Hitler apostou tudo em reduzir a cinzas Estalinegrado, até pelo nome, mas nunca a conseguiu ocupar integralmente, com o VI Exército de Paulus, que acabou por se render. Foi nessa cidade, e nessa batalha urbana, que começou o fim do regime nazi, e da invasão brutal da União Soviética. A batalha de Mariupol, cercada por todos os lados, também feita em cinzas, entrou na pior fase para um exército convencional, que tem de lutar casa a casa, rua a rua, bairro a bairro, o que é o maior de todos os pesadelos militares. E a sua destruição total, por absurdo que pareça, só está a ajudar a resistência dos militares e civis daquela cidade mártir.
Mariupol até poderá ser totalmente ocupada – o mundo inteiro deseja que isso não aconteça – se é que existe alguma coisa para ocupar, mas nunca estará nas mãos dos russos, tal como nunca aconteceu com Estalinegrado. E os que entrarem também serão cercados, dizimados e cortados dos seus apoios logísticos. Mariupol é o símbolo da vontade inabalável dos ucranianos, de não vergar ao poderio russo, nem abandonar território soberano e livre.
Esta batalha, que ficará na História, e que tem milhares de heróis anónimos, mas duros e imbatíveis, coincide com a aparente viragem da guerra na Ucrânia. Dados e fontes independentes, que acompanham a situação em tempo real, começam a verificar contra-ataques das forças militares ucranianas, tanto em Kiev, como no Leste e Sul. O exército russo está parado, descoordenado, mal apoiado, e em posições defensivas, o que é o oposto do que deveria fazer.
Se aos militares ucranianos chegaram, finalmente, os sistemas antimísseis de maior alcance e eficácia, tal como está a ser ponderado pelo Pentágono, com o apoio e pedido de parceiros da NATO, então Putin perderá tudo: a guerra, o improvável acordo, os territórios ocupados, e o apoio dos aliados mais próximos, como a Bielorrússia. Zelensky, e o seu comando militar, já acreditam numa vitória em poucas semanas. Pode parecer exagerado, otimista, irreal, mas o estado e o espírito do exército russo é visivelmente o de um fracassado. Daqui a dois dias fará um mês desde o início da invasão russa, e da fanfarronice de Putin, e a única estratégia que resta, agora, é procurar uma porta de saída de emergência. Hitler acabou em Estalinegrado, e Putin está a assistir ao fim do seu sonho imperial em Mariupol, mas também da sua presidência autocrática e brutal na Rússia. Poderá levar tempo, mas acabará.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.