Há pouco mais de meio ano, escrevi uma carta aberta ao então Ministro da Saúde, Dr. Manuel Pizarro, sobre os graves problemas que afectavam o sistema de saúde em Portugal, com destaque para a crise nas urgências e a falta de recursos nos hospitais. Infelizmente, apesar das promessas eleitorais e da recente mudança no governo, a situação continua alarmante e com pouco ou nenhum progresso visível. A chegada de Ana Paula Martins ao Ministério da Saúde trouxe a esperança de uma nova abordagem, mas a realidade parece resistir a qualquer tentativa de mudança.
Quando o governo atual assumiu funções, a promessa de uma reforma significativa no Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi central na campanha. Ana Paula Martins, conhecida pela sua competência técnica, foi vista como a pessoa certa para implementar essas reformas. No entanto, os primeiros meses do seu mandato mostram que, apesar das boas intenções, o sistema permanece inflexível. As dificuldades em fazer diferente, mesmo com uma liderança experiente, revelam que o problema não está apenas nas pessoas, mas num sistema que parece não permitir mudanças eficazes.
O cenário nas urgências hospitalares, um dos principais focos da carta aberta enviada, permanece crítico. O setor da saúde continua a receber um número crescente de reclamações dos utentes, com mais de 2.500 queixas registadas, só este ano. Entre as especialidades mais afetadas, a obstetrícia é líder, o que sublinha a gravidade da situação nos cuidados às grávidas e recém-nascidos. Relatos como o de Sara Martins, no Portal da Queixa, que foi recusada numa urgência em Leiria, são exemplos concretos de como a crise se perpetua.
As razões para as queixas mantêm-se inalteradas: demoras inaceitáveis no atendimento, que frequentemente ultrapassam as 12 horas; mau atendimento por parte dos profissionais de saúde; e uma falta crónica de informação clara e precisa para os utentes. Esses problemas, já destacados anteriormente, continuam a gerar frustração e sofrimento, sem que as soluções prometidas pareçam estar a caminho.
Por sua vez,Ana Paula Martins, que apesar de toda a sua experiência e conhecimento, enfrenta a dura realidade de um sistema de saúde onde as mudanças prometidas esbarram numa estrutura inflexível e num SNS que resiste à modernização. As expectativas eram elevadas, mas a incapacidade de implementar reformas rápidas e eficazes coloca em risco a confiança que a nova ministra poderia ter conquistado.
Conclui-se, portanto que Portugal continua a gritar por socorro na área da saúde. A promessa de mudança que acompanhou a chegada da nova liderança parece estar a dissipar-se, confrontada com a realidade de um sistema que não se permite mudar. Enquanto o governo não consegue encontrar uma forma de superar estas barreiras, o futuro da saúde em Portugal permanece sombrio, com os cidadãos a pagar o preço pela sua inércia.
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