Ganhar a medalha de ouro é o sonho de qualquer desportista quando lhe falam em Jogos Olímpicos. Em Portugal, apenas Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora conhecem a sensação de terminar a competição em primeiro lugar, subir ao degrau mais alto do pódium e ouvir o hino nacional, enquanto a bandeira portuguesa é hasteada. Mas há pelo menos mais três atletas no ativo em Portugal que também já experimentaram a mesma sensação (embora, naturalmente, com a bandeira e o hino dos seus países). E jogam todos na I Liga de futebol.
Dois deles são até campeões olímpicos em título, já que ajudaram a derrotar, há quatro anos, no Estádio de Wembley, a seleção do Brasil, por 2—1, na final do torneio de futebol dos Jogos de Londres 2012: os mexicanos Hector Herrera (do FC Porto) e Raul Jimenez (do Benfica). O terceiro é um veterano, mas ainda muito ativo: o avançado Meyong, regressado há poucos meses ao Vitória de Setúbal, e que integrou a seleção dos Camarões que se sagrou campeã olímpica, há 16 anos (!), nos Jogos de Sydney 2000, ao derrotar a Espanha numa final decidida através da marcação de grandes penalidades . Curiosamente, Meyong também jogava em Setúbal quando se sagrou campeão olímpico, com 19 anos, no início de uma longa carreira que o levou depois a vestir as cores do Belenenses, Sp. Braga, Levante e Albacete (Espanha) e Kabuscorp (Angola).
Caso seja convocado para o próximo jogo do campeonato, com o Benfica (marcado para segunda-feira, 18 de abril), Meyong pode defrontar o também campeão olímpico Raul Jimenez, chegado esta época à Luz, transferido do Atlético de Madrid. Nos Jogos de Londres, Jimenez participou em cinco dos seis jogos da sua seleção, incluindo a final, mas sempre como suplente utilizado (apenas 73 minutos no total).
Já Hector Herrera, na mesma competição, entrou em quatro encontros (254 minutos) e marcou um golo. Chegou ao FC Porto cerca de um ano depois, no início da época 2013/14, onde se mantém e onde chegou a partilhar o balneário com outro mexicano e campeão olímpico de Londres: Diego Reyes, agora emprestado à Real Sociedade, de Espanha
Poderio argentino
O torneio olímpico de futebol é um dos mais imprevisíveis dos Jogos e onde o “estatuto” de cada seleção tem menos peso para o resultado final. Basta ver que o Brasil nunca ganhou a medalha de ouro e que desde que a competição se transformou, em 1992, numa espécie de Mundial sub-23 (com a permissão de cada seleção poder incluir três jogadores com idade superior), nem alemães nem italianos conseguiram chegar à final – ao contrário do que costuma acontecer na prova principal da FIFA.
Desde a instauração do novo formato da competição nos Jogos de Barcelona, a Argentina tem sido a seleção com melhor história – e será a primeira adversária de Portugal nos Jogos do Rio, logo no dia 4 de agosto, véspera da cerimónia de abertura.
O registo é de respeito: nas últimas cinco edições, os argentinos foram a três finais e venceram duas. O curioso é que em todas elas é possível encontrar ligações ao futebol português.
Basta recordar, nesse campo, que para chegar à sua primeira final de um torneio olímpico, nos Jogos de Atlanta 1996, a Argentina teve de eliminar Portugal nas meias-finais (2-0, com dois golos de Crespo), depois das duas seleções se terem defrontado anteriormente na fase de grupos, aí com um empate a uma bola (com golos de Ortega e Nuno Gomes). Na final, no entanto, acabaram por perder frente à Nigéria (3-2), graças a um golo, no último minuto do jogo, apontado por Emanuel Amunike, então a defender as cores do Sporting, mas em vésperas de se transferir para o Barcelona.
Em 2004, em Atenas, os argentinos voltaram à final do torneio olímpico, com uma seleção onde atuavam quatro jogadores com carreiras no futebol português: Javier Saviola (Benfica), Lucho Gonzalez e Mariano Gonzalez (FC Porto) e Gabriel Heinze (Sporting). Na capital grega, a Argentina cometeu a proeza de vencer todos os seis jogos, sem sofrer qualquer golo. A final frente ao Paraguai foi resolvida com um golo solitário, apontado por Carlos Tevez.
Quatro anos depois, em Pequim, a Argentina voltou a sagrar-se campeã olímpica, com uma seleção capitaneada por Juan Roman Riquelme (então com 30 anos), e onde pontificavam nomes como os de Ezequiel Garay (que passaria depois pelo Benfica), Zabaleta, Ever Banega, Lavezzi, Mascherano, Aguero e um tal de Leonel Messi. O jogador decisivo da final foi, no entanto, o então “português” Angel Di Maria, que representava na época o Benfica, e que apontou o único golo que derrotou a Nigéria.
Em agosto, no calor do Rio, Argentina e Portugal vão voltar a defrontar-se, em mais um episódio de uma história cheia de pontos comuns nos Jogos Olímpicos. Ambas as seleções não escondem que têm ambições de chegar às medalhas. Mas só uma ouvirá o hino.
Álbum de glórias
Emanuel Amunike marcou o golo no último minuto, com que a Nigéria derrotou a Argentina na final do torneio olímpico de Atlanta 1996
Na seleção argentina que ganhou os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, jogavam Javier Saviola, Lucho Gonzalez, Mariano Gonzalez e Gabriel Heinz
Angel Di Maria foi a figura da final olímpica em Pequim 2008, ao apontar o único golo com que a Argentina derrotou a Nigéria
A seleção mexicana na cerimónia de entrega de medalhas, no Estádio de Wembley, após vencer a final olímpica, frente ao Brasil. Quem reconhece, com menos quatro anos, Raul Jimenez e Hector Herrera?