Por um voto se ganha, por um voto se perde uma Câmara Municipal. Há 20 anos, Santana Lopes ganhou Lisboa a João Soares por 856 votos. Ontem, Carlos Moedas ganhou a Fernando Medina por 2299 votos.
E aqui está ele, Manuel Acácio. O novo Presidente da Câmara de Lisboa tem um almoço a haver de um trabalhador de recolha do lixo, com quem tinha apostado há seis dias que ia ganhar, “contra tudo e contra todos” – as expectativas, as sondagens e praticamente todas as análises.
Parecia impossível, mas não foi, e o “feeling” de Rui Rio de vitória em Lisboa estava certo. Rio baixou as expectativas e deixou para 2025 o crescimento, mas ainda assim ganhou créditos para calar a oposição interna por mais algum tempo – Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz bem podem sair de fininho.
Moedas foi o grande vencedor da noite e provou que é com um PSD centrado, sem desvarios populistas, que se ganham eleições. Todos os desatinos radicais não foram longe, veja-se o que aconteceu no Seixal e na Amadora.
Para o PS, é um balde de água fria difícil de gerir. Encerra-se um ciclo de 14 anos de liderança PS na Câmara de Lisboa. Fernando Medina bem pode dizer, com muita dignidade, que o resultado é da sua inteira responsabilidade (“pessoal e intransmissível”), mas António Costa, que se empenhou pessoalmente na campanha e usou e abusou do PRR para argumentário autárquico, deve ponderar esta vitória como um cartão amarelo à confiança inabalável com que se apresentou na campanha. O Partido Socialista ganhou 147 presidentes de Câmara por todo o país (mais 38 do que o PSD), menos 14 do que conseguiu em 2017. Estava dentro das expectativas que foram lançadas na semana passada, mas perder a joia da coroa não fazia parte dos planos.
Moedas tem a vitória, e agora, o que vai conseguir fazer com ela, eis a questão. Se há um “grande sinal da vontade de mudança” nos destinos da capital, consegui-la pode ser muito difícil. Com estes resultados, Lisboa pode ficar enleada sobre si própria, com uma Presidência da Câmara laranja, mas uma maioria de esquerda nos vereadores e na Assembleia Municipal. Serão necessários compromissos estratégicos e políticos para governar. Resta saber se há adultos na sala para os conseguir.