Depois da investigação a António Costa que ocupou o espaço público nas últimas semanas, voltámos ao caso das gémeas brasileiras que assombra São Bento e a imaculada folha de serviço de Marcelo Rebelo de Sousa.
Antes de mais fazer umas ressalvas, a família das crianças tentou tudo para proteger os seus, impossível condenar. Tenham usado contatos privilegiados ou não, tenham abusado do SNS ou não, jamais conseguirei julgar um pai ou mãe que em desespero, usa todos os parágrafos da lei para conseguir o necessário tratamento.
Vamos aos pormenores que conhecemos. O Dr. Nuno, envia um e-mail ao Dr. Marcelo, que encaminha para a sua assessora, que por sua vez estabelece contactos e informa que o processo seguirá os trâmites normais, e por consequência, não será fácil que o desfecho seja o pretendido pela família das crianças.
O Presidente da República veio explicar que foi assim que aconteceu, e agora daqui para a frente, o Governo que se responsabilize por tudo o que depois se passou. Tudo isto seria ótimo, num mundo perfeito, onde o Governo tivesse tratado o caso, como todos os outros. Lista de espera, serviços a funcionar, conseguimos tratar, fotografia das crianças felizes e recuperadas. Paz no mundo e seguimos para os outros milhares de problemas.
Na realidade não foi nada disto. Sabemos agora que o Dr. Nuno se reuniu com o secretário de Estado da Saúde. Tentem todos os que estão à espera de uma resposta do SNS reunir com um diretor de um hospital, e veremos que resposta têm, mas o Dr. Nuno, amigo da família das gémeas, reuniu com o responsável pela pasta no Governo.
Sem consultar a tia Maya, consigo adivinhar que depois desta reunião, telefonemas para aqui e whatsapp’s para ali, tudo normal, o medicamento mais caro do mundo foi administrado às duas meninas luso-brasileiras, talvez como prémio pela recente cidadania.
Menos sorte têm os trabalhadores dos campos de frutos vermelho no Alentejo, que esperam meses pelo número da segurança social, no quarto que dividem com meia dúzia de conterrâneos. Que conste, que o que está mal, são os meses de espera pela resposta da segurança social.
Entretanto hoje falei com o meu pai, que preside à sua residência, pedi-lhe limões, porque gosto de beber água com limão quando acordo, em princípio para a semana está resolvido, sem grandes burocracias. O meu pai consegue fazer influência, e mandar os limões pela minha irmã.
Cada pai faz o que pode.
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