos maus e corruptos. Este Governo está a facilitar muito a vida para quem usa este tipo de discurso demagogo”, comenta a diretora da VISÃO.
“Se calhar esta acusação até acabará totalmente explicada, mas só a ideia de poder escolher uma pessoa nesta situação é um sinal ou de um grande desligamento do país e da forma como isto seria recebido ou da tal húbris, de arrogância e displicência”, refere o jornalista Nuno Aguiar.
Filipe Luís, editor-executivo da VISÃO, concorda. “É incrível como não exista um mínimo rastreio, nas escolhas dos membros de Governo. Esta secretária de Estado não tem a mínima hipótese de continuar. E o Presidente da República devia tomar já uma posição. No caso de Alexandra Reis, chegou a queixar-se de que a tinha nomeado há menos de um mês e que, portanto, eram necessárias explicações. E agora? Foi novamente enganado. Nomeia as pessoas na sua boa fé, confiando que o primeiro-ministro lhe propõe nomes idóneos, e depois é isto…”, afirma.
Para Mafalda Anjos, não restam muitas hipóteses. “A secretária de Estado devia sair. E sair agora seria um record absoluto. Tudo isto deixa em ainda piores lençóis a ministra da Agricultura, que já estava fragilizada e era apontada como remodelável.”
No que toca à remodelação governamental encontrada, sobressai, para Mafalda Anjos, o facto de ser feita com a “prata da casa”, como classificou o Presidente da República. “Tanto ao nível dos ministros João Galamba e Marina Gonçalves, como dos seis secretários de Estado. Destes, apenas uma – Fernanda Rodrigues, secretária de Estado da Habitação – não vem do governo, do aparelho ou de entidades públicas próximas. E isso é mau, porque não há novas perspetivas, novas ideias. É um governo que se fecha sobre si próprio.”
“Existe uma grande dificuldade de recrutamento, é verdade. Mas, neste caso, talvez António Costa tenha recorrido à prata da casa porque tem pressa. Há um PRR para executar e um nome novo, mesmo que fosse muito forte, precisaria de tempo para conhecer a máquina. As escolhas de Costa privilegiam o facto de os nomeados já terem uma grande experiência na máquina da administração pública e de dominarem esse tipo de dossiês”, diz Filipe Luís. E acrescenta: “João Galamba garante duas coisas: que o estilo impetuoso se vai manter no Ministério das Infraestruturas, e que o potencial da criação de polémica também mantém o nível… Mas as notícias sobre o seu insucesso são manifestamente exageradas. Ele exerceu um bom papel na Energia, reconhecido publicamente pelo primeiro-ministro. Deixou obra. E é um fazedor”.
Nuno Aguiar nota que, com a escolha de João Galamba, vem o risco de algum “momento de descontrolo”. O novo ministro das infraestruturas “nunca ofereceu porrada a ninguém, mas já se manifestou em termos pouco recomendáveis para um ministro”. “Por outro lado, o setor parece ter gostado de trabalhar com ele e, ao contrário da sua imagem pública, descrevem alguém pragmático, capaz de ouvir e desbloquear situações. Galamba revelou-se um executor.” Características que podem ser úteis num Ministério com muita obra para fazer, alguma dela atrasada.
Em análise neste Olho Vivo esteve também o TAPgate. “O facto de o Governo se ter recusado, mais uma vez, a ir prestar contas ao Parlamento, desta vez votando contra os pedidos da Comissão de Economia e da Comissão de Orçamento e Finanças impede o devido escrutínio”, sublinha Mafalda Anjos.
“Com o bloqueio da maioria parlamentar do PS à ida ao Parlamento, de Pedro Nuno Santos e de Fernando Medina, para prestarem declarações, já vai em 14 o número de ministros impedidos de irem à Assembleia dar esclarecimentos. E os argumentos do PS são frágeis: justifica-se dizendo que o caso da indemnização da TAP já teve as devidas consequências políticas e teve os devidos esclarecimentos, com as demissões no Governo. Ora, não é o PS, nem o seu grupo parlameentar, quem determina se já está tudo esclarecido ou não. O parlamento é que deve julgar isso”, explica Filipe Luís.
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