Há uma espécie de letargia coletiva agravada por uma negligente letargia política no que toca a encarar problemas nacionais ou locais. Preferimos enfiar a cabeça na areia, fingir que não vimos e esperar que passem como por magia. Acontece que ignorar um problema que se avoluma costuma ser a fórmula para o desastre. Costuma ser, e foi.
De repente, como se fosse uma novidade, o País e o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, acordaram para uma situação que há vários anos ameaça o equilíbrio social e ambiental da zona do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Nos últimos dois anos, a VISÃO publicou três grandes reportagens sobre o acréscimo exponencial de imigrantes na região e o problema do mar de plástico que invadiu as zonas dos parques naturais. Como relatava a VISÃO em setembro de 2019, em meia dúzia de anos as estufas de frutos vermelhos e doutros produtos duplicaram no Sudoeste Alentejano. Numa faixa com um comprimento de 40 km entre Vila Nova de Milfontes e Odeceixe, com uma largura de cerca de 5 km a 10 km, as estufas ocupavam uma área equivalente a cerca de 1 600 campos de futebol. E, com elas, chegaram milhares de estrangeiros ao concelho de Odemira – a população aumentou mais de 40% no distrito de Beja, trazendo especulação imobiliária, problemas de falta de infraestruturas e de incapacidade dos serviços públicos e conflitos com as populações locais.