Se dúvidas ainda houver, as muitas lutas que percorreram o mês de março são prova clara que a juventude não desiste de lutar pelo cumprimento dos seus direitos que a Constituição da República Portuguesa consagra, em defesa do projeto e dos valores de Abril.
Somos levados a pensar que os que nos tentam convencer, todos os dias, que a juventude não quer saber de política, que não está interessada, que não luta, também não têm dúvidas. Porque, todos os dias, os jovens teimam a contrariar a narrativa promovida, por esses mesmos que não querem que a juventude reivindique o que é seu por direito, saindo à rua pelas soluções aos problemas que sente.
Os jovens trabalhadores que não aceitam empobrecer a trabalhar afirmam que a precariedade é para acabar, desenvolvendo corajosos processos de luta que começam nos locais de trabalho, empresas e setores e se estendem para as extraordinárias mobilizações de convergência. Reivindicando estabilidade e não flexibilidade, ou melhor, incerteza, gritando que há mês a mais para o salário e por isso este tem de aumentar, afirmando que queremos tempo para viver, para fazer o que nos apetecer, para descansar e sair, para a cultura e o desporto. Assim fizeram dia 18 de março na poderosa Manifestação Nacional da CGTP-IN e no dia 28 de março, Dia Nacional da Juventude, nas manifestações da Juventude Trabalhadora em Lisboa e no Porto.
Milhares de estudantes saíram a rua, assinalaram o Dia Nacional do Estudante em luta em Instituições do Ensino Superior, de norte a sul do País, para derrubar as barreiras socio-económicas que persistem no acesso e frequência a este grau de ensino, e em outras tantas escolas básicas e secundárias, exigindo condições
dignas para estudar e aprender.
Iam animados com as vitórias alcançadas pela luta de que é exemplo a realização de obras na ES Alexandre Herculano, a derrota do calendário semestral que limitava períodos de avaliação nas Escolas Secundárias de Oeiras, ou a mitigação do regime punitivo de faltas na Escola Profissional Profitecla, no Porto.
Nas muitas ações em defesa de uma vida com justiça social, contra o aumento do custo de vida, pela concretização do direito à habitação, lá estiveram, nas primeiras filas, a organizar, a mobilizar a animar, muitos, muitos jovens, numa onda que cresce a cada dia que passa.
É nestas lutas que encontramos o caminho para concretizar as soluções para os problemas que atingem hoje os jovens e o nosso povo, mas também apontam uma política alternativa capaz de construir um futuro melhor.
Luta que passa, no imediato, pela defesa da Constituição, que, mau grado os que a querem destruir é filha da revolução de Abril, que consagra amplos direitos e um projecto de desenvolvimento e progresso que, se fosse cumprido, garantiria uma vida bem melhor à imensa maioria da população.
Nem os problemas nacionais nem as dificuldades com que o nosso povo se depara são resultado de Abril ou da Constituição como nos tentam enganar aqueles que a identificam como um entrave aos seus projetos retrógrados e conservadores. São resultado, sim, da política de direita desenvolvida por sucessivos governos PS, PSD e CDS que desrespeitaram o nosso texto constitucional e até o mutilaram em sucessivos processos de revisão, procurando limitar o seu conteúdo.
Apesar disso, continua a estar inscrito na Constituição o direito ao trabalho com direitos, o direito à educação, à habitação e até a protecção especial da juventude para efectivação destes direitos.
E é por isso que, 47 anos depois, esta Constituição é da imensa maioria da população, dos trabalhadores e dos jovens. É por isso que a juventude continua a querer cumprir Abril e é por isso que vale a pena continuar a lutar para que se cumpra a Constituição.
Lá estaremos, já no mês de abril com as comemorações populares do 25 de Abril, profundamente enraizadas no nosso povo, que irão desaguar na grandiosa jornada de luta que é o 1º de Maio, Dia do Trabalhador.
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