Os tempos que vivemos negam a tendência que temos de achar que, com o passar dos anos, o progresso virá. O progresso não é inevitável, como nos mostra o retrógrado plano do PSD para a educação e para os jovens. Sem ideia de futuro, o “novo” governo limita-se a replicar fórmulas de um passado que as gerações mais novas destruíram com as suas lutas. Além da ousadia de nos forçar a viver o que coletivamente ultrapassámos, tentam ainda mascarar um passado de futuro.
Se nestas eleições a coligação vencedora resgatou o seu nome do século XX, as ideias que agora emergem na nossa sociedade são mesmo desse tempo. No final deste século, foi criada uma maioria contra o Serviço Militar Obrigatório (SMO), apoiada num descontentamento e repúdio juvenil que já era generalizado. O SMO colocava em pausa a vida académica, profissional e pessoal dos jovens em nome de uma defesa nacional profundamente desqualificada e desatualizada que se assentava na imposição de um colete de forças intelectual cujo objetivo não era formar, como apregoam, mas sim doutrinar de forma sexista, racista, homofóbica e xenófoba, recorrendo à violência e ao medo. No fundo, a disciplina do SMO não deixa de ser uma gigante e violenta praxe.
A discussão do Serviço Militar Obrigatório surge assim importada de países territorialmente próximos da Rússia que recuperam formas antiquadas de mobilização para as suas forças armadas. Tal discussão não tem nem sentido nem fundamento para ser tida em Portugal. Portugal deve recusar a corrida ao armamento e ser, dentro da União Europeia, uma voz ativa na negociação da paz, negando que a guerra seja algo inevitável.
O renascimento de discussões antigas, importadas e despropositadas, que a nós nada nos dizem, acontece para distrair os jovens das questões que realmente impactam a sua vida. No fundo, a primeira medida deste novo governo serve como sua caricatura. Acenderam um debate em torno do logótipo do Governo, substituindo-o pelo antigo no primeiro dia. Debates como estes nada trazem a Portugal e à vida das pessoas, não constroem soluções para o seu dia-a-dia, mas distraem-nas do debate sobre o seu futuro.
Assim como no seu logotipo, que remonta ao Governo de Pedro Passos Coelho, este governo repete a sua orgânica e projeto para o País. No mesmo governo em que surge um ministério que une a Juventude à Modernização, volta 13 anos atrás e retira ao Ensino Superior um ministério seu, nem sequer lhe atribuindo uma secretaria de Estado. A criação deste “Mega-Ministério” da Educação será o descalabro na Educação e na Ciência. Ao juntar todas estas áreas num único Ministério, a Ciência passou a uma mera Secretaria de Estado e relega o Ensino Superior à inexistência de uma Secretaria de Estado dedicada aos seus problemas e aos seus estudantes. A ação social precária, a falta de habitação e residências universitárias continuam a condenar os jovens a uma extrema desigualdade não só no acesso, mas também na permanência no ensino superior, fazendo com que a situação económica de cada um e cada uma continue a condenar a prossecução dos seus estudos. A falta de um ministério do Ensino Superior condena, à partida, a vontade deste governo de colocar o País na dianteira da inovação científica e de valorização desta área tão importante para a sociedade portuguesa. Se o Governo do PS de pouco ajudou, o PSD propõe aprofundar o buraco. De muito servirá, claro, o inovador Ministério da Juventude e da Modernização quando os jovens não tiverem condições para aceder e permanecer no ensino superior, de trabalhar sem a precariedade no seu quotidiano ou sem acesso à habitação condigna.
Perante tudo isto, a equipa do Ministério é a mais forte, respeitada na área e mais bem preparada, certo? Seria bom, mas não é o caso. O novo ministro, Fernando Alexandre, não é uma figura simpática para estas áreas – muito pelo contrário. Um economista, diretor não executivo do think-tank neoliberal “+Liberdade”, defensor dos colégios privados e apologista do corte do 14º mês para pensionistas e funcionários públicos, incluindo professores. Mas, o novo ministro quer mudar o paradigma da educação em Portugal! Como fizeram com o logotipo, é mudá-lo para o anterior, o de Pedro Passos Coelho. Mais avaliações, mais ranking e competição, menos professores com menos condições e menos salário.
Junta-se a ele o n.º 2 do Ministério, Alexandre Homem Cristo, o novo Secretário de Estado Adjunto. Também ele colaborador do Think-Tank neoliberal, Alexandre quer dar o poder às escolas para contratarem quem quiserem, sejam ou não professores, quer mais privados e menos público, defende ainda que temos “maus professores”. Uma equipa mais à direita seria impossível. Neste “Mega-Ministério”, com esta equipa, só se pode esperar a degradação do serviço público e uma batalha eterna entre Ministério e Professores. Se a educação pública já estava no fim do despenhadeiro, o PSD decidiu ir prego a fundo.
Mas esqueçamos a ideia da existência de um futuro inevitável. O PSD pode propor arrastar-nos para o passado, mas os jovens não o deixarão passar. O futuro depende de nós, jovens. Se no passado fomos capazes de travar as mais importantes lutas e com elas impulsionar mudanças no nosso país, não será certamente agora que o deixaremos de fazer. Mais do que nunca, é fundamental reivindicar uma Escola Pública em condições, maior investimento na Ciência e lutar por um Ensino Superior de qualidade, gratuito e universal. O futuro é nosso.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.