As autárquicas de 2025 já ficaram para trás e, mais uma vez, o essencial passou ao lado. Falou-se de slogans, repetiram-se chavões, multiplicaram-se debates curtos e vazios, mas o que realmente importava – o escrutínio das contas – foi deixado para segundo plano. Entre horas de entretenimento político e pouca análise concreta, discutiu-se muito e esclareceu-se pouco.
Agora começa a parte difícil. Chegou o momento de os novos presidentes de câmara se confrontarem com a realidade e perceberem até que ponto as suas promessas cabem nos orçamentos municipais. E isso num contexto em que muitas autarquias enfrentam uma fragilidade económica e financeira evidente, com escassa margem para acolher grandes investimentos.
É verdade que o PSD conquistou mais câmaras do que o PS. O mapa político local mudou, é inegável. Mas será que isso altera de forma relevante o cenário executivo das autarquias? Pouco ou nada. A realidade é que a maioria dos municípios vive sob forte pressão financeira, com receitas limitadas e despesas cada vez mais rígidas.
Olhando para o futuro, a habitação promete ser o tema central dos próximos quatro anos. Em Lisboa, Carlos Moedas mantém a aposta na reabilitação e no arrendamento acessível. Os números impressionam – cerca de 500 milhões de euros até 2026 – mas o caminho não será simples. Concursos, licenças e processos administrativos lentos continuarão a travar a execução, como acontece em praticamente todos os grandes projetos públicos.
No Porto, o cenário é distinto. Pedro Duarte venceu as eleições sem apresentar um programa particularmente ambicioso na área da habitação. É uma opção política compreensível do ponto de vista orçamental, mas que dificilmente responderá à dimensão do problema. Proteger as contas municipais tem o seu mérito, mas poderá traduzir-se num agravamento das dificuldades habitacionais da cidade.
A verdade é que o investimento em habitação raramente compensa em termos eleitorais. Demora tempo a sair do papel e os resultados não aparecem antes de terminar o mandato. A população, porém, espera respostas rápidas, e é nesse desfasamento entre o desejo e o possível que se define o sucesso de cada executivo.
Gerir uma autarquia em 2025 é um exercício exigente. Obriga a capacidade de liderança, realismo, disciplina e, sobretudo, gestão de expectativas. Cada decisão tem um custo e o verdadeiro mérito destes novos autarcas estará em encontrar o ponto de equilíbrio entre a vontade política e a realidade das contas.
As eleições ganham-se com empatia e presença. Os mandatos, esses, avaliam-se pelo que se concretiza. No fim, governar bem continua a ser uma questão simples: fazer as contas – e ter a coragem de as cumprir.
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