Esta semana uma amiga contou-me que a sua doce sobrinha tinha vindo, há dias, nascer a sua casa, na zona do Porto, porque os pais vivem no Alentejo e não quiseram arriscar ter a criança no hospital de Évora. Durante três semanas, a mãe mudou-se para a casa dos familiares, onde esperou que a bebé desse sinais de querer sair e passou os primeiros dias de vida. Valeu a pena o esforço destes pais, disse-me. No hospital de Vila Nova de Gaia “recebeu serviço de privado num hospital público”. Estremeci. Toda a história fez-me lembrar relatos de outros tempos, quando era preciso ir nascer à grande cidade para se ter garantias de serviços mínimos de qualidade na hora do parto.
Porém, esta é infelizmente a realidade do País em 2022. Uma história de enormes assimetrias regionais na prestação de cuidados de saúde e de mortalidade materna em franca subida, como é notório desde 2017 e ficou claro em 2020, quando 17 mulheres morreram por complicações na gravidez, parto ou puerpério (20,1 óbitos por 100 mil nascimentos) e se bateu no valor mais alto em quase 40 anos. Se a forma como se nasce em cada país é um dos indícios mais úteis para aferir a qualidade dos sistemas de saúde, por cá, há anos que começaram a soar as campainhas de alerta nesta matéria, sem que ninguém conseguisse acautelar devidamente a situação. São, por isso, inquietantes as notícias de urgências de obstetrícia encerradas ou condicionadas em Setúbal, Barreiro e Almada, S. Francisco Xavier e Amadora-Sintra. Tal como é desoladora a notícia da grávida que se dirigiu ao hospital das Caldas da Rainha, com urgências obstétricas encerradas, e perdeu o bebé, um caso cujas responsabilidades têm ainda de ser apuradas.