Desde o nascimento, o peito da mãe não é só alimento: é colo, é segurança, é afeto. A amamentação ativa a libertação de ocitocina, a hormona do vínculo, que acalma, aproxima e fortalece a relação mãe-bebé. Cada olhar trocado, cada toque, cada pausa no mundo exterior cria um espaço de conexão emocional profundo. Esta relação precoce é a base de um apego seguro, uma das maiores proteções psicológicas ao longo da vida.
A produção hormonal durante a amamentação reduz o stress, diminui o risco de depressão pós-parto, entre outras vantagens. Quando a amamentação é uma escolha consciente, proporciona à mãe momentos de pausa e presença. Para o bebé, os benefícios vão além do alimento. O contacto pele com pele regula o sistema nervoso, promove tranquilidade e ajuda a gerir emoções como o medo ou a frustração. Bebés amamentados apresentam melhores respostas ao stress e uma maior capacidade de autorregulação ao longo do desenvolvimento.
BENEFÍCIOS EMOCIONAIS E PSICOLÓGICOS DA AMAMENTAÇÃO
Para a mãe:
- Redução do risco de depressão pós-parto;
- Maior vínculo emocional;
- Diminuição dos níveis de stress e aumento do bem-estar psicológico;
- Melhoria da autoestima e confiança nas decisões parentais;
- Momentos de pausa emocional, presença e conexão.
Para o bebé:
- Segurança emocional e sensação de contenção;
- Regulação do sistema nervoso e do cortisol (hormona do stress);
- Desenvolvimento de um apego seguro, essencial para relações futuras;
- Consolidação de rotinas de sono, alimentação e tranquilidade emocional;
- Maior estimulação sensorial e emocional para o desenvolvimento cerebral.
BENEFÍCIOS DA AMAMENTAÇÃO PARA ALÉM DOS DOIS ANOS
No entanto, continuam a surgir comentários que reduzem este ato a algo meramente biológico e temporário, como se a partir dos dois anos deixasse de fazer qualquer sentido. “A ciência mostra o contrário: amamentar continua a ser benéfico, tanto para a mãe como para a criança, mesmo para além dos dois anos. A Organização Mundial da Saúde recomenda o aleitamento até aos 2 anos ou mais, sempre que mãe e filho assim desejarem. A amamentação prolongada mantém benefícios físicos, mas sobretudo emocionais, porque a criança não procura apenas leite, procura segurança emocional, conforto…
Entre os 2 e os 4 anos, a criança está numa fase de descoberta da autonomia, o que pode gerar medo, frustração e desafios emocionais. Nestes momentos, o peito funciona como um “porto seguro”, ajudando a criança a regular emoções intensas e a ganhar confiança para explorar o mundo. Além disso, o desmame natural (quando a criança e a mãe estão prontas) favorece uma separação gradual e saudável, prevenindo sentimentos de rejeição ou insegurança. Amamentar um “bebé crescido” não é um gesto de dependência excessiva, mas sim de respeito pelo tempo emocional da criança.
Como psicóloga clínica, vejo diariamente o poder do colo, do toque e da ligação emocional, bem como o impacto que a ausência destes causam. Não se trata de defender que todas as mães devem amamentar para além dos dois anos. Trata-se de respeitar a escolha de cada mulher e de não deslegitimar um ato que, para muitas famílias, é uma fonte de saúde mental, conforto e vínculo. Quando alguém afirma que amamentar depois de certa idade “não faz sentido”, está a perpetuar estigmas e a ignorar a evidência científica. Amamentar não é apenas nutrir, é presença, é afeto, é vínculo, é saúde mental. E se, para algumas mães, esta conexão faz sentido para além dos dois anos, isso deve ser valorizado e apoiado.