Não sei o que é pior: se a forma ardilosa como é suposto Berardo ter blindado o seu património, se a enxovalhante matreirice que usou para responder na Comissão de Inquérito Parlamentar, de que se arrependeu profundamente. Pediu desculpas, mas a ofensa aos seus concidadãos, 10 milhões, estava consumada. Nunca mais o largaram, como é óbvio, e agora caberá ao juiz Carlos Alexandre decidir da sua sorte imediata. Mas isso é com a Justiça.
Berardo, de certa forma, pelo que se conhece, foi ele próprio, sem disfarces, no Parlamento, e nas inúmeras tiradas avulsas que foi proclamando ao longo dos anos. Sempre deixou transparecer a imagem de finório, cheio de manhas, e astuto. Construiu o seu mundo à conta disso. Não é caso único, nem será recordista nessas categorias. Mas todos nós, como Estado e Nação, também deixamos muito a desejar.
O que mais impressiona, e incomoda, agora, com a sua detenção, são as imagens de arquivo passadas pelas televisões, em todo o tipo de ocasiões, como dono e senhor de uma grande coleção de arte moderna, como acionista ativo de bancos, como proprietário de grandes herdades, e tudo o mais em que foi alicerçando o seu poder e fama. Ele era o objeto de uma enjoativa bajulação, de muito respeitinho, e de inúmeras vénias e comendas. Diga-se, já agora, que depois do Parlamento o título comendador nunca mais foi pronunciado. Senhor Comendador para isto, Senhor Comendador para aquilo, e agora foi-se, ou vai-se, a comenda. Se fosse na antiga URSS, ou na atual Rússia, essas imagens já teriam desaparecido.
Aconteceu o mesmo, aliás, com Isabel dos Santos. Pompa e circunstância, grandes elogios, inúmeras solicitações para investir em Portugal, portas abertas para o que quisesse, e também lá estão, nessas imagens de arquivo, os bajuladores da época. Que iam de cima a baixo na nossa hierarquia política e empresarial. Agora desapareceram todos. Tal como a Berardo.
Venha o que vier, mas numa personalidade como a de Berardo nada ficará por dizer, por apontar, por culpar e por destruir. Berardo não vai ficar quieto e calado. Não condiz com ele. Será sempre espalhafatoso e bombástico na sua queda, e nunca irá sozinho. Tem 76 anos, e gosta de estrondo.