Sendo Putin um ditador sem ideologia, que não seja o nacionalismo radical, exacerbado por uma tentação imperialista (mais Mussolini do que Estaline ou Hitler), consegue atrair os polos na Europa democrática: tanto tem a seu favor Viktor Orban da Hungria, de extrema-direita, como Robert Fico, da Eslováquia, de extrema-esquerda. Há mais eleições – a seguir na Polónia – e algumas das referências básicas contra a invasão russa da Ucrânia poderão começar a esbater-se na União Europeia e na NATO.
Há uma fragmentação política na Eslováquia, que foi o primeiro país a enviar ajuda militar a Kiev, no início da guerra, e Robert Fico, com pouco mais de 20% dos votos, não pode esquecer-se do tratamento que os russos soviéticos aplicaram à então Checoslováquia, depois da Segunda Guerra Mundial. Apoiar Putin é recuar 70 anos. Se a Ucrânia perder, chegará a vez de mais uma guerra mundial.
Mais arrepiante do que a vitória de Fico na Eslováquia, um pequeno país com metade da dimensão e da população de Portugal, é a profunda divisão entre os republicanos no Congresso americano, que à falta de consenso conseguiu adiar por 45 dias a paralisação da administração federal, mas sem nenhuma provisão para a continuação da ajuda militar à Ucrânia. É uma eternidade, naquela guerra.
A direita extremada republicana e trumpista quer destituir o atual speaker da Câmara dos Representantes, e os próprios democratas estão cada vez mais inquietos com a ideia de Biden se recandidatar à Casa Branca. A gerontocracia americana inquieta todos, e como se não bastasse os eleitores europeus estão a alinhar cada vez mais com radicalismos perigosos e bloqueadores. A NATO, e a União Europeia, vão ter de repensar, a sério, no seu modelo de votação por unanimidade para as decisões vitais e estratégicas, como a adesão de novos membros. Um país, dois ou três, não podem bloquear alianças políticas e militares voluntárias, apoiadas por dezenas de outros Estados.
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.