“Fãs da calça bege e do blazer azul-escuro, temos más novidades para vós! O dress code do 27º Congresso da JSD dita que está proibida esta vestimenta. Venham confortáveis e prontos para estar na linha da frente!”. No passado dia 7 de abril, um dia antes de começar o último Congresso da JSD, fizemos questão de anunciar o dress code do evento. Ou melhor, o não-dress code da nossa reunião magna.
É claro que, nas horas seguintes, muitos detratores do mundo, em geral, ou da JSD, em particular, fizeram deste anúncio um dos tópicos quentes do dia. Descontando os que se acham os paladinos da seriedade e que decerto serão verdadeiras enciclopédias vivas de fazer política, não dispondo certamente mais ninguém dessa clarividência, houve também bons comentários, pontuados com bom humor e sarcasmo q.b., e que demonstram capacidade de entender uma brincadeira.
No mesmo dia, os media quiseram tirar a limpo esta história, não fosse a JSD ter ensandecido e obrigar compulsivamente os seus congressistas a usar algum tipo de fardamento. O João Pedro Louro, Secretário-Geral da JSD, esclareceu que o anúncio feito nas redes sociais era uma “brincadeira autorreflexiva”. Sossegados assim os jornalistas e os críticos, o Congresso lá se organizou com a vestimenta que cada um dos participantes bem entendeu.
Neste Congresso, realizado em Almada, a JSD apostou num modelo diferente de organização da sala (acabaram as mesas que, conforme havíamos previsto, não faziam grande falta, mas que existiam Congresso após Congresso como que por direito histórico inerente), avançámos com a credenciação digital, organizámos espaços de food court, tivemos bares dentro da sala, lançámos a “Loja J” com merchandising da JSD, e no final de cada dia de trabalhos, contámos com a presença de artistas musicais.
E o dress code? A sugestão de moda – repito-o, em tom de brincadeira – que lançámos aos congressistas está relacionada com esta tentativa de organização de um Congresso diferente, que por sua vez, está relacionado com a visão crítica que fazemos do atual momento da nossa família social democrata, em suma, do estado do PSD e da incapacidade de congregar a confiança dos portugueses para vencer uma eleição nacional. Será o problema do PSD uma questão de dress code? Seria estranho colocar as coisas deste modo. Não será uma mera questão de dress code, mas será, seguramente, um problema de mensagem e de deficiente comunicação, de falta de organização e profissionalização, de pouca capacidade de recrutamento, de ação política desfocada no dia-a-dia, de alheamento perante as pessoas reais.
Como disse João Miguel Tavares no Público, “não admira que a JSD sinta que é altura de trocar a calça bege por roupa da “linha da frente”. A desconexão com os portugueses já é óbvia demais.”
Na Moção de Estratégia Global que levei ao Congresso da JSD, apelei a uma reforma interna do partido: hoje o PSD funciona de forma praticamente idêntica àquela que foi gizada aquando da sua fundação; a participação política é extremamente limitada para a generalidade dos militantes de base; a inscrição no PSD exige formalidades e burocracias que não se coadunam com um mundo e uma geração que funcionam à velocidade de um clique; o PSD deve apostar em reinventar a forma como comunica com os portugueses. A comunicação política desenvolveu-se a uma velocidade vertiginosa, mas, uma vez mais, o nosso partido não teve capacidade para a acompanhar; urge repensar a atual forma como o PSD elege os seus órgãos nacionais, bem como, o papel dos Congressos dos PSD.
Estas são algumas das passagens da referida moção e que apresentam a necessidade de uma reforma urgente. Não acredito, nem nunca acreditei nos últimos anos, que exista qualquer cisma ideológico, ou sequer um problema de programa ou de identidade no PSD. As tentativas de purificação ideológica do PSD sempre mereceram a minha crítica. Acredito, sim, que o PSD precisa de se reformar e modernizar. A alternativa de centro-direita moderada e reformista, que acredito que o PSD deve protagonizar, exige um partido mais popular, aberto e moderno, menos cinzento, soturno e passadista.
Olhando para alguns partidos congéneres da nossa família política, o Partido Popular Europeu, vemos os sinais de um mundo em mudança e de como o centro-direita moderado está a ser ultrapassado, incapaz de cativar as pessoas. Dois partidos que já governaram os seus países estão reduzidos à sua expressão mínima. Os Republicanos franceses tiveram 4.8% nas presidenciais de 10 de abril. O Forza Italia vale cerca de 8% das intenções de voto. O centro-direita europeu está a falhar ao eleitorado por falta de mensagem, propósito, protagonistas e incapacidade de comunicar e de se renovar. Ou muda de vida, ou as pessoas procurarão cada vez mais – e de forma irreversível – outras paragens.
Acredito que há pessoas e pensamento nas nossas fileiras para fazer as mudanças necessárias para dar futuro ao PSD. Seja com que dress code for, o que não podemos é continuar a assobiar para o lado.
Temos mesmo de mudar.
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