Enquanto os debates televisivos se reduzem a slogans e a análises básicas e superficiais, há vozes que ousam pensar com profundidade e devolver ao espaço público a densidade que falta. Vítor Bento, no artigo “O acordar da bela adormecida ou a História continua”, publicado no Observador (26 nov. 2025), oferece uma dessas raras reflexões que nos obrigam a sair da espuma dos dias.
Num texto rigoroso e claro, desmonta-se ali a ilusão do “fim da História”, essa narrativa confortável que prometia paz perpétua e progresso linear e alerta para a necessidade de trocar a obsessão pela eficiência por uma lógica de eficácia estratégica. A globalização, ao sacrificar redundâncias em nome do custo mínimo, criou vulnerabilidades que crises recentes expuseram com brutalidade. A pandemia e as tensões geopolíticas mostraram que a eficiência extrema, longe de ser virtude absoluta, pode transformar-se em fragilidade estrutural. Bento sublinha que a História não é um jardim de harmonia, mas um palco de tensões, e que a eficácia estratégica implica aceitar redundâncias, diversificar cadeias de abastecimento e reforçar a autonomia produtiva. Pergunta inevitável: estaremos dispostos a pagar o preço da segurança ou continuaremos reféns da ilusão de que o mercado resolve tudo?