O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa quer desaparecer na reforma, quando, em março de 2025, abandonar Belém. Sendo como é, ninguém acredita que desvanecerá na bruma. No mínimo, o Presidente terá de, e deverá, escrever as suas memórias da Presidência ou as impressões que mais marcaram os dez anos no cargo.
Pode não desejar, como nunca desejou, mas ele, ou alguém por ele, terá de deixar essa memória para o futuro. Marcelo, repito, foi o Presidente que melhor aproximou Belém dos portugueses, diariamente, e que puxou pelos Governos, em crise ou fora dela, nunca esquecendo o distanciamento institucional entre cargos e poderes.
Acarinhou Costa na “geringonça”, assumiu os falhanços do Estado em tragédias impensáveis, ajudou e protegeu os portugueses na pandemia e deu ao ex-primeiro-ministro, por mérito próprio, a oportunidade de alcançar uma maioria absoluta, que, infelizmente, acabou mal.
Faz agora o mesmo com Luís Montenegro: colocou toda a pressão na aprovação do Orçamento de Estado, algo que terá de voltar a fazer no outono de 2025. É um adepto consumado da estabilidade política e institucional. É assim: genuinamente aberto, franco e sempre disponível para ouvir e falar. Não haverá outro Presidente como Marcelo Rebelo de Sousa. Aguardemos pela autobiografia, memórias, impressões e estados de espírito, quando chegar a altura.
(Cautela, contudo: o que sempre aprendi com as autobiografias é que tudo aquilo que nós, jornalistas, comentadores e outros, pensávamos ter acontecido numa determinada altura não batia, de todo, com a realidade vivida pelo protagonista. E, muitas vezes, nem sequer era um episódio real!)
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