1 – Não sei o que valem as sondagens, como se viu agora na Grécia. Mas creio real a tendência por elas assinalada nos últimos meses de subida das intenções de voto na coligação PàF e de estagnação do PS. O que a meu ver resulta de: a) a eficácia da propaganda da PàF, com base numa estratégia e num timing que representam o contrário do que Pedro Passos Coelho (PPC) disse ao proclamar: “que se lixem as eleições”; b) a ineficácia do PS na desmontagem dessa propaganda, mostrando as inverdades e falácias dos seus pressupostos, a partir daí apresentando as suas propostas, com estudos sérios a fundamentá-las – como fez -, mas sem esquecer a sua dimensão política e circunstância eleitoral.
2 – A tendência referida, foi invertida com o debate televisivo entre PPC e António Costa (AC), que este venceu de forma clara, ao encontrar a indispensável complementaridade entre a denúncia do passado recente e as propostas para o futuro próximo. Esse debate deu força às hostes socialistas e tirou-a às da coligação. E a expectativa, ou previsão, era que o segundo debate confirmasse tal vitória e inversão de tendência.
Não foi, porém, o que aconteceu, por razões que me escapam. Além do mais, AC dispõe de uma série de factos e argumentos (relacionados até com o que PPC garantiu faria se eleito, tendo feito o contrário) que bem usados permitiriam ganhar qualquer debate. E não os usou. Assim, cessou aquela inversão de tendência e persiste o empate técnico entre PàF e PS, até com ligeira vantagem para a coligação. Ou seja, continua tudo dependente dos indecisos, cuja decisão depende não se sabe de quê, e da amplitude do “voto útil” de esquerda que possa confluir para o PS.
3 – Neste domínio há que distinguir os círculos em que a esquerda (não PS) tem e aqueles em que não tem possibilidade de eleger deputados. De facto, só tem nos quatro ou cinco maiores – mais, o PCP, no Alentejo e talvez em algum círculo intermédio. Ora, nessa maioria de círculos em que não tem, poderão potenciais votantes de forças de esquerda, que não pensam que PàF e PS são “iguais”, votar no PS e mudar neles a distribuição de mandatos? Disto pode depender o vencedor das eleições.
4 – Em matéria de campanha, três sublinhados:
a) A grande revelação dos debates foi Catarina Martins (CM): pela preparação, argumentação, vivacidade, frescura, simpatia. De par com Mariana Mortágua ela deu uma nova alma e um novo ímpeto a um Bloco de Esquerda que muitos diziam “moribundo”, e que desta forma pode, ou pelo menos merece, manter, se não aumentar, a sua representação no Parlamento;
b) O PCP, com a CDU, continua igual a si mesmo. Como o próprio Jerónimo de Sousa, que, porém, tem (a)parecido cansado e sem chama. “Gente séria”, como dizem os seus cartazes, e com uma óbvia preocupação de lançar gente nova – o que é pena não se refletir mais ao nível do discurso e da prática. Tinha-se como certo que a CDU iria crescer, o que julgo acontecerá – mas não graças à campanha;
c) Afastados dos debates e das entrevistas nas televisões, com reduzida cobertura das suas campanhas, não se consegue avaliar o que se passa com outras forças políticas, em particular as novas. Algumas inexistem, outras quase, mas outras ainda deviam aparecer muito mais, pondo em evidência a necessidade de garantir que isso aconteça. Estão nestes casos sobretudo o Livre/Tempo de Avançar [com hipótese de eleger deputado(s) em Lisboa, Porto ou Setúbal?], o PDR, de Marinho Pinto, que suponho ficará longe das expectativas iniciais, e o Nós Cidadãos, de Mendo Henriques; sem esquecer o PAN.
5 – Um tema estranhamente ausente da campanha é o da renegociação da dívida. Percebo que o PS o omita, com medo das simplificações mentirosas, demagógicas, que contra ele seriam utilizadas. A verdade, porém, é que por todos os motivos se impõe tentar renegociá-la, nos termos do importante documento subscrito por 70 destacadas personalidades de vários setores da vida nacional. Não há nada de errado e muito menos perigoso em fazê-lo, pelo contrário. O que seria errado e perigoso era dar a renegociação como conseguida, quando ela depende de um acordo com os credores, e nisso assentar qualquer programa ou projeto.