Sou e morrerei socialista.
Chamem-me ingénua, tonta ou o que quiserem, mas continuo e espero continuar a acreditar na igualdade entre homens e mulheres, entre povos, na necessidade do Estado acudir aos mais necessitados, num sistema de saúde gratuito e universal, no acesso à escola pública, a idênticas oportunidades seja qual for o tom de pele, religião, opção sexual ou outra qualquer.
Acredito firmemente no título genérico desta coluna “Igualmente Desiguais”, pois que, por não sermos números nem coisas, cada ser humano é diferente do outro sem deixar de ser igual nos seus direitos e deveres.
Feita esta declaração de princípio impõe-se outra confissão: estou desiludida e preocupada com o rumo e sobretudo com o jogo de tempos políticos que se desenham no horizonte e que extravasam o Partido Socialista ou o Governo.
Este Governo, como aliás todos os que passaram estes últimos anos horribilis, tiveram de enfrentar uma pandemia e, logo de seguida, uma guerra. No nosso caso ainda tivemos que varrer os efeitos da troika! Escrito assim parece coisa pouca e redundante, porque muitos já o disseram e escreveram. Mas temos consciência clara do que isso significa ou significou? Sentimos os efeitos de todas estas crises sucessivas em plena pele, é certo, mas não tivemos de tomar decisões que impactassem milhares de pessoas. A responsabilidade de cada um de nós limitou-se a si mesmo ou ao seu círculo familiar. E foi difícil. Imagine-se agora o que não terá sido para o Governo.
É que Governo não é uma entidade vaga, um ser vindo do espaço ou um algoritmo. Um Governo são pessoas como nós, com problemas em casa, defrontando doenças, crises familiares, discutindo sobre quem deixou o quê fora do sítio… todas aquelas minudências que fazem o quotidiano de qualquer um.
Por isso, mesmo num Governo, devem estar pessoas que tenham mundividência, que tenham dado provas externas à política, que sejam capazes de lidar, não apenas com estas pequeníssimas e insignificantes situações, mas com outras, as que advêm do mundo do trabalho, do mundo profissional.
Só devia ir para a política quem tivesse, por um lado, respaldo profissional que lhe permitisse a liberdade de dizer “não” e assim limitar os casos de corrupção, ou seja quem tivesse um trabalho, uma profissão fora dos corredores do poder. E, se isto é válido para os deputados à Assembleia da República, é ainda mais para quem nos governa
Já o escrevi, volto a fazê-lo agora com preocupação acrescida, até porque se avizinham no horizonte tempestades perfeitas.
Só devia ir para a política quem tivesse, por um lado, respaldo profissional que lhe permitisse a liberdade de dizer “não” e assim limitar os casos de corrupção, ou seja quem tivesse um trabalho, uma profissão fora dos corredores do poder. E, se isto é válido para os deputados à Assembleia da República, é ainda mais para quem nos governa.
Nada contra gente e sangue novo, pelo contrário! Mas não posso deixar de me indignar e preocupar com o facto de grande parte dos nossos políticos (e atenção, que a coisa não se resume ao PS!) virem diretamente das juventudes partidárias! Como se fosse uma universidade onde nem sequer se faz tese profissional.
Sim, em França, existe o Institut d’Études Politiques de Paris (Sciences Po) que forma a maior parte dos políticos. Mas as diferenças são grandes. Para já, é apartidário e depois não conheço nenhum político que tenha saído do Instituto direitinho para um cargo de governo. Nem Macron, o mais jovem Presidente da República, tendo passado pelo mundo das empresas antes de governar o país.
O meu Governo deslaça-se e não posso deixar de me sentir angustiada.
Estou já a ouvir as vozes que perguntam: “Mas afinal o que fez o PS por ti?” Essa é a pergunta errada e esse é o problema que nos assola. A resposta é: “Nada, pelo contrário”, mas essa é outra história.
A pergunta que cada um dos dirigentes que têm, neste momento, em mãos os destinos de Portugal deve fazer é: o que fiz eu pelo meu País? E aí receio que o vácuo seja demasiado grande para os tempos que se adivinham. Pior de nada terem feito, é terem horror, pânico a que alguém faça e demonstre a sua inutilidade.
Mas a tal tempestade perfeita espreita e a grande vantagem que tivemos em ter um governo sólido unido e reforçado com uma maioria absoluta, dada em sufrágio livre pelo povo e que nos permitiu fazer face a estas calamidades que assolaram o Mundo, vai aos poucos diluindo-se.
2023 é um ano sem eleições, dizem. Mas é um ano que precede eleições europeias.
2023 é um ano sem eleições, afirmam. Mas o tecido governativo deslaça-se e o tempo conta a favor da direita que cresce, se unifica, se torna mais robusta, que aprende.
2023 é um ano sem eleições, mas o sr. Presidente da República, cujos timings são milimétricos, ameaça com a bomba atómica no hemiciclo.
2023 é um tempo de reflexão da esquerda no geral e do Partido Socialista muito em particular, para definirmos se queremos ter um País ou um jardim escola.
Volto a dizer: nada tenho contra a juventude até porque é uma fase que passa por todos. O que me preocupa é que tipo de idade de sensatez, de experiência terão.
Enquanto os CVs dos nossos políticos se resumirem aos percursos feitos neste ou naquele partido, Portugal está condenado a não se cumprir.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.