A intolerância não tem cor e o racismo não é apenas uma coisa de branco contra negro. Acaba sempre por ser sempre o exercício de força sobre os mais fracos ou sobre minorias.
A História não se pode negar, muito menos apagar. É o presente que tem que ser alterado para construirmos um futuro mais livre, mais igualitário, mais solidário.
Destruir estátuas como forma de protesto é apenas vandalismo e acaba por ter um efeito boomerang sobre uma luta e um protesto legítimo, que desta forma perde força.
Foi intolerência o que aconteceu nos tempos da Inquisição como é intolerância o que acontece por esse mundo fora relativamente a outras religiões, a outras etnias, a outras formas de viver . Não nos esqueçamos das lutas e dos genocídios entre tribos africanas, a guerra entre hutus e tutsis no Ruanda. Também aqui se tratou de racismo.
De que vale destruirmos símbolos do passado se não combatermos os símbolos do presente?
Sendo politicamente incorreta e não justificando minimamente a atuação do agente que acabou por assassinar Floyd, tenho que alertar para o facto de o agente ter agido dentro do que está estabelecido como forma de imobilização, em situações de resistência à autoridade ou que ponham em causa a segurança pública. O que está profundamente errado é o procedimento instituído, o uso indiscriminado do mesmo e o facto de, por norma, se aplicar a uma minoria, neste caso negra, mas também hispânica, como já aconteceu
Fez-me impressão sobretudo a vandalização da estátua do Padre António Vieira. Só quem ignora completamente a História pode reduzi-la a mero imperialismo racial! Que ganhámos com isso? Apagámos os seus escritos? Alterámos as suas ações?
A luta pela igualdade e pela dignidade do ser humano é um processo que, temo bem, não estará nunca terminado! Fazê-la com este tipo de atos retira-lhes força e sobretudo retira o apoio da opinião pública ao movimento.
O foco deveria ser a alteração do sistema vigente, a exigência de medidas mais duras e mais céleres sobre todos os fenómenos de excesso dos mais fortes sobre os mais fracos, a luta pela igualdade de oportunidades, pela não discriminação.
Assisti, como muitos, às manifestações contra o racismo nos EUA na sequência da morte de George Floyd e… não gostei. Não pelo seu objetivo mais do que legítimo, mas pelo aproveitamento e manipulação que grupos, chamemo-lhes subreptícios, fizeram de toda a situação. É fácil manipular uma multidão em fúria, mesmo quando essa fúria é mais do que justificada. Não gostei do cartaz do “Polícia bom é polícia morto“. Nenhuma sociedade vive sem autoridade. O que é exigível é que essa autoridade não se torne em si mesma numa ameaça à segurança. Tomar a árvore pela floresta pode ser um rastilho dum incêndio que acabe com o pulmão de segurança que não podemos deixar de ter.
O que há que exigir é responsabilidade, informação e sobretudo agilidade na justiça. Coisa que, sejamos muito honestos, aconteceu nos Estados Unidos da América.
Sendo politicamente incorreta e não justificando minimamente a atuação do agente que acabou por assassinar Floyd, tenho que alertar para o facto de o agente ter agido dentro do que está estabelecido como forma de imobilização, em situações de resistência à autoridade ou que ponham em causa a segurança pública. O que está profundamente errado é o procedimento instituído, o uso indiscriminado do mesmo e o facto de, por norma, se aplicar a uma minoria, neste caso negra, mas também hispânica, como já aconteceu. O que não podemos tolerar é que esse procedimento de manual seja aplicado sem o bom senso que deve nortear a defesa de toda a vida humana. Isso é que temos que combater, antes de mais.
Outra coisa diferente é a tortura, a aplicação da força quase como um jogo e que leva à morte que ninguém viu porque ninguém filmou. O que temos que combater é o silêncio que se abate sobre situações que têm os seus 15 minutos de antena e que resvalam para o esquecimento e na grande maioria para a impunidade.
Nenhuma vida é mais importante que outra, seja ela dum ser humano negro, amarelo, caucasiano, vermelho ou azul às riscas. Nenhum ser humano tem menos direito à proteção seja ele polícia, homossexual, judeu, católico, português, ucraniano, chinês ou do Burkina Faso.
O que temos que combater e derrubar não são as estátuas do passado, mas sim os preconceitos, os valores instituídos, o politicamente correto, o corporativismo, o etnocetrismo do presente.
Não deixemos que manipulem as lutas pela dignidade de todo o ser humano. Quem o faz apenas pretende substituir um sistema por outro, deixando tudo igual ou pior.