São muitos os jovens que, com o seu contributo criativo e expressivo na luta em defesa do ambiente, como na manifestação do passado dia 12 de novembro, em Lisboa, sabem que o capitalismo não é verde.
Por mais que o capital tente branquear a incompatibilidade do modo de produção capitalista com a promoção do equilíbrio ambiental, um sistema que sacrifica os recursos, explora os povos do mundo e artificialmente cria novas necessidades e áreas de negócio, tudo para engrossar os lucros de uma ínfima minoria, não é, nem nunca será verde.
Os problemas ambientais são reais e graves, contudo não basta identificar essa realidade, sendo preciso denunciar as falsas soluções que apenas pretendem revitalizar taxas de lucro e a acumulação de capital perante o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo.
Os centros de decisão do capital tudo fazem para esconder as suas responsabilidades na degradação ambiental, estratégia em que se insere mais uma Cimeira das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, a COP 27, no Egipto.
Desenvolvem esquemas de financiamento, como os fixados nas COP, que endividam os países em desenvolvimento e entregam aos grandes grupos económicos volumosas subvenções, investem na responsabilização individual, taxam comportamentos individuais e elaboram novas/velhas formas de se apropriarem de recursos naturais.
Tudo fazem para difundir a mensagem de que os países e os povos têm todos igual responsabilidade, como se os cem maiores grupos económicos não fossem responsáveis por 71% das emissões industriais de gases com efeito de estufa, como se, per capita, os EUA não emitissem duas vezes mais GEE do que a China e oito vezes mais do que a Índia.
Não se trata de um conflito entre um norte e um sul global, nem um conflito geracional, narrativas que, colocando no mesmo saco vítimas e culpados, exploradores e explorados, apenas servem para desresponsabilizar quem lucra com os ataques ao ambiente, o grande capital.
Os problemas ambientais não se resolvem aumentando o consumo de produtos ditos verdes ou reduzindo o de determinados produtos, independentemente do sistema de produção utilizado.
O capitalismo, mais ou menos “fóssil”, é capitalismo, para o qual a sustentabilidade ou a defesa dos interesses colectivos da humanidade serão sempre desconhecidos e por isso as carências extremas de tantos contrastam com toneladas de bens desperdiçados todos os dias.
Produtos verdes, consumo verde ou tecnologias verdes, são falsas soluções. A mais verde das tecnologias e até as indústrias de reciclagem e de gestão de resíduos, numa lógica da obtenção de lucro, em vez de contribuirem para a sustentabilidade ecológica, servem para criar novos veículos de acumulação de valor, através de novos gastos de energia e de materiais, transformando-se assim numa parte constitutiva do problema.
Taxas verdes, taxas de carbono, Fiscalidade Verde, avança a financeirização do ambiente, enquanto os trabalhadores os povos são penalizados, acentuando a contradição entre o tempo da natureza e o tempo do capital e não contribuindo para aliviar ou resolver problemas ambientais.
É necessária uma política diferente, e no caso de Portugal é preciso uma viragem na política ambiental.
Uma política que defenda a produção nacional e local, a única forma de reduzir os ciclos de consumo e eliminar poluição desnecessária resultante de transportes e embalagens.
Que combata a obsolescência programada, a introdução por parte das empresas de características que provocam deliberadamente uma validade mais curta dos aparelhos do que a tecnologia e os materiais permitiriam.
Que rejeite o militarismo, a guerra e a indústria do armamento, responsáveis não só pelas mais brutais atrocidades contra a juventude e os povos do mundo como pela devastação de ecossistemas e a destruição de recursos e património (só o exército dos EUA emite mais GEE do que 140 países).
Que denuncie que pagar para poluir não é solução, pelo contrário, beneficia os grandes grupos económicos que podem continuar a poluir e até especular com as licenças de emissão.
Uma das medidas com maior impacto ambiental dos últimos anos foi conquista do passe social a preço reduzido, conseguida por proposta do PCP, reduzindo as emissões do transporte individual. É urgente ir mais longe com mais oferta, horários e qualidade no transporte público, e visar mesmo a sua gratuidade como forma de defender o ambiente e garantir o direito de todos à mobilidade.
Alternativa política que ganha mais força com a luta organizada, com destaque para a luta da juventude, que tem tomado a dianteira deste combate.
Uma luta que não pode ser feita com base no medo e discursos catastrofistas, imobilizadores e irracionais, mas sim na confiança que é possível um mundo melhor, de harmonia entre o ser humano e a natureza.
Luta em torno de problemas concretos do nosso povo. Não é preciso mudar de hemisfério para encontrar agressões ao ambiente. A poluição dos rios Sorraia e Almonda, no distrito de Santarém, o abandono do Pinhal de Leiria depois dos trágicos incêndios de 2017 ou o domínio da agricultura intensiva no Alentejo são exemplos de problemas que não são alheios populações. É em defesa dos seus interesses e com a sua força organizada que será possível encetar as transformações que são necessárias.
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