As imagens sucedem-se e, embora separadas pela distância e pela situação que as origina, acabam por refletir uma mesma realidade: a dor de inocentes!
Gaza, mais que um território palestiniano, é um enorme campo de refugiados com gente expulsa das suas áreas de residência e amontoadas ali, entre um Estado que os massacra e o mar que lhes impede a fuga.
Fausto canta que “por mais que seja santa, a guerra é a guerra!” e é a mais crua e simples das verdades. Os que sucumbem aos ataques, quer dum, quer de outro lado, sangram da mesma forma, são filhos, pais, amantes, riram e choraram, tiveram dias de sonho e de angústia, partilham o mesmo destino humano.
Que rezem a Deus, Alá, Jeová, dentro duma mesquita, na catedral ou na sinagoga, são pessoas e as crianças, todas elas, representam a esperança e a renovação. Menos quando as suas vidas são abruptamente ceifadas!
Há muitos anos visitei Israel. Um país fantástico, duma organização imaculada, dinâmico, vibrante! Um país onde podia ser plantado um novo Éden, mas que escolheu viver em eterno conflito baseado em velhas questões, rivalidades, numa clara e declarada luta pela aniquilação do vizinho.
Há que olhar a História e sobretudo a realidade que nos rodeia, para entendermos que o terrorismo mais não é que o resultado do ódio instalado e, muitas vezes, de nada ter mais a perder face a um inimigo poderoso. Sim, não justifica, mas talvez possa levar a encarar o problema de outra forma menos beligerante
A anexação de territórios mais férteis e fáceis, deixando para os palestinianos o árido deserto de pedras, é visível. Mas, pior ainda, o acesso a emprego, infra estruturas, a habitação condigna, é quase um monopólio do Estado de Israel.
O argumento de que é uma questão de organização e de afetação de recursos às necessidades dos cidadãos, que já vi enunciado, é, no mínimo, falacioso e reflete um desconhecimento do que realmente se passa no terreno. A luta poder-se-ia comparar a de David face a Golias e creio que ninguém terá dúvidas quem de momento encarna uma e outra personagem.
Se há razões de parte a parte e culpas dum e do outro lado da contenda, não podemos deixar de convir que se trata duma guerra entre um exército organizado, equipado e hierarquizado, contra uma guerrilha que alguns apelidam de terrorista. Talvez o sejam, mas… há que olhar a História e sobretudo a realidade que nos rodeia, para entendermos que o terrorismo mais não é que o resultado do ódio instalado e, muitas vezes, de nada ter mais a perder face a um inimigo poderoso. Sim, não justifica, mas talvez possa levar a encarar o problema de outra forma menos beligerante.
Até porque o terrorista de hoje pode vir a ser o herói de amanhã. Depende do curso da História. Não esqueçamos que os movimentos pela independência das colónias em África, eram designados de terroristas (os turras, como lhes chamávamos aqui, no Portugal da Metrópole).
Quem tudo perde, a família, a casa, a dignidade, a possibilidade de ganhar o pão, que mais tem a perder? Nada!
E as crianças, que dizer das crianças?
Já nem falo das que sucumbem num conflito que não entendem, que não lhes diz respeito e onde não intervêm. Falo das que sobrevivem, das que ficam para contar, das que vão guardar na memória os cheiros da destruição, das carnes martirizadas, das visões de horror, do fogo vindo do céu, das pedras desabando… que futuro lhes resta, que sonhos, que esperança?
Espanta-nos que se transformem em homens e mulheres bomba?
Não há maior gatilho que a fome e o desespero!
Por eles lançam-se à água, enfrentando primeiro as vagas, depois, a polícia, os muros de arame farpado, a incerteza, o desconhecido.
Arriscam a vida dos filhos atirando-os por sobre os muros, metendo-os em barcaças, abraçando-os pela última vez, numa réstia de esperança de vida.
E rezam a Alá a Deus ou a Jeová para que encontrem do outro lado dois braços que os estreitem e que os ajude a esquecer. Braços que os transformem em Homens e Mulheres diferentes dos monstros de que fogem.
É esse abraço que a Europa não pode negar, seja acolhendo seja denunciando, parlamentando, exercendo uma política externa de influência baseada nos três pilares que a construíram: Liberdade , Igualdade e Fraternidade.
Caso assim não seja, para que serve uma Europa Unida?